REDES

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

O LUTO É: CAMILO SOARES- De como reter o impermanente

 

.

....


Vieste vestida da dor , mas acalmaste e a domesticasse-a, eras um sol nascente como os cajus teus

Raios de sol peneraram sobre ti  como os abacates, jambos e mangas , cajus dos cheitros de tua terra

Foste amiga entre o prato a mesa, e o saber

Soubeste dar  o riso como o pão que liberta com teu riso marcado de sabor de humano

Agora segue para o além  de ti, libertas da carcaça que te envolvia

Amiga, Amiga, não nos deixastes,estás conosco e teu sol , riso  reviram-se nas flores , frutas e frutos

Não fotografei tua derradeira face, o sol também  ñão, mas a fome recebeu com passa de cajus e caatingas também fizeram- se mornas ou frias nas madrugadas dos sertões teus

Vai amiga mas não te mirarei com a máscara  que a vida te decalcou  por último.

Assim:

A tentativa de espanar a dor é petrea ou

De empatar o que não se pode é verdadeira

 PAULO VASCONCELOS



AINDA POR CAMILO SOARES- FILHO DE NANCI   LOURENÇO SOARES:

De como reter o impermanente
(para Nanci Lourenço, 1946-2025, minha mãe)
Sob teu lar despertamos
cheiro sem forma
mundo na brisa muda
o café bem cedinho a cura
da gripe o nome
das coisas o grito
do almoço o gosto
da estrada cajuína
Plantas aguadas a cada sol
a louça lavada secando o tempo
enquanto contas o passado como quem recria
todo dia
a imensidão
nos timbres perdidos que acalentaram o mar
Nem percebes que esse mesmo ar
que deste com tanto ardor
não se pode reter
pois sustenta o voo das asas e o desejo de voar
difuso como canto do vento
cheiro de chuva
tempo no tempo
vida da vida da vida

Nenhum comentário: