http://bit.ly/2kjaInq
“A ironia veio de ter lido Diário Mínimo, de
Umberto Eco. O livro é uma grande gozação, uma boa anedota sobre escrever, uma
anedota bem séria. Lá, ele falava como era mais barato escrever um romance onde
os personagens estivessem trancados numa sala em vez que escrever um cheio de
aventuras, viagens, um livro mais caro etc, etc. Eu ri, mas achei que estava
certo; eu só conhecia o Cariri e o Paraguai, viajara pouco, estava ferrado de
grana, mesmo. Não custava tentar.
É mais barato, Eco,
mas não é mais fácil nem mais divertido. Entendi a piada na pele.” http://bit.ly/2fRZMux
Inquieto, gozador, jogador de fatos e palavras, este cearense que sentou praça em Recife, desde 1968, derrama sobre sua obra um espectro de
brasilidade fulminante e com tons de escárnio e critica.
Suas obras desfilam todas pela Editora Iluminuras (SP) : Matriuska (contos, 2009);
O destino das metáforas 2011); Sofia (romance, 2014), Fernanflor (romance, 2015); Guerra de ninguém, (contos, 2016). Em
todas o autor é coeso e farto de um escritura inovadora, desde o léxico e
construções frasais à edição formatação do texto. Seus prêmios são: Sofia,1985, o romance, venceu o Osman
Lins de Literatura, e O destino das metáforas, 2011, o Jabuti.
Encontro muitas vezes autores do conto, do romance que desferem palavras a esmo, e que se distraem comeles mesmos numa espécie
de autocomplacência. Esse não é o caso de Sidney Rocha, autor que se embebe do
real, por mais que diga o contrário. Mas não existe criacão sem um ponto do
real possível, que o autor puxa para um imaginário e refabrica um outro real, derramando sua tônica
de bom escritor, fragmentando fatos, misturando léxicos nacionais e expressões internacionais, usadas entre algumas classes sociais, nada estranho entre nós.
Diz ele :
“Pode-se ler minha obra e encontrar certa reivindicação ou proclamação da identidade, e nisso
meu trabalho aponta para uma estética, a luta com e contra a linguagem e não ou
contra e com a geografia.”
Matriuska é um
dos seus livros de conto, de fácil deglutição e um verdadeiro espelho do
Brasil: como na boneca russa, uma dentro da outra, um real dentro do outro.
Sidney mostra sua não conciliação, mas
ele está no real vivido, lavado por sua escrita e tingido no seu estilo, talvez
só não se biografe, quem sabe nas laterais das palavras esculpidas textualmente
“Não me concilio. Minha
literatura não é confessionário. Minha vida serve para a literatura no que haja
de estética nisso. As confissões são vulgares. Não me confesso. Não vejo
nenhuma importância da personalidade ou biografia de um autor no texto
literário. Escritores se saem melhor se são justo o contrário do retrato.”
Eu leio e
me vejo em Sidney, vamos abri-lo e nele nos espelhar.
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