Design em nome da qualidade de vida
Publicado em 24/08/2009 | PEDRO DE CASTRO, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVOO tempo que um cliente de telefonia perde nas páginas de detalhamento de serviços, ou que o comprador de uma televisão passa de menu em menu para acertar a imagem, pode ser consequência de um design mal aplicado. É o principal objetivo do design de informação, disciplina do design gráfico, dispor dados de maneira a facilitar ao máximo a experiência do usuário. O argentino radicado no Canadá, Jorge Frascara, um dos expoentes da área, atribui ao design a função de tornar as relações mediadas mais éticas. Para ele, o design deve ter em mente o uso que as pessoas farão dos dados. O professor está em Curitiba para ministrar o curso Design de Informação Centrado no Usuário, promovido pela Universidade Positivo. Hoje à noite ele dá uma palestra gratuita, aberta ao público, no campus da instituição.
Especialistas dizem que o design de informação é uma disciplina aplicada em vários campos do design gráfico antes de um campo específico. Em que esferas o design de informação está mais desenvolvido?
Não se pode dizer facilmente que haja uma área do design de informação que esteja mais desenvolvida que outras. As diferenças se encontram entre os designers ou entre os estudos de design. Por exemplo, um dos ramos mais conhecidos do design de informação é a sinalização, mas isso não significa que todas sinalizações sejam melhores que todos os formulários ou que todos os horários de trens. Ao contrário: sua visibilidade às vezes leva a concepções totalmente equivocadas que colocam a inovação, a identidade e o estilo por cima da capacidade informativa dos sistemas. Muitas vezes, coisas como os horários de trens, que não são projetos tão desejados por estudiosos de design, terminam por oferecer um melhor serviço. Existe uma necessidade imperiosa de implementar o conhecimento existente em design de informação porque ela é uma disciplina necessária para o funcionamento eficaz e honesto da sociedade. Das contas de serviço de gás ou eletricidade até as apólices de seguro, a informação do público alvo deve ser um objeto supremo.
Esta idéia, de que o design deve passar dados de forma eficiente em vez de apenas atraente, é condizente com alguns usos do design, como na publicidade?
Seja para o benefício do público, seja para o benefício do comerciante que anuncia um produto, a qualidade do trabalho do design de informações se mede pela medida em que se alcançam os objetivos propostos. Por exemplo, se uma peça publicitária é atrativa, mas não contribui para alçar as vendas de um produto, a propaganda não alcança os objetivos necessários.
A busca da clareza é característica do chamado design centrado no usuário. Este não deveria ser um princípio de todo o campo do design?
Não necessariamente. Nos supermercados, o desenho da distribuição das mercadorias é complexo, feito para forçar o público a passar mais tempo nele, tentando-o a comprar coisas que não pensava comprar. Na publicidade de produtos de consumo, muitas vezes se vendem fantasias para incrementar as vendas. As companhias de seguro elaboram suas apólices de modo que as pessoas comuns não as entendam e as aceitem sem questionar. O design de informação centrado no usuário, pelo contrário, é um design ético, que defende a qualidade de vida do usuário.
Comunicação persuasiva é um termo recorrente em seus textos. No design, esta persuasão busca corrigir hábitos nocivos das pessoas?
O design de persuasão pode ser usado tanto na publicidade de produtos de consumo como em suas aplicações com fins sociais. Quando se tratar de design com fins sociais, a estratégia é fazer com que as pessoas tomem uma decisão consciente, mudando suas atitudes e condutas. Os argumentos devem ser organizados de uma maneira tal que o público veja uma vantagem pessoal na tomada de uma nova posição.
Você tem estudado equipamentos de segurança, a partir da visão de que as pessoas aprendem mais por tentativa e erro. O design de informação tem-se mostrado eficaz nesta função?
O design de informação deve ser capaz de ajudar os usuários de produtos. Isso não significa que sempre o seja ou que, pelo contrário, sempre se deva usar manuais para aprender a usar instrumentos. A solução ideal é que a informação seja incorporada nos produtos, isto é, que a interação entre os usuários e os produtos possa ser intuitiva. O designer de informação deveria estar envolvido desde o princípio no desenvolvimento de espaços e produtos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário