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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Cine Ceará premia filme sobre o baião

LUIZ GONZAGA E HUMBERTO TEIXEIRA , ABAIXO ATORES
foto by band


Publicado em 06.08.2009

Longa Humberto Teixeira – O homem que engarrafava nuvens, de Lírio Ferreira, ganhou prêmio da crítica e de melhor roteiro, mas o grande vencedor foi Se nada mais der certo

FORTALEZA – Em decisão equilibrada, o júri premiou os dois melhores filmes da competição no Cine Ceará. Se nada mais der certo, do paulista radicado em Brasília José Eduardo Belmonte, ficou com o primeiro lugar (melhor filme, direção, ator e montagem), e o documentário Humberto Teixeira – O homem que engarrafava nuvens, do pernambucano Lírio Ferreira (melhor roteiro e prêmio da crítica), veio em segundo, ganhando ainda de brinde (simbólico) a consagração do público na mais animada sessão deste festival.

Pena que o Cine Ceará, ao contrário da maioria dos festivais, não tenha prêmio do júri popular. Tivesse, por certo, iria para o filme de Lírio, produzido pela filha de Humberto Teixeira, a atriz Denise Dummont, a pessoa mais emocionada na festa de premiação. Tão comovida que ensaiou cantar uns versos de Que nem Jiló, parceria de seu pai e Luiz Gonzaga, ao receber um dos troféus Mucuripe.

Numa edição em que os filmes brasileiros foram bem superiores aos ibero-americanos, a concentração nos dois principais premiados parece normal. À deriva, do pernambucano Heitor Dhalia, ficou apenas com o prêmio de música. A também pernambucana diretora Renata Pinheiro, levou prêmios nas categorias direção de arte, ator e ator para Everaldo Pontes com o curta curta Superbarroco. O melhor filme da categoria foi Os sapatos de Aristeu, do paulista Luiz René Guerra.

Os hispânicos lembrados foram o mexicano Coração do tempo, o cubano Deuses quebrados e o argentino Homo viator. O representante peruano, O prêmio, e o brasileiro Pequeno burguês – Filosofia de vida, do carioca Edu Mansur, saíram sem nada. Este último é uma ‘cinebio’ de Martinho da Vila, que esteve em Fortaleza e encantou a todos. Mas simpatia do biografado não é quesito cinematográfico e o filme estava na seleção para trazer um astro popular à cidade.

Se nada mais der certo é uma história de juventude à deriva, ambientada em São Paulo. Não é um filme redondo. Sustenta-se mais nas arestas, nos paradoxos, do que no equilíbrio formal. Belmonte conjuga uma câmera exasperada à utilização inusitada do som. É sua obra mais madura.

Já O homem que engarrafava nuvens pode ser considerado três filmes em um. Resgata um personagem, Humberto Teixeira, em geral ofuscado pelo brilho do seu parceiro habitual, Luiz Gonzaga. Fala de uma filha, Denise Dummont, que precisava acertar-se com a figura paterna. E, por fim, repõe um gênero musical, o baião, em sua justa posição no contexto da música brasileira. Assim, é cinebiografia, filme psicológico e de investigação conceitual. Mais do que tudo, é bem-feito, cheio de ritmo e emocionante.

Já a seleção ibero-americana ficou abaixo do que se poderia esperar. O cubano Os deuses quebrados é muito fraco. Havia uma boa alternativa disponível, O corno da abundância, de Juan Carlos Tabío, mas a curadoria houve por bem (ou por mal) escolher o primeiro. O argentino Homo viator resgata o personagem do escritor Haroldo Conti, “desaparecido” pela ditadura, é sofisticado, ainda que um pouco duro de cintura. Sua vantagem é colocar o personagem de maneira viva, fugindo à tendência necrofílica portenha, como disse o próprio diretor. O mexicano Coração do tempo tem a originalidade de ser a primeira ficção filmada em região zapatista. Mas é ingênuo. O peruano O prêmio é singelo. E pouco mais que isso.

A seleção de curtas foi regular e o júri premiou o que havia de melhor: a pungência e o rigor de Os sapatos de Aristeu, sobre o enterro de uma travesti, A mulher biônica, num belo desempenho da atriz Ceronha Pontes como a supermulher que sente falta de “algo” em sua vida. E o mais inventivo de todos, Superbarroco, mistura de delírio e realidade na mente de um obcecado por Dalva de Oliveira.

As atividades paralelas do festival foram bem interessantes, para dizer o mínimo. O núcleo de animação da Casa Amarela foi reativado com mostra de filmes e seminário internacional, com as presenças de dois cobras na área, Abi Feijó, de Portugal, e Juan Padrón, de Cuba, além de dezenas de animadores brasileiros. O cinema de animação vive grande momento e o Cine Ceará mostrou-se sensível a isso.

by JC Recife

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