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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

QUEM É UM COXINHA? (OU: VAI PRA CUBA!) ROBERTO NUMERIANO -RECIFE capturas do face


QUEM É UM COXINHA? (OU: VAI PRA CUBA!)
Não sei quem inventou esse apelido perfeito. Daqueles que "pegam", pois o sujeito ou a sujeita "pega um ar" toda vez que alguém lhe aponta nas ruas e diz" "Sai pra lá, coxinha"... Mas, afinal, o que é ou quem é um coxinha? Pelo que pude reunir nestes quase dois anos que conheço a palavra, um coxinha carrega um monte de significados, normalmente reunidos numa pessoa pelo fato de que o ser coxinha é uma condição sociológica, político-ideológica e filosófica. Em geral, é um tipo ideologicamente reaça, com pretensões de perfeito cidadão "pagador de impostos". Suas palavras e atos são conservadoramente previsíveis, desde o sorrizinho social no elevador ao comentário reacionário sobre as agendas sociais de esquerda. Um coxinha é quase sempre hipócrita: grita publicamente contra a corrupção dos políticos, mas comete contravenções cotidianas e crimes continuados: reveste os vidros do carro com película numa porcentagem ilegal (os mesmos carros com adesivos de "Tchau, querida") ou, toda vez que pode, sonega recolhimento de impostos à Receita Federal (alegando "carga tributária extorsiva"). Um coxinha também se mete a bom cristão. Adora aplacar seu egoísmo social fazendo caridade de quermesse, embora, no dia a dia, olhe atravessado para os pobres e miseráveis que sobrevivem nas ruas e ficam esmolando. O coxinha gosta de cuidar do corpo e de contar futilidades típicas de viagens ao exterior. Gasta muitas horas de academia por semana e adora se olhar narcisicamente nos espelhos (quase num gozo masturbatório com a própria imagem), lê pouco ou nada de assuntos culturais (literatura ou ensaios culturais, nem pensar), faz do carro comprado em trocentas vezes templo e altar do seu "sucesso" e realização pessoal, conversa sempre com as verdades prontas da ideologia do "Deus mercado", se diz gente praticante de alguma religião (mas desconhece o que é religiosidade), vive a detonar os servidores públicos (até um dos seus filhos passar num concurso e entrar numa carreira), acredita que a universidade pública deveria ser privatizada (porque, é claro, seus filhos poderão pagar), não sabe o que é socialismo ou comunismo (mas é capaz de babar de ódio por horas "falando" desses assuntos), e, em geral, é misógino (tem aversão às mulheres), homofóbico, racista, além de fatal eleitor de Bolsonaro. Por fim, quando alguns argumentos básicos desmontam suas ideias tolas e sem base sobre questões ideológicas, sociais, culturais e políticas, ele incha igual um sapo cururu e diz: "Vai pra Cuba".
Bom dia, aquele abraço, saúde e paz.
Recife/PE, 30/11/2017
PS: Boa notícia: o meu projeto de publicação do ensaio "Gilberto Freyre: Imaginários da Casa-Grande à Favela", foi selecionado pelo Funcultura / Fundarpe. O livro já está pronto. Ano que vem será lançado.

* Doutor em Ciência Política, jornalista, militante do PSOL e pesquisador do Núcleo de Estudos de Instituições Coercitivas e da Criminalidade da Univeridade Federal do Pernanbuco (NICC/UFPE). 

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