Documentário mostra ação de pichadores em SP
Filme registra jovens escalando edifícios e desvenda seus códigos de conduta
Ainda sem título definido, documentário explica como a capital paulistana se tornou o "caderno de caligrafia" dos pichadores
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
A pichação é uma expressão artística ou um crime contra o patrimônio? A polêmica questão voltou a ser notícia na última quarta, 11 de junho, quando Rafael Augustaitiz, 24, aluno de artes visuais da Belas Artes, foi detido ao pichar, com amigos, muros e paredes da faculdade paulistana. Para Augustaitiz, o ato foi seu trabalho de conclusão de curso. Para a faculdade, foi vandalismo.
Discutir se a pichação é uma expressão artística ou um crime contra o patrimônio é o que faz um documentário que acaba de ser filmado em São Paulo.
Os diretores do filme (ainda sem título), os irmãos Roberto T. Oliveira e João Wainer -este último, fotógrafo da Folha-, negociam com distribuidoras o lançamento nos cinemas.
O documentário não apenas registra diversas ações de pichadores (ou "pixadores", como eles grafam), mas desvenda alguns dos códigos de conduta.
Inscrições e desenhos, que para muitos não passam de rabiscos sem sentido, possuem significado próprio entre as turmas de pichadores.
Por exemplo, há várias categorias (ou modalidades) de pichação. "Agenda" é aquela feita em muros baixos; na "janela", pintam-se os espaços entre as janelas de um edifício; a "escalada" é a mais "nobre" (e a mais perigosa): transportando latas de spray em mochilas, os pichadores escalam edifícios para carimbar o topo dos prédios.
Caderno de caligrafia
"São Paulo é como um caderno de caligrafia, e os muros e paredes da cidade são os espaços em branco que vão ser preenchidos pelos pichadores", explica um dos entrevistados no filme. "Meu "picho" está na pele de São Paulo", diz outro.
Ex-pichador, Djan, 24, é o fio condutor do documentário. Ele começou a pichar aos 12 anos. Hoje está parado; ganha a vida filmando ações de pichadores e vendendo DVDs em lojas do centro de São Paulo.
"Não basta rabiscar um muro para ser aceito entre os pichadores; é preciso conhecer quem é do meio, as turmas, fazer amizades", conta. Pichadores ignoram propositalmente as convenções de linguagem. "Criam regras próprias", diz Djan.
O que motiva um jovem a escalar um edifício para pintar seu nome e o de sua turma?
"A adrenalina, a superação", responde à Folha Diego, 22, que picha desde 2003. "Não temos o apoio de ninguém, nem da nossa família. É apenas pela adrenalina."
No filme, Gilberto Dimenstein, colunista da Folha, observa: "São pessoas invisíveis à sociedade. Não querem que a existência deles seja nula".
Estilo paulistano
Diferentemente do grafite, que tem uma preocupação estética, a pichação é feita com traços rudes, brutos, crus. É uma comunicação "fechada", que não tem a intenção de dialogar com a cidade.
A pichação praticada em São Paulo, com linhas elásticas, retas, formou um estilo próprio, que chama a atenção de especialistas de vários países.
"Em São Paulo, o estilo das letras é formalizado, quase como um alfabeto. Há uma conexão entre a pichação e os desenhos feitos em Nova York no final dos anos 1960", afirma a fotógrafa e escritora norte-americana Martha Cooper, que tem o grafite e as artes urbanas como focos de trabalho.
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