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sexta-feira, 15 de maio de 2020

A LAUREATE E O ENGANO AOS ALUNOS -ROBOTIZANDO O CONHECIMENTO

APUBLICA.ORG 
Já se sabia disto há anos, desde 2015/16, com movimentos  de alunos alunos contra EAD.
Agora se torna mais pública a notícia, mas o fato é velho. Vejam o flagra no Face:


FLAGRA DO FACE

"Faz uns dias, foi denunciado que a Laureate - corporação internacional que explora o ensino superior privado em vários países, entre eles o Brasil - estava colocando, às escondidas, robôs para corrigir os trabalhos dos alunos.
Agora está demitindo os professores dos cursos de educação à distância. Já mandou embora 120, evidentemente sem qualquer preocupação com a quase impossibilidade de realocação dos profissionais neste momento de pandemia.
Eles serão substituídos por "tutores", com salários quase 80% menores, e os professores dos cursos presenciais ganharão a responsabilidade extra de supervisionar os cursos à distância.
Quando foi flagrada botando os robôs para avaliar trabalhos dissertativos por meio de palavras-chave, a Laureate lançou uma nota hipócrita dizendo que queria "liberar a agenda" dos professores para que investissem "mais tempo na relação direta com seus alunos", já que o "objetivo é sempre humanizar ainda mais a relação de ensino e aprendizagem".
Acho que ninguém caiu na lenga-lenga deles. Agora o propósito real foi desvelado de vez: ampliar a exploração da mão de obra docente e reduzir despesas às custas da qualidade do serviço oferecido.
A defesa da educação privada é feita, muitas vezes, com base na ideia de "pluralidade de métodos de ensino", "projeto pedagógico pessoal" e coisas do tipo. Parece que estamos no tempo do Colégio Abílio, aquele que Raul Pompéia espinafrou em O Ateneu, mas que Luiz Edmundo, menino pobre beneficiado com uma bolsa, exaltou em suas memórias: a realização do sonho de um educador, que colocava sua alma na instituição. (O Ateneu é um dos pontos altos da literatura brasileira, mas as memórias de Luiz Edmundo também não são de se jogar fora.)
Independentemente do julgamento que façamos dessas experiências, o fato é que esse tempo passou há muito. O ensino privado é um negócio de grandes corporações que se guiam exclusivamente pelas planilhas de custos e pela expectativa de lucro dos investidores.
Com um Estado que tenta impor normas e fiscalizar, a situação já é ruim. Com o Estado entregue ao livre-mercadismo, quando não a serviço direto dos tubarões do ensino, como é o caso do Brasil (as regras de funcionamento das instituições privadas têm sido sistematicamente relaxadas nos últimos anos e a família de Paulo Guedes investe fortemente no setor), é o caos.
Creio que o melhor, no caso do ensino privado, é igual ao da medicina privada: proibir, em nome de valores igualitários, republicanos e democráticos."
(Link para as reportagens nos primeiros comentários.)

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Antibióticos, morcegos e a próxima pandemia

Por Soledad Barruti | Tradução de Tadeu Breda, no Blog da Editora Elefante

OUTRAS PALAVRAS nos brinda com este artigo, aliás este texto marca o lançamento, pela Editora Elefante — parceira de Outras Palavras — de Pandemia e Agronegócio.Vale ler e quiça adquirir o livro.Como vivemos e o quê comemos  e sob quais condições? Vale!



Antibióticos, morcegos e a próxima pandemia

https://bit.ly/2WG7iMV
Cozinhamos em nossas panelas as doenças de amanhã. Relação predatória com a natureza, abuso dos “aditivos” nas fazendas industriais e ambição do agronegócio tornam a Terra um lugar bizarro e cada vez mais perigoso

