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Luzilá Gonsalves* é uma das intelectuais pernambucanas de obra densa e atuante. Profa. da Universidade Federal de Pernambuco aposentada, mas em dia com a Literatura, seu grande marco.Aqui no Blog já citada várias vezes, mas destaco a matéria -Uma escritora alarmante que desvenda a história-27.04.2017
Hoje, trago aqui uma crônica sua publicada em Recife, vamos ao Texto.
Opinião, 26
de março de 2019
Amor na literatura
Em seu livro
Os mitos do amor, Denis de Rougemont nos lembra
que na Antiguidade, o amor representado por Cupido, filho de Venus, era
um pequeno deus brincalhão, com asas leves, sempre pronto a lançar flechas
sobre o coração dos homens, nem sempre acertando os alvos, trocando os destinatários,
causando confusões. Rougemont continua: Eros se modificou, o menino encantador e
travesso se tornou um problema complexo e pesado de carregar. O que aconteceu?
Ontem, na reunião quinzenal da Academia Pernambucana de Letras não tentamos
buscar resposta à pergunta do escritor francês, mas nos debruçamos sobre textos
literários que abordam a difícil e penosa questão do amor entre os sexos. Por
que os homens vivem sempre mentindo no trato com as mulheres? pergunta
Thargélia Barreto de Menezes, a poetisa filha de Tobias. Carlos Drummond de
Andrade escreve que o amor, espada coruscante (!) é privilégio de maduros, pois
“amor começa tarde”.Inda mais te amarei depois da morte, promete Elisabeth
Barret Browning. Em muitos casos, o amor contrariado causou mortes: no Recife
do século XIX várias mulheres deploraram em versos a morte de uma jovem
suicida. Na Idade Média se conheciam as canções da mal casada (malmaridada na
Espanha, maumariée na França),fugindo da infelicidade, como na canção atual interpretada
por Serge Reggiani. Mas talvez um dos escritos mais interessantes sobre a briga
dos sexos seja o Debate entre Loucura e Amor, escrito em 1555 por Louise Labé, nascida
em Lyon, e chamada de “la belle rebelle”. Louise imagina que, chegando
atrasados para uma festa dada por Jupiter a Loucura e o Amor se disputam sobre
quem entraria primeiro. Trocas de palavras duras, insultos, o pequeno Cupido
força a passagem, a Loucura se exalta da ousadia, enfrenta o filho de Venus e
termina por lhe furar os olhos. Cupido vai ver a mãe que, indignada, pede
justiça a Jupiter e castigo para a Loucura. Segue-se um verdadeiro julgamento,
mediado por Mercurio e Apolo, acusadores e defensores das duas partes. Mostram
que o amor move as pessoas, que se
ocupam de parecerem belas, bem cuidadas diante dos amados, leva-as a cantar,
dançar. A loucura diz que está na
origem de descobertas cientificas, das grandes navegações que levaram homens a
encontrar novas terras. Após muitas discussões, chega-se uma conclusão. Tanto Cupido
quanto Loucura tinham sido culpados da cegueira do pequeno deus. E finalmente
consegue-se o veredicto final: o Amor continuará cego, ao longo dos tempos, mas a Loucura terá de lhe
servir de guia para todo o sempre. Final feliz? Duas notas antes de concluir
esta crônica:a abertura da bela exposição Transparesser, desenhos e poesia, por
Juliana Alves e Sonia Marques, quinta feira próxima às 19 horas no Centro Cultural
dos Correios, avenida Rio Branco. E o sucesso de Curso sobre a Memória, na APL,
iniciado no dia 23 passado, com 17 palestras ministradas por acadêmicos e
professores universitários, e que irá ate maio, com ainda algumas vagas. Informações
na Academia, telefone -81 3262211.
* Luzilá Gonçalves Ferreira é escritora e foi professora na Universidade Federal de Pernambuco. Feminista, foi também pesquisadora nas áreas de Literatura Escrita por Mulheres em Pernambuco e Imprensa Feminina em Pernambuco