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*Assis Lima ( por http://bit.ly/2FeDe1F) |
Foto Editora Confraria doVento |
"A poesia anda
escassa
e por isso
avessa
aos menores
vasos.
Sem leveza e
forma,
sem fluxo, sem
graça..."
Assis Lima, cearense, hoje já adaptado em ser paulistano, é
um poeta do agir no encontro com os
seus. Sejam pacientes, amigos e leitores, sim, ele é médico psiquiatra/psicanalista
e por isso talvez fique atento às silabas, às afirmações da poesia do humano.
Ao mesmo tempo na poesia ele é ação linguística, estética de um leitor
magnânimo.
Seu novo livro, Poemas de Riso e Siso – Confraria
do Vento (2017), como o próprio título diz, tem como tema a graça, o humor - sisudo-riso.
Como poeta ele denuncia, como no verso acima, a escassez da
poética dos dias atuais, mas nos oferece vias para ver e ler as boas obras,
como nas suas obras editadas e outros tantos que ele lê em gulodice.
Esta obra mostra um Assis mais leve, mas nem por isto releva
o grave nos seus versos contaminados pelo verso popular, que lembra a poesia
dos cordéis, alguns:
Ingazeiras anuns caranguejos
guaiamuns, aratus.
Arruda
ramos de vassourinhas.
Mangue,
corais vulcânicos.
Verde-azul, o mar.
Reinos força, raça.
(Itacaré, pág. 560)
Ora ele vem no siso filosófico, mas entremeia-se ao riso:
Existo em meio a dualidades
ora dividido, ora conciliado.
Em algum momento passarei a 3D?
(Dualidades, pág. 31)
Ronaldo Correia de Brito, ao apresentar a obra recente deste autor, afirma com uma
sutileza de borboletas em voos a obra, de modo a deixar pouco o que se falar,
como aqui agora eu estou a fazê-lo:
“A geografia de Assis Lima não foi a antiga dinastia Thang, época
em que na China cada homem era um poeta. Mas uma paisagem agreste, ali no
Crato, Cariri cearense, em sítios onde o riso e o siso eram praticados como
expressão poética do viver.
Os 56 poemas que compõem este livro se misturam entre o
grave e o hilário, numa dosagem contida e refinada. Um humor arrancado por
vezes de ângulos de pedras, permeando poemas epigramáticos e sentenciosos....”
Mas como o verso já dizia, meu amigo se esqueceu, risos,
digo Ronaldo, mas permita-me como todo o carinho que lhe tenho, Assis é uma
coruja sabida; à espreita do coloquial ele brinca de esconde-esconde:
Para bom entendedor,
um
cisco
é Francisco.
Basta?
(Meia palavra, pág. 77)
Assis é misterioso, ora sem enigmas, mas como na vida tudo
está entre um e outro sua poesia replica de forma abundante tal dualidade
humana, mas uma das mais intensas dualidades é o seu estilo que se embrenha entre
uma poesia dita cheia de graça e que alguns não gostam do discurso poético
nordestino e Assis rompe e mostra o outro lado da sua poesia, que não se situa
em léxico ou estética regional e alcança epifanias de um poeta maduro, pela
dita dualidade aqui apontada.
...
No embate das ondas
o mar sem começo
se apossa
de mim
(Horizonte, pág. 13)
Ou
Casa do Eu,
simples eu,
que tem
caroço e casca.
(Escuta, pág. 35)
*ASSIS LIMA é cearense, do Crato. Médico pela Universidade Federal de Pernambuco, especializou-se em psiquiatra, em São Paulo, onde reside. É autor do livro Conto popular e comunidade narrativa (Prêmio Sílvio Romero - Funarte). Organizou a coletânea Contos populares brasileiros - Ceará. É coautor, com Ronaldo Correia de Brito, dos infantojuvenis Baile do Menino Deus, Bandeira de São João, Arlequim de Carnaval e O pavão misterioso. Publicou os livros de poesia Poemas arcanos, Marco misterioso, Chão e sonho e Terras de aluvião.