O pensar antropológico e as etnias variadas do poeta modernista
publicado pela Revista Brasileiros
José Oswald de Sousa Andrade (SP, 1890-1954)
Em plena homenagem que o Museu da Língua Portuguesa, de São Paulo, faz a Oswald de Andrade, assim como a última Flip (Festa Literária Internacional de Parati/RJ) o fez, nada mais justo que aludirmos a esse gênio da Literatura. Incompreendido em seu tempo – e por muitos -, desconhecido em sua grande obra, se existe um homem das Letras e da busca de uma identidade nacional este é e será um deles. Um literato que fez e refez as palavras dos brasileiros. Patrícia de Freitas Camargo em A Ficção da Língua na Literatura Brasileira (http://bit.ly/oxUCIZ) fala de Oswald de Andrade em suas paródias e apropriações linguísticas para um projeto modernista nacional, ao mesmo tempo apontando sua ironia e preocupação em um pensar antropológico, dentro do quadro da nossa língua, com etnias variadas. Veja os poemas a seguir:
Brasil
O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
– Sois cristão?
– Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
– Sim, pela graça de Deus
– Canhém Babá Canhem Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval
O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
– Sois cristão?
– Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
– Sim, pela graça de Deus
– Canhém Babá Canhem Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval
O Gramático
Os negros discutiam
que o cavalo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantarrou
Azorrague
– Chega! Paredoa!
Amarrados na escada
A chibata preparava os cortes
Para a salmoura
(Poemas da Colonização. Andrade, O. 1972:31)
Os negros discutiam
que o cavalo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantarrou
Azorrague
– Chega! Paredoa!
Amarrados na escada
A chibata preparava os cortes
Para a salmoura
(Poemas da Colonização. Andrade, O. 1972:31)
Do mesmo modo, Beth Brait em seu último livro Literatura e Outras Linguagens (São Paulo: Ed. Contexto, 2010), bem como no artigo Estudos linguísticos e estudos literários: fronteiras na teoria e na vida (http://bit.ly/onBgK9), aponta que coube ao poeta modernista tematizar poeticamente a rica variedade da língua portuguesa. Sendo possível citar o seguinte poema:
erro de português
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
(Poemas menores. Andrade, O. 1972:115)
“J.M.P.S.” (da cidade do porto)
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
(Poemas menores. Andrade, O. 1972:115)
“J.M.P.S.” (da cidade do porto)
*É paraibano, mestre e doutor pela ECA-USP. Professor de Teoria Literária na Anhembi-Morumbi, professor colaborador da ECA-USP, Fundação Escola de Sociologia e Política-FESP, além de contista e poeta com livros publicados (paulo@brasileiros.com.br).
Link curto: http://brasileiros.com.br/vflw7