1.
“Sabemos que outra pandemia será inevitável. Está chegando. E também sabemos que, quando isso acontecer, não teremos medicamentos, vacinas, profissionais de saúde ou capacidade hospitalar suficientes”, disse Lee Jong-wook, então diretor da Organização Mundial da Saúde, em 2004. O discurso foi proferido quando o planeta tentava se recuperar do susto surgido com a gripe aviária, que eclodiu em Hong Kong em 2003.
O médico alertou para um fato muito difícil de ouvir: que um surto pior poderia acontecer a qualquer momento. Em 2009, por exemplo, quando outro vírus saltou de um porco para se tornar Influenza A que, a partir do México, alcançou o mundo inteiro; ou em 2012, quando a síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers) emergiu dos camelos da Arábia Saudita, infectando pessoas em 27 países.
“Não devemos temer os mísseis, mas os vírus”, disse Bill Gates em uma palestra no Ted Talk em 2015, depois que o ebola quebrou os limites corporais de uma espécie de morcego, em 2014, para se converter em um pesadelo para os seres humanos.
“É uma emergência”, “Precisamos nos preparar”, “Precisamos controlar os vírus”: os documentos oficiais de várias agências das Nações Unidas, organizações globais como a Fundação Gates e vários governos estão cheios de advertências semelhantes. Mas nada foi feito para impedir a covid-19. Talvez porque em nenhum desses espaços de poder houve intenção de nomear de maneira clara e contundente o principal fator desencadeante dessas doenças: a relação abusiva e predatória que estabelecemos com a natureza, em geral, e com os outros animais, em particular.
Vacas, porcos, galinhas, morcegos, não importa de qual animal estejamos falando. Se não os extinguimos com destruição de seus habitats, os engaiolamos, acumulamos, mutilamos, transportamos, engordamos, medicamos e deformamos para aumentar sua produtividade. Forçamos os limites de seus corpos e anulamos seus instintos como se fossem coisas, por meio de técnicas ensinadas nas universidades, repetidas em conferências empresariais e testadas em laboratórios. Um negócio de bilhões de dólares.
Nunca andei de camelo ou visitei os mercados asiáticos, onde macacos, pássaros e tatus são vendidos vivos em pequenas caixas, mas visitei um bom número de fazendas industriais na América Latina — esses lugares de onde vem a comida que julgamos menos exótica e cruel, mais civilizada e mais segura. E nessas granjas aprendi que, em questões como ética, empatia e saúde pública, a diferença entre o que é oferecido em Wuhan e o que preenche as gôndolas dos nossos supermercados é imaginária.
As pragas não são uma novidade, mas estão avançando: duzentas novas doenças infecciosas zoonóticas surgiram nos últimos trinta anos, e nenhuma é resultado da nossa má sorte.
2
Visitei Rosalía de Barón em 2011 enquanto fazia a pesquisa para meu livro Malcomidos. Ela, uma produtora de ovos da província de Entre Ríos, na Argentina, sabia perfeitamente: seu galinheiro era uma mina de ouro, mas tinha uma fraqueza: poderia desencadear uma praga a qualquer momento.
“Desde que sou assim, vivo entre os ovos”, disse, abaixando a mão até próxima do chão, quando entramos no galpão que continha cerca de quarenta mil galinhas em plena produção. Rosalía era uma mulher forte, quase 40 anos de idade, olhos azuis claros, cabelos loiros gastos e o orgulho de administrar um negócio próspero: oitenta caixas de ovos diários da melhor qualidade. Cerca de dez vezes mais do que sua própria fazenda produzia quando menina, no mesmo espaço. O truque? Concentração automatizada. O galinheiro moderno não tem terra, nem arbustos, nem sol, mas gaiolas de cerca de quarenta centímetros, onde as galinhas vivem por quatro anos, empilhadas em grupos de dez. As gaiolas estão umas sobre as outras e próximas umas das outras, tornando o local um labirinto completamente coberto de penas, bicos e patas que, à primeira vista, é impossível saber a qual galinha pertencem.
Tente imaginar: dez galinhas esmagadas em um espaço onde nem mesmo uma única delas entraria confortável; não há como bater as asas, deitar-se, virar-se ou satisfazer qualquer um de seus requisitos biológicos além de comer, defecar e dar um ovo por dia.
Quando as galinhas estão amontoadas, elas só conseguem subir uma na outra, se enroscar e enfiar a cabeça pelas barras até que os pescoços estejam cheios de feridas, em carne viva. A situação é tão estressante que, dentro de semanas, se tornam canibais. Para impedi-los de comer um ao outro, alguns dias depois de nascerem, as galinhas têm a ponta do bico amputada. Assim, os bicos crescem achatados, como se tivessem atingido uma parede com força.
Que não se matem, mantendo a produção ao máximo: esse é o objetivo. Para alcançá-lo, os produtores lançam mão desse tipo de intervenções: mutilações, controle de luz, sons constantes, vários dias de fome e sede — neste caso, para que sobrevivam apenas as mais fortes. São quinze ou vinte dias sem comida ou água. As galinhas morrem como um brinquedo cuja bateria vai se acabando: consumidas, deitadas uma em cima da outra, com olhos secos, bicos abertos, emitindo um suspiro quase inaudível. Para as que sobrevivem, a ração é renovada e, no dia seguinte, mágica: um novo ovo, o cacarejo infernal; e também medo, carne podre, o cheiro de morte em vida.
Visitar fazendas industriais pela primeira vez tem algo de monstruoso: nem os olhos, nem os pulmões, nem a mente estão preparados para apreender o que acontece lá. O que você vê, o que se ouve dos manipuladores de animais — tão normais quanto um vizinho, um tio, um dentista. A informação chega em etapas: a sistematização da crueldade, a negação da dor (que é evidente). A única justificativa para tudo são as leis do mundo do dinheiro, tão absurdas, tão perversas.
Theodor W. Adorno disse que era preciso olhar para os matadouros e dizer “são apenas animais” para entender a origem de Auschwitz. Diante dessas granjas, tão naturalizadas, tento entender como chegamos até aqui.
Rosalía explicou o que sabia e me disse algo que achava fascinante: “Eu só trabalho duas horas por dia, o resto é feito sozinho”, e apertou um botão que fez o galinheiro começar a se mover. Abaixo das gaiolas, as esteiras transportavam os ovos para o local onde seriam medidos e embalados. Outras esteiras transportavam as fezes, que serão enterradas em uma fossa a poucos metros do galpão. Na mesma coreografia da máquina, bebedouros são reabastecidos e alimentadores se enchem de milho, vitaminas e corante para as gemas alaranjadas que o mercado está pedindo hoje em dia. A precisão da fábrica parecia mostrar que tudo estava sob controle. Os materiais frios e duros cobriam todo o processo com assepsia, apesar da merda, dos fluidos, dos olhos pustulentos e das penas voando.
“No entanto”, continua Rosalía, “nada é tão fácil”. A fazenda tinha um perigo à espreita. “Qual?”, perguntei. “As doenças. As galinhas parecem fortes, mas uma pode ficar doente, e isso seria o fim.”
Pensei nos dias em que as galinhas passam sem água nem comida: se resistem a isso, não são fracas, disse a mim mesma. Mas aprendi imediatamente que não. Galinhas não sobrevivem a uma gripe. A gripe é o calcanhar de Aquiles.
LEIA TODO ARTIGO EM : https://bit.ly/2WG7iMV

