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quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

A Arma de Elton L. L.de Souza-Pensar e metaforizar

ELTON L.L DE SOUZA
"(...) antes de aprender a escrever , há que aprender a ler.A escrita não é  senão a objetivação do texto ja presente  e múltipla  que cada um leva no espirito. Augusto Roa Bastos 


Elton como sempre nos concede algumas reflexões-via Facebook, que mesmo breve, nos indica um caminho ou caminhos a pensar. A violência  nos dias atuais tornou-se banal, enquanto a leitura ,o pensar mais fundo ainda estão longe de nossa rotina cotidiana.Comer a palavra, digeri-la, é criar memória e ação.Parodiando Roa bastos, a memória é o estômago da alma, aliás uma outra forma que Santo Agostinho falou.O livro em si é um  objeto como outro qualquer, mas sua leitura, releitura ( de bons autores que nos  ajude a pensar  - homem e  vida ) é crucial para  viver  e agir  e nos entendermos. O livro-lido, é  uma faca que pode cortar a ignorância  e avantajar as pupilas - os alvos.O livro e seu sumo são como bolsas que nos mantém em estado de sentido e questionamento. Vamos a  sua alegoria interessante. Paulo Vasconcelos



Tempos atrás um amigo muito próximo me procurou reservadamente e me disse: “Amigo, queria que você guardasse uma coisa para mim. Ando tão indignado com as injustiças e vilezas que acontecem ao meu lado, e também muito deprimido pelo efeito dessas coisas dentro de mim , que tenho medo de usar isso contra alguém ou contra mim mesmo ”. Ele enfiou a mão na pasta que carregava e tirou de lá uma arma, um 38. Por amizade pessoal a ele e “amizade política aos outros” ( chamada por Espinosa de “virtude da sociabilidade”, base da democracia), resolvi atender ao pedido do angustiado amigo e guardei a arma em minha casa. 
Apesar de a ter guardado em um lugar bem escondido, era estranho para mim ter aquilo em casa. O direito à propriedade deixa de ser um direito quando aquilo que se tem põe em risco a vida dos outros ou a vida própria ( quando o proprietário de tal coisa perde a capacidade de ser dono de si mesmo). Movido por essa ideia, passei a considerar que aquela arma não era mais propriedade privada do meu amigo e resolvi levá-la à delegacia para entregá-la ( àquela época havia um programa nacional de desarmamento) .
 Após receber e destruir a arma, o policial me informou que eu teria direito a receber 100 reais , pois o governo pagava pela devolução. Recusei o pagamento por tal ato, o policial me olhou sem entender. Desconfiado, e vendo que minha mochila ainda estava volumosa, ele perguntou se eu possuía ainda mais alguma arma. “Sim”, respondi. Enfiei a mão dentro da mochila e retirei dela vários livros: “Esta é a única arma em que acredito: a educação”.
“Quando queremos lutar contra as monstruosidades que existem no mundo, devemos tomar o máximo cuidado para que nós mesmos não nos tornemos monstros.” (Nietzsche)