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Papangu
denominação dada a foliões que se vestem colorido, fantasiados, nas
manifestações carnavalescas do Nordeste, , nas regiões de Alagoas, Paraíba,
sobretudo em Pernambuco (a cidade de Bezerros, com seu carnaval nesta temática).
Diz-se que sua origem está em grupos e pessoas que se vestiam com máscaras de
panos simples improvisadas e saiam de casa em casa, comendo e bebendo durante o
carnaval; há um outra manifestação que se aproxima, destacadamente na Paraíba,
que é a Lauça, uma ressignificação de se
vestir ”a la um urso” .
Mas
o papangu, pernambucano, se alterou: de máscaras simples para industrializadas
ou ainda artesanalmente, mas de modo rebuscado, à moda Italiana, veneziana. Já a Lauça
não, permanece no improviso. Entretanto, já há muito tempo, no dia a dia, a
palavra ganha outro significado no sentido de ser um sujeito tolo, apalermado,
bobo, moleirão.
São
Paulo foi uma cidade que teve tradição de carnaval de rua entre o século XIX e começo
do século XX. Era um carnaval veneziano, de máscaras, os Clóvis (mascarados
solitários) e corsos, da burguesia na Av. Paulista, ainda sem este nome. Depois
a Vila Esperança, com seus bonecos enormes como os de Olinda, e o Bexiga e
Barra Funda. Foram famosos diversos cordões carnavalescos, uma espécie de procissão,
em fila de corda pelas ruas.
O
carnaval de avenida – escolas de samba – foi inspirado por estes cordões. Copiaram
os modelos cariocas, incentivados por um corporativismo das escolas,
investimentos da mídia, e empresas, de bebidas alcoólicas, cervejas... Daí o
Sambódromo paulista, construído com apoio de rede de televisão, instigado e
pago por tal rede, teve seu calendário alterado, para não bater com os desfiles
do Rio de janeiro, do primeiro grupo de lá.
Enfim,
o carnaval da capital não tem originalidade, coisa que cordões tiveram. Hoje
são reféns do capital. Decaiu o samba, o desfile, como afirmou Beth Carvalho,
recentemente.
Nas
periferias o carnaval existe disperso, resistiu às tradições, até dos
maracatus, índios e afoxés, isto como resistência dos negros e nordestinos. Entretanto,
não ganha expressividade midiática.
Voltemos
ao Papangu. Ele não existe de modo nordestino. Salvo nas periferias, o Papangu Paulista
são grupos soltos ou redutos de blocos nascidos aos poucos, desde o século passado.
Em 2012, ganharam intensidade, no
governo do PT, que incentivou este carnaval de rua.
A concentração
se dá, sobretudo, na semana pré-carnavalesca; na Zona Oeste, Centro, Av. Paulista,
Consolação, Anhangabaú, Bexiga, Vila Madalena, sendo que, neste último,
resultado da classe média, burguesa, que recriou um carnaval apapanguzado. São sujeitos
sós ou em blocos, pequenos e grandes, e que vem copiando a modalidade do
nordeste e alguns do Rio de janeiro, mas sem expressividade estética maior e se
vestem com máscaras, ornamentos outros. Grande parte das vezes o álcool os
fantasia nos seus gestos, e solta o bicho de dentro de si num entortar das roupas que o fazem uns
papangus anômalos Ornam-se, como falam eles.
Eles
então ganham o segundo sentido, que mencionei no início, são manifestações
tolas, abobalhadas que não sabem nem porque estão nas ruas e ficam uns-vão-com-outros.
Alguns
blocos vem se afastando deste apapanguzamento e estendem-se pelo período
momesco, tomam motes políticos, dentro da crise no pais.
Mas
não só de desajeitados vem à tona o carnaval paulistano: Gretchen, DJs e o povo que o digam; pelas
ruas do centro, e mais Vila Mariana, Santo Amaro, Bexiga, Faria Lima, Vila
Maria, Pinheiros, Lapa, Pompéia, Consolação, praça Roosevelt, Av. Paulista,
fora o off Broadway do sambódromo .
Os
nomes lembram o espontâneo e popular
como: Bloco Vem Ku Nóis Ó, Bloco de Concreto, Bloco do Desmanche, Banda Carnavalesca Macaco
Cansado, Bloco Bastardo, Esfarrapados (famoso e antigo), Bloco Ma-Que-Bloco, para falar
apenas de alguns, pois são mais de 500.
Conheci
um Europeu, que estuda assistematicamente o país, e gosta da nossa cultura.
Fala bem o português. Veio a São Paulo, andou pelas ruas do centro e Avenida
Paulista e disse-me: “Que TV é essa? 24 horas de Carnaval? Que é isso?”, e mais, “que carnaval é este,
daqui de São Paulo?, não entendi,
encontrei mais bêbados enturmados e solitários”. Retruquei, falando de nossos
carnavais e, ao fazê-lo, apontei vários carnavais do brasil passando pelos
papangus – falei dos dois sentidos, o que ele revidou dizendo “então aqui é o
carnaval do Apangu!”. Ri e vi que sim. Ele disse: então é o Trema !
O
fato é temos circo, carnaval e gritos de “Fora Temer”...
Este
foi o maior papangu...!