A poesia de Alexandre Coutinho
“Menino é raso / de meninura.”
O poeta está mais vivo que a ponta da lança que
o levou ou ajudou a sair para outro
canto ou desencantou-se ou reencantou-se. Seu corpo, âncora de vida, foi de
difícil apelo, como todos os outros são ,mas no corpo da letra “ele tentou
domar o corpo textual, gulosamente e em velocidade, como sua música “, afirma
Lorena Grisi, parceira e amiga.
A poesia de Alexandre Coutinho (Iraquara,
Bahia, 1982-2013) tem a estirpe de suas cordas, música, como ator, de seu visgo
com a vida, como sobrancelha sem uso sobre nenhum olho, mas vital no absurdo
que vaga a vida, na inconciliação com o
real duro .
Seu livro Estudos
do Corpo (2012, Editora 7 Letras ) traz
dourações de apalavramento da loucura do lúcido de si, desse si com a vida .
E enxergo gota/Palavra de mim
Que é água que brota/Para tudo além da sede...
Palavra
de mim/O canto do ocaso
A alma narcótica/Palavra de mim
Cede à doença/Me entendo/Ao passo do fim
Nos olhos do outro/A palavra de mim.
Ligia Guimarães Telles, professora doutora e
orientadora de Coutinho na dissertação de mestrado na UFBA (Letras, 2011) – O extremo do possível em rútilo nada: uma síntese concêntrica em Hilda Hilst – se refere a
sua poesia assim: “(...) Lírico e trágico se enlaçam, compondo em performance a
cena da criação poética, seus gestos e acenos... como em Jazz nº 10”:
Aqui não há silêncio, onde me encontro tudo é
ruído. Ossos rangendo na boca. Dentes batendo no peito. Estômago compondo toxinas...
Continua Ligia: “A qualidade musical assumida
no título da segunda parte do livro - “JaZ.z” – e dos 20 poemas. Dessas imagens
assoma o corpo masculino em nudez, permitindo ao leitor relacionar corpo humano/corpo
do texto, da palavra, da escrita. As aliterações constantes aguçam a audição”:
Minha lascívia/de lodo e lama;
Torpor de um vício adunco/Vapor de vínculo e
vinco;
Fruição frêmita de estrofes e tempos.
Mas este poeta, como todo ser homem, foi, na
sua poesia um subtítulo escrito pela sua textualidade:
Entre miasmas,
ruídos, máscaras, entre o parque central e o cemitério S. Pedro, onde havia uma
cova com meu nome (...). Com tanto peso simbólico, foi impossível conter o
vômito. Barcos, corações, crucifixos, mercedes, facas, tumblios dissimulados
postos pra fora sob um grito mudo e uma intensidade fraterna. (http://bit.ly/ZKSCJB)
Por fim,ele diz de
sua poesia:
A poesia não está
irrita. Esconde-se naquilo de fosso/troço retalhado no corpo.Tecido
anatômico/de pano:mamulengo/pro vário que sou/desvario que hei de ser
devir…Continuo invento/da saliva apalabravada…
Ler Alexandre é ler sua costura de vida e de poetação da existência.
Tão desnecessária poesia/disrítmica e plantada nas palavras que não fui…