terça-feira, 5 de maio de 2020

O BRAZIL NÃO CONHECE O BRASIL, O BRASIL TÁ MATANDO O BRASIL - MORRE ALDIR BLANC


Aldir Blanc 1946/2020 (Foto: Divulgação)

A revista Forum ( https://bit.ly/2KY68Xl) presta homenagem a um poeta, músico, na verdade um dos grandes cronistas na música brasileira. Deixa-nos num tempo histórico  em que a miséria se propaga como coisa comum num gol da pandemia do Corona, coisa que  em que ele já prenunciava em sua obra- "o Brasil tá matando o Brasil".Com ele também nos deixa o ator Flavio Migliaccio- por suicídio, de uma dor- da desumanidade presente, que ele documenta em carta deixada.1934/2020- este fato um adendo deste blogueiro.
static1.purepeople.com.br/articles/2/26/09/12/@...


F.Migliaccio po r
www. purepeople.com.br

Leiam abaixo a matéria: https://bit.ly/2KY68Xl




Aos 73 anos, Aldir Blanc morre por coronavírus no Rio

Autor de "O Bêbado e o Equilibrista", imortalizada na voz de Elis Regina, entre centenas de outras composições, Blanc, de 73 anos, foi diagnosticado com Covid-19 no dia 23 de abril

No dia 17 de abril, logo após a sua internação, a Fórum publicou uma crônica em homenagem a Aldir Blanc. Leia aqui.
Um dos maiores compositores da música popular brasileira, Aldir Blanc, morreu na madrugada desta segunda-feira (4) no Hospital Pedro Ernesto, em Vila Isabel, no Rio de Janeiro, onde estava internado com coronavírus. A informação foi divulgada pela Rádio Tupi.
Com infecção generalizada em decorrência do novo coronavírus, Aldir Blanc estava internado no CTI do Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, desde o dia 15 de abril. 
Autor de “O Bêbado e o Equilibrista”, considerada o hino da anistia, imortalizada na voz de Elis Regina no final da década de 70, entre centenas de outras composições, Blanc, de 73 anos, foi diagnosticado com Covid-19 no dia 23 de abril.
A sua filha Isabel dava quase diariamente notícias sobre o estado de saúde do pai. Nos últimos dias, ela se mostrou preocupada com o quadro agravado do compositor, que teria piorado na resposta ao tratamento.
Aldir Blanc surgiu para o público ao lado do eterno parceiro João Bosco, em 1972, em um projeto do jornal carioca O Pasquim chamado “Disco de Bolso”. Na época o semanário lançava um compacto simples, pequeno disco de vinil com duas canções. De um lado um artista consagrado, que no caso foi Tom Jobim com “Água de Março” e, do outro, a dupla com a canção “Agnus Sei”.
A dupla João Bosco e Aldir Blanc fez centenas de canções inesquecíveis como “Mestre Sala dos Mares”, “Kid Cavaquinho”, “Nação”, “Tiro de Misericórdia” entre várias outras.
Aldir também compôs com vários outros autores como César Costa Filho, Cristovão Bastos, Moacyr Luz, Guinga entre outros. Aldir publicou também vários livros como cronista, entre eles “Rua dos Artistas e Arredores”, Direto do Balcão, “Porta de Tinturaria”, “O Gabinete do Doutor Blanc” entre outros.

O jornalista Rodrigo Vianna postou um lindo vídeo em sua homenagem na TV Afiada. Veja aqui. https://bit.ly/2KY68Xl
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DO FACEBOOK FLAGRA
Angela Carrato
1aatS fponmsorhedgA reportagem do JN sobre a morte do compositor Aldir Blanc, mais uma vítima do coronavirus, destacou, dentre as centenas de letras maravilhosas que ele deixou, uma que se tornou hino da campanha em defesa da anistia aos exilados e presos politicos no Brasil: O Bêbado e a Equilibrista.
Só que o JN não entrou em maiores detalhes sobre essa época, pois não deve ser nada confortável para a família Marinho.
Em 1979, quando essa canção surgiu, na voz de Elis Regina, no LP Essa Mulher, nada sobre presos politicos e exilados podia ser divulgado pela mídia. Pouco depois, a censura prévia foi revogada. Era o início da abertura política.
Mesmo assim, para continuar agradando aos militares no poder, a TV Globo manteve-se firme com sua própria censura. Vale dizer: a família Marinho era quem dava a última palavra sobre o que podia ou não ser noticiado em seus veículos.
A título de exemplo, ela ignorou os comícios pelas eleições diretas-já, que tiveram início logo em seguida.
Quando, em função do elevadíssimo número de pessoas que compareciam a esses comícios, tornou-se impossível ignorá-los, a Globo partiu para a mentira descarada.
Foi assim com o comício pelas diretas-já em São Paulo, noticiado de forma ultra ligeira, como se fosse a comemoração do aniversário da cidade.
Data dessa época o surgimento do slogan "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo", que os populares gritavam para demonstrar sua indignação.
As empresas da família Marinho só desembarcaram do apoio ao golpe civil-militar de 1964, cinco décadas depois, quando em 2014, publicamente pediram desculpas.
Desculpas, pelo visto, nada sinceras. Tanto que em 2016, os Marinho estavam novamente vez à frente de um outro golpe. Esse, no qual estamos mergulhados e sem luz no fim do túnel.
Golpe que é também responsável pela morte de Aldir Blac.
Ninguém melhor do que Aldir sabia que "o Brazil não merece o Brasil".
SOS Brasil. (Angela Carrato)

