EDUARDO DIÓGENES por Moisés Neto -Facebook- recorte deste blogueiro
O homem vem e vai, o poeta vem e vai como a estrela cega,mas fica o rastro para os que entendem -o que não se compreende-Paulo Vasconcelos
EDUARDO DIÓGENES
Por ANTONIO MIRANDA https://bit.ly/2BCF4vN
Nascido no Recife, em 1954. Publicou Brincadeira no 27 (Uberaba, Editora Gráfica vitória, 1975), Malabarismo Crônico (Recife, Editora Pirata, 1980) e A barlavento (Rio de Janeiro, 7 Letras, 2000, reunindo trechos dos livros A barlavento e Arqueologia da dúvida). No ano de 1986 seu livro Malabarismo crônico passou afazer parte do acervo de escritores brasileiros na Fundação Casa deLas Américas em Havana (Cuba). Em 1993, foi incluído na Antologia da nova poesia brasileira, promovida pela Rio Arte/Funarte, organizada e selecionada pela escritora, tradutora e poeta Olga Savary. Incluído na revista Poesia Sempre (n° 12/ano 2000) da Biblioteca Nacional. Participou como narrador do filme Joaquim Nabuco: Um vencido da grande causa, de Taciana Portela (1° lugar no Margarida de Prata 2000, em Brasília). Mantém inéditos – aguardando editores – Os livros Ilha doRecife dos Navios (com apresentação de Jorge Wanderley e prefácio de Olga Savary) e Ficções.
Poemas extraídos da obra:
STEREO INVENÇÃO RECIFE coletânea poética 2 Delmo Montenegro / Pietro Wagner (organizadores)Recife: Prefeitura do Recife, Secretaria de Culura, Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 2004.
VOGAL DA FOME ( OU NÃO SE FAÇA VERSO )
1. nada cristalmente. seca a garganta
calada em seu repouso de horas e agonias. impedidamente boca não pronuncia.
plásticas de sílabas e adjetivos semi-erguidos do non sense cotidiário de notícias graves e coragens breves. entre nomes ávidos dos mercados éticos — palavras mortas.
2. nada essencialmente vazio o cérebro amontoado de memórias — prateleira desarrumada selos da história abundantemente outra e pouca.
nada simplesmente exato reta a entonação agrava — ratos dos porões mais frios. suja a vogal da fome entala e não se faz mais verso.
ALGUMA ESTAÇÃO
de que adianta insistir verbos no infinitivo sinopses de alma a lua se acaso cheira
não impede o verso seja seco pobre e que algum olhar de lírio seja nosso esquecimento e não a utopia
Á MARGEM DO CANAL
à margem do canal desfilam casas enraizadas na lama (se ao que se pode chamar qualquer teto)
antes de qualquer vogal ou geografia entre macilenta e suja terra nos caixotes candidatos a banheiros à margem do canal
CONTEMPORÂNEA
horas contemporâneas não discursamos a fome úlcera universal supurada em nordestes
Outra forma de escrever úlcera nordestina a fome contemporânea não silencia as bocas
POESIA SEMPRE. Ano 8 – Número 12 – Maio 2000. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 2000.
O barlavento
Os pássaros também são feitos de tarde ou num poema podem voar como escolha seu pintor; do bicho à imagem utilizar a metáfora. mas se a nada servem ou ornamentam apenas o delírio da impossível liberdade, os pássaros voam na tarde e os avisto grafando esses versos.
Depois do apito
Operárias tomam o ônibus roupas iguais quase todas barrigudas saem da fábrica para o fogão e a mesa. depois na cama servem à sanha de seus homens. quando não levam uma surra.
Arqueologia da dúvida
Silêncio interior moscam pousam pelos braços um cachorro dorme embaixo do caminhão. o que é sentir o nada sentir? se ao mundo apenas se empresta o destino, a passagem, o delírio um boi manso na campina é mais bonito do que esse homem que habita em mim.
