ELE DESEJOU E FOI COMO UM BRILHANTE DURO CRAVADO NA PELE
DA TERRA COM SEU MANTO POÉTICO.
AOS 79 VITIMADO POR ALZHEIMER FALECEU ANTONIO CÍCERO, POETA,FILÓSOFO....
TEVE SUICIDIO ASSISTIDO EM ZURIQUE SUIÍÇA HJ 23.1024
DEIXOU UMA CARTA DE POSSE A UM AMIGO DA ABL QUE REVELOU-A HOJE :https://bit.ly/48nCZPh P VASCONCELOS
ABAIXO MATÉRIA G1
https://bit.ly/48nCZPhO escritor e compositor Antonio Cicero, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), morreu, na manhã desta quarta-feira (23), na Suíça. Ele sofria do mal de Alzheimer e se submeteu a um procedimento de morte assistida.
O crítico literário e filósofo deixou uma carta explicando a decisão.
"Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade", afirma Antonio Cicero em um trecho.
(Confira a íntegra abaixo)
Ele era carioca e tinha 79 anos. A informação da morte foi confirmada pela ABL, onde o autor ocupava a cadeira 27 desde agosto de 2017.
Na semana passada, Cicero foi para Paris com o companheiro, Marcelo Pies, e de lá para Zurique.
Marcelo revelou a amigos que Cicero vinha planejando há algum tempo a ida à Suíça, mandando documentos e informações à clínica – e não queria que ninguém soubesse.
“Passamos alguns dias em Paris para ele se despedir da cidade que tanto admirava”, disse Marcelo, que mandou aos amigos a carta de despedida.
Antonio Cicero na posse na Academia Brasileira de Letras, em 2017 — Foto: Reprodução/ TV Globo
O artista era irmão da cantora e compositora Marina Lima. Na voz dela, poemas seus ficaram famosos em todo o país. Entre as canções de sua autoria estão "Fullgás", "Para Começar" e "À Francesa".
Antonio Cicero também é coautor de "O Último Romântico", célebre na voz de Lulu Santos. Ele também teve parcerias com Waly Salomão, João Bosco, Orlando Morais e Adriana Calcanhotto.
Carta de Antonio Cicero:
"Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.
Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.
Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.
Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.
Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.
Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.
A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.
Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.
Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!"
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
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