REDES

terça-feira, 28 de abril de 2015

UM JOVEM ESCRITOR DE EXCELÊNCIA E FIBRA.










Antônio Salvador é escritor e jurista brasileiro. Paralelamente à atividade de escritor, dedica-se à carreira acadêmica, tendo ministrado aulas em diversas universidades brasileiras e estrangeiras. Com escritos em diversas áreas do conhecimento, participou de institutos internacionais, como o DiverCult, desenvolvido na Espanha, e a RAIA – Rede Audiovisual Ibero-Americana. Co-Pesquisador do documentário Ctrl-V – VideoControl, lançado em 2011. Autor do livro ensaístico “Três Vinténs para a Cultura”, a ser publicado em 2014. Co-autor do livro documental “Videocracia”, com publicação também prevista para 2014. Com o seu romance de estréia “A Condessa de Picaçurova” foi vencedor do Prêmio Nascente de Literatura, concedido pela USP, além de finalista do Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional, em 2012, e doPrêmio São Paulo de Literatura, em 2013. Nascido em 1980, em Natal, mudou-se para São Paulo ainda criança. Atualmente, vive em Berlim, Alemanha, onde escreve seu segundo romance

Antônio, em dezembro, esteve no Brasil,e  falou sobre sua obra e a literatura em geral.

Tudo vale a pena, mas escrever vale mais ,?
Nem tudo vale a pena. Nem a própria vida vale a pena, se pensarmos em termos de valores intrínsecos. A vida não possui um valor intrínseco, nem muito menos a literatura. Para que a literatura valha mais que tudo, eu preciso estar imantado. Eu só escrevo quando eu quero. O meu corpo precisa estar circundado por um campo magnético de atração: a atração daquela Verdade de que falei, a minha verdade como autor, a verdade do narrador, a verdade dos personagens. É o momento em que me sinto mais humano, quando escrevo. Mas isso não significa necessariamente algo bom, positivo ou útil. Eu não pretendo ajudar ninguém com literatura, nem muito menos a mim próprio. As circunstâncias em que a literatura apareceu para mim como um canal de expressão deram-se bastante cedo. Meu primeiro contato com a escrita literária deu-se aos cinco anos, quando escrevi meu primeiro livro. Antes mesmo de ter lido um livro, escrevi um. Dos cinco aos vinte e cinco anos, devo ter escrito entre dez e quinze livros, até começar a pesquisa para o meu romance de estréia: “A Condessa de Picaçurova”. Digo, “estréia” para o público. Da obra pregressa pouco restou. Considero tudo o que escrevi antes de “A Condessa de Picaçuova” mero exercício de composição da minha voz narrativa.



A brasilidade em tua obra reside num léxico, personagens e contexto, como falar disso?

Não acredito que as literaturas nacionais tenham mais espaço ou sentido no mundo contemporâneo. Em nome do “nacional” já se cometeram todas as atrocidades possíveis e a literatura foi historicamente usada para isto. Os românticos e os modernistas estiveram rigorosamente empenhados na construção de uma ideia de “Brasil” e obtiveram êxito neste projeto. O que não se pode afirmar é que os resultados desse projeto tenham sido triunfantes, numa perspectiva social. O próprio Mário de Andrade, no final da sua vida, afirmou amargurado que todos os seus feitos derivam de uma vasta ilusão; ele disse com todas as letras “O meu aristocratismo me puniu”. Hoje, experimentamos o Brasil muito mais como um conceito do que como um dado real, isto é, o nacionalismo e a realidade empírica travestem-se impunemente um com as cores do outro. Morando na Alemanha, o país mais desenvolvido da Europa, observo que o Brasil-conceito tomou o lugar do Brasil-real, como nas histórias em que o duplo toma o lugar do personagem. O Brasil transfigurou-se num duplo continental de si mesmo, afirmando-se como país holograma, como país imaginário e, do ponto de vista internacional, nada melhor do que um país imaginário ao sul do equador. Em “A Condessa de Picaçurova”, eu parto dessas observações para, pelo uso das próprias alegorias da cultura popular, efetuar uma cisão no ponto de clivagem do Brasil-conceito. Mas eu não defendo a “brasilidade”, nem o faria jamais, justamente por acreditar na deturpação pérfida que há por trás deste anseio.



A literatura, em qualquer gênero  colabora socialmente, mas a que classes e a que vem a literatura,?

Grande parte dos autores contemporâneos aprendeu a repetir a máxima de que a literatura não serve para nada ou não tem obrigação de servir para algo. Eu me oponho frontalmente a essa ideia oca. A literatura, assim como as demais formas de expressão artística, tem um papel crucial na transformação da pessoa humana e, consequentemente, da sociedade. Evidente que a literatura não ocupa mais o espaço que ocupou no século XIX, por exemplo, mas essa derrocada não tem relação com a linguagem textual, e sim com o aparecimento de outras formas de media, das quais o livro é uma das mais antigas. Desse modo, o livro de papel, talvez esteja beirando o anacrônico, mas o texto e, antes, a palavra como canal de implosão da ordem posta continuam e continuarão tendo o mesmo impacto social. A questão que se coloca sobre quais classes tem acesso à literatura é um problema à parte. Em primeiro lugar, a zona de interseção entre “classe socialmente favorecida” e “elite intelectual” é minúscula. Pertencer à classe alta ou à classe média não significa pertencer à elite intelectual (ainda que o indivíduo em questão tenha frequentado a universidade). E não falo isso de dentro de um gabinete teórico, mas sim a partir da vivência empírica. As ditas classes “privilegiadas” estão a anos-luz de poder imiscuir-se na chamada “elite intelectual”. Além do conhecimento básico sobre o que há de mais básico no mundo, o conhecimento de literatura dos membros das classes abastadas equivale à média das classes menos abastadas, com foco no consumo dos produtos de massa, incluindo a literatura de massa. Digo isso, pois determinado tipo de produção literária no Brasil, na qual me incluo, embora não se apresente e não queira ser dirigida para nichos específicos, acaba sendo acessado apenas pela elite intelectual, que está habituada a textos mais sofisticados. E em termos de acesso prático ao livro, mesmo na era da Internet, tem se verificado grande dificuldade, sobretudo nos países periféricos. A Alemanha, por exemplo, embora seja territorialmente vinte e quatro vezes menor do que o Brasil, tem o dobro de bibliotecas públicas.



O gênero literário determina um leitor , como, caso da Condessa?

Costumo dizer que, antes do leitor, quem faz escolhas é o texto. O texto literário escolhe os leitores que quer para si. Assim como o leitor entra numa livraria e escolhe um livro, o texto também faz escolhas e elas precedem o gesto do leitor. O autor não tem o completo domínio das consequências, mas, sem dúvida, ele intui quem é o seu interlocutor, com qual grupo pretende instaurar um diálogo. Esse saber decorre do fato de que ele, o autor, é seu principal leitor, então saberá onde está pisando. Quando eu estou escrevendo, não penso no leitor real, de carne e osso, que virá falar comigo depois de ler o livro. Só penso em esculpir a palavra como se eu próprio viesse a ser o único leitor do texto. Isso garante, por um lado, a minha satisfação como autor e, por outro, o grau máximo de autenticidade do texto. Não tenho problema algum em ficar dois meses remoendo uma frase, até a sua completa conversão naquilo que ela deve ser. O que acontece depois que o livro vai para as prateleiras é difícil de prever, mas não impossível. A escrita de “A Condessa de Picaçurova”, por exemplo, seguiu esse padrão de fidelidade para comigo mesmo, o que foi fundamental em termos de atingir a potência máxima da voz que vibrava no meu corpo inteiro. Essa vibração e esse ardor são a exata matéria-prima do fazer literário. Eu dava gritos quando atingia a perfeição do tom e a frase definitiva. Depois chorava de alívio e de felicidade. No meu segundo romance não tem sido diferente. Tudo isso acaba predeterminando o tipo de leitor que pode se debruçar sobre a obra, aquele que é capaz de gozar da mesma sintonia.


O que te fez escolhar a metáfora da Condessa?

A metáfora da Condessa não foi uma escolha, foi uma decorrência quase orgânica da ideia original. Para explicá-la, preciso fazer uma breve incursão. Escrevi o romance inspirado nas pulsões sociais que assolam o Brasil e o mundo, desde 2008. Para tanto, fiz uso de alegorias da chamada cultura popular, pois meu maior intuito era problematizar os paradigmas do Poder, ao mesmo tempo em que levantava questões sobre a própria forma da contemporaneidade. Existe uma personagem no romance chamada Cesário Boaventura, que é o gênio hereditário, herdeiro da aristocracia decadente, positivista e eugenista. Ele desenvolve uma teoria, com bases anti-darwinistas, segundo a qual o macaco representaria o ponto culminante da evolução, superando o próprio Homem. A teoria de Cesário advém não só da observação dos habitantes da cidade fictícia, Coité, mas principalmente do aparecimento insólito de uma macaca saída do tronco podre de uma árvore: o orabutã, que em tupi significa “pau-rosado”, “pau-brasil”. A macaca, Benguela, é acolhida por aquela sociedade e, astuciosamente, galga espaço e devoção. Ela torna-se a Condessa de Picaçurova. Os títulos, a heráldica, são o patamar máximo da artificialidade humana: Senhor, Doutor, Excelentíssimo, Presidente, Diretor – são pura ficção, biombos que escondem uma pessoa como qualquer outra. Penso que Benguela é a naturalização do grotesco, a instauração do “chifre” enquanto representação do poder, é a própria decantação do Poder, o poder com “p” maiúsculo, o poder-poder, o poder metafísico,o poder sem forma humana, o poder sem origem, sem data de nascimento, o poder que não acaba, que desafia a Morte, que vence a Morte, o poder que regresserá quantas vezes for necessário para se renovar seu lugar no mundo.

Qual a aproximacão, ou nao entre nós e a literatutra na Alemanha, e qual seu diferencial..entre gêneros,o leitor e os editores?

As diferenças são abissais. Quanto à produção, os escritores alemães contemporâneos estão muito mais ocupados em tratar dos temas urgentes da sociedade do que deslumbrados com a descoberta de própria subjetividade, como é o caso dos autores brasileiros. Os temas históricos e sociais são recorrentes. A Alemanha passou por um processo civilizatório dramático: o país foi derrotado nas duas grandes guerras, repartido pelas potências vencedoras, carrega a pecha de ter tentado dizimar minorias, foi subjugado por dois regimes totalitários (capitalismo e socialismo), dividido por muros ideológicos e físicos, finalmente reunificado. Este ano, por exemplo, fez 100 anos do início da Primeira Guerra Mundial e 25 anos da queda do Muro de Berlim. Não são temas longínquos, fazem parte do dia a dia, da vida das pessoas e isto é refletido na produção literária. Há muitos autores alemães contemporâneos, como Sybille Berg e Ingo Schulze, comprometidos com a questão social. Além disso, há mais ironia e humor na literatura contemporânea alemã, a exemplo das poetas Elke Erb e Monika Rinck, do que em grande parte dos novos autores brasileiros, que beiram o melodramático e a autocomiseração. Evidentemente, estou falando também como leitor e nisso há grande parcela de gosto pessoal. Mas, em relação ao que tem chegado até mim da nova literatura brasileira, tenho a impressão de que muitos autores se banquetearam e não gostaram! Estão unicamente empenhados em mostrar o quão modernos, urbanos e universais podem ser, querem ser “escritores do mundo”. Entre os alemães essa tentativa, esse empenho é considerado “kitschig”, em bom português, cafona. Isto, porque tanto o leitor quanto o autor alemão são de fato urbanos, modernos, suas famílias vivenciaram dramas de dimensões realmente universais, e eles não precisam provar isso – a Alemanha é o país mais desenvolvido da Europa e o mais cheio de cicatrizes. Essa é a verdade dos alemães. Do mesmo modo, tanto nos leitores quanto nos meus amigos autores alemães, percebo o anseio pela verdade do outro, venha ele de onde vier. O Brasil é um país com um litoral gigantesco, a maior floresta do mundo, problemas sociais intrincados, corrupção endêmica, violência generalizada, diversidade cultural incomparável, se nada disso aparece refletido na produção literária do autor brasileiro, a tendência do público alemão é considerar que o autor é provinciano, mentiroso ou está mal informado sobre as próprias circunstâncias históricas. O papel do editor aqui, como em qualquer país, é o de procurar incansavelmente um livro que venda.


Como nossa produção é vista no mercado germânico?

Paulo, para você ter uma ideia, eu fiquei dois meses, entre julho e agosto, literalmente ilhado. Precisei ficar isolado numa ilha ao norte da Alemanha, para concluir a primeira versão do meu próximo romance. Essa ilha, chamada Hiddensee, é minúscula. Só há uma livraria, igualmente pequena. Na última semana, chegou uma nova safra de livros e me deparei com o "Geschwister des Wassers" de Andrea del Fuego – autora brasileira, traduzida para o alemão, na vitrine de uma livraria minúscula dessa pequena e desconhecida ilha. Note-se: uma autora que rejeita o anseio contemporâneo brasileiro de parecer urbano e “do mundo”. Isto significa que há interesse e espaço no mercado internacional para a verdade brasileira. Outros autores brasileiros contemporâneos que tem visibilidade e são efetivamente lidos são Edney Silvestre e Bernardo Carvalho. São autores bastante comentados e queridos do público, por abordarem questões sociais, políticas, e fugirem aos estereótipos. Quanto à Feira de Frankfurt, é uma feira de negócios do mercado editorial e não uma feira de literatura. Eu estive na homenagem ao Brasil, em 2013, e este ano também. Considero que ambos os eventos, combinados com as bolsas de tradução da Biblioteca Nacional, foram importantes para a inserção da literatura brasileira no mercado internacional. Está muito longe da possibilidade de se falar em “presença” da literatura brasileira no panorama internacional, mas houve avanço.

