Atualizado às 11h39 by uol
Para que haja uma reinvenção do atual ensino superior brasileiro, "falta neurônio", afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante palestra na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), ocorrida na quarta-feira (24). Para ele, as universidades devem ser as responsáveis por trazer novos modelos culturais de pensamento para a sociedade e, assim, gerar mudança e progresso no país.
"Se a universidade não for capaz de criar modelos de convivência eficientes, nós não vamos ter uma sociedade decente. E vamos ter uma economia horrorosa", disse o político e acadêmico que governou o Brasil entre 1995 e 2002.
FHC explica que a universidade no Brasil ainda tem dificuldades em participar ativamente das decisões e mudanças da sociedade. "A capacidade da universidade [brasileira] de dialogar e difundir valores é muito ruim. A produção acadêmica brasileira cresce muito, já estamos superando Espanha e Itália, mas em patentes a situação ainda é complicada", diz. Ele cita os Estados Unidos como um país em que a atuação dos acadêmicos é bastante valorizada.
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Meritocracia
O ex-presidente aponta o incentivo pelo mérito como uma das ações para a melhoria da educação. Ele cita o sucesso do ensino na China e o salto econômico dado pelo país como exemplo: "A China virou uma escola [para o mundo], em que todo mundo tenta aprender".
Ele contrasta a escola chinesa e a brasileira: enquanto a primeira tem a família do aluno como ponto de apoio e o incentiva a ser o melhor; no ensino brasileiro, boa parte dos pais não têm como ser base dos estudantes, uma vez que eles não foram à escola.
Para FHC, o fato de ser recente é a razão para que sistemas de avaliação do ensino ainda sejam rejeitados pelos docentes: "Hoje se tem uma greve em São Paulo em parte contra isso. Até hoje não se aceita que haja incentivo pecuniário para quem for melhor", diz.
"Não acredito que a meritocracia possa substituir a democracia [na China], mas acho que é preciso prestar atenção, pois ela pode significar um grande desafio: além de ter uma força econômica, [o país] baseia suas grandes decisões num sistema de mérito", afirmou.
Gasto melhor
O ex-presidente também defende que o formato do ensino superior brasileiro e o prestígio dele na sociedade precisam ser revistos. "Nas universidades da Inglaterra e da França a situação econômica não é tão diversa daqui, o que é diferente é a posição na sociedade, o professor é valorizado", aponta.
"Se quisermos pensar estrategicamente, temos que ter um gasto melhor. Não é aumento de salário, mas um gasto para melhorar a cabeça das pessoas. É preciso olhar o qualitativo."
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