Demetrios Galvão Teresina (PI) é historiador e poeta. Publicou os livros Cavalo de Tróia (2001), Fractais Semióticos (2005), Insólito (2011), Bifurcações (2014) e o cd Um Pandemônio Léxico no Arquipélago Parabólico (2005). Participou do coletivo poético Academia Onírica e foi um dos editores do blog Poesia Tarja Preta (2010-2012) e da AO-Revista (2011-2012), além de ter participado da produção do cd Veículo q.s.p – Quantidade Suficiente Para (2010). Tem poemas publicados em diversos portais e revistas. Atualmente é um dos editores da revista Acrobata. e-mail: demetrios.galvao@yahoo.com.br
Demetrios é um daqueles intelectuais brasileiros pulsantes neste país ,com fibra de sujeito obstinado,firme e de um verso certeiro de lírica densa
1) Como é
sua formação e quando começa tua produção poética? Teus poetas eleitos
nacionais e internacionais?
Minha
formação acadêmica/profissional é em história, sou professor universitário.
Minha
produção poética, minhas primeiras experiências com a escrita se dá ainda antes
da universidade no final da década de 1990.
Tudo inicia com minhas caminhadas pela cidade e com as descobertas que
fiz nas bibliotecas públicas. Escrevo há uns 15 anos e tenho 4 livros
publicados. No inicio produzi um fanzine de poesia chamado Sintezine e fiz
diversos livretos. Sempre tive no meu horizonte a perspectiva do faça você
mesmo.
O meu primeiro livro, Cavalo de Tróia (2001), é um trabalho
em que a mensagem é mais forte que a linguagem em si, no caso, a poesia era só
o meio. A escrita na época, estava engajada com questões sociais, protestos,
movimento Anarco-punk e poesia marginal. Esse foi um livro completamente
artesanal, que eu fiz em casa, com a ajuda do meu irmão, e vendia em shows de
rock, na universidade e em encontros de estudantes.
Já no segundo, Fractais Semióticos (2005), estabeleço
um diálogo muito direto com os escritos beats
do Allen Ginsberg, do Ferlinghetti, do Carl Solomon, do Jonh Fante, bem como do
Roberto Piva e Torquato Neto. Aquelas
coisas de viajar e escrever sobre a estrada, a liberdade da experimentação, a
descoberta do mundo e etc. Nesse livro, começo a ter uma maior preocupação com
a linguagem e com os processos de escrita. No período em que escrevi os poemas
do Fractais Semióticos (2001 – 2002),
conheci alguns poetas de Fortaleza (CE) e consolidei para mim, a ideia de ser
poeta. Esse é um livro que tem poemas que vou levar para o resto da vida, pois
há uma relação forte de poesia e experiência – experimentação.
O Insólito (2011) é um livro que consigo apurar um trabalho de deslocamentos,
produzindo situações não habituais. Busco provocar no leitor a sensação de
estranhamento, mexendo com as coisas que estão assentadas em lugares definidos.
Nesse momento, me preocupo bem mais com a possibilidade de criar imagens a
partir da linguagem poética, o que vai consolidar e marcar a minha poesia.
Daqui em diante as imagens ganham o centro da minha escrita e o meu desejo se
lança na tormenta do surrealismo, principalmente com as leituras que fiz do
Murilo Mendes, Jorge de Lima, Claudio Willer, Floriano Martins, Afonso
Henriques Neto, Breton e Vicente Huidobro. Insólito é um investimento
poético-estético no onírico, penso o livro como um álbum de fotografias não
convencionais, como uma série de pinturas que explodem.
O Bifurcações (2014) reafirma em mim e na minha poesia a força das
imagens e a convicção no diálogo com o onírico e a imersão no surrealismo, a
fuga da realidade óbvia e das situações dadas. Nesse livro, tive um violento
encontro com Bylan Thomas e uma aproximação com alguns poetas da minha cidade,
Rubervan Du Nascimento e Adriano Lobão. No percurso de criação me bifurquei
diversas vezes e trouxe para a superfície dos textos um pouco do meu labirinto doméstico,
do meu processo de se tornar pai e da relação que tenho com minhas criaturas
encantadas. Nesse livro alterno momentos suaves com regiões mais tensas,
formando uma geografia com acidentes planejados, mas que exige uma caminhada
sem mapas. Não entrego nada de graça para o leitor. Nas andanças por minhas
bifurcações aparecem os mestres Vicente Huidobro e António Ramos Rosa, que
estão ali para dão algumas senhas para o leitor. No Bifurcações faço uso da poesia para esticar o mundo e criar
possibilidades que a história não consegue alcançar. Possibilidades afetivas
irmanadas no calor das palavras.
Atravessando
a produção do livros, tem também as atividades que desenvolvi no coletivo
Academia Onírica juntamente com alguns poetas e artistas de Teresina. Nesse
grupo realizamos diversos encontros poéticos (saraus) e editamos um blog –
poesia tarja preta, a AO-Revista (com duas edições) e um cd de poesia e música
chamado veículo q.s.p – quantidade suficiente para. As atividades do coletivo
duraram entre janeiro de 2010 e janeiro de 2012.
Hoje, edito
uma revista chamada Acrobata que trata de literatura e audiovisual, juntamente
com o poeta Thiago E e o pesquisador de cinema Aristides Oliveira. A revista se
encontra na terceira edição e articula em suas páginas poesias, contos,
ensaios, entrevista, tradução. A Acrobata é uma revista editada em Teresina,
mas que tem colaboradores de diversas partes do Brasil e do mundo. Por ela já
passaram: Augusto de Campos, Sérgio Cohn, Afonso Henriques neto, Ademir
Assunção, Luís Serguilha, Marcelino Freire, Bruno Azevedo, Micheliny Verunschk,
dentre outros.
2) Há alguma
crítica á tua obra--quem......quantos livros?
Existe pouca
coisa escrita sobre minha poesia. Penso que os 2 textos que tratam da minha
poesia de uma forma bacana são as apresentações dos meus livros. A do Insólito,
feita pelo poeta Rubervan Du Nascimento, e a do Bifurcações, feita pelo poeta Afonso
Henriques Neto. Ainda não vi ninguém se interessando por escrever sobre meu
trabalho.
3) Há alguma
poesia inédita?-claro após este último-
Já tenho um
conjunto de textos que começam a dar forma a um novo livro, que acredito não
tradará a aparecer. No último ano a minha produção poética ficou bastante
intensa e tem muita coisa que não entrou no Bifurcações.
4) Quem são
teus poetas daí ?
Torquato Neto
e Mário Faustino são os dois principais. Mas tenho uma relação muito próxima
com a poesia do Rubervam Du Nascimento e também com os meus contemporâneos como
o Thiago E, o Kilito Trindade e o Adriano Lobão. Também gosto muito de
acompanhar os poetas mais novos e de saber o que estão escrevendo. Cito o
Rodrigo M Leite e a Renata Flávia.