terça-feira, 10 de março de 2015

Mario de Andrade(1893-1945)…70 anos …


Eu recuso a paciência, o boi morreu, eu recuso a esperança.
Eu me acho tão cansado em meu furor.
As águas apenas murmuram hostis, água vil mas turrona paulista
….
A Meditação sobre o Tietê -1945-( parte final)
Depois das cinzas, das águas, do tempo estamos há setenta anos da morte de Mario de Andrade e o panorama não mudou na sua cidade Seu poema, vide trecho acima, foi escrito no ano de sua norte(1945) , talvez o último grande poema. Perfeitamente severo ao tempo ,como o de hoje.
Ele nos deixou um grande legado que até hoje há muito para se ver e entender. Sua obra é vasta e passa por mais diversos campos, da literatura, a música, a dança, enfim da cultura popular. Trabalhei com seu material recolhido nas missões iconográficas da Sec.M. de Cultura de SP, tal acervo nao foi trabalhado como deveria face a nao formacão de uma comissão múltipla – interdisciplinares de especialistas -de vários estados, como assim mereceria.O material passa pelas linguagens das artes e tem objetos raros que mesmo, os estados –do nordeste e norte, nao os possui ,caso de Pernambuco, mas há outros mais.
Mas voltemos ao poeta, ele como um homem solitario, meditabundo encarou poetar a cidade em suas pracas, ruas, avenidas, casas e seu maior rio.Comseus poemas iniciais, da Lira Paulistana, ele quebra a rima, fala de um Brasil, Brasil, brasileiro
Poeta do Modernismo ele foi fatal na poesía desde a Lira Paulistana, 1922. Obra magistral e antropológica como só ele sabia dar suas pitadas com seu português brasileiro.Vide -manuscrito A gramatiquinha da fala brasileira, obra inacabada, deixada pelo poeta: é a língua falada pelo povo. Fase caótica primitiva em que o Brasil é livre, [...] dá as tendências essenciais da futura fala brasileira(http://bit.ly/1CK2Rxm),mas finquemos o olhar sobre a Meditação do Rio Tietê:
Porque os homens não me escutam! Por que os governadores
Não me escutam? Por que não me escutam
Os plutocratas e todos os que são chefes e são fezes?
Todos os donos da vida?
Eu lhes daria o impossível e lhes daria o segredo,
Eu lhes dava tudo aquilo que fica pra cá do grito
Metálico dos números, e tudo
O que está além da insinuação cruenta da posse.
E si acaso eles protestassem, que não! que não desejam
A borboleta translúcida da humana vida, porque preferem
O retrato a ólio das inaugurações espontâneas,
Com béstias de operário e do oficial, imediatamente inferior.
E palminhas, e mais os sorrisos das máscaras e a profunda comoção,
Pois não! Melhor que isso eu lhes dava uma felicidade deslumbrante
De que eu consegui me despojar porque tudo sacrifiquei.
Sejamos generosíssimos. E enquanto os chefes e as fezes
De mamadeira ficassem na creche de laca e lacinhos,
Ingênuos brincando de felicidade deslumbrante:
Nós nos iríamos de camisa aberta ao peito,
Descendo verdadeiros ao léu da corrente do rio,
Entrando na terra dos homens ao coro das quatro estações.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A busca da Ética

A mídia sempre teve se poder avassalador e produz a inculcação de sua ideologia.Pede ao governo ética, pedem as instituições o mesmo, mas se escusa em cumprí-la. Que ética é esta?
Como propor o que nao se faz entre eles? Denunciam cartéis, grupos grupelhos mas se coloca longe de um padrão de ética da informação e da comunicação .
Às instituições sao cobradas padrões de moralidade ética e consciência nacional,mas não se cobra ao povo, aos cidadãos,  tal comportamento .
no dia a dia mentimos nos comportamentos éticos,simulamos a Ética mas exigimos dos outros sua ação.
Interessante isto. É a própria idiossincrasia do mundo.
Nos apostamos por palavras, existimos e estamos sob seu domínio e nao percebemos o que nos atropela quanto ao ideológico que ela nos imanta.
Será que os gregos e ao longo do curso da história inventaram essa mentira, A ÉTICA?
Forjamos um não ponderável?
Somos mesmo a mentira ....Criamos e ao faze-lo  nos negamos para.....

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

TEMPOS DA DESIDRATAÇÃO Antonia S. Catuca .Universidade da Seca- Rede Coloseco Br.



Há muito que estamos em processo de desidratação. Tempos de transmutação. Desde a carne de sol, seca, frutos e verduras. A Alquimia nos ajudou, ou compôs  a retirada da água .Já, em grande parte da   população, toma –se água comprada mineral, embora muitos bebam água do pote ou da torneira. Mas a chamada mineral está envazada em PLASTICOS e o que não está? O plástico venceu o vidro a argila e também o bebemos, como os animais, da terra-solo- e oceanos. Formamos uma capa de plásticos sobre os oceanos

Desidratamos a terra, fizemos uma grande capa de cerâmica sobre o solo e a água já não a penetra por igual, nem tampouco respira, as ervas não espocam fácil sobre o solo e nela não mais insistem. As grandes cidades são espécies  de pântanos desidratados, respiramos o pó do processo de desidratar. A saúde foi pelo ralo, tudo, ou quase tudo do mundo fármaco é que se nos presta como natureza(?) e assim acredita-se. Viramos reféns da farmácia, elas se proliferam por todos os lados como supermercados de SER E ESTAR em que confunde-se beleza, saúde,   limpeza e produtos naturais(?), e afinal o que restou do NATURAL, da NATUREZA.??

A longevidade, para uns, é fruto de um ser –prótese- amalgamado pelos fármacos, próteses de metais os mais variados, cospe-se desidratado.

A educação foi desidratada pela tutoria da mídia, por escolas e universidades que blindam o conhecimentos para vários cones, o papel, título acadêmico, para ser tekchnos, das tecnologias e seus ufanismos endeusados pela palavra desidratada das chamadas redes Sociais. A educação é nos games e na desidratada seca da distância.

A política foi obliterada pela economia, já não se discute na politica, segue-se pela força –forca- do poder.

A globalização é a desidratação do poder num novo colonialismo mundial e do hiperespaço , que abrande do ciberespaço terráqueo ao espaço sideral.
Somos obesos, malhados de desidratamentos e sorrimos sem sabor de saliva.

A filosofia é abafada, nas escolas nas academias, mas esta insiste, mesmo sem um caudoloso provimento. A Autoajuda o marketing  publicitário nega-a... como o inútil não produto, nem negócio. A palavra é .....?

A psicanálise rende-se a desidratação dos fármacos, o desejo é lavado a seco nas salmouras de resiliência do imaginário e simbólico, num real seco mudo.
O homem nem mente nem diz veritas, tudo é o mesmo é desidratado, como os cadáveres em decomposição ou sobre a ação do fogo que vai além do desidratar , queima-se, queimamos  a água ela ferveu e somos reféns do poder  da alquimia que o poder levou a auto-degola, ou não?
Para quem escrevo isto? Tenho sede.... estou em São Paulo, estou com dengue?


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A Academia Pernambucana de Letras (APL) divulgou, nesta quarta-feira (14), os nomes dos ganhadores dos prêmios literários da edição 2014,

A Academia Pernambucana de Letras (APL) divulgou, nesta quarta-feira (14), os nomes dos ganhadores dos prêmios literários da edição 2014, em várias categorias. As honrarias serão entregues no dia 26 de janeiro, na cerimônia de aniversário dos 114 anos da APL, nas Graças. Confira a relação dos livros e autores premiados: 

Prêmio ANTÔNIO DE BRITO ALVES – Ensaio - “O Cinema Sonhado” - Josias Teófilo 

Prêmio EDMIR DOMINGUES – Poesia - “Saudade Presa” - Djanira Silva Rego Barros

Prêmio ELITA FERREIRA – Literatura Infanto-juvenil - “Carvão, Um Gato Diferente” - Marcio Renné Moreira Leal
       
Prêmio VÂNIA SOUTO CARVALHO – Ficção - “O General das Massas” - Paulo Santos de Oliveira

Prêmio WALDEMAR LOPES – Soneto - “Sonetos Inéditos” - Samuel de Souza Neto

Prêmio DULCE CHACON – Escritora Nordestina - “No Curso da História – Crônicas” - Selma Vasconcelos

Prêmio AMARO QUINTAS – História de Pernambuco - “Boa Vista – Berço das Artes Plásticas de Pernambuco”
Jacques Alberto Ribemboim e Wilton de Souza

Prêmio LEONOR CORREA – Historia dos Municípios Pernambucanos - “Ipojuca. Passado, presente e futuro do município que mais cresce em Pernambuco”
 - Arnaud Mattoso

Noiva da Paulista

série av paulista

Lembro-me da Casa Madame Rosita , no início da Av Paulista, quase esquina com a Haddock Lobo, anos 70.Era uma casarão de certa forma imponente, onde se trabalhava  com moda  feminina, em que a alta costura estava chegando ainda por aqui. Seu nome de fato era: Rosa Libman uruguaia tendo aportado no Brasil em 1935.No mesmo ano inaugura sua maison  denominada -Peleteria Americana- na Rua Barão de Itapetininga em São Paulo. Seu foco eram: artigos de pele,visons, martas, raposas e zibelinas.Mme. Rosita trazia as mais famosas peles do mundo, sendo a primeira griffe brasileira, podemos assim afirmar.
Seu primeiro desfile profissional do Brasil foi em 1944 vanguardista da Alta Costura no Brasil.
Primeiro sua loja  foi no centro da Cidade, quando a Barão de Itapetininga estava no auge, após a decadência ela instala-se no Conjunto Nacional da Av. Paulista, agora com o  nome de Madame Rosita,quando aquele projeto arquitetônico inflamava a cidade; depois ela cria sua própria casa, no casarão a que me refiro.
Do do outro lado da avenida havia  SLOPER, casa, que já conhecia no Recife,cidade a epóca a terceira maior do país , após São Paulo  e Rio A Sloper foi espéçie de Magazine Chic, das dondocas, onde encontrava-se luvas, lenços, echarpes finíssimas e bijuteria fina afora as  grandes marcas de cosméticos, entre elas , a época, Helena Rubenstein, patrocinadora offcial do Miss Brasil , que fazia sucesso nos anos 70, em seu final,mas havia outra dezenas de marcas.Bom, falo tudo isto para tentar descrever parte do cenário ao que me interessa inserir – a noiva da Paulista.

Bem,vamos ao que quero falar.Recordo-me-anos-i70 para 80- da aparição, costumeira, às tardes,de uma mulher de seus sessenta e tantos anos , senão mais, que desflilava em frente da Loja da Madame Rosita com vestido de noiva e uma grande calda com um buquê de flores e, claro, um solideu.Compenetrada passava, desfilava pela calçada como uma personagem de Godard.Para mim era o cinema ao ar livre.Admirava-me a coragem e a forma compenetrada da tal mulher.Louca, não sei, sei que de coragem e poder de criação sim ! Era o tempo em que performance era loucura.Hoje ganha-se dinheiro com as estátuas vivas, ou esculturas humanas.Bom!

Mas o que se passaria na cabeça da tal mulher?

O quê levaria a tal?
A mim trazia o imaginário cinematográfico, ao vivo,a imagem , que nos alucina, só que ao vivo e a cores e cheiro.

Certa vez cheguei mias perto da tal figura e senti seu perfume, seu rosto de inteira fidelização ao personagem empunhado.Passava-me  uma vontade de acompahá-la com  um traje equivalente, mas pensava: roubaria-lhe a cena, mas que vontade eu tinha , tinha sim, era a erupção, a exuberância, do crer do desejo e realizá-lo postando assim parte de suas dobras de subjetividade, e, ao mesmo tempo, adornando a cidade, em que, talvez,o fluxo das pessoas da avenida não compreendia, não sentia- a, mas que ela tinha público , tinha sim.

Essa mulher foi para mim, por incrível que pareça a minha visão de Madame Rosita, já que nunca conheci  a sua loja, nem tampouco,  ela em pessoa.
Ela, a noiva,era símbolo da decadência da paulicéia rica, enloquecida, mas sem perder a pose, mas com o charme  e a sedução.Ela era o desencontro de tantos da cidade , mas era a mesmo tempo o encontro da Fascinação em tempos de alta moda, para poucos.Ela zombava, era uma noiva solitária, silenciosa sem seu par e a mostrar  que mesmo assim vivia como noiva do além.
A noiva da paulista é a noiva sem casamento, como a avenida, que não casou, pela sua imponência, ficou só mas pomposa, deturpada, com a sua  calda , que já é ultrapassada por outras caldas de outras noivas solas, das avenidas da cidade.

E penso :mudou-será que não existem noivas, noivos punks, agora em outra performance brutal, cenário de clubes da luta? Continua agora não mais Godard - Une femme est une femme (J-L. Godard, 1961)e sim clubes da luta  de skinheads e punks...outros noivos...

E termino com Eduardo Gudin:… Se a avenida/Exilou seus casarões/Quem reconstruiria

Nossas ilusões?/Me lembrei/De contar pra você/Nessa canção
Que o amor conseguiu
… /Se os seus sonhos/Emigraram sem deixar/Nem pedra sobre pedra/Pra poder lembrar:/Dou razão
É difícil hospedar/No coração
Sentimentos assim..


Vilma Arêas e seus espaços , ventos e terra



*Vilma Arêas por L.Travessa 





Não sou crítico literário, ao pÉ da expressão,nem tenho intenções para tal, escrevo sobre o que gosto, crítico sou , de mim e do mundo que me rodeia, mas não da Literatura, que mesmo sendo vida, é um tricô mais complicado. Enfim vamos ao que nos interessa aqui, e é o caso de Vilma Arêas Pouco ainda conhecida pelo grande público, o que é uma pena; a professora Vilma Arêas, me impressionou com seu livro de Contos-Vento Sul.-Cia das Letras, 2011-como que me trazendo uma nova onda de boa literatura madura, firme e densa.

Este livro me chega as mãos por Fábio S. Cardoso, o qual fez uma entrevista sobre a mesma, junto com o Rogerio Pereira na revista Rascunho-Curitiba-Pr. (http://bit.ly/zdvPAJ. Antes de ler o autor indicado especulo, cavo ,mexo, remexo busco informações , vou ao- senhor é meu pastor nada me faltará -nome dado pelos alunos- ao Google, enfim cato e dai me chegam informações importantes. A autora organizou poemas de uma diva minha- Sophia de Mello B.Andresen ,escreveu sobre Clarice Lispector e gosta de Graciliano Ramos. Em seguida, flagro no Suplemento do Diário oficial de Pernambuco uma matéria sobre a mesma, por Ronaldo Bressane (http://bit.ly/KjE63j) na qual ela despeja o verbo sobre a literatura como todo e sobre si. Muito bem, leio o livro numa tacada só, num dia de semana a noite. Impressiona-me.

