"Sr. Bolsonaro.
Sobre sua posse.
Além de não levar a mim mesma para sua posse, informo que dona poesia também não irá! Ela estará em delírio gozoso com Gullar, Mercedes Sosa, Violeta Parra, Brecht, Maiakovski e Neruda cantando para o proletariado.
Não irá a boniteza do povo indígena que rasgueia a floresta e resiste ao trator da ganância com urucum, jenipapo e cocares de uma sabedoria inatingível pelos senhores da devastação e da monocultura.
Não irá a alegria do povo negro. Nesse dia o Rei de Aruanda descerá a terra para defumar os terreiros e desmanchar demanda dos portadores da desesperança.
Também, não participará da farsa toda aquela gente que samba, canta e sabe que "amanhã será outro dia".
Não irão as mãos cavouqueiras que acariciam o milharal florido nos campos da reforma agrária, como se fosse os cabelos da mulher amada.
Não serás presenteado com a felicidade dos casais homoafetivos que sabem amar e desarmam a hipocrisia e o medo com beijos e afetos.
Tampouco o artista que constrói sua arte com leveza, suor, trabalho e horas de êxtase para o gozo sublime dos que sabem gozar.
A empregada doméstica e sua carteira assinada não desfilarão no tapete da mentira.
Não irá a dignidade do cotista que honra sua própria história e sabe de onde veio e para onde vai.
As mulheres libertárias estarão muito ocupadas tecendo a liberdade com os fios de ouro da igualdade, da justiça e da fraternidade. Não irão! Contudo os sussurros delas chegarão aos seus ouvidos, como o vento cortando o tempo: #elenão
Certamente, somente os que andam desacompanhados de si mesmos ao teu lado estarão".
Lilia Diniz
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