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quinta-feira, 20 de abril de 2017

UM POETA AINDA VIVO EM TESSITURA POÉTICA

 A poesia de Alexandre Coutinho


“Menino é raso / de meninura.” 

O poeta está mais vivo que a ponta da lança que o levou  ou ajudou a sair para outro canto ou desencantou-se ou reencantou-se. Seu corpo, âncora de vida, foi de difícil apelo, como todos os outros são ,mas no corpo da letra “ele tentou domar o corpo textual, gulosamente e em velocidade, como sua música “, afirma Lorena Grisi, parceira e amiga.

A poesia de Alexandre Coutinho (Iraquara, Bahia, 1982-2013) tem a estirpe de suas cordas, música, como ator, de seu visgo com a vida, como sobrancelha sem uso sobre nenhum olho, mas vital no absurdo que vaga a vida, na inconciliação  com o real duro .
Seu livro Estudos do Corpo (2012, Editora 7 Letras  ) traz dourações de apalavramento da loucura do lúcido de si, desse si com a vida .

E enxergo gota/Palavra de mim
Que é água que brota/Para tudo além da sede...
Palavra  de mim/O canto do ocaso
A alma narcótica/Palavra de mim
Cede à doença/Me entendo/Ao passo do fim
Nos olhos do outro/A palavra de mim.

Ligia Guimarães Telles, professora doutora e orientadora de Coutinho na dissertação de mestrado na UFBA (Letras, 2011) – O extremo do possível em rútilo nada: uma síntese concêntrica em  Hilda Hilst – se refere a sua poesia assim: “(...) Lírico e trágico se enlaçam, compondo em performance a cena da criação poética, seus gestos e acenos... como em Jazz nº 10”:

Aqui não há silêncio, onde me encontro tudo é ruído. Ossos rangendo na boca. Dentes batendo no peito. Estômago compondo toxinas...

Continua Ligia: “A qualidade musical assumida no título da segunda parte do livro - “JaZ.z” – e dos 20 poemas. Dessas imagens assoma o corpo masculino em nudez, permitindo ao leitor relacionar corpo humano/corpo do texto, da palavra, da escrita. As aliterações constantes aguçam a audição”:

Minha lascívia/de lodo e lama;
Torpor de um vício adunco/Vapor de vínculo e vinco;
Fruição frêmita de estrofes e tempos.

Mas este poeta, como todo ser homem, foi, na sua poesia um subtítulo escrito pela sua textualidade:

Entre miasmas, ruídos, máscaras, entre o parque central e o cemitério S. Pedro, onde havia uma cova com meu nome (...). Com tanto peso simbólico, foi impossível conter o vômito. Barcos, corações, crucifixos, mercedes, facas, tumblios dissimulados postos pra fora sob um grito mudo e uma intensidade fraterna. (http://bit.ly/ZKSCJB)

Por fim,ele diz de sua poesia:
A poesia não está irrita. Esconde-se naquilo de fosso/troço retalhado no corpo.Tecido anatômico/de pano:mamulengo/pro vário que sou/desvario que hei de ser devir…Continuo invento/da saliva apalabravada…

Ler Alexandre é ler sua costura de vida e de poetação da existência.


Tão desnecessária poesia/disrítmica e plantada nas palavras que não fui…