sábado, 9 de fevereiro de 2008
Versão teatral de "Vestido de Noiva " foca alucinação
Vestido de Noiva do pernambucano Nelson Rodrigues é a segunda grande peça deste autor e que estreando em 1943 causou impacto entre outras copisa, pelo formato do texto e da cenografia, nesta com a regia de Santa Rosa-Paraibano-.
Vale a pena ver rever e coonferir La Benguel, também.
Paulo a cv
Versão teatral de "Vestido de Noiva " foca alucinação
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VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo
Historiador da obra de Nelson Rodrigues, o crítico Sábato Magaldi pode surpreender-se --para o bem ou para o mal, dirá depois-- com a versão de "Vestido de Noiva" que a Companhia de Teatro Os Satyros apresenta a partir de amanhã, em São Paulo, com participação da convidada Norma Bengell.
A começar pela extinção das linhas limítrofes dos planos narrativos da memória, da realidade e da alucinação na trajetória da personagem Alaíde, a moça que é acusada de roubar o namorado da irmã, é atropelada e envolve-se com uma cafetina do início do século 20, para ficar por aqui.
Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Atrizes Cléo de Paris (sombra, ao fundo), Silvanah Araújo e Nora Prado em cena
O texto de Nelson Rodrigues (1912-80), segundo de sua lavra para teatro, apresenta uma profusão de cenas sobrepostas em tempos e espaços. Foi a partir da montagem dessa peça, em 1943, no Rio, que o polonês Zibgniew Ziembinski (1906-78) e o cenógrafo paraibano Tomás Santa Rosa ajudaram a demarcar a fase de modernidade no teatro brasileiro, conforme apontam historiadores como o próprio Magaldi.
Para assinar seu primeiro Nelson em palcos brasileiros --dirigiu o monólogo "Valsa Nº 6" em Lisboa, nos anos 1990--, o diretor Rodolfo García Vázquez quer concentrar "tudo na cabeça de Alaíde", com ênfase no plano da alucinação.
"Naquele período histórico [década de 1940], não se podia pensar o teatro como uma alucinação. O Nelson teve de dividir os planos muito claramente. O que a gente faz é trazer isso para hoje e relativizar o que é o real. Tudo depende de ponto de vista, de perspectiva."
Segundo o diretor d'Os Satyros, "Vestido de Noiva" é dos textos mais difíceis que montou, tantas e rápidas são as "quebras" de narrativas no meio do caminho. "É uma linguagem muito contemporânea, não sentimos necessidade de corte nos diálogos."
O que Ziembinski e Santa Rosa resolveram por meio da luz (eram mais de 130 efeitos 64 anos atrás), a equipe de Vázquez, que também desenha a luz, acresce o suporte em vídeo, ora com diálogos inteiros pré-gravados entre Alaíde (Cléo De Páris) e Madame Clessy (Bengell), ora com clipes.
Vázquez diz que procurou afastar-se "totalmente do elemento brasileiro, carioca" do universo rodriguiano, reconhecíveis na geografia suburbana ou na música. "O espetáculo está colocado num plano mais próximo do cinema de David Lynch", afirma, citando o cineasta norte-americano de "Império dos Sonhos".
No ensaio de terça-feira à tarde, essa pretendida atmosfera onírica era sugerida pela valorização audiovisual: imagens projetas num cenário revestido por tecidos brancos, como o imaculado véu da noiva, e a trilha etérea puxada por Björk.
Para Norma Bengell, Vázquez é "bastante transgressor" se comparado à versão "clássica" de Ziembinski, da qual ela fez parte na remontagem arqueológica de 1976, no mesmo papel de Clessy, em que o polonês seguiu à risca a sua concepção original. "O Nelson ia gostar dos recursos de multimídia e das roupas modernas, que na nossa época incluíam espartilho", afirma a atriz. "Naquela remontagem, ele ia toda noite ao teatro, no Rio de Janeiro, mas não costumava criticar."
Dizendo-se "bissexta" na arte do teatro, Bengell nunca fez outra peça do autor. Carrega a vantagem de que, hoje, diz enxergar mais maldade no subtexto da sua personagem mundana do que há 32 anos. Ela está ao lado de Ivam Cabral, Nora Toledo, Alberto Guzik, Silvanah Santos e outros intérpretes nessa produção realizada pelo Itaú Cultural, instituto que em 2007 abrigou leitura dramática da obra pelo grupo.
Vestido de Noiva
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