REDES

Mostrando postagens com marcador Povos indigenas Elton. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Povos indigenas Elton. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 29 de julho de 2019

No livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, o pensador indígena Ailton Krenak








Não é necessário mais falar de Elton e sua palavra enxuta.Nos lembra a obra de Ailton Krenak mostrando" como os povos da floresta agem para evitar a ameaça de fim de mundo...":
leiam : Flagra do Facebook



Elton Luiz Leite de Souza
No livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, o pensador indígena Ailton Krenak nos mostra como os povos da floresta agem para evitar a ameaça de fim de mundo: mais do que o cacique , enquanto “chefe político”, ou o pajé, o “chefe religioso”, assume o comando aquele que é uma “pessoa coletiva”. 
Nos povos da floresta a “pessoa coletiva” não é alguém com “muitos eus” ou “personalidades”. Diferentemente, a “pessoa coletiva” é aquela que diz narrativas que expressam o “nós” da comunidade. Somente sendo uma “pessoa coletiva” se pode ser uma singularidade. A “pessoa coletiva” não profere ordens e nem cultos, ela tece narrativas. São as narrativas de uma “pessoa coletiva” que potencializam a comunidade para enfrentar as ameaças de fim de mundo. 

A “pessoa coletiva” é o poeta da comunidade. Entre os povos da floresta, o poeta não tem nome próprio designando um ego, pois seu nome é “pessoa coletiva”. É assim que o poeta é chamado: “pessoa coletiva”. O poeta expressa um poder diferente daquele que exerce o cacique, o poeta promove curas para enfermidades que o pajé não consegue curar, e trava guerras cujas armas não são lanças ou flechas, pois sua guerra é a resistência por intermédio da palavra que não deixa morrer um mundo, o mundo dos povos da floresta. A “pessoa coletiva” é um “agente coletivo de enunciação”, como dizem Deleuze & Guattari, e por ela fontaneja um “afloramento de falas”, tal como aflora na pessoa coletiva Manoel de Barros, o poeta da nossa tribo. Segue um trecho do livro de Krenak:
“Nosso tempo é especialista em criar ausências: do sentido em viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar, de cantar. (...) O tipo de humanidade zumbi que estamos sendo convocados a integrar não tolera tanta fruição de vida. Então, pregam o fim do mundo como uma possibilidade de fazer a gente desistir dos nossos próprios sonhos. E a minha provocação sobre o adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história. Se pudermos fazer isso , estaremos adiando o fim” (p. 26).
"Tenho em mim um sentimento de aldeia e dos primórdios. Eu não caminho para o fim, eu caminho para as origens. Não sei se isso é um gosto literário ou uma coisa genética. Procurei sempre chegar ao criançamento das palavras. O conceito de Vanguarda Primitiva há de ser virtude da minha fascinação pelo primitivo. Essa fascinação me levou a conhecer melhor os índios” (Manoel de Barros)