segunda-feira, 15 de outubro de 2012
PELE DA ARTE: Vilma Arêas e seus espaços, ventos e terra
PELE DA ARTE: Vilma Arêas e seus espaços, ventos e terra: Fluminense, estreou na ficção com Partidas (contos, Francisco Alves, 1976). Posteriormente, Aos trancos e relâmpagos (literatura infan...
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
M E L.. D A .. P A L A V R A: No oitao de tuas mãos de uma feitaDei de garra de...
M E L.. D A .. P A L A V R A: No oitao de tuas mãos de uma feitaDei de garra de...: No oitao de tuas mãos de uma feita Dei de garra de tuas parecenças E aparei os anuvio de meus olhos.
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Carlos Fuentes 1928-2012
Carlos Fuentes é um espigão de concreto armado dentro da Literatura Mundial, especialmente, no mundo Ocidental, e nem se fala dentro da América Latina.
Com um visão ampliada da função do escritor dento da massa social, Fuentes deu a literatura a forma combativa de pensar dizer e propor.
Sua ficção é um trabalho de repensar a nós humanos e nosso papel neste mundo que não foge do político jamais, coisa que por vezes não queremos entender.
Fuentes é um marco no desenvolvimento de nossa Literatura Latino Americana,apontando para valores nossos que são universais, mas que convivem com os embates do poder e,claro, da política.
Sua obra extensa é um retrato do México, mas que nao deixa de ter um cenário comum aos viventes de todo o planeta.Seu estilo é de poesia depurada, humana e densa que nos faz pensar bastante sobre o que somos, o que queremos e para onde vamos.
Sua história familiar, como tantas, abatidas por tragédia, não o arrefeceu na sua produção, ao contrário, deu-lhe fôlego para tocar em assuntos difíceis mundiais, como é o caso das drogas.
Jamais negou seu posicionamento político de esquerda, e atacou até àqueles a quem ele tinha como eleitos.
Aos não amigos e detentores do poder foi crítico, severo e voraz, que o diga Bush e Sarkozy.Afor,a tantos politicos do próprio México
Calos Fuentes aparece literatura “Os dias mascarados”-contos (1954).
“A morte de Artêmio Cruz" (1962), deu-lhe fama e ele se apresenta como um escritor que conhece a história de seu país e suas dores.
Seu conjunto de obras é vasto, passando pelo conto romance e ensaios, afora conferências, que depois tornaram-se textos importantes , como aquele em que trata de Machado de Assis e sua relações com Cervantes-publicado pelo Caderno MAIS DA FOLHA DE SÃO PAULO.
Amigo de Nélida Pinon, a quem sempre se fazia presente, Carlos tinha um olhar para o Brasil, onde o mesmo morou muito criança- aos 2 anos-, sem jamais esquecer em sua memória a cidade do Rio de Janeiro- onde sentiu o Brasil.
Fuentes será eterno, espero, para que aprendamos mais e mergulhemos no seu vasto oceano de ensinamentos.
A literatura, penso eu inspirado por ele, é para viver, mesmo que se tenha que morrer!
quarta-feira, 9 de maio de 2012
A VIRADA POLÍTICA (cultural) DE SP -PANIS ÉT. CIRCUS populum
O que se quer com a virada cultural senhores políticos?
A que serve esse pão e circo?
Aos borbotões a massa se atropela,se esmaga,morre,acidenta-se para correr atrás do pão ,galinhada,etc
Por trás do espetáculo,há o cortejo marqueteiro político,eles , os senhores políticos, até comparecem e fogem de imediato como o diabo da Cruz.
A massa é necessária,mas enoja-os,seu cheiro não combina com seu tônus de cútis.
E haja,e sempre, panis etv circus para a plebe faminta.
Que o diga KASSAB ,ALDA E SERRA e outros ocultos nessa caminhada de barrabas.
PANIS CIRCUS E VOTUM.
A que serve esse pão e circo?
Aos borbotões a massa se atropela,se esmaga,morre,acidenta-se para correr atrás do pão ,galinhada,etc
Por trás do espetáculo,há o cortejo marqueteiro político,eles , os senhores políticos, até comparecem e fogem de imediato como o diabo da Cruz.
A massa é necessária,mas enoja-os,seu cheiro não combina com seu tônus de cútis.
E haja,e sempre, panis etv circus para a plebe faminta.
Que o diga KASSAB ,ALDA E SERRA e outros ocultos nessa caminhada de barrabas.
PANIS CIRCUS E VOTUM.
A VIRADA DO ALÉM DOS ALÉNS EM SAMPA
A Virada Cultural em São Paulo sempre acontece e é preciso entender seu caráter, acima de tudo, político,num marketing pesado para prefeitos e governadores candidatos. É dinheiro e fôlego para montar esse mega evento coberto ou encoberto de seus propósitos políticos para com a massa . Políticos comparecem e fogem rapidinho, mas deixam seu recado e marca.Enquanto isto um projeto cultural permanente entre bairros e periferia não existe.E a brava massa que ávida e enganada se desloca entre os palcos políticos sem saber de antemão que muita coisa está por trás.Ao mesmo tempo a mídia em seus telejornais ,rádio e meio impresso dão-lhe espaço e consolidam o propósito do pão e circo para o povo.Assim foi em Roma e sempre será aqui.Pergunta: que critérios elegeram artistas e convidados?Houve equilíbrio de valores de caches?Fico aqui.
terça-feira, 24 de abril de 2012
SEBASTIÃO NERY D PE
Paris – O pai, africano, foi brigar no Vietnam como soldado francês. Acabou a guerra, voltou, o filho nasceu em Paris e foi ser motorista de táxi. Um cidadão francês negro. Tinha pavor de Sarkozy, o candidato da direita à Presidência da República nas eleições de abril de 2007 aqui na França (segundo turno em maio), quando me contou sua história, trazendo-me do aeroporto para o hotel. Pôs uma música de Gal Costa “em homenagem ao Brasil” e continuou seu discurso:
– “Sou um cidadão francês igual a Sarkozy. Filho de pai africano e mãe francesa. Ele é filho de pai húngaro e mãe grega judia. Mas, se ele pudesse, eu seria expulso da França como “imigrante” só porque sou negro. Ele é um racista. Tem horror de negro, de árabe, de muçulmano, de latino americano. Se for presidente, primeiro vai querer proibir novos imigrantes de entrarem aqui. Depois, vai querer mandar embora os que já estão aqui”.
terça-feira, 3 de abril de 2012
M E L.. D A .. P A L A V R A: A BAIA DE TEUS OLHOS - Paulo Tave PB
M E L.. D A .. P A L A V R A: A BAIA DE TEUS OLHOS - Paulo Tave PB: Para Amália Vas Na baia de teus olhos cercam-se escamas e fecham-se todas as bordas O tempo da vida secou tua água U...
Filhos... Melhor tê-los? ...Edineide Silva
Edineide Silva
Coordenadora do Núcleo de Adoção e Estudos da Família
2ª Vara da Infância e Juventude do Recife
Filhos... Melhor tê-los?
A notícia da morte trágica do Bispo Robson Cavalcanti e de sua esposa Miriam Cavalcanti deixou a muitos atônitos pela perda de pessoas significativas no mundo cristão e político. Mais ainda atônitos ao saberem que o filho do casal, Eduardo, era o autor dos homicídios. Rapaz jovem, com educação formal, mas devastado pelo consumo de drogas. Além das perdas irreparáveis, muitos também ficaram estupefatos pela associação imediata da mídia com a condição de filho adotivo de Eduardo. As manchetes eram claras: Filho adotivo mata pais. A ênfase na condição de adotivo estava mais que explícita, trazendo consigo a indignação de muitos com a facilidade com que esta condição estava atrelada a uma conduta homicida. Pessoas se rebelaram contra essa linha de raciocínio fácil e superficial de que filhos biológicos não cometem crime contra seus pais, não são agressivos, nem desrespeitosos, pois se assim o fossem, as manchetes estampariam: Filho biológico mata mãe ou Filho de sangue se volta contra seus pais. Tal perspectiva midiática nunca foi produzida, pelo menos na história do Brasil.
Espanta-nos encontrar acusações fáceis quando um filho adotivo mata seus pais e de imediato, a justificativa de que cuidar dos “filhos de outros” é sempre desastroso. Entretanto, crimes contra familiares, irmãos e pais não são ações contemporâneas do ser humano. Encontraremos Caim contra seu irmão Abel, o parricídio nos Irmãos Karamázov de forma magistral, e na atualidade, a mídia cotidiana, às vezes em programas sensacionalistas ou populescos, a exploração e exposição desta temática de forma mais corriqueira.
Estamos lidando com um vasto universo de representações sociais sobre família, infância, filiação e com estereótipos que constroem preconceitos difíceis de serem rompidos e modificados. Ao sabor das novidades ou tragédias do cotidiano encontraremos no senso comum ou nos formadores de opinião, a assunção da adoção como uma atitude que traz um significado singular e positivo para aqueles que constroem sua família com crianças e adolescentes não advindos de sua linhagem biológica e, que nem por isso, lhes falta algo ou se torna uma filiação de segunda categoria. Os exemplos inesgotáveis traduzem a felicidade daqueles que encontram na construção da maternidade e paternidade um caminho para oferecerem a uma criança, o que eles têm de melhor: a necessidade de dar amor a alguém e vislumbrar a possibilidade de oferecer as condições para que esse alguém se torne “decente”, um sujeito de valor. Não é isso que todos os pais e mães dizem querer para seus filhos?
O poeta diz: Filhos...filhos? Melhor não tê-los. Mas se não os temos, como sabê-lo? Comem botão, noites insone, “chupam gilete”, “tomam shampoo”, “quantas consultas”, “banho de mar: engolem água...” Filhos, melhor não tê-los! Eles nos tiram do centro dos nossos desejos mais egoístas, do nosso espelho, do tempo dedicado só a nós. Eles serão ingratos e nos abandonarão na velhice. É certo!
Encontramos afirmações do quanto de loucura há naqueles que desejam ter filhos ou até mais de um, denunciando sem saber, o quanto se perde ao se ganhar filhos.
Mas, e a maciez dos cabelos deles? O cheiro de sua pele? “Que coisa louca que coisa linda que os filhos são!” Eles se parecem conosco, serão melhores que nós, com eles poderemos rivalizar, com eles seremos longevos, eternos. O que perdemos voltamos a ganhar? Ou será que durante todo o tempo tentamos não perder?
Questionar ter filhos é da condição humana, eles nos descentram, nos atingem no âmago do nosso narcisismo. O imperativo de amá-los também traz consigo o imperativo de odiá-los.
Questionar como lidaremos com nossos limites, como grandes crianças que sofrem ao dividir o brinquedo ou que o mundo continua a girar com ou sem a nossa presença, é uma tarefa humana extremamente dolorosa. Não somos o centro do universo, não somos os maiorais na terra, nem tão poucos donos na nossa própria casa. Somos seres racionais, mas com desejos que não controlamos e que deveremos abrir mão ou até encontrar caminhos para eles que causem menos danos para nós e para os outros.
Questionar ou priorizar ter filho adotivo ou biológico é apenas uma massa cinzenta ou uma cortina de fumaça para o que está por trás: Queremos ter filhos? Suportaremos não ser mais o centro? Como eles lidarão com a questão dos limites da lei, da interdição. Qual a relação disto com o modo que lidamos com as interdições? Poderemos encontrar no amor dedicado a eles uma forma de nos reerguer? Eis a questão!
