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Hoje data de seu nascimento 31.10.1902, faria 117 anos.Faleceu a 17 de agosto de 1987.
Drummond está no Pantheon mundial dos grandes poetas cuja obra vibra ainda, lateja em nós brasileiros,digo sobretudo em algumas classes sociais,.
Para mim ele é vivo e se constitui uma pedra fundante das minhas raízes poéticas e creio que para muitos outros.
Sua poética soa entre a filosofia e a política,seja na poesia ou prosa.
Seu verso é duro, por vezes, mas trás consigo um contradito como: o suave da água sobre a pedra,
O poeta renovou a poética brasileira com nova sonoridade com músculos de um verso denso, maduro.
Desde cedo o seu verso assim se apresentou como se equilibrasse entre a pedra de Minas e água marinha do Rio.
Ler Drummond é entrar nas vísceras de um Brasil contraditório,de seu povo igualmente.
Suas palavras são bem amoladas, afia-se até na liquidez do córrego mantendo a inquietação especulante do poeta buscador.
Verseja entre gritos, rosas e ou víceras inconformadas.
Buscou a si, ao homem o que daí resultou sua obra.
Precisamos, urge relermos o poeta.
Para lembrarmos :
RESÍDUO
De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco
Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).
Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.
Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
- vazio - de cigarros, ficou um pouco.
Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.
Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?
...
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