segunda-feira, 27 de abril de 2020

O PARTIDO DOS RICOS E O SEU CANDIDATO-MORO, CANDIDATO DOS EUA


A imagem pode conter: 1 pessoa, texto e close-up
Angela Carrato por Facebool




Flagra do Facebook

Ângela Carrato*

A pompa e a circunstância com que o Jornal Nacional, na edição da sexta-feira (24/04) noticiou a demissão do agora ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, não deixam dúvidas. O maior partido brasileiro, a TV Globo, da família Marinho, já tem candidato para as eleições de 2022.
A TV Globo, claro, não é um partido político no sentido estrito do termo. Mas como já deixava patente em seus escritos o filósofo italiano Antônio Gramsci (1891-1937), ela funciona como tal.
Gramsci, um teórico e também um militante político, viveu em uma época em que a mídia restringia-se aos jornais. O rádio estava começando e a televisão só entraria em cena para valer depois do fim da Segunda Guerra Mundial.


Preso pela ditadura de Mussolini e escrevendo nas piores condições, Gramsci deixou apontamentos essenciais para se entender a mídia daquela época e também a mídia corporativa dos dias atuais. Entender, sobretudo, a interferência altamente problemática dela na conformação da opinião pública, atuando como partido político da burguesia. Vale dizer: dos interesses dos mais ricos.
Quanto menor a tradição democrática de um país, mais força acaba assumindo a mídia e, por tabela, quem a controla.
É o caso do Brasil. Apesar de no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estarem registrados 33 partidos políticos, nem meia dúzia deles funciona efetivamente. A maioria não passa de balcão para registro de candidaturas e negociações em período eleitoral.
Assim, enquanto a maioria dos partidos existe apenas no papel, a mídia está presente na vida das pessoas 365 dias por ano. O que, por si só, aponta para o seu enorme poder de persuasão.
É esse poder que a Globo colocou em prática, com grande competência, na última sexta-feira, ao noticiar a demissão de Moro. Para se avaliar a importância que a emissora conferiu ao fato, até a pandemia do coronavírus, que vinha ocupando quase 90% do seu noticiário, foi relegada a segundo plano.


