Capa Livro Maria Meiysseen |
... Meu pão é o verso e força
na mão que amassa e acorda
a forma da palavra oca.....
Revolver sua
biblioteca é um ato de viagem em que aparecem autores, autores, que nunca mais
você os tinha lido, remexido. Ao faze-lo o tempo retorna, mas especificadamente
quando entramos nas entranhas da obra, caso de O Gôsto de fábula-*Elizabeth
Veiga.**
Este livro,
recomendado por um grande amigo à época dos anos 70, foi um deslumbre para mim,
especialmente pelo saber tratar a palavra, foco que me persegue. Quero dizer
sou um leitor que gosta de saborear a palavra e seus inversos, suas companhia antes e depois da mesma e como o entorno muda.
A poeta se destaca
pela dureza e exatidão da palavra, que as vezes lembra Orides Fontela:
...
Na mina boca ficou
Engolida a minha
voz.
Ris brusco despetala
Silêncios ermos
fontes
Feitos de amor e de
palha
Acorrentados ao
vento
Descobri esta
poetisa no Recife, onde ainda morava; Veiga carioca nascida em 1944 e estreou
jovem aos 31 anos com O Gôsto de Fábula* (-adotarei aqui o acordo ortográfico
vigente a época 1972, para citar os versos)
Depois sucedeu-se
em A paixão em claro (1992 Sonata para pandemônio
(2002 antologia Pontes/Puentes, que reúne 20 poetas brasileiros e 20 poetas
argentinos do pós-guerra, publicada em 2003
Elizabeth na
sua estética ,sua forma de escrever é como quem escreve duro mas faz mel nas
colmeias suas lexicais.
Mesmo na estréia ela
causou impacto, ao menos no meio intelectual do Recife e do Rio, naquela
época. O gôsto de fábula de capa simples mas de
estética visual limpa também chamou-me atenção era da
artista Maria Minyssen.
A obra foi
dedicada a Carlos Drummond de Andrade e Alvaro Mendes e teve edição
independente Dai supor sua amizade ao grande
poeta e do segundo- outro poeta, fantástico e que se observa o cheiro de
sua estética na obra de Veiga.
...no calor das cascas cruas
crepita
um coral de cascas.
a
pele da cobra adere-se
às
pedras ferve.Alvaro Mendes( Cascas Duras)
O Gôsto de Fabula
está dividida em seis partes, traz nos uma variação de sentidos, mas a textura
lexical é a mesma bem como seu foco. Entretanto os poemas da primeira parte destaco -Poema dos objetos,
em que a autora desliza fácil sua
poética vibrante adensando os sentidos poemáticos para dizer das coisas-objetos. Tarefa difícil, quase que uma
arqueologia do sentido da palavra a ida ao objeto e seu conceito.
Vejamos:
..A luz não e
derrete tôda
e vai ver as coisas
de perto..
...
a madeira
empertigada
e fidalga
dissimula a
desconfiança
das frinchas...
...
O ar é cego,
Derruba as coisas
...
Vidros espontâneos
Concordam com tudo
...
A voz rouca dos ralos..
....
E a vida é mortal
como a pedra
absorvida em se
negar concreta
Diria que esta
poetisa foi uma das poucas que me chamou atenção para poemar sobre as os
objetos, duvidando do seu sentido, mas acalmando a dúvida com o espichar
palavra para orgia do poema sempre e ternamente inexato duvidoso como a vida.
Elisabeth sumiu, não
se tem noticias dela, mas ficaram estas palavras poemadas que marcaram sempre no
hall dos grandes poetas.
*mantenho aqui a escrita original antes do acordo ortográfico
**Elisabeth Veiga Rio de Janeiro, em
1941. Estreou em livro em 1972, com o volume Gôsto de fábula, A paixão em claro
(1992 Sonata para pandemônio (2002 antologia Pontes/Puentes, que reúne 20
poetas brasileiros e 20 poetas argentinos do pós-guerra, publicada em 2003
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