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"Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar."
Amadeu Thiago de Mello nasceu em Barreirinha, no Amazonas, em 1926. (1926-2022)
O sumiço de um poeta, sua morte, é como um sumir constelações de estrelas,ou um conjunto de cérebros e pessoas num mesmo corpo.Com a morte de Thiago de Mello desaparecem florestas.Lutador contra o sistema que esmaga o homem e o verde-a floresta Amazônica-sua grande mãe,partiu o poeta aos 95 anos.
Um ser humano de real grandeza, que o diga o finado ZÉLINS DO REGO, que o teve a sua cabeceira ,antes e nos momentos finais-sua morte.Mas este fato era comum em sua vida distribuindo empatias mundo afora com tatos outros poetas como Pablo Neruda ,Paulo Freire, (vide abaixo poema- Canções para os fonemas da Alegria) e outros tantos no Brasil e no mundo
Thiago exaltou o homem e fez seu decreto -Os Estatutos Do homem- seu poema mais conhecido, todavia sua obra é extensa, mais de 30 obras entre prosa e poesia, e sua morte deixa-nos órfãos,num momento em que a orfandade já se prolifera.Contudo seu verso será corrente que viralizará entre os mais jovens, mais ainda.O poeta jamais parte, fica sempre entre os tempos invisíveis mas a florescer como o verde entre o concreto e a lama.
Mas como diz o poeta:
Faz escuro mas eu canto
Faz escuro mas eu canto,
porque a manhã vai chegar.
Vem ver comigo, companheiro,
a cor do mundo mudar.
Vale a pena não dormir para esperar
a cor do mundo mudar.
Já é madrugada,
vem o sol, quero alegria,
que é para esquecer o que eu sofria.
Quem sofre fica acordado
defendendo o coração.
Vamos juntos, multidão,
trabalhar pela alegria,
amanhã é um novo dia.
Peço licença para algumas coisas.
Primeiramente, para desfraldar
este canto de amor publicamente.
Sucede que só sei dizer amor
quando reparto o ramo azul de estrelas
que em meu peito floresce de menino.
Peço licença para soletrar,
no alfabeto do sol pernambucano
a palavra ti-jo-lo, por exemplo,
e poder ver que dentro dela vivem
paredes, aconchegos e janelas,
e descobrir que todos os fonemas
são mágicos sinais que vão se abrindo
constelação de girassóis girando
em círculos de amor que de repente
estalam como flor no chão da casa.
Às vezes nem há casa: é só o chão.
Mas sobre o chão quem reina agora é um homem
diferente, que acaba de nascer:
porque unindo pedaços de palavras
aos poucos vai unindo argila e orvalho,
tristeza e pão, cambão e beija-flor,
e acaba por unir a própria vida
no seu peito partida e repartida
quando afinal descobre num clarão
que o mundo é seu também, que o seu trabalho
não é a pena que paga por ser homem,
mas um modo de amar – e de ajudar
o mundo a ser melhor. Peço licença
para avisar que, ao gosto de Jesus,
este homem renascido é um homem novo:
ele atravessa os campos espalhando
a boa-nova, e chama os companheiros
a pelejar no limpo, fronte a fronte,
contra o bicho de quatrocentos anos,
mas cujo fel espesso não resiste
a quarenta horas de total ternura.
Peço licença para terminar
soletrando a canção de rebeldia
que existe nos fonemas da alegria:
canção de amor geral que eu vi crescer
nos olhos do homem que aprendeu a ler.
Santiago do Chile, verão de 1964.
Vide reportagem do sepultamento do poeta: https://www.manaus.am.gov.br/noticia/artistas-e-amigos-prestam-as-ultimas-homenagens-ao-poeta-thiago-de-mello/