I
RMÃOS BILIONÁRIOS

Os três irmãos Marinho, donos do Grupo Globo - João Roberto, José Roberto e Roberto Irineu - ocupam, respectivamente, as posições 15º, 16º e 17º entre os 20 brasileiros mais ricos. Cada um possui fortuna avaliada em US$ 2,5 bilhões. Somados sobem para a sexta posição nesse ranking, divulgado em 2019, pela revista Exame.
A fonte principal da fortuna dos Marinho é o Grupo Globo. Em função da posição social que ocupam e dos interesses de seus negócios, seus amigos são também pessoas muito ricas. Para o sociólogo Jessé Souza esses endinheirados constituem, salvo honrosas exceções, a “elite do atraso” brasileira, não por serem ricos, mas por adotarem práticas legais e ilegais em seus negócios, a exemplo de pagarem poucos impostos, sonegarem impostos e ainda serem credores da sociedade por meio da dívida pública.
Ainda segundo Jessé Souza, no passado, os integrantes da “elite do atraso” se diziam liberais, mas possuíam escravos ou se viam como democratas, mas apoiavam ditaduras. Já nos dias atuais, não medem esforços em defesa da desregulamentação do mercado, do estado “mínimo” e do ideário ultraliberal, como o que Bolsonaro, através de seu ministro da Economia, Paulo Guedes, está implementando no Brasil.
Quem pensava e agia de forma diferente, como é o caso dos governos trabalhistas de Getúlio Vargas e João Goulart, e mais recentemente, de Lula e Dilma, eram e são considerados inimigos a serem combatidos sem trégua.
É isso o que a TV Globo, o partido político dos Marinho, tem feito e intensificou a partir da última semana.
Desde a manhã da quinta-feira (23/04), quando começaram a circular os rumores de que Moro poderia deixar o governo, todos os veículos que integram o Grupo Globo - jornal o Globo, rádio CBN, TV Globo, GloboNews, portal G1, edições eletrônicas do Valor Econômico e de Época – passaram a dar destaque ao assunto.
Nos textos e na boca de seus repórteres, âncoras e entrevistados, a trajetória de Moro como “o implacável juiz da Operação Lava Jato”, “o homem que colocou os maiores corruptos brasileiros na cadeia” e o “super-ministro” que poderia, se confirmada a demissão, “ por em xeque o próprio governo Bolsonaro”, foi relembrada e alardeada.
Na manhã da sexta-feira, uma vez confirmada a demissão, Moro teve direito a pronunciamento ao vivo, onde teceu ácidas críticas ao presidente Bolsonaro, a quem acusou de tentativa de ingerência política na Polícia Federal, órgão ligado ao ministério da Justiça, com a demissão de seu diretor-geral, Maurício Valeixo, aliado e nomeado por Moro. Saiu atirando, como se diz.
SEMIÓTICA E MARKETING POLÍTICO
A repercussão dada pelo Grupo Globo foi digna dos mais importantes acontecimentos da vida nacional.
Já Bolsonaro, segundo suas próprias palavras, se viu na obrigação de “contar a verdade sobre o que aconteceu” e fez um atabalhoado pronunciamento à tarde, em cadeia nacional de rádio e televisão, acusando Moro de pedir uma vaga no STF antes de efetivar a exoneração de Valeixo. Quando acabou de falar, a âncora do Jornal Nacional, Renata Vasconcellos, entrou ao vivo para anunciar que “a cobertura completa sobre a demissão do ministro Sérgio Moro poderá ser vista logo mais”, com a emissora enquadrando assim a fala do próprio presidente da República.
Para quem está minimamente familiarizado com conceitos de semiótica ou com técnicas de marketing político, a edição de sexta-feira do JN pode ser definida como o lançamento de uma “bomba” ou “aproveitamento de oportunidade”. Em momento algum, se falou em candidatura, mas a forma elegante e altiva com que Moro foi apresentado e a maneira como Bolsonaro foi desconstruído, deixam claro quem deve ser considerado o mocinho.
A edição do JN estava ainda repleta de “cuidados”, que podem ter passado despercebidos pelo telespectador.
O primeiro deles foi antecipar-se e tentar neutralizar as críticas a Moro, pelo fato de ele ter participado de um governo considerado fascista e mundialmente execrado; por ter combinado uma espécie de pensão privada para sua família, coisa que não existe no serviço público; e pela suspeita de tentar negociar a demissão do diretor-geral da PF em troca de ser indicado ministro do STF.
Através de imagens selecionadas, Moro foi mostrado como uma pessoa que acreditou e foi iludido em sua boa fé. Mas, uma vez percebendo o que se passava, não aceitou o jogo. Não se deixou corromper. A edição do JN fez questão de lembrar que Moro, para assumir o cargo de ministro, abriu mão de 22 anos de serviço público como magistrado e agora está desempregado, mesmo que, como disse, sempre “à disposição do país para ajudar o que quer que seja”.
Por pouco, o que estava sendo mostrado pelo JN sobre Moro não se confundia com os enredos das novelas exibidas antes e depois do telejornal e que tanto sucesso costumam fazer.
O segundo cuidado tomado pela edição do JN foi ouvir uma infinidade de políticos dos mais diversos partidos e de entidades da sociedade civil, para garantir “pluralidade”, mas sem incluir entre eles os representantes dos principais partidos de oposição. Pessoas que teriam muito a dizer sobre a destruição da economia brasileira provocada pela Operação Lava Jato, sobre o entreguismo de representantes dessa operação, além da perseguição, condenação e prisão, sem provas, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o objetivo de retirá-lo da disputa eleitoral em 2018.
O terceiro cuidado foi mostrar o próprio ex-presidente Lula, o principal alvo de Moro, apenas através de uma imagem de arquivo. Nela, Lula aparece com o rosto visivelmente abalado e a imagem é usada para ilustrar a sua prisão, um dos principais “feitos” de Moro. O JN não levou ao ar, nesta edição e em nenhuma outra anterior, imagens da multidão que se manteve em vigília, dia e noite, na porta da carceragem da Polícia Federal em Curitiba, durante os 580 dias em que Lula esteve preso. Muito menos citou as toneladas de denúncias, a exemplo do intelectual e ativista social estadunidense Noam Chomsky, um dos nomes mais respeitados no mundo, sobre a parcialidade de Moro nos processos contra o ex-presidente.