Chama-me atenção seu imaginário, sua poesia embutida em sua escrita e seu jeito urbano-rural, coisa aliás afastadas dos temas da prosa, refiro-me ao meio rural. Há um não sei quê ,que me faz juntar-me a ela, celebro com ela suas estórias, chego a sentir cheiros, texturas em sua escrita. As vezes penso que estou lendo uma nordestina, das boas, qual o quê, ela é Fluminense-Rio de Janeiro de Campos dos Goytacazes.- ha um cheiro de interior brasileiro. Ai sim, fica mais claro para mim esta mulher, mesmo assim quero ve-la, ouví-la , apelo para o You tube. Num pequeno trecho, da entrevista , com Cadão Volpato-Metrópolis-TV Cultura,onde o mesmo alarmantemente titubeia, ante o simples de Vilma, mas diante do que ouço e vejo apaixono-me pela mesma, sou assim, há que me passar fascínio , como assim foi Clarice, é Nelida Pinon, Maria do Carmo Barreto Campelo,Sergio Santana, Joao Gilberto Noll,,João Cabral, Gulhermo Arriaga, o saudoso ,Carlos Funtes e tantos outros. Parto para ler outras obras suas , contos como: A Trouxa-2005 e A terceira Perna 1998, em que encontro uma mesma tessitura textual, mas com maturidade diferente. Mas desliza em toda sua escritura a poesia que ela tece opacamente, mas que risca seu bordado de sua escrita de ponta a ponta. Na terceira perna seu olhar lispectoriano é comprovado nas citações iniciais...uma nova terceira perna que em mim renasce fácil como o capim..(C Lispector), mas Vilma vai além ela convulsiona em destreza nos contos –Dó de peito e Seda Pura. Mas, no todo dela admiro seu jeito de falar, suas opiniões face aos grandes da Literatura, ela os traça de modo inteligente direto e reta, mas denso, passando por Clarice Lispector , sobre a qual tem uma obra, e faz criticas pertinentes ao B. Moser , indo a P..Roth, Coetzee etc. Suas imagens esculpidas nas palavras, no meu imaginário, me passam uma serenidade de gente que tem bom faro, que esfrega-se ao solo para retirar fermento para sua escrita e existência.Ela confessa isto nas entrevistas, sua história , seu caminhar como pessoa de bom tato e olho fino. Seus contos tem um ar de terra, vindo destes ventos que se espalham em nossas vidas e não nos damos conta, o seu tal Vento Sul.

Vilma, corre manso e largo na sua escrita, sem rcocós maiores, mais com estupefaciente exatidão do léxico, do ambiente ao qual pinta e põe seus personagens e enredo. A estrutura do seu conto é breve, como gosto, e no entanto ao final pensamos que lemos um romance, ela dá látex para isto na sua textualidade avantajada. As vozes polifônicas perfilam -se em amontoados de um brilho memorável Seus contos tem um quê do conto tradicional, na estrutura temporal, mas sem grandes delongas, na verdade seu conto é uma pintura com bordas de arte abstrata,o que me lembra Sophia de M.Bryner Andressen, que ela tão bem conhece.

O livro –Vento Sul-encontra-se divido em 4 partes- que aliás não compreendo o porquê, mas enfim percebo que nele se misturam contos e quase ensaios, ou poemas como que tendo um ar lispectoriano, ja que a memória nossa é associativa, mas confesso que não gosto de tais comparativos, enfim saiu, ta aí. De cara deparo-me com dois contos seus-Thereza e República Velha, são contos que deixam-me embeiçado ,pelo estilo, propriedade léxicas e concisão. Há uma poética do rompante que me eletriza na descrição do feminino do lugar da mulher historicamente neste país, do ideal de amor e companheirismo, e mesmo em passagens alucinantes a autora tece filigranas poéticas com uma malha estética muito poderosa e de fauna inusitada, por sois, ventos, bichos, gritos. Se em Thereza tais fatos exalam as relações maritais , no segundo, República Velha, ela retorna para mais poetar, ela enverga o macho e torce-lhe pelo amor e companhia. A puta não é uma qualquer, é aquela mulher eleita, que tantos querem como a verdadeira puta da vivência, do chamego do objeto do desejo, da mulher, do homem puto que necessita de outro de sua laia, e que por vezes não enxergamos ou não queremos, ou não podemos. Sei, lá o quê?

Vilma insinua-me estas questões para o convier entre companheiros é necessário nada e tudo. O macho atende a si e depois que desmascara a mulher com outro e passado algum tempo conclui: “...Dentro do silêncio que se fez, só quebrado por uns latidos de cachorro ao longe, completou já de pé: Puta por puta fico com ela que já estou acostumado. “ Não posso deixar de ler o silêncio cortado por latidos de cachorros, sim cachorros , que a autora nos oferece leiam como quiserem, e a decisão do outro. Em- Habitar – outro conto a autora é bachelardiana, lembrei-me da Poética do Espaço- de Gaston Bachelard -1977 ...”este é o ponto frágil da fantasia, que funda o absurdo, porque no íntimo ele sabe que a vida não vive. Negando a verdade cristalina, fingindo que não vê, parece que respira por um garagalo.. Mas não esta está só aqui, neste conto, se perfila em todos os contos da obra , como antes já anunciei. E isto faz uma trilha com-outros contos como: Encontro- Canto noturno de peixes, Zeca e Dedeco e por fim um grande conto poema –O vivo o morto: anotações de uma etnógrafa – “ .... A seta está cravada no vazio....neste ponto se esboça o gesto, abrindo espaço ä poesia... “ Vilma é uma poeta e tanto,e lembrando minha saudosa Sophia de M.B Adressen- “ Perfeito é não quebrar A imaginária linha Exacta é a recusa E puro é o nojo “-Mar Novo 1958.

