Comunidade Escola Hermilo Borba Filho 1981 -Arquivo particular |
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COMUNIDADE ESCOLA
HERMILO BORBA FILHO RECIFE - PE
Um exemplo do Não a
ESCOLA SEM PARTIDO
Em tempos tão difíceis é bom relembrar: Estamos
vivendo na atualidade um paroxismo sobre o valor da Educação. A Escola sem
Partido vem de longe. Mas seu auge vem se dando de modo intenso em 2004, ganha
corpo como projeto de lei 7180/2014, do deputado Erivelton Santana do Patri
mas, que tem como seu maior marqueteiro o advogado Miguel Nagib, paulista, com
cargo na Procuradoria do Estado de São Paulo.
O que nos chama atenção é a idiossincrasia da
proposta, pois em termos, digamos, semióticos ou filológicos, não existe Escola
sem Partido, pois na verdade o que se quer é implantar uma partidarização da direita
e o solapar do pensamento crítico face um tsunami que se desdobra mundo afora,
chegando às alturas com a turma do Sr. Bolsonaro.
O que se pretende é punir, castrar o acesso ao
conhecimento nas suas amplitudes históricas e filosóficas, é manipular a escola
e seus professores, e pior - o aluno. É uma demanda punitiva quanto ao
crescimento das esquerdas no Brasil e, sobretudo, uma perseguição ao Partido
dos Trabalhadores, maior partido com militantes no Brasil, reconhecido
mundialmente. É a tentativa de um fascismo dos anos XXI.
Isto posto, gostaria de relembrar a Comunidade
Escola Hermilo Borba Filho, em Recife - Rua do Espinheiro, 730 (1980/1987),
que mesmo nos fins da ditadura, foi uma Escola que militava por uma educação crítica,
para um igual pensamento crítico. Tal escola, do qual fiz parte, nasceu de um
sonho de intelectuais que tornou-se realidade, mas teve uma vida curta face às
questões econômicas da época.
Na verdade, ela tomou como mote a Escola
Comunitária de Campinas, SP, mas foi muito mais além em sua proposta
pedagógica, driblando inclusive a famosa LDB 5.692, repropondo de modo bem particular
a grade de disciplinas, destacadamente Moral e Cívica e trabalhando com o
Materialismo Dialético, ou seja, adentrando pela história da selvageria do
Capitalismo.
Propunha a escola uma leitura crítica das
mídias, releitura da história, dita oficial, por autores diversos, não
comprometidos com partidarização política portuguesa, o início de nossa
história e seus falsos mitos e genocidas de nossos povos legítimos - os indígenas
e de negros solapados de suas terras para erguer um país às custas de uma
escravatura.
Buscávamos desmitificar os Colombos, Cabrais,
opressores de nossos nativos e a selvageria dos Bandeirantes, como milícias de
carnificina.
Objetivava-nos olhar a língua - falada e escrita
- na sua multiplicidade de contextos léxicos. Apontar autores populares como
contadores de uma história da língua paralela a hegemônica. Observar fatos na história
e geografia do Brasil e que se interligavam com o capital dominante europeu,
como a Inglaterra, França e Alemanha. Entender a história da América Latina,
desprezada em nossos livros de história. Desvendar a manipulação de guerras
suicidas como a chamada guerra do Paraguai, onde o Brasil Império foi um
opressor junto com a Províncias Unidas do Prata-Argentina, provocando um
genocídio do povo Paraguaio, e mais naquele momento as ações intervencionistas -
Operação Condor, dos EUA, GOLPE MILITAR, entre muitos outros fatos de nossa
história.
A escola era uma iniciativa privada, de um grupo
de intelectuais e educadores, se propunha a criar uma alternativa emancipativa
ao jovem, a criança, desde a alfabetização à 8ª série.
Tínhamos como pano de fundo de inspiração
teórico da Argentina Maria Teresa Nidelcoff - Uma Escola para o Povo e Escola e
compreensão da realidade (ambos pela Editora Brasiliense). Outros autores deram
sua contribuição como: Paulo Freire, aliás amigo de Maria Teresa, Alicia
Fernandez, afora pensadores da epistemologia genética como Piaget e da
Sociogenética em Lev Vygotsky, Wallon, entre outros.
A escola tomou corpo no meio intelectual à
época, em Recife, e foi prestigiada pela classe média, embora uma parte de seus
alunos fossem bolsistas (crianças e adolescentes pobres) do Morro da Conceição.
Tal mesclagem era proposital no sentido de apresentar ao alunado as diferenças
de classe, e nem por isso foi rejeitada pelos pais.
O brinquedo, o brincar, foi um dos motes para
formular uma metodologia interdisciplinar, em que o objeto, brinquedo ou o
brincar era motivador de aportes das Ciências, Matemática, L. Portuguesa, História,
Geografia, etc. A partir do objeto e sua ação se discutia conceitos, por
exemplo, em Ciências: caso da Pipa, em que se vislumbrava os conceitos de
corpo, peso, volume, movimento, deslocamento, espaço, à medida em que se
confeccionava e punha-a a voar. Outras disciplinas faziam adentramentos, como
Ed. Artística - estética, Matemática - cálculo, geometria, etc.
As disciplinas eram coligadas de modo a fazer um
todo epistêmico, mostrando o conhecer como algo interligado pleno, afim de se
produzir um sujeito crítico e cidadão.
Estamos em preparo de uma obra sobre a mesma que
deverá estar pronta no próximo ano - 2019. Assim esperamos.
Mas faremos alguns aportes por aqui vislumbrando
aspectos da obra, momentos da escola, e com isto fazermos uma contrapartida a
estes tempos que pretendem nos vestir de máscaras fascistas.
Aguardem em breve novos posts!