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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Noiva da Paulista

série av paulista

Lembro-me da Casa Madame Rosita , no início da Av Paulista, quase esquina com a Haddock Lobo, anos 70.Era uma casarão de certa forma imponente, onde se trabalhava  com moda  feminina, em que a alta costura estava chegando ainda por aqui. Seu nome de fato era: Rosa Libman uruguaia tendo aportado no Brasil em 1935.No mesmo ano inaugura sua maison  denominada -Peleteria Americana- na Rua Barão de Itapetininga em São Paulo. Seu foco eram: artigos de pele,visons, martas, raposas e zibelinas.Mme. Rosita trazia as mais famosas peles do mundo, sendo a primeira griffe brasileira, podemos assim afirmar.
Seu primeiro desfile profissional do Brasil foi em 1944 vanguardista da Alta Costura no Brasil.
Primeiro sua loja  foi no centro da Cidade, quando a Barão de Itapetininga estava no auge, após a decadência ela instala-se no Conjunto Nacional da Av. Paulista, agora com o  nome de Madame Rosita,quando aquele projeto arquitetônico inflamava a cidade; depois ela cria sua própria casa, no casarão a que me refiro.
Do do outro lado da avenida havia  SLOPER, casa, que já conhecia no Recife,cidade a epóca a terceira maior do país , após São Paulo  e Rio A Sloper foi espéçie de Magazine Chic, das dondocas, onde encontrava-se luvas, lenços, echarpes finíssimas e bijuteria fina afora as  grandes marcas de cosméticos, entre elas , a época, Helena Rubenstein, patrocinadora offcial do Miss Brasil , que fazia sucesso nos anos 70, em seu final,mas havia outra dezenas de marcas.Bom, falo tudo isto para tentar descrever parte do cenário ao que me interessa inserir – a noiva da Paulista.

Bem,vamos ao que quero falar.Recordo-me-anos-i70 para 80- da aparição, costumeira, às tardes,de uma mulher de seus sessenta e tantos anos , senão mais, que desflilava em frente da Loja da Madame Rosita com vestido de noiva e uma grande calda com um buquê de flores e, claro, um solideu.Compenetrada passava, desfilava pela calçada como uma personagem de Godard.Para mim era o cinema ao ar livre.Admirava-me a coragem e a forma compenetrada da tal mulher.Louca, não sei, sei que de coragem e poder de criação sim ! Era o tempo em que performance era loucura.Hoje ganha-se dinheiro com as estátuas vivas, ou esculturas humanas.Bom!

Mas o que se passaria na cabeça da tal mulher?

O quê levaria a tal?
A mim trazia o imaginário cinematográfico, ao vivo,a imagem , que nos alucina, só que ao vivo e a cores e cheiro.

Certa vez cheguei mias perto da tal figura e senti seu perfume, seu rosto de inteira fidelização ao personagem empunhado.Passava-me  uma vontade de acompahá-la com  um traje equivalente, mas pensava: roubaria-lhe a cena, mas que vontade eu tinha , tinha sim, era a erupção, a exuberância, do crer do desejo e realizá-lo postando assim parte de suas dobras de subjetividade, e, ao mesmo tempo, adornando a cidade, em que, talvez,o fluxo das pessoas da avenida não compreendia, não sentia- a, mas que ela tinha público , tinha sim.

Essa mulher foi para mim, por incrível que pareça a minha visão de Madame Rosita, já que nunca conheci  a sua loja, nem tampouco,  ela em pessoa.
Ela, a noiva,era símbolo da decadência da paulicéia rica, enloquecida, mas sem perder a pose, mas com o charme  e a sedução.Ela era o desencontro de tantos da cidade , mas era a mesmo tempo o encontro da Fascinação em tempos de alta moda, para poucos.Ela zombava, era uma noiva solitária, silenciosa sem seu par e a mostrar  que mesmo assim vivia como noiva do além.
A noiva da paulista é a noiva sem casamento, como a avenida, que não casou, pela sua imponência, ficou só mas pomposa, deturpada, com a sua  calda , que já é ultrapassada por outras caldas de outras noivas solas, das avenidas da cidade.

E penso :mudou-será que não existem noivas, noivos punks, agora em outra performance brutal, cenário de clubes da luta? Continua agora não mais Godard - Une femme est une femme (J-L. Godard, 1961)e sim clubes da luta  de skinheads e punks...outros noivos...

E termino com Eduardo Gudin:… Se a avenida/Exilou seus casarões/Quem reconstruiria

Nossas ilusões?/Me lembrei/De contar pra você/Nessa canção
Que o amor conseguiu
… /Se os seus sonhos/Emigraram sem deixar/Nem pedra sobre pedra/Pra poder lembrar:/Dou razão
É difícil hospedar/No coração
Sentimentos assim..


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