Mario de Andrade(1893-1945)…70 anos
Eu recuso a paciência, o boi morreu, eu recuso a
esperança.
Eu me acho tão cansado em meu furor.
As águas apenas murmuram hostis, água vil mas
turrona paulista
….
A Meditação sobre o Tietê -1945-( parte final)
Depois das cinzas, das águas, do tempo estamos há
setenta anos da morte de Mario de Andrade e o panorama não mudou na sua cidade
Seu poema, vide trecho acima, foi escrito no ano de sua morte(1945) , talvez o
último grande poema. Perfeitamente severo ao tempo ,como o de hoje.
Ele nos deixou um grande legado que até hoje há
muito para se ver e entender. Sua obra é vasta e passa por mais diversos
campos, da literatura, a música, a dança,
enfim da cultura popular.
Trabalhei com seu material recolhido nas missões iconográficas
da Sec.M. de Cultura de SP, tal acervo não foi trabalhado como deveria, face a
nao formacão de uma comissão múltipla –
interdisciplinares de especialistas -de vários estados, como assim mereceria. O
material passa pelas linguagens das artes e tem objetos raros que mesmo, os estados –do nordeste e norte, nao os
possui ,caso de Pernambuco, mas há outros mais.
Mas voltemos ao poeta, ele como um homem solitario,
meditabundo encarou poetar a cidade em suas praças, ruas, avenidas,
casas e seu maior rio. Com seus poemas iniciais, da Lira Paulistana, ele quebra
a rima, fala de um Brasil, Brasil, brasileiro
Poeta do Modernismo ele foi fatal na poesía desde a
Lira Paulistana, 1922. Obra magistral e antropológica como só ele sabia dar
suas pitadas com seu português brasileiro. Vide -manuscrito A gramatiquinha da fala brasileira, obra inacabada, deixada
pelo poeta: é a língua
falada pelo povo. Fase caótica primitiva em que o Brasil é livre, [...] dá as
tendências essenciais da futura fala brasileira(http://bit.ly/1CK2Rxm),mas finquemos o olhar sobre a Meditação do Rio Tietê:
Porque os homens não me
escutam! Por que os governadores
Não me escutam? Por que
não me escutam
Os plutocratas e todos
os que são chefes e são fezes?
Todos os donos da vida?
Eu lhes daria o
impossível e lhes daria o segredo,
Eu lhes dava tudo
aquilo que fica pra cá do grito
Metálico dos números, e
tudo
O que está além da
insinuação cruenta da posse.
E si acaso eles
protestassem, que não! que não desejam
A borboleta translúcida
da humana vida, porque preferem
O retrato a ólio das
inaugurações espontâneas,
Com béstias de operário
e do oficial, imediatamente inferior.
E palminhas, e mais os
sorrisos das máscaras e a profunda comoção,
Pois não! Melhor que
isso eu lhes dava uma felicidade deslumbrante
De que eu consegui me
despojar porque tudo sacrifiquei.
Sejamos generosíssimos.
E enquanto os chefes e as fezes
De mamadeira ficassem
na creche de laca e lacinhos,
Ingênuos brincando de
felicidade deslumbrante:
Nós nos iríamos de
camisa aberta ao peito,
Descendo verdadeiros ao
léu da corrente do rio,
Entrando na terra dos
homens ao coro das quatro estações.
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