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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Desafio de reviver o mestre


Desafio de reviver o mestre
Publicado em 10.11.2009http://bit.ly/28ReWy

Após vasta pesquisa, o diretor Breno Silveira fecha o roteiro do filme que vai se chamar Gonzaga: de pai para filho

Luís Fernando Moura

lmoura@jc.com.br

Com o longa 2 filhos de Francisco, o cineasta Breno Silveira conquistou uma bilheteria de quase cinco milhões de espectadores, a maior do ano de 2005. Apesar do sucesso, tinha desistido de filmar histórias de personagens reais e perdeu o interesse pela maior parte delas. Carregam uma verossimilhança incabível. “Não gosto muito de cinebiografias em primeira pessoa. Uma ficção não pode ser uma colagem de fatos históricos, isto é um documentário. O cinema precisa de uma trama, de alegrias e tristezas”, afirma.

Luiz Gonzaga fez Silveira voltar atrás na primeira decisão. Em busca do relato de vida de Gonzagão, o cineasta resolveu dar outra chance ao registro biográfico. Para tal feito, iniciou uma pesquisa aprofundada para desvelar os pequenos acontecimentos da trajetória do personagem. Há dois anos, Silveira realiza uma garimpagem que visita livros, familiares, amigos, lugares, personagens aqui e acolá, e confessa: a imensidão de informações – e também o confinamento delas – protelou o fim da busca por todo este tempo.

“Gonzagão é muito maior do que eu imaginava. Achei que, no começo, iria ser um filme fácil de levantar, mas o roteiro continuava sem força dramática. Era muito complicado entrar em contato com os parentes e, cada vez que eu descobria algo novo, me sentia intimidado pelo tamanho de Gonzaga. Finalmente acho que o roteiro chegou num tamanho bacana”, afirma o cineasta. Após esboços de nomes e boatos que, diz, vieram sabe-se lá de onde, a produção tem título definido. Vai se chamar Gonzaga: de pai para filho.

A proposta de Silveira busca a expressão das afetividades familiares, tal qual o fio que conduz a trama de 2 filhos de francisco. Enquanto, neste caso, o pai dos biografados era elo emocional e protagonista eleito, aqui é Gonzaguinha, o filho, que toma as rédeas do olhar sobre o pai. A figura de Gonzaguinha deve catalizar os eventos que norteiam a trama e servir de elo de cumplicidade entre espectador e a história contada.

“Cada história pode ser contada por diversos interlocutores. A principal, e maior, seria a contada pelo próprio Luiz Gonzaga. Mas sei que é impossível esgotar a história de qualquer pessoa, especialmente de Gonzagão, então não quero a pretensão deste relato”, diz o cineasta. “Escolhi o filho pois, assim, temos liberdade poética, e podemos explorar o drama entre o pai que não aceitou bem o filho”, continua.

O filme veio por encomenda ocasional de uma fita K-7. Silveira deu o play e ouviu uma gravação em que, nas suas palavras, Gonzaguinha revelava: “Não conheci meu pai direito e amanhã é o enterro dele”. O arroubo fez o cineasta perceber que o que tinha em mãos se tratava de um “drama muito forte entre duas pessoas muito importantes para o Brasil. Um deles tinha mudado completamente o destino da nossa música”.

A previsão é de que as filmagens sejam realizadas no ano que vem, a fim de que em 2011 o filme seja lançado. O desafio atual, segundo Silveira, é definir as locações e fechar o elenco. “Devo fazer teste de locações no Recife, a partir de julho ou agosto, mas vou demorar a achar um ator que tenha o carisma de Gonzagão, ou mesmo o rosto parecido”, diz. Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo também devem receber as filmagens, que passam pelo município de Exu, onde nasceu Luiz Gonzaga. O orçamento não está fechado, mas o roteiro recebeu prêmio do BNDES. A Columbia Pictures tem participação no projeto.

Apesar de ter nascido em Brasília, Silveira tem ascendência pernambucana. Costumava passar as férias no sítio do avô, em Carpina. “Meu avô também se chama Breno e me levava para a feira de Caruaru, onde eu conheci a obra de Gonzaga. Eles tinham sido amigos. Às vezes, acho que estou percorrendo algo que me marcou na infância”.

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