*VILMA ARÊAS -Fluminense, estreou na ficção com Partidas(contos, Francisco Alves, 1976). Aos trancos e relâmpagos (literatura infantil, Scipione, 1988) e A terceira perna (contos, Brasiliense, 1992) mereceram o prêmio Jabuti. Em 2002,Trouxa frouxa (contos) recebeu o prêmio Alejandro José Cabassa (44o. aniversário da União Brasileira de Escritores), e em 2005Clarice Lispector com a ponta dos dedos(ensaio) recebeu o prêmio APCA categoria literatura. Professora titular de literatura brasileira na Unicamp, Vilma Arêas vive há muitos anos em São Paulo.(Por Cia das Letras) .

sábado, 9 de agosto de 2014

José Lins do Rego-1901-1957 e a sua crônica Futebolística

José L. do Regor por Vacatusa


José Lins é um autor que fez o chão de uma literatura brasileira a partir de sua Paraíba-Pilar, terra de Geraldo Vandré também. Seu nome foi feito a sua época dominada pelos editores do eixo poderoso Rio e São Paulo , mas lançado foi sucesso-Menino de Engenho-1932.
Sua obra é extensa e vai do romance ao conto e crônicas. Reconhecio no Brasil e fora pela academia e editores e seus leitores, claro. Vania Kaasch,professora  da Universidade de Hamburgo fala do autor, em que menciona suas oitivas textuais de qualidades insuperáveis , na descrição do homem brasileiro e sua vida tostada pelo azedo do capital, a época a cana de açúcar.

Durante os anos 80 e 90, alguns críticos querendo notabilidade, desdenharam de José Lins, chamaram a sua literatura de Literatura menor, contrariando o grande Editor Nacional Jose Olympio. Outros tempos, e quem tem boca diz o que quer, e quem acredita, faz menor.
Há quem o compare a Proust, o que renego, ele era paraibano, brasileiro, adotado pelo Rio, mas incomensurável; sua madeleine  era um bolachão, soda se preferir, mas tão gostoso ou mais que o bolinho francês, seu chá o caldo de cana ou o café fraco açucarado . Um memorialista que ultrapassa isto pelo simples do seu povo, povo brasileiro, não é apenas do nordeste, mas da barriga toda brasileira.... às minhas criaturas, aos rudes homens do cangaço, às mulheres, aos sertanejos castigados, às terras tostadas de sol e tintas de sangue, ao mundo fabuloso do meu romance, já no meio do caminho....ultima crônica de  O Melhor da Crônica Brasileira", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1997, pág. 33.

A fliporto,2013, recentemente homenageou-o, e ,coincidências a parte em seguida, é lançado a obra Flamengo é puro amor -2013 (), com crônicas de Zé Lins sobre o futebol e com destaque para o seu lado Flamengo.A obra foi organizada por Marcos Castro que quer destacá-lo como  um cronista do esporte  de excelência. Agradecimentos a parte, ZéLins tinha seu lado futebolístico forte, mas sua oba ficcional é muito, muito além disto, é um monumento jamais ultrapassado, e ainda não lido como deveria ser,ele foi um cartógrafo de um País miserável, dos senhores de engenhos, do nordeste, como os colegas senhores da cafeicultura  Carioca e Paulista, tal e qual.

Ele não adornou sua obras, mesmo na crônica esportiva, o texto seu, ficcional  era cruel para poder dizer da infância ao poder adulto, dos patriarcas e matriarcas do pais. Da descrição de subjetividades emaranhadas ao capital e desmazelo politico do brasil, a o encaminhamento dos ex escravos à cidade. Sua obra é uma crônica etnográfica deste brasil rural. Amigo de G.  Freyre fazia as suas confabulações e trocaram idéias que não se distanciavam antropologicamente.

Mas o fato é que Zé Lins fez a crônica futebolística e a renovou, sim renovou-a, não ficou no bla-blá de times entre eles, mas de uma questão nacional, que envolvia, mídia dinheiro e fama. Ele fez criticas  severas a um futebol que reina entre São Paulo e Rio, cariocas e paulistas, ele apontou as mazelas de uma acentuada profissionalização e as vantagens do capital. Ele inaugurou a moderna crônica do futebol, e saiu com Mario Filho, filho de um Pernambucano Nelson Rodrigues- fluminense , renovando o campo da escrita do futebol e trazendo  reflexões ate então não feitas pelo cronismo esportivo.
....
Não quis Mário Filho que encerrasse a minha carreira na crônica esportiva e me chamou para o convívio do seu jornal. Confesso que já começava a sentir saudades da coluna que me dera tantos trabalhos e tantas alegrias. A primeira vaia da minha vida conquistei por causa de uma palavra mal-interpretada, numa crônica de bom humor. E a experiência da vaia valeu o “caviloso” pouco conhecido.
A um escritor muito vale o aplauso, a crítica de elogios, mas a vaia, com a gritaria, as “laranjas”, os palavrões, deu-me a sensação da notoriedade verdadeira. Verifiquei que a crônica esportiva era maior agente de paixão que a polêmica literária ou o jornalismo político. Tinha mais de vinte anos de exercício de imprensa e só com uma palavra arrancava da multidão enfurecida uma descarga de raiva como nunca sentira.

Volto à crônica com o mesmo ânimo, com o mesmo flamenguismo, com a mesma franqueza. Nada de fingir neutralidade e nem de compor máscara de bom moço. Mas só direi a verdade. .....
(7/3/1945)