“O BOLSONARO É FILHO DO MORO”
Se Lula tivesse sido ouvido, o mínimo a se esperar de qualquer veículo de comunicação que se pretende “sério e imparcial”, ele diria, como fez na reunião com as bancadas do PT na Câmara e no Senado, na noite da mesma sexta-feira em que Moro pediu demissão, que “não pode haver inversão da história. O Bolsonaro é filho do Moro, e não o Moro cria do Bolsonaro”. Mais tarde, Lula postou em sua rede social que “os dois são filhos das mentiras inventadas pela Globo”.
Claro que o público do JN não tomou conhecimento de nada disso.
A ausência de Lula no noticiário do Grupo Globo serve para explicitar ainda mais o caráter de partido político assumido por esse grupo. Como partido que disputa o poder, ao Grupo Globo não convém que o público se lembre dos governos petistas de Lula e Dilma, dos tempos de pleno emprego, de crescimento, inclusão social, valorização da educação, cultura e ciência, além do respeito que o país tinha no mundo. Governos bem diferentes dos de Temer e Bolsonaro, apoiados pelo Grupo Globo, que conduziram o Brasil ao caos em que se encontra.
Por mais que o ministro Guedes tente vender a ideia de que a economia brasileira estava retomando o crescimento quando surgiu a pandemia, isso não é validado pelos fatos. Aproximadamente 13 milhões de pessoas estavam desempregadas, 40 milhões se encontravam em ocupações informais, o governo vendia a preço de banana o patrimônio público e a subserviência de Bolsonaro aos Estados Unidos, criava problemas com a China, principal parceiro econômico do país.
É importante lembrar que se Temer teve apoio integral do grupo Globo, só muito recentemente esse grupo passou a fazer críticas a Bolsonaro. Mesmo assim, elas se limitam às pessoas dele e de seus filhos. Já o Pacote Anticrime proposto por Moro, criticadíssimo pela oposição e pelos mais diversos representantes da sociedade civil, sempre mereceu só elogios do partido dos ricos, o mesmo acontecendo com a agenda ultraliberal do ministro Guedes, dois queridinhos da família Marinho.
Não é por acaso, também, que nos veículos do Grupo Globo está vedada qualquer referência positiva aos governos petistas. É assim, por exemplo, que o Cadastro Único, que inclui as informações sobre famílias brasileiras vulneráveis, o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada são citados apenas como “programas sociais de governos anteriores”, quando se tornou impossível não mencioná-los, como agora, em meio à pandemia de covid-19.
MORO, CANDIDATO DOS EUA
Uma prova de que o partido dos ricos pretende continuar na cruzada a favor de Moro é que a edição do JN de sábado manteve o mesmo tom do dia anterior.
As denúncias de Moro apareceram na escalada, logo após as chamadas sobre o avanço do coronavírus. As denúncias de Moro, no entanto, dominaram o primeiro bloco do telejornal e retornaram no terceiro bloco. Como no dia anterior, a postura de Moro, ao denunciar a tentativa de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal, foi usada como elemento para reforçar o pedido de impeachment contra o presidente.
Com esse objetivo, foram ouvidos parlamentares e governadores, inclusive Flávio Dino (PCdoB-MA) e seis representantes de entidades ligadas ao meio jurídico, além de um ministro aposentado do STF. Todos unânimes ao concordarem que as acusações de Moro contra Bolsonaro são “muito graves” e que “merecem ser apuradas”.
Novamente nenhum representante do PT ou dos juristas que consideram que Moro admitiu diversas ilegalidades em sua própria fala quando da demissão foram ouvidos. As acusações que pesam sobre Moro durante seu período no governo Bolsonaro – prevaricar no caso do “laranjal” do PSL, obstruir a investigação e mentir em relação às denúncias da Vaja Jato, do portal The Intercept-Br, e novamente prevaricar em relação às milícias bolsonaristas digitais – não foram sequer mencionadas. Como igualmente não foi mencionado que Moro está para ser julgado pelo STF exatamente por suspeição nos julgamentos de Lula.
O Globo ignorou, também, a entrevista do renomado sociólogo português Boaventura de Souza Santos, que conversou com os repórteres dos Jornalistas Livres, em Lisboa, no mesmo momento em que Moro falava com a imprensa sobre a sua saída do ministério.
Boaventura assinalou que a demissão de Moro tem causas próximas e outras longínquas e foi incisivo: “Moro é o homem dos Estados Unidos, é o candidato dos Estados Unidos para 2022”. Ele lembrou que a carreira de Moro foi muito bem sucedida, pois “destruiu a economia brasileira, destruiu a esquerda e abriu caminho para um político de transição”, acrescentando que o verdadeiro candidato apoiado pelo Tio Sam é Moro. O sociólogo português observou ainda que Moro deve ter percebido que não precisa mais de Bolsonaro, até porque sua popularidade é maior do que a do presidente.

“O SALVADOR DA PÁTRIA”
As ligações dos Marinho com os Estados Unidos são notórias. O patriarca Roberto estava na linha de frente dos golpistas que derrubaram Goulart, em 1964, e deve o surgimento da TV Globo ao dinheiro e aos recursos técnicos que recebeu ilegalmente do grupo estadunidense Time-Life. Essa história está descrita em detalhes no best-seller “A história Secreta da Rede Globo”, do jornalista Daniel Herz.
Seus filhos e sucessores mantiveram as mesmas amizades e os mesmos pontos de vista. Como partido dos ricos e dos endinheirados, o Grupo Globo sabe que o melhor, para os seus interesses, é tentar jogar no esquecimento quem considera inimigo. E o principal deles é o ex-presidente Lula.
Por outro lado, como em política não existe espaço vazio, sabem que precisam criar seus próprios “heróis” e “paladinos da justiça”. E é aí que entra Moro, com a benção da “elite do atraso” e do Tio Sam.
É aí que entra o investimento da família Marinho e dos endinheirados na figura de Moro como um anti-Lula, da mesma forma que o brigadeiro Eduardo Gomes ou mesmo Carlos Lacerda, nas décadas de 1940 e 1950, eram apresentados como antídotos a Getúlio Vargas.
Não é a primeira vez e possivelmente nem será a última, que a Globo tenta emplacar candidato próprio nas eleições presidenciais. Em 1989, depois de uma ditadura que durou 21 anos, o seu candidato era Fernando Collor de Melo.
Para favorecer Collor, além do noticiário, a TV Globo colocou em cena na sua teledramaturgia, duas novelas – O Salvador da Pátria e Que Rei Sou Eu – que impulsionaram a sua candidatura. Como se isso não bastasse, o arremate se deu na edição manipulada do último debate entre ele e Lula. Foram para o ar os melhores momentos de Collor e os piores de Lula, quando não havia mais tempo para direito de resposta.
Collor foi eleito, mas, rapidamente, os desentendimentos entre criador e criatura tiveram lugar. O resto da história é conhecido.

NÃO ADMITIRAM PERDER
A relação da Globo com tucano Fernando Henrique Cardoso, que venceu as eleições em 1994, foi maravilhosa, pois ele, em seus dois mandatos, colocou em prática o programa econômico dos sonhos da família Marinho, dos endinheirados e do Tio Sam: privatizações do patrimônio público a preço de banana para grupos internacionais e seus prepostos nacionais, como aconteceu com a telefonia, com a Companhia Vale do Rio Doce e com várias dezenas de outras empresas estatais.
Se não fosse a vitória de Lula nas eleições de 2002, a Petrobras e o Banco do Brasil seriam os próximos na lista das privatizações.
Apesar de tudo o que enfrentou a partir das denúncias do Mensalão, Lula conseguiu se reeleger e concluiu seu segundo mandato com um dos mais altos índices de aprovação de um chefe de Estado em todo o planeta: 87%. Mas estava apenas no começo a campanha para criminalizá-lo e ao PT, patrocinada pelo Grupo Globo.
Ao contrário da aposta da mídia corporativa brasileira, Globo à frente, que jogou todas as suas fichas no candidato tucano José Serra, a vitoriosa nas eleições de 2010 foi Dilma Rousseff, do PT. O “poste” de Lula, como era chamada pela mídia, obteve 56,05% dos votos, contra 43,95% de Serra. Resultado que impactou fortemente a família Marinho.
Em meados de seu primeiro mandato, Dilma chegou a alcançar aprovação popular superior até a de Lula em igual período. Foi aí, ao que tudo indica, que o partido da Globo e seus aliados internos e externos decidiram que aquela situação não poderia continuar. Para encurtar uma outra longa história, que começa nas manifestações de 2013 e termina com o golpe, travestido de impeachment contra ela em 2016, nem a Globo e nem o seu candidato de então, o tucano Aécio Neves, admitiam perder.
A Operação Lava Jato, o juiz Moro e a Globo, que foram fundamentais para gerar o ódio ao PT, foram igualmente os elementos-chave na deposição de Dilma. Basta lembrar que sem o vazamento criminoso, do igualmente criminoso grampo em uma ligação telefônica entre a então presidente Dilma Rousseff e Lula, feito pelo juiz Moro, o ex-presidente teria assumido a Casa Civil e até seus adversários reconhecem que dificilmente o impeachment prosperaria.

GLOBO CHEGA ANTES DA PF
Desiludidos com as chances eleitorais dos tucanos, o apresentador da Globo, Luciano Huck, chegou a ser aventado para a disputa presidencial de 2018. Jovem, marido e pai dedicado, dono de audiência cativa, parecia reunir os ingredientes considerados essenciais pelos Marinho para a empreitada. Antes de sua candidatura avançar para a formalização, ele desistiu. Ao que parece, temeu os desgastes que poderia ter ou poderia trazer ao seu padrasto, o controvertido economista Andrea Calabi, um dos principais nomes da era das privatizações de FHC.
Como já abordei em outros artigos, a Globo e o grupo de endinheirados que ela representa, buscavam, naquele momento, viabilizar um candidato de centro. Para tanto, era essencial neutralizar Lula, que viam como a principal ameaça ao plano. É aí que entra o apoio ao capitão reformado Jair Bolsonaro. O currículo de Bolsonaro – do qual constava expulsão do Exército por tentativa de atentado terrorista, histórico para lá de medíocre como parlamentar e um conjunto de ações e declarações que o situavam na extrema direita – não foi tido como empecilho.
Lula foi impedido de participar das eleições. Mesmo assim, o segundo turno se deu entre o candidato do PT, Fernando Haddad, apoiado por ele, e Bolsonaro. Mesmo relutante, o Grupo Globo acabou ficando com Bolsonaro. A escolha de Moro como ministro da Justiça, contada por Bolsonaro como sendo exclusiva dele, na realidade envolveu uma espécie de recompensa. Um reconhecimento implícito de que sem Moro, sem a Lava Jato e sem a prisão de Lula, não teria chegado lá.
O ótimo relacionamento entre a família Marinho e Moro ficou visível através da exclusividade com que as operações da Lava Jato viravam notícia, em primeira mão, nos veículos do Grupo Globo. Não faltaram casos de equipes da TV Globo e da rádio CBN chegarem ao local de algumas dessas operações antes mesmo da PF.
Em retribuição, os veículos do Grupo Globo nunca levaram ao ar quaisquer críticas a Moro nos dezesseis meses em que integrou o time bolsonarista. A Globo não viu nada de errado no juiz que condenou e prendeu o principal adversário de Bolsonaro nas eleições, e, menos ainda, na sua tentativa de federalizar o processo sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), quando ministro.
SLOGAN DE CAMPANHA ELEITORAL
A parceria Globo-Moro foi selada, de forma definitiva, no entanto, há pouco mais de dois meses, quando ambos passaram a ver em Bolsonaro um obstáculo a ser superado. De “super ministro”, Moro se viu jogado para escanteio. Ao perceber que ele nutria altas ambições – assumir uma vaga no STF ou disputar a sua própria sucessão – Bolsonaro começou a cozinha-lo em fogo brando. Já a família Marinho, por sua vez, acompanhava com enorme preocupação os privilégios de que sempre gozara serem transferidos para a TV Record, do empresário Edir Macedo que, antes do final do segundo turno das eleições, anunciou seu apoio e o de sua Igreja a Bolsonaro.
Não falta nem mesmo quem levante a suspeita de que “as provas” que a TV Globo pediu a Moro sobre as denúncias que fez contra Bolsonaro não passam de um bem articulado esquema para assumirem o protagonismo na deposição do ex-capitão. A etapa seguinte seria dar dimensão nacional à campanha #FaçaaCoisaCerta, que o próprio Moro lançou em sua página do twitter, com toda a cara de slogan de campanha eleitoral.
Que Bolsonaro, pela dezena de crimes de responsabilidade que cometeu, não pode continuar no poder é inegável. É inegável, igualmente, que Moro é partícipe da maioria desses crimes, sem falar nos praticados à frente da Operação Lava Jato. Razão pela qual nenhum dos dois é mocinho nessa nova novela, que está apenas começando.
*Jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG.