Ouvi essa história em uma belíssima aula do professor Cláudio Ulpiano. O tordo é um passarinho canoro possuidor de três tipos de canto. O primeiro ele canta quando quer marcar um território. Nesse caso, sempre acontece uma disputa, com dois ou mais tordos rivalizando pelo mesmo território. Sem precisarem brigar , o tordo de canto mais potente vence e toma conta do território, sem que os outros tordos fiquem ressentidos ou queiram se vingar. O segundo canto o tordo canta quando deseja conquistar uma fêmea. Esse segundo canto é mais harmonioso e sutil, entremeado por silêncios eloquentes acompanhados de posturas sedutoras. Mas no final é sempre a fêmea que escolhe qual tordo será seu companheiro amoroso. O terceiro canto o tordo canta em dois momentos do dia: quando o sol nasce e quando o sol morre . Na aurora, é canto de boas-vindas; no fim da tarde, é canto de despedida. Esses dois cantos são de gratidão ao sol: quando o sol se vai, por ter havido aquele dia, não importando o que nele aconteceu; quando um novo sol chega, trazendo com ele um novo dia. Enquanto os galos cantam apenas o dia que vem, o tordo também canta grato à vida que recebeu do dia que vai, como os estoicos nos ensinando o “Amor Fati”. O canto de território e o canto amoroso são explicáveis pelo instinto ,porém o terceiro canto parece querer um território e ser movido por um afeto que vai além do corpo orgânico . É um canto espontâneo e livre , parecendo um poema, uma obra de arte . O tordo sobe então até o galho mais alto para horizontar sua visão e cantar um canto de desterritorialização a todo território dado, ao mesmo tempo se reterritorializando na abertura e amplidão do espaço . Esse terceiro canto, porém, coloca o tordo sob perigo. Pois nesses períodos fronteiriços entre o dia e a noite a soturna coruja fica alerta , à espreita para ver onde está o tordo, para fazê-lo de presa . A mesma arte que singulariza o tordo, também o põe à mostra. Porém o tordo não se esconde ou cala , mesmo sob a ameaça da morte : ele persevera no seu cantar à vida , com o máximo de potência que pode.
“Inventar uma tarde a partir de um tordo”.( Manoel de Barros )
“Não há nunca outro critério senão o teor da existência,
a intensificação da vida”. ( Deleuze & Guattari, “O que é a filosofia?”)
Nem todos encaram com seriedade as medidas restritivas orientadas para barrar a contaminação por Covid-19. Porém, para a historiadora da psicanálise Elisabeth Roudinesco, sobreviver é a prioridade quando falamos de uma pandemia: “Quando a vida e a morte estão em jogo, eu, pelo menos, não penso ‘ah, não tenho férias’, quando é uma questão de vida ou morte. O vírus não é a vingança da natureza, é uma pulsão de morte. A prioridade máxima é não morrer dessa porcaria”.
De seu apartamento em Paris, onde passou o confinamento junto ao marido, a psicanalista fala por Skype à revista Ñ sobre política, sociedade, amor, sexo e o futuro do divã. Confira:
No seu Dicionário amoroso da psicanálise, a primeira entrada que aparece é “amor”. Freud colocou o amor no centro da experiência psicanalítica: que lugar ocupa hoje nesse contexto de pandemia?
Elisabeth Roudinesco: O amor é imutável, não vale a pena pensá-lo dessa forma, não é uma questão de contexto.
"Faço parte daqueles que pensam que o amor não desaparece. Não acredito na teoria do fim de tudo: da história, do amor, não existe o fim disso ou daquilo. A questão que surge neste momento de confinamento é mais a da sexualidade."
Porque as pessoas que não viviam juntas, mas que se encontravam, tiveram que se separar. Muitos problemas surgiram, como a violência doméstica, mais importante do que já era. Surge a privação de aventuras sexuais duante dois ou três meses. Mas tudo isso, para mim, é secundário. A privação de sexo é uma privação como qualquer outra. Sinto falta de bares, restaurantes, viagens...
E o que está acontecendo com a vida nas diferentes formas de família?
Elisabeth Roudinesco: Acho que precisamos voltar a pensar em uma análise mais social. Em uma situação dessas, as condições de vida têm um papel mais importante. Viver em 30 m² com seis pessoas é muito mais difícil do que viver com apenas uma pessoa nesse espaço. Agora, a violência na relação aumentou durante esse período de confinamento ou essa violência já estava aí? Acho que a segunda opção. Parece-me que o efeito do confinamento adicionou certa violência suplementar, e isso não é nada surpreendente, não é algo que vá destruir a família.
"Não acredito nos apocalipses, mas tampouco acredito que essa pandemia seja um evento que vá mudar tudo."
Não existe um antes e um depois do coronavírus?
Elisabeth Roudinesco: Não acredito nisso. O que se viu com muita clareza, por exemplo, é que o aquecimento global existe, pois, ao reduzir as emissões de gases, cortou-se a poluição. Algo deverá ser feito sobre isso. Mas não acho que o que estamos vivendo seja uma revolução. Partindo de uma hipótese otimista, o turismo de massa poderia ser reduzido, por exemplo: os transatlânticos, o litoral lotado... Mas, por outro lado, existem muitas pessoas de baixa renda que desfrutam desse turismo. É contraditório. Temos que reorganizar a distribuição de alimentos em larga escala, o consumo de carne, temos que voltar a ter uma alimentação mais saudável. Nós já sabíamos disso. E agora o vemos, é um dos efeitos visíveis.
