Tive o prazer de ter recebido de Elton Luiz de Souza-UERJ, uma pequena resenha sobre minha obra-Palavra Muda.Deixou-me batendo asas, como passarinho molhado, saindo do riacho, feliz.Passo ao público as considerações dele, que bem traduziu meu corpo que escreve, balbucia e as circunstâncias nas quais escrevo e escrevi. .A obra, em papel, está esgotada mas disponível via Kindle.-https://amzn.to/2GRGfFN
PARA VENCER A SOZINHEZ
( por Elton Luiz Leite de Souza)
Segundo
o poeta Manoel de Barros, poesia não é apenas verso e rima no papel, poesia é empoemamento
: horizontamento da alma. Cada poeta
, quando é um poeta de fato, nos empoema
inventando o sentido e o ser do que seja poesia.
“Palavra
é sempre muda”, dizem, “quem fala é a boca”. Mas Paulo nos ensina que a própria palavra
pode ser muda, para assim expressar o
que não consegue dizer a mera boca que
apenas diz palavra.
Paulo
inventa um devir-só repleto de
esvaziamento de egos. Devir-só não é
a mesma coisa que ser sozinho. Esse devir é o dizer de quem expressa , das coisas mais comuns, o seu
incomum único.
Paulo
data alguns poemas ao modo de acontecimentos de um diário. São poemas com
registro de nascimento , dia e hora, dando a ver que poema é acontecimento
unindo o íntimo lírico ao social e histórico.
O
poeta é um “cristo pagão” que aceita sua solidão acompanhada de deuses, muitos
deuses, os do dia e os da noite, sobretudo estes, e ainda mais alguns que
carecem de nome, mas não de ser.
Solidão
é o dão de quem se dá (“poesia é coisa de dão”, Manoel de Barros). Paulo
escreve como quem se esvazia para que
nada resista à poesia que o preenche. Ele se desvencilha do gozo de uma “sozinhez” narcísica, para assim narrar, não
sem dor, as solidões da singularidade ao
mesmo tempo simples e refinada. Em seus versos há perceptos de paisagens sem homens, feitas de mar , de peixes e desmesuras aquáticas; há
montanhas e suas alturas, mas também há o tecido urbano, no qual o humano está
à procura de si mesmo.
Há
um fio entre o verso e nós. O fio não
nasce de um ponto, ele nasce de um novelo que Paulo desdobra , esvaziando-se .
Não é palavra o que ele nos dá, ele nos dá uma canção que espera o amor voltar
para atenuar as dores dessa “difícil vida danada”, que mesmo assim é celebrada , sem
arrependimentos , sem culpa, com boa vodca.
Um
“deus” com “d” minúsculo faz-se mais humano que o homem, ele aprende o desejo,
a saudade, tem pai mortal e lê cordel. Assim, esse deus não
espera obediência, apenas que o vejamos incorporando-se “natureza e tempo” , para
assim também nos fazer gente, tempo, lua, saudade não nostálgica.
A
palavra muda não é a que ausenta a palavra, a palavra muda é a conquista de um
silêncio completo: diz tudo sem dizer nada, pois não o diz com o som, o diz
apenas com o sentido artesanado.
Prosa é palavra que sai de uma boca ; poesia é palavra muda que o coração “assoletra” com
sua boca , a mesma do poeta. Há a mudez da boca que não mais diz palavra, restando muda. Porém
a mudez da palavra apenas se conquista quando o poeta se esvazia de si até ficar repleto de
poesia,para assim transbordar
Nenhum comentário:
Postar um comentário