Ilustração POLIDORO WANSK
“Este corpo
é terra alumiada em sangue como pedra diluída,
a saliva é esfrega de língua como Água deserta em órbitas escuras,
nada tens senão um corpo advertido pelo outro corpo
e tuas escamas que te entortam como margens secas
tangem tua fé, inútil, em outro, do além, desde aí negas a ti o áspero ser que esfregas sobre o outro;
o outro és tu e assim te derramas como um cão , um cacto, uma verruga, como uma bexiga de
tua pele e lamentas sobre o altíssimo que transcende teu corpo ,e este deus permanece mudo
e inútil.” P. CAJA
P.VASCO
AH!!!!
Nesta curta crônica falaremos das falácias,do desengano e do sem sentido da vida, e mesmo assim, um aconchego enganoso do existir,isto se tivermos a coragem de nos ver no outro e sermos o outro.Apelaremos à poesia ,aos filósofos/poetas, para auxiliar o tateio do que ansiamos dizer.
AQUI!
O homem é o seu próprio engano.Sim, via a linguagem do que liga o que não junta,mas que o estampou como ser. A cilada foi a salvação para estar e ser pela e na linguagem/PENSAMENTO. Nela o ser adquiriu-se, mas perdeu-se, aliás, não se descobriu nem deu sentido ao que chamou de vida.
As pandemias nos apontaram muito,mas entre outras coisas, o engano de viver sob a égide de muitos enganos que nos aconchegam, como as promessas do espectro político de fármacos que ocupam o poder, o mínimo ou máximo poder ou contra poderes.Na casa, na rua, no lixo econômicos,que flutuam na fartura dos esgotos, não há fora, há apenas O DENTRO, e nos misturamos entre ditos limpos e os sujos.
As técnicas fisgaram o homem, comunicando-se ao nada,, num êxtase inútil de praticidade lambuzada por sangue, descuido,anonimato,um jogo perverso de enganar-se como enforcado que vai aos céus, mas cegos por telas luminosas que deflagra a imagem ,obtusa forma de estar e dizer ser.A imagem é ausência não presentifica o vulnerável.
O homem quis apartar-se da natureza, mas o engano foi desastroso, ele é e habita-se na pele- NATUREZA. Simulacramos a todo tempo o que não se pode , a natureza, pois, seria obtuso, gago, sofisma ou idiossincrático .Mesmo assim o fizemos e ganhamos o aconchego de ser, estar sob e sobre o engano.(Baudrillard)
A linguagem arrumou o mundo,(?) e submeteu a natureza humana ao deslize separatista,humanos aqui, não humanos lá.A destruição foi iniciada e a urb dos bichos de outra estirpe, como assim se acham,pelou a mata,entupiu córregos,rios,poças, degolaram a floresta,com seus animais, plantas, minérios e os seus habitantes vários,plurais..
A religião, o engano dos enganos, escravizou o já escravizado, mas prometendo o contrário, inventou os céus, quando não sabemos da vida ,da terra , da natureza.Sacralizamos o não sacralizado e copiamos fábulas para conter o aconchego da mentira,do engano.O deus levou ao que não é natureza, e Deus é apenas a natureza e suas extensões(Espinoza).A religião criou o obsceno, negou o homem, prometeu o que não tem certeza nem nunca terá(Chico Buarque)
Obsceno não é o homem, é o engano, mas como ele o construiu, ele é o hiper obsceno.
...narciso acha feio o que não é espelho..Caetano V
A poesia como engano assumido, sendo LINGUAGEM PURA -arte que grunhe e por grunhir, diz, fala melhor do engano como por NATALIA CORREIA::
AUTOGÊNESE
N.CORREIA
Nascitura estava
sem faca nos dentes
cómoda e impura
de não ter vontade
de bater nas gentes.
Nasce-se em setúbal
nasce-se em pequim
eu sou do açores
(relativamente
naquilo que tenho
de basalto e flores)
mas não é assim:
a gente só nasce
quando somos nós
que temos as dores.
......
Nascitura estava
sorria e jantava
e um beijo me deste
tu Pedro ou Silvestre
turvo namorado
do verão ou de outono
hibernal afecto
casca azul do sono
sem unhas do feto.
......
nasci de me verem
sempre de soslaio
de eu dizer em junho
e eles em maio
de ser como eles
as vezes por fora
mas nunca por dentro
perfil de uma estátua
que não sou de frente.
.....
Eu nasci de haver
os bairros da lata
do dedo que escapa
dos sapatos rotos
da fome que mata
o que quer nascer
e que o sábio guarda
em frascos de abortos
eu nasci de ver
cheirar e ouvir
dum odor a mortos
(judeus enlatados
para caberem mais
mas desinfectados)
pelas chaminés
nazis a sair
de te ver passar
de me despedir
de teus olhos tristes
como se existisses.
Nascitura estava
tom de rosa pulcra
eu me declinava
vésper em latim
impura de todos
gostarem de mim.
No soslaio, entre ditos e feitos humanos, habitamos a natureza, sendo-a a mesma,e sem facas nos dentes , sob dores fomos enlatados, sem vontades a fazer e a dizer, senão pelo império dos que TEM e dizem que sabem ou são religiosos, mas possuem PODER.
Nascemos das dores,mas achamos que essa é a única forma de nascer,já diz a falsa religiosidade.Pragas e castigos são cognomes para o engano de ser, e nos aconchegamos mortalmente.O engano é que não nos vemos nem de perfil, que dirá de frente.
Cheiramos a morte e achamos o odor fragrância,cadáveres nem enlatados, mas expostos nas ruas,calçadas e becos são,como begonhas silvestres,rosas roxas, amarelas, azuis de fungos e mel.
Nascituro sou, estou?
Passa ao lado e dentro do todo o lixo que aconhega, a fome, as gorduras que se metem em cadáveres vivos , monitorados VIVOS,em morros, condomínios, sepulcros de fantasmas, em praças,jardins,futebol, na mídia-deus da rosa pulcra,e a tudo isto chamamos VITÓRIA NOSSA DE CADA DIA- CLARICE LISPECTOR.
Somos apodrecidos e nos comemos como moscas, vermes,virus,somos religiosamente antropofágicos sem urros ou canções, senão da peste de ser e estar no humano, cantando o que as canções gorjeiam em catedrais ou templos de deus e do diabo, sob a égide de estereótipos de encantamentos e glórias do dinheiro declinado em novo latim para não ser sabido.
Somos muitos...mortos/vivos,iguais em tudo na vida/morte
....e que diferença faz que esse oceano esgoto/ vida num o vazio cresça ou não seus cabedais se nenhuma ponte mesmo é de vencê-lo capaz?
....é difícil defender,só com palavras, a vida, ainda mais quando ela é
esta que vê ou desvê fervorosamente inútil,mas nascer engana.
(parodiando) J C DE MELO NETO -
Somos o vértice do quadrado triangulado ao avesso,somos o oco da palavra silenciada ,cotovelo de carreteis de morte a que chamamos vida.
Narciso acha feio o que não é espelho...
CAETANO VELOSO
MAS QUE NATAL, QUEM NASCEU?
JÁ MORREU?