Incrível, alarmante o que diz Contardo, leiam:(pauloacv)CONTARDO CALLIGARIS 60 anos, escritor e psicanalista
‘Não há distinção entre real e virtual’
EVELSON DE FREITAS/AE
PILOTANDO - O Panelinha tem um estúdio próprio, que foi reformado para o oitavo aniversário do site
Para autor de peça que traz web como realizadora de fantasias, na rede, não assumimos um papel, somos nós mesmos
RODRIGO MARTINS
As relações afetivas construídas na internet e a forma como nos mostramos nas redes sociais não são nada virtuais. Ao contrário, são muito reais. Psicanalista que figura entre os mais famosos no Brasil, Contardo Calligaris vai contra discursos que diferenciam relacionamentos ou atitudes na rede dos realizados no mundo “físico”. Para ele, amizades ou romances mantidos na web valem o mesmo que os mantidos fora dela. E comportamentos muitas vezes exóticos assumidos virtualmente são só o reflexo de características já existentes no indivíduo.
O papo pode parecer muito cabeça para o leitor. É mesmo. Mas na conversa com o Link, Calligaris destrincha o assunto, que lhe inquietou a ponto de servir de material para escrever sua primeira peça de teatro. Além de psicanalista, ele é escritor, colunista da Folha de S. Paulo e agora dramaturgo. E assina o texto do espetáculo O Homem da Tarja Preta, em cartaz em São Paulo, no qual retrata um homem casado e pai de duas filhas que, na madrugada, assume o papel de travesti em chats (veja mais abaixo).
Calligaris assume que a peça chega a chocar. Mas diz que é sintoma da web hoje. “Esse foi um dos grandes efeitos civilizatórios da rede. Antes dela, um cara que tivesse uma fantasia desse tipo se sentiria um monstro que precisava de tratamento, pois julgava que só ele tinha isso. E mudou. Na internet, descobre que milhares de pessoas vivem as mesmas fantasias que ele, vê que não está só.”
Diz o psicanalista que isso não é somente para fantasias sexuais. Vale para colecionadores de relógios antigos, quem gosta de botões, enfim, tudo o que pode fascinar um indivíduo e que ele deixa escondido por medo de não ser aceito. É justamente aí que entra a questão de o personagem no mundo virtual não ser um personagem, mas o mesmo indivíduo do mundo real.
Para Calligaris, o homem que se oferece na web como travesti para machões, na verdade, é tão real como o homem que é casado e pai de dois filhos. “Acontece que ninguém se mostra por inteiro para ninguém. Todo mundo tem diferentes facetas para certos momentos. Mesmo as esposas não sabem tudo de seus maridos”, diz ele, depois usando o repórter como exemplo: “Você entrou aqui, se apresentou como Rodrigo, vi que tinha barba, cabelo estilo anos 60, mas não sei da sua vida, se pratica sexo no Ibirapuera à noite, por exemplo.”
É para essas coisas que se escondem na personalidade, afirma, que a web entra de forma libertária, quando o sujeito encontra outras pessoas que compartilham traços. Nos e-mails que recebe pela sua coluna, por exemplo, Calligaris diz que alguns trazem ofensas, até com palavras de baixo calão. “Pessoalmente, o sujeito não diria isso. Mas na web se sente à vontade, pois já está acostumado com o espírito.”
A mesma coisa pode ser notada nas celebridades que surgem na rede mundial, como a maior-cantora-do-último-mês, Susan Boyle, que apareceu em um programa de calouros do Reino Unido e recebeu milhões de visitas no YouTube. “Na rede, as pessoas colocam facetas que esconderiam. É o melhor lugar para mostrar o seu talento. Se não der em nada, não deu.”
Da mesma forma como as ações, as relações que nascem na rede não são virtuais, defende. Mesmo com o mito de que se mente mais na rede quando se quer conhecer um parceiro ou amigos, o psicanalista defende que o comportamento é o mesmo do mundo real. “Quando se conhece alguém no mundo físico, é como um baile de máscaras. Você nunca sabe tudo. Mesmo fisicamente, as pessoas fazem cirurgias plásticas.”
Para ele, o jogo de esconde e mostra da internet – tanto na personalidade como fisicamente – faz parte da “parte lúdica”. “Há casais que se conhecem na web e se casam. E outras pessoas que não se conhecem fisicamente, mas mantém uma relação muito real. Não há distinção entre real e virtual.”
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By estadao
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