Acho que o exemplo abominável de Bolsonaro, da destruição e do genocídio da Amazônia deve ter um impacto. Deveríamos perceber que isso não pode seguir adiante, assim como que Trump não pode seguir adiante. E deveríamos lutar contra as ditaduras. O governo chinês lidou muito bem com a crise do coronavírus; nesse caso, o governo ditatorial funcionou bem durante esse período, porque era necessário tomar decisões para restringir as liberdades. Mas não concordamos com a extensão desse capitalismo chinês que faz com que coexistam os horrores do pós-comunismo e do ultra-liberalismo, é realmente o pior dos regimes possíveis. Falar de medo em relação aos asiáticos é racista, xenófobo. A crítica ao governo é outra questão.
"Há algo fundamental: sabemos o que não pode seguir adiante: o crescimento da fortuna dos ricos e o crescimento da miséria dos pobres."
Os controles econômicos terão que ser introduzidos dentro do capitalismo e do liberalismo. Não acredito, ou não acredito mais, na revolução comunista. Eu acho que fracassou. Não deixo de ser de esquerda por isso. Portanto, não podemos sonhar em voltar ao que era. Mas também não podemos apoiar os excessos do liberalismo, pelo menos o financeiro. Por isso, penso que é preciso encontrar uma solução, social liberal, social democrática. Vivemos em um mundo multilateral, não é de forma alguma o mundo da China e dos EUA.
Há uma palavra muito importante hoje: confiança – ou falta de confiança. Em quem podemos confiar hoje? Nos médicos?
Elisabeth Roudinesco: Eu acho que faz sentido pedir a opinião dos especialistas em epidemias. Isto é, os médicos que hoje discutem na televisão. Não fiquei nada surpresa com o fato de cientistas e médicos estarem divididos: eles discordam entre si. Os debates entre cientistas são sempre contraditórios, violentos, como os dos intelectuais. Acho que o que aconteceu agora foi uma perda de confiança na elite política que nos fez confiar mais na elite dos médicos. Mas não durou muito. A partir do momento em que começaram a se contradizer, acabou. O irracionalismo existe: você acredita que mais de 50% dos franceses consideram as vacinas perigosas? E eu conheço pessoas assim, elas acreditam na natureza, no sentido mais estúpido do termo, em tomar pós, misturas, suco de banana ou suco de mel que “vão nos impedir de contrair doenças”. É o obscurantismo, e isso se desenvolve muito na França, em um país onde temos uma escola republicana, uma educação racional. É muito impressionante.
E há confiança nos políticos?
Elisabeth Roudinesco: Há uma crise muito séria nos países democráticos: a ruptura entre os povos e a elite. Existe populismo na Europa e uma perda de confiança do povo nos políticos. Os povos europeus, hoje, não são progressistas, estamos retrocedendo a um nacionalismo, com um perigo real de fascismo. Eu diria que hoje o povo europeu identifica a Europa com o mercado, com o capitalismo, com o liberalismo, porque nós fizemos uma Europa do mercado, precisamos sair disso e fazer uma Europa social. Eu diria, inclusive, que é uma crise mundial. Porque a eleição de Trump também faz parte dessa passagem para o populismo. Se Trump venceu nos Estados Unidos, isso significa que as pessoas também não confiam em políticos. O mesmo acontece no Brasil, na Inglaterra, onde Boris Johnson não é um clássico eleito, o Brexit é o populismo. Vocês, na Argentina, tiveram ditaduras militares, então conhecem o perigo melhor do que nós.
Temos medo desse desejo de autoritarismo, de fascismo e, no fundo, de rejeição da classe política por parte do povo. Vimos isso na Itália com a escolha do populismo. Então, há uma grande crise de confiança. E o problema do futuro será como recuperar a confiança entre o povo e as elites.
Como é a batalha política na França contra o covid-19?
Elisabeth Roudinesco: Considero que o governo de Macron, apesar de tudo o que se pode criticar, lidou muito bem com a situação. Fiquei impressionada com esse debate insensato na Europa de querer competir: “Foi melhor na Alemanha, na Suécia ou aqui, ou é pior não sei onde”. Essa típica autoflagelação francesa pareceu-me ridícula, ou uma reação nacionalista. Revelou algo que me perturba: que a Europa ainda precisa ser construída, que não existe. Que os alemães tenham lidado melhor com essa situação não é porque a Alemanha seja melhor; não é porque seu serviço de saúde seja melhor; lidou melhor com isso porque o poder é dividido em regiões. Estamos presos entre duas tendências; por um lado, seria melhor fazer demais do que não fazer o suficiente; por outro lado, o covid é imprevisível, então há quem diga que deveríamos tê-lo prevenido... Não podemos imputar um crime a um governo democrático.
Na Europa, a França é o único país em que o governo foi denunciado. Não há oposição aqui, Macron chegou ao poder com a sociedade civil e hoje temos uma clássica crise de partidos políticos. O que está como oposição é Marine Le Pen, ou seja, o fascismo... Eu não aprovo a política cultural de Macron, é algo que ele não entende muito bem. Sua política educacional também não está indo bem, mas também acho que sua política internacional é relativamente boa. Estamos em uma situação de crise, e não é hora de colocar-se contra o governo. Não aprecio de forma alguma essa onda, que vem da extrema esquerda e se encontra com a extrema direita. O governo cometeu erros evidentes: como não tínhamos máscaras, eles disseram que eram inúteis.
Em segundo lugar, eu não saio de férias a lugar nenhum porque sou consciente e fiquei bastante surpresa com as reações das pessoas sobre esse assunto. Os franceses ficaram extremamente frustrados por não poderem sair de férias como sempre. Já que falamos de psicanálise, eles não podem se privar de um “tempo de desejo”. Não é tão grave privar-se de férias. Não é tão grave não poder comprar todas as roupas que se deseja.
"Quando a vida e a morte estão em jogo, eu, pelo menos, não penso “ah, não tenho férias”. O vírus não é a vingança da natureza, é uma pulsão de morte. A prioridade máxima é não morrer dessa porcaria. Na verdade, tenho alguns amigos que morreram disso."
Sim, a quarentena é longa, mas necessária. Eu trabalho em casa, só vou ao supermercado e levo minha cachorra para passear. Não posso ver ninguém além da minha família mais próxima. Não vejo meus amigos, minha irmã, meus sobrinhos. – Pois então? Não vejo ninguém há dois meses. Atenção, temos Skype, temos Zoom, faço conferências, entrevistas. Não é algo que eu gosto. Mas temos muita sorte, temos tecnologia para poder ver as pessoas de maneira diferente. Não estou dizendo que é maravilhoso, mas, se você quiser, comparado à vida e à morte, não é nada. Não é a guerra do Iraque. Não é uma guerra, não há bombas. O que é muito difícil, para muitas pessoas, é a abstração. Você precisa raciocinar para perceber que o vírus é perigoso. Não se vê. Eu acho que é isso que explica por que foi preciso proibir, porque acho que muitas pessoas são muito ignorantes, há um obscurantismo muito significativo na França, elas acreditam em rumores.
Também temos uma explosão de conspirações, de pessoas que acreditam em coisas que não existem. Elas estão convencidas de que o vírus foi inventado pelos chineses para nos atacar. Vimos surgir um perigo amarelo, uma espécie de terror em relação aos asiáticos, que chegariam em ondas na Europa, e também houve um surto de anti-semitismo que se usou contra o Macron. Chegaram a falar do vírus como um macronovírus, é um ressurgimento do anti-semitismo, porque é o vírus judeu, é sempre culpa dos judeus. Desta vez, não foi possível dizer que a culpa era dos árabes, dos muçulmanos. Ouvir isso em Paris é incrível. Comerciantes chineses foram atacados verbalmente, insultados. Isso do vírus judeu surgiu de uma acusação contra Macron porque ele trabalhou no Banco de Rothschild. Vimos o ressurgimento de anti-semitismo, xenofobia, conspirações, irracionalismo... e o populismo que cresce com Marine Le Pen. Estão procurando um bode expiatório. Desta vez, ele não é muçulmano, então o bode expiatório na França foram os bancos, os judeus, o capitalismo, Macron e os chineses.
Em relação ao trabalho psicanalítico em meio à pandemia, o que acha da terapia on-line? Funciona?
Elisabeth Roudinesco: Já funcionava antes. Há 20 anos os pacientes não são os mesmos. Vivemos em um mundo em que muitos viajam. Isso significa que podemos usar o Skype na terapia psicanalítica, por exemplo, com alguém que está viajando. O que é certo é que não se pode fazer uma análise totalmente on-line, mas, sim, usá-la com pacientes que já conhecemos antes. É necessário um contato na vida real. É útil, não é desejável, mas existe. O que é surpreendente é que existem muitas pessoas que não querem fazê-lo, que preferem fazer uma pausa, que, durante o tempo que for necessário, preferem parar ao invés de fazer sessões por Skype. E o mesmo vale para o ensino; eu não gosto de fazer uma hora de aula virtual. O contato humano é fundamental e, além disso, não há bares! Quando termino uma conferência, gosto de ir comer em um restaurante!
E isso pode fazer com que se deixe de usar o divã?
Elisabeth Roudinesco: Não, não, o divã está sempre aí. É um erro pensar que a psicanálise é apenas o divã. Foi um erro acreditar nisso, um erro das pessoas sectárias.
"Devo lembrar que a psicanálise pode ser feita de todas as maneiras. É um sectarismo limitá-la ao divã, assim como acreditar que a terapia psicanalítica deve ser silenciosa. E sempre acreditei nisso: um analista deve falar, ter empatia, fazer sessões relativamente longas com, no mínimo, meia hora. E, acima de tudo, o divã é uma escolha do paciente."
Quando estamos formando um psicanalista, quando é uma análise didática, então, sim, porque é preciso passar pela introspecção. Na verdade, eles fazem isso espontaneamente. Mas, no que diz respeito ao paciente, isso pode ser feito pessoalmente ou com o divã; é preciso dar-lhe total liberdade de escolha. E outra coisa que eu já disse e repito é que as terapias psicanalíticas são longas demais. Sou a favor de terapias muito mais curtas. Mas, em relação às sessões curtas, sou contra há muito tempo.
O que eu sempre notei é que os argentinos podem passar a vida toda em análise. Seguem com um analista por um ano, depois fazem com outro e assim por diante. A psicanálise é uma paixão dos argentinos. Mas ficar muito tempo com o mesmo analista torna as terapias muito longas. Por outro lado, há pessoas que têm a necessidade de nunca parar e sempre estar com o mesmo analista. Nesses casos, dentro dessa terapia, deve-se distinguir dois momentos da psicanálise. O momento em que existe uma verdadeira terapia psicanalítica e, por outro lado, o momento em que alguém que estava em análise deseja retornar, mesmo 10 anos depois. Mas, nesse caso, não volta da mesma maneira. Pode voltar uma vez a cada 15 dias ou vir na frequência que quiser, mas não é mais terapia psicanalítica. Podemos chamá-lo de uma forma de análise, talvez uma atualização, mas não se pode manter um paciente duas vezes por semana no divã por 20 anos, isso é completamente ridículo. É um fenômeno sectário.
MACHADO É SUCESSO NOS EUA....Publicado porTraduzca
POR https://bit.ly/31S6hFo
Um dos grandes clássicos da literatura brasileira ganhou nova tradução para o inglês e fez grande sucesso. A nova edição de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, foi lançada na última terça-feira (2 de junho) e esgotou no mesmo dia. A nova versão, com tradução de Flora Thomson-DeVeaux e prefácio de Dave Eggers, faz parte de uma série de novas versões da obra de Machado de Assis que será lançada nos Estados Unidos.
O lançamento foi precedido de um texto de Eggers na revista The New Yorker, onde retrata Memórias Póstumas de Brás Cubas como “um presente glorioso para o mundo, porque brilha, porque canta, porque é muito engraçado e consegue capturar o tom inimitável de Machado, ao mesmo tempo mordaz e melancólico, autodilacerante e romântico”. O texto, publicado um dia antes do lançamento do livro, ainda afirma que o clássico de Machado de Assis “é uma obra-prima cintilante e uma alegria inabalável de ler, mas, por nenhuma boa razão, quase nenhum inglês no século XXI leu”.
Em sua coluna mensal na revista Piauí, a tradutora da obra, a escritora e brasilianista Flora Thomson-DeVeaux diz que a primeira vez que leu Memórias Póstumas de Brás Cubas foi durante a faculdade. “Quando iniciei o trabalho, pensei em pegar emprestada a estratégia do tradutor e brasilianista britânico John Gledson, cuja tradução meticulosa de Dom Casmurro eu admiro”, conta. A nova versão do clássico foi produzida pela editora Penguin Classics e, por enquanto, apenas a versão digital do livro está disponível no site norte-americano da Amazon.
Memórias Póstumas de Brás Cubas é um dos maiores clássicos da literatura brasileira. Escrito em 1881, foi publicado em forma de folhetim na Revista Brasileira entre março e dezembro daquele ano, tendo sido editado como livro no ano seguinte. O romance de Machado de Assis tem versões em 12 idiomas, como francês, italiano, espanhol, alemão e até esperanto, além do inglês.