Lembro-me
da Casa Madame Rosita , no início da Av Paulista, quase esquina com a Haddock Lobo,
anos 70.Era uma casarão de certa forma imponente, onde se trabalhava com moda
feminina, em que a alta costura estava chegando ainda por aqui. Seu nome
de fato era: Rosa Libman uruguaia tendo aportado no Brasil em 1935.No mesmo ano
inaugura sua maison denominada
-Peleteria Americana- na Rua Barão de Itapetininga em São Paulo. Seu foco eram:
artigos de pele,visons, martas, raposas e zibelinas.Mme. Rosita trazia as mais famosas
peles do mundo, sendo a primeira griffe brasileira, podemos assim afirmar.
Seu
primeiro desfile profissional do Brasil foi em 1944 vanguardista da Alta
Costura no Brasil.
Primeiro
sua loja foi no centro da Cidade, quando
a Barão de Itapetininga estava no auge, após a decadência ela instala-se no
Conjunto Nacional da Av. Paulista, agora com o
nome de Madame Rosita,quando aquele projeto arquitetônico inflamava a
cidade; depois ela cria sua própria casa, no casarão a que me refiro.
Do do outro lado
da avenida havia SLOPER, casa, que já conhecia
no Recife,cidade a epóca a terceira maior do país , após São Paulo e Rio A Sloper foi espéçie de Magazine Chic,
das dondocas, onde encontrava-se luvas, lenços, echarpes finíssimas e bijuteria
fina afora as grandes marcas de
cosméticos, entre elas , a época, Helena Rubenstein, patrocinadora offcial do
Miss Brasil , que fazia sucesso nos anos 70, em seu final,mas havia outra
dezenas de marcas.Bom, falo tudo isto para tentar descrever parte do cenário ao
que me interessa inserir – a noiva da Paulista.
Bem,vamos ao que quero
falar.Recordo-me-anos-i70 para 80- da aparição, costumeira, às tardes,de uma mulher
de seus sessenta e tantos anos , senão mais, que desflilava em frente da Loja
da Madame Rosita com vestido de noiva e uma grande calda com um buquê de flores
e, claro, um solideu.Compenetrada passava, desfilava pela calçada como uma
personagem de Godard.Para mim era o cinema ao ar livre.Admirava-me a coragem e
a forma compenetrada da tal mulher.Louca, não sei, sei que de coragem e poder
de criação sim ! Era o tempo em que performance era loucura.Hoje ganha-se
dinheiro com as estátuas vivas, ou esculturas humanas.Bom!
Mas o que se
passaria na cabeça da tal mulher?
O quê levaria a
tal?
A mim trazia o
imaginário cinematográfico, ao vivo,a imagem , que nos alucina, só que ao vivo
e a cores e cheiro.
Certa vez cheguei
mias perto da tal figura e senti seu perfume, seu rosto de inteira fidelização
ao personagem empunhado.Passava-me uma
vontade de acompahá-la com um traje
equivalente, mas pensava: roubaria-lhe a cena, mas que vontade eu tinha , tinha
sim, era a erupção, a exuberância, do crer do desejo e realizá-lo postando
assim parte de suas dobras de subjetividade, e, ao mesmo tempo, adornando a
cidade, em que, talvez,o fluxo das pessoas da avenida não compreendia, não
sentia- a, mas que ela tinha público , tinha sim.
Essa mulher foi
para mim, por incrível que pareça a minha visão de Madame Rosita, já que nunca
conheci a sua loja, nem tampouco, ela em pessoa.
Ela, a noiva,era
símbolo da decadência da paulicéia rica, enloquecida, mas sem perder a pose,
mas com o charme e a sedução.Ela era o
desencontro de tantos da cidade , mas era a mesmo tempo o encontro da
Fascinação em tempos de alta moda, para poucos.Ela zombava, era uma noiva
solitária, silenciosa sem seu par e a mostrar
que mesmo assim vivia como noiva do além.
A noiva da paulista
é a noiva sem casamento, como a avenida, que não casou, pela sua imponência,
ficou só mas pomposa, deturpada, com a sua
calda , que já é ultrapassada por outras caldas de outras noivas solas, das avenidas da cidade.
E penso :mudou-será
que não existem noivas, noivos punks, agora em outra performance brutal,
cenário de clubes da luta? Continua agora não mais Godard - Une femme est une femme (J-L. Godard, 1961)e sim clubes da luta de skinheads e
punks...outros noivos...
E
termino com Eduardo Gudin:… Se a avenida/Exilou seus casarões/Quem reconstruiria
Nossas
ilusões?/Me lembrei/De contar pra você/Nessa canção
Que o amor conseguiu
… /Se
os seus sonhos/Emigraram sem deixar/Nem pedra sobre pedra/Pra poder
lembrar:/Dou razão
É difícil hospedar/No coração
Sentimentos assim..
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