uma articulação de mulheres escritoras que dividem entre si as violências que sofrem (ando chamando de violência editorial) por parte de escritores, editores, companheiros ou não, está em curso e em diálogo. tenho apoiado essas mulheres, escutado suas vivências, discutido questões que para mim são políticas e que, penso, não devem ficar à sombra do patriarcalismo protetor que tudo desculpa a esses homens. penso que não se trata de vingança, ou revanchismo, mas uma necessidade de jogar luz nas situações que privilegiam o surgimento (e acobertamento) dessas violências. desde que anunciei meu apoio a essa rede subterrânea quatro bambambans da literatura me excluiram aqui no fb (todos eles envolvidos em violências reais e simbólicas). não tenho dúvidas que sanções poderão vir, e não as temo. que sanções? ora, desde a exclusão em programações e curadorias, a boicotes em premiações, publicações, processos de invisibilização mais contundentes. coisa com a qual a maioria das mulheres escritoras, especialmente aquelas cujos trabalhos ainda não são muito conhecidos, sofrem diariamente. violência editorial, reafirmo. coisa com a qual mulheres escritoras têm que lidar, além da escuta de vários poréns: "ah, mas aquela ali é louca", ou "ela quer aparecer às custas dele" ou "mas ele é tão talentoso". porque tudo serve para silenciar uma mulher, não é?
quanto aos bambambans que me excluíram, é sintomático, não? mas podem me perguntar: por que você não os excluiu antes? ora, porque ainda acredito na educação, porque não é possível (é possível, eu sei) que tanto discurso de esquerda, de direitos das minorias, de defesa de causas sociais morra na praia do machismo pura e simplesmente. estamos aqui, sabemos o que está sendo feito e estamos criando estruturas de proteção e afeto. acreditamos que é possível desconstruir as práticas patriarcais de violência contra a mulher, entre elas a violência editorial. acreditamos que é possível derrubar as desconfianças que são plantadas entre as mulheres pelos "amigos". sabemos que ninguém é santo, mas todo mundo escolhe um lado. e vamos em frente.
um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar, diz a música. a tentativa de voltar mil passos atrás não levará ninguém aos velhos locais de conforto.
imagem | Zoe Buckman
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