Luciana Hidalgo por Twitter |
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Não precisa ser parente da prefeita de Paris Luciana, você já é parente dos povos pensantes, de cabeça e um grande ser, isto já basta. Seus posts são apreciados de forma alarmante, isto já prova como você é querida e prefeita de sua cabeça.Bravo!
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Nos últimos vinte anos morei entre Brasil e França, num ir-e-vir que solidificou na minha cabecinha superpensante a ideia de um mundo mais igualitário. Quando estava no Brasil, admirava o trabalho de Lula para tirar milhões de brasileiros da miséria; na França, acompanhava o dia a dia de um país onde a miséria já não existe. E isso porque lá direitos humanos formam a base consolidada de uma vida justa. Uma vida mais justa, sem que a justiça social seja criminalizada como “esquerda”, “comunismo” ou “marxismo”.
Escrevo hoje sob o impacto da bela notícia: a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, com a aprovação da Câmara de Vereadores, concedeu ontem a Lula o título de Cidadão Honorário de Paris. A Lula, o preso político, o proscrito, o banido da ágora.
Sob o impacto da notícia, leio o comunicado da Prefeitura de Paris distribuído à imprensa ontem, que traz numa só página tudo o que eu adoraria ver reconhecido pelas instituições brasileiras. A Prefeitura destaca em Lula seu empenho em reduzir a desigualdade social, mas não é só. Denuncia também que “sua condenação o levou à inelegibilidade” num momento em que era o “favorito” à presidência. E acrescenta: “A Comissão de Direitos Humanos da ONU pediu às autoridades brasileiras que assegurassem os direitos civis e políticos de Lula, sobretudo o de ser candidato. Esse direito foi recusado, mesmo diante dos inúmeros apelos de ex-presidentes europeus, parlamentares franceses e juristas internacionais que denunciaram a inconsistência das provas apresentadas pela acusação. (...) O jornal americano The Intercept revelou que o juiz autor da condenação entrou num acordo com os procuradores da Lava Jato para impedir Lula de concorrer à eleição presidencial de 2018.” Frase-conclusão do comunicado: “(...) são todos os defensores da democracia no Brasil que estão sendo atacados”.
Esse honroso e justo título a Lula chega apenas quinze dias depois da inauguração em Paris do Jardin Marielle-Franco. Anne Hidalgo deu esse nome a um lindo jardim suspenso no quartier das estações de trem L’Est e Nord. Numa grande placa está escrito: “O nome desse jardim rende tributo a Marielle Franco da Silva, nascida no Rio de Janeiro em 1979 e eleita vereadora em 2016. Militante engajada contra a discriminação racial, pelos direitos das mulheres e dos LGBTQ, ela orgulhosamente se definia como ‘mulher, negra e da favela’. Foi assassinada ao lado do motorista Anderson Pedro Gomes em 2018, quando combatia os abusos da intervenção militar nas favelas.”
Pois é. Esses dois gestos, vindos do país fundador dos “droits de l’homme”, têm muito a ensinar. Se cada brasileiro que visitasse Paris fosse obrigado a ter aulas de direitos humanos, o Brasil a essa altura seria um país melhor, muito melhor. Lula não teria sido linchado das formas mais vis e Marielle estaria viva. Vive la France! E viva o Brasil que pode surgir dos escombros da democracia.
(uma curiosidade: quando estava em Paris, muitas pessoas perguntavam se eu era parente da prefeita; não sou – e é uma pena, já que Anne Hidalgo é só inteligência, humanismo e elegância)
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