domingo, 26 de abril de 2020

FALECE O PERNAMBUCANO E MECENAS -RICARDO BRENNAND-Instituto Ricardo Brennand


Ricado Brennand, fundador do Instituto Ricardo Brennand (Foto: Glaysom Ramos/Divulgação)
R. Brennand-Instituto Ricardo Brennand-foto Glaysom Ramos por D.PE.

Depois do irmão, Francisco Brennand- Artista plástico e agente cultural e empresário, falece seu irmão. Empreendedor na área museológica, também empresário,, cujo museu IRB é elogiado no mundo como um todo.Lamentamos! Abaixo matéria do GGN


A trajetória de Ricardo Brennand, de industrial a mecenas, por Fernando Castilho

Empresário, que faleceu aos 92 anos, vítima do novo coronavírus, foi líder de grupo do antigo Brennand com negócios em geração de energia, imobiliária e especialmente cimento
“A trajetória de Ricardo Brennand, de industrial a mecenas”, por Fernando Castilho
Ricardo, tenho uma missão para você servir a Pernambuco. Este ano, completam-se 350 anos da morte de Albert Eckhout, o governo holandês aceitou uma sugestão nossa para trazer as obras que ele pintou no Brasil. Mas exige que tenhamos uma instalação que abrigue as obras que serão expostas ao público. Preciso que você nos ajude a realizar esse evento.
“Sim, Marco Antônio”, prometeu Brennand, sem ter ideia de que um ano depois gastaria U$ 1 milhão no Instituto que leva o nome de seu tio homônimo, no mesmo sítio onde estava construindo um castelo para abrigar sua coleção, que, entre outras obras, tem nada menos que 11 gravuras de Franz Post, que também esteve no Brasil e retratou o Recife. O Instituto Ricardo Brennand abrigou a exposição “Albert Eckhout Volta ao Brasil”, em 2002.
Foi assim que o discreto industrial Ricardo Brennand virou mecenas. Engenheiro de formação, apaixonado por arte, objetos medievais e um comprador voraz de telas, esculturas e até muros de castelos ingleses entrou para o cenário nacional de apoiador das artes plásticas, certamente, o maior do Nordeste.

Certa vez, numa conversa com jornalistas, Brennand confessou: Como empresário, nossa família ajudou o Brasil, eu mesmo construí fabricas e participei de grandes projetos. Mas eu nunca me senti tão reconhecido pela sociedade como depois que construí o IRB. Virei uma estrela!
O mundo artístico lhe fez justiça. O museu é formado por três edificações espalhadas em um terreno de 18 mil hectares: o Castelo São João, que abriga a coleção de armas adquiridas por Ricardo Brennand ao longo de sua vida; a Pinacoteca, com capacidade para três exibições simultâneas; e a Galeria, onde são realizadas as exposições itinerantes e eventos como casamentos.
Irreverente, gentil e educado, “Seu Ricardo” participou, primeiro ao lado do primo Cornélio, e depois como líder de um grupo que levou o seu nome depois da cisão do antigo Grupo Brennand, de projetos que vão de usinas de açúcar, cerâmica, fábrica de vidros, geração de energia e especialmente cimento uma paixão que o fez voltar ao negocio depois que terminou a quarentena exigida pelo grupo português Cimpol, que em 1987 adquiriu as fabricas do grupo.
Brennand cuidou pessoalmente da implantação das fábricas, tanto a de Sete Lagoas/MG como a de Pitimbu/PB, que entrou em operação no momento crítico da economia brasileira durante a crise de 2106 e 2016 com a marca Cimento Nacional.
Na verdade faz parte de que iniciou suas atividades com a produção de açúcar e álcool, em 1917, e décadas depois diversificou e expandiu suas atividades para a produção de cerâmica, vidro, cimento e aço, quando ainda fazia parte de um outro grupo industrial com forte atuação no Norte-Nordeste.