Goollllllll do Brasiiiiilllllzilllllllll
Sete para Brasil
2 para a Alemanha...
Entra em campo o Psicanalista de Felipão, o
cumprimenta, felicita-o e sai discreto.
Eu vou falar com ele, mas logo ao chegar perto
ele me diz...desejo é desejo e me dá uma garrafa
de vinho branco e eu caio...e...
Acordo ainda encharcado de bebida, sonho e
sonhos, baba e ressaca, caio ao lado da cama mas logo levanto, tomo banho,
lavo-me com nojo, mas a espuma dilui quase tudo... e vou à padaria, lavar o
estômago também, felizmente nunca tive dores causadas por ele.Ainda bem. Desço...
Desço pelo elevador,
cumprimento Elias e, em seguida, vou saindo, quando ele me chama e diz:
"E a bandeira?"
"O quê?"
"A bandeira de ontem!"
"De ontem, como assim?"
"Uai, a que o senhor veio enrolado nela e
que tava e tá toda rasgada..."
De repente, meu software faz o devido protocolo
digital e atento para o fato:
"Ah tá,
Elias, pego na volta...falou."
Foda! esqueci o celular não volto, só assim esqueço os Faces, WhatsApp, o merda do Viber, google plus e a caceta, Anita,
Angela, Fernando e toda turma do trabalho, do bar e da...
Caminho caidaço como um irritado
com a vida, incomoda-me o cheiro da rua, as bancas de revistas, a avenida que
se diz paulista, a azia dos bancos, o fedô dos
carros... o resto dos bares, o coma dos
postes, o engano do café... a desconfiança de ser.
Não me interessa Maracanã, Arena Pernambuco, Holanda, Argentina, Alemanha, nem Paris, Tóquio, Itaquera e o Braz! Muito
menos...
Quero esquecer, mas não posso, foram sete, sete pedradas, sete avarias, de ontem, do jogo, e
agora seu Elias me relembra, porra. Deixo pra lá...chego na padaria, cumprimento Lúcia, que vai logo
dizendo "E aí, Melhorou das
pedradas?". Rio, um riso chocho e peço o
de sempre, uma média. Pedro me cumprimenta
com o tradicional "Como vai corintiano!" e rio enviesado.Ele me entrega
o café e o pão na
chapa, tomo o primeiro gole e logo vejo
o adesivo da bandeira do Brasil, na xícara,
tomo susto!
Entram Guto e a mulher, Silas e seu amigo Tito e
logo me perguntam "E aí santista,
melhorou?" Rio, com cheiro de garras de gato bravo, saio da padaria e vou
pra rua comemorar o esquecimento, porra, afinal, é feriado nessa cidade de bandeirantes fajutos...Revolução Constitucionalista do além de 1932.
A rua tá lívida, não há um pedaço de gato, e, olha, são 10 horas da manhã, a cidade está com cara de fuinha, ando solto e tento respirar uma paulista despoluída, como se possível fosse.Insisto e
caminho, indo sentido bairro do Paraíso,
como se lá de fato fosse o tal prometido.
Caminho com passos de bicho velho, arqueando
quase como as pessoas que trafegam parecem estar. Finjo, finjo de mim de todo
contexto e pergunto-me o que está ocorrendo! que drama é este que tenta me tomar e tomar a muitos, acho que está havendo dramática demasiada.
Meu fôlego é
baixo, renitente, ontem 7 pedradas fizeram avarias no meu
corpo, foi cigarro, fumo, cerveja ,pinga, fritas, gols e o caralho. Continuo a
caminhar, duas senhoras passam por mim e ouço-as comentar "foi vergonhoso, nem deus perdoa isso, que dirá nós, pobres mortais".
Fujo, fujo reto, não quero isso, nem ver, nem ouvir nada sobre as 7
avarias, chega...o ônibus me espreita na
esquina e quase bato de frente, atravesso a rua e caio. Caio feio em cima de
dois chapéus rasgados com emblemas da bandeira nacional
levanto, chuto os chapéus para o largo da calçada e entro no Bar do Açaí.
Melhor assim, e logo na entrada vejo bandeiras do Brasil
que caem como unhas do teto, mas o que isso, tá virando
pesadelo...que que isso, sô!
Peço uma água à garçonete e volto-me de
costas ao balcão... sinto um frio e cólica na barriga, preciso ir urgente ao sanitário... tem que ser já ...dirijo-me ao lugar
certo e lá despejo as avarias, o desconsolo, a merda, a
cagada do futebol, da copa, da culpa da inconsciência, da negligência e da estupidez de
sermos fanáticos e neuróticos, mentirosos patriotas.
Mijo, em seguida, em cima da água podre da cidade, que esquece da crise paulistana e que ninguém entrou em nóia, e não sente avarias, mas a porra dessa copa me detona mais que a dengue que
assola essa cidade, mais que a poluição
que nos entope de rinite, mais que a porra do metrô, carai...tá fodão, vou pra
casa me enrolar nos meus panos e esquecer... esquecer o quê mesmo? O QUÊ...?
Ponho os óculos
escuros e escondo-me de mim, da neurose que contamina meu povo e a mim.
Dois senhores de seus setenta anos entram, pedem água de côco, e comentam a carestia, o preço do
côco, a falta d'água e o desejo de sair
do país se ainda tivessem tempo, eles riem, muito tem ululam conversa
aprumada e os invejo, enquanto isso dois mano chegam berrando e pedem uma
cerveja, o atendente explica que a lanchonete não trabalha com bebidas industrializadas nem com álcool, eles gritam berram e culpam a Fifa.
Saio, já me
sentindo melhor da ressaca e de bem com o mundo.
Chego em casa, seu Elias não está mais na portaria, já saiu, graças a deus! Subo à jato com
uma leve desconfiança de que vou ter a
inauguração de dores de estômago... ai, ai, ai! eu quero minha
mãe... porra, que dor!
Entro, tomo dois grandes copos de água, e me vem à cabeça: Davi, Thiago e Neymar, grito, urro e me mando tomar no cu,
caralho que é isso...
Abro o quarto, fico na janela e olho a cidade. No
alto vejo a Cantareira. Epa, pera! Desliga, pula! Mas em seguida me
aparece o grafite do muro ao lado do prédio e me chama atenção: "nem a VW não faz um gol ...". Não, não, eu não acredito! O iPhone está tomado, derretido de
mensagens, tilintam uma a uma, tento olhar, não creio...é tudo o jogo de ontem!
Não posso e não devo ligar a tv...não, não, não, entendeu? Pra ser
feliz, melhor não, mas pode-se ser
feliz...com Felipão, FIFA e Aécio, o preço da gasolina, o medo de
ficar desempregado e Hulk ganhando fortuna, mesmo com a bunda que lhe impede de
correr...Não, não...
E agora...deito feito menino e não choro, apenas encolho-me, arrepolhando-me.
Amanhã será quinta e tudo volta...melhor tomar o leite derramado quente e tentar
fechar os olhos, pegar o pano e esquecer. Afinal, Putin vai explorar petróleo em Cuba, e vai começar uma nova copa, a
eleitoral... Não, não, não ...
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