Acervo Fundaj -Rec_Pe |
Hora de comer — comer!
Hora de dormir — dormir!
Hora de vadiar — vadiar!
Hora de trabalhar?—
Pernas pro ar que ninguém é de ferro!
Publicado no livro Cana caiana (1939).
Entra pra dentro, Chiquinha!
Entra pra dentro, Chiquinha!
No caminho que você vaivocê acaba prostituta!
E ela:Deus te ouça, minha mãe...Deus te ouça !
Predestinação
Ascenso era uma figura poética
ambulante, um boêmio que vivia nos versos e os dizia pelas ruas; caçava a poética
do povo e sua sonoridade. Apesar de ser um marco da poesia Modernista,
contestou o movimento, advindo de São Paulo, junto com Gilberto Freyre, de quem
era muito próximo.
Também amigo de Assis
Chateaubriand, foi com ele um dos colaboradores para criação do acervo MASP, apesar
de um anonimato que historicamente impuseram a este fato. Conta o
disse-me-disse que frequentava festas com Chatô, na capital paulista, onde, na ocasião,
afanava obras de artes da elite e dizia, ao sair: “obrigado pela doação".
Mas, acima de tudo, era um trem que puxava a sonoridade lexical do povo da canavieira
nordestina, dando-lhe universalidade, apontando a poética da reinvenção da
língua. Vale
a pena ler a obra que é lançada pela CEPE. Aqui reproduzo reportagem do Jornal
do Comercio Pernambuco lPaulo Vasconcelos
Por JC RECIFE PE (http://bit.ly/2y5oiiK)
Poesia de Ascenso Ferreira finalmente está de volta às livrarias
Com seleção de versos editada pela Cepe, o poeta busca ser reconhecido para além do folclore da sua figura
Nome: Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira Cordeiro Muniz Falcão Veloso de Carvalho. Nasceu em 1895 em Palmares (Pernambuco). – Altura oficial, 1,96. – Pesa 116 quilos em jejum. (...) – Seu prato predileto: pitu de coco. – Se pudesse emendar todos os charutos que tem fumado daria a volta ao mundo. (...) – É louco por música de toda espécie, desde a pancada do ganzá, batuques, sino, até o piano. (...) – Acredita piamente e já viu muitas assombrações. – Adora o Recife pelo sentido sensual de sua vida.”
Um dos principais poetas do nosso modernismo, o pernambucano Ascenso Ferreira se descrevia assim em uma antológica entrevista dada ao jornalista caruaruense João Condé. Tão famoso como alguns dos seus versos – especialmente Trem de Alagoas – era sua figura de homem alto, corpulento e da voz grossa, protagonista e colecionador de histórias quase folclóricas. Um dos homenageados pela Bienal do Livro de Pernambuco deste ano, o escritor é celebrado neste domingo em um show-recital com Isaar França e Maciel Salu, a partir das 16h, no Centro de Convenções.
Durante o evento, a Cepe Editora também aproveita para reparar uma injustiça do mercado editorial brasileiro: a ausência quase total da obra de Ascenso nas prateleiras de livrarias. Na Bienal, acontece o lançamento de Como Polpa de Ingá Maduro: Poesia Reunida de Ascenso Ferreira, com organização da pesquisadora Valéria Torres da Costa e Silva.
Além de uma seleta da poesia do autor, a obra busca enxergar Ascenso fora do local em que o senso-comum o colocou, como um mero poeta do “anedotário”, tentando desconstruir “a folclorização do poeta e a regionalização da sua obra”. Na apresentação do volume, Valéria lamenta não só a pouca circulação do poeta atualmente, mas também a pequena fortuna crítica produzida sobre ele. São, segundo ela, “raros os textos que procuram estudar, ler, interpretar e revelar seu universo poético”. “Diria mais. O melhor da fortuna crítica da poesia de Ascenso foi escrito há pelo menos 50 anos, com raras exceções”, defende.
Não é por acaso: o conterrâneo Manuel Bandeira admirava muito mais que a temática da sua poesia, mas a capacidade de fundir discursos poéticos sem fazer “nenhuma emenda”.
O modernista paulista Mário de Andrade foi mais longe. “Depois que as personalidades dos iniciadores se fixaram, só mesmo Ascenso Ferreira com este (livro) Catimbó trouxe pro modernismo uma originalidade real, um ritmo verdadeiramente novo”, escreveu.
Como Polpa de Ingá Maduro mostra a obra de Ascenso a partir de três recortes: o da tradição e da modernidade; o do cotidiano; o do amor. Trata-se de um belo e importante resgate de obra do autor, não a partir somente de seus temas e de diálogo com a oralidade, mas especialmente ressaltando como tudo isso compunha uma forma de expressão poética original. Como Valéria enfatiza, em Ascenso, “estamos diante de uma poética da sensualidade” – e as “caboclas viçosas de bocas pitangas”, “mulatas dengosas caju e cajá” e “mulheres brancas como açúcar de primeira estão lá para mostrar sua paixão.
On line
http://bit.ly/2y5oiiK
*Poeta pernambucano, Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira nasceu na cidade de Palmares no ano de 1895. Dizem que começou a atividade literária enganado, compondo sonetos, baladas e madrigais. Depois da "Semana de Arte Moderna" e sob a influência de Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira e de Mário de Andrade, tomou rumos novos e achou um caminho que o conduziria a uma situação de relevo nas letras pernambucanas e nacionais. Voltou-se para os temas regionais de sua terra que foram reunidos em seus livros "Catimbó" (1927), "Cana caiana" (1939), "Poemas 1922-1951" (1951), "Poemas 1922-1953" (1953), "Catimbó e outros poemas" (1963), "Poemas" (1981) e "Eu voltarei ao sol da primavera" (1985). Foram publicados postumamente, em 1986, "O Maracatu", "Presépios e Pastoris" e "O Bumba-Meu-Boi: Ensaios Folclóricos", em livro organizado por Roberto Benjamin. Distingue-se não pela quantidade, mas pela qualidade, atingindo não raro efeitos novos, originais, imprevistos, em matéria de humorismo e sátira. O poeta faleceu na cidade do Recife (PE), em 1965.
http://bit.ly/2z7JaWN