Coordenadora do Núcleo de Adoção e Estudos da Família
2ª Vara da Infância e Juventude do Recife
Filhos... Melhor tê-los?
A notícia da morte trágica do Bispo Robson Cavalcanti e de sua esposa Miriam Cavalcanti deixou a muitos atônitos pela perda de pessoas significativas no mundo cristão e político. Mais ainda atônitos ao saberem que o filho do casal, Eduardo, era o autor dos homicídios. Rapaz jovem, com educação formal, mas devastado pelo consumo de drogas. Além das perdas irreparáveis, muitos também ficaram estupefatos pela associação imediata da mídia com a condição de filho adotivo de Eduardo. As manchetes eram claras: Filho adotivo mata pais. A ênfase na condição de adotivo estava mais que explícita, trazendo consigo a indignação de muitos com a facilidade com que esta condição estava atrelada a uma conduta homicida. Pessoas se rebelaram contra essa linha de raciocínio fácil e superficial de que filhos biológicos não cometem crime contra seus pais, não são agressivos, nem desrespeitosos, pois se assim o fossem, as manchetes estampariam: Filho biológico mata mãe ou Filho de sangue se volta contra seus pais. Tal perspectiva midiática nunca foi produzida, pelo menos na história do Brasil.
Espanta-nos encontrar acusações fáceis quando um filho adotivo mata seus pais e de imediato, a justificativa de que cuidar dos “filhos de outros” é sempre desastroso. Entretanto, crimes contra familiares, irmãos e pais não são ações contemporâneas do ser humano. Encontraremos Caim contra seu irmão Abel, o parricídio nos Irmãos Karamázov de forma magistral, e na atualidade, a mídia cotidiana, às vezes em programas sensacionalistas ou populescos, a exploração e exposição desta temática de forma mais corriqueira.
Estamos lidando com um vasto universo de representações sociais sobre família, infância, filiação e com estereótipos que constroem preconceitos difíceis de serem rompidos e modificados. Ao sabor das novidades ou tragédias do cotidiano encontraremos no senso comum ou nos formadores de opinião, a assunção da adoção como uma atitude que traz um significado singular e positivo para aqueles que constroem sua família com crianças e adolescentes não advindos de sua linhagem biológica e, que nem por isso, lhes falta algo ou se torna uma filiação de segunda categoria. Os exemplos inesgotáveis traduzem a felicidade daqueles que encontram na construção da maternidade e paternidade um caminho para oferecerem a uma criança, o que eles têm de melhor: a necessidade de dar amor a alguém e vislumbrar a possibilidade de oferecer as condições para que esse alguém se torne “decente”, um sujeito de valor. Não é isso que todos os pais e mães dizem querer para seus filhos?
O poeta diz: Filhos...filhos? Melhor não tê-los. Mas se não os temos, como sabê-lo? Comem botão, noites insone, “chupam gilete”, “tomam shampoo”, “quantas consultas”, “banho de mar: engolem água...” Filhos, melhor não tê-los! Eles nos tiram do centro dos nossos desejos mais egoístas, do nosso espelho, do tempo dedicado só a nós. Eles serão ingratos e nos abandonarão na velhice. É certo!
Encontramos afirmações do quanto de loucura há naqueles que desejam ter filhos ou até mais de um, denunciando sem saber, o quanto se perde ao se ganhar filhos.
Mas, e a maciez dos cabelos deles? O cheiro de sua pele? “Que coisa louca que coisa linda que os filhos são!” Eles se parecem conosco, serão melhores que nós, com eles poderemos rivalizar, com eles seremos longevos, eternos. O que perdemos voltamos a ganhar? Ou será que durante todo o tempo tentamos não perder?
Questionar ter filhos é da condição humana, eles nos descentram, nos atingem no âmago do nosso narcisismo. O imperativo de amá-los também traz consigo o imperativo de odiá-los.
Questionar como lidaremos com nossos limites, como grandes crianças que sofrem ao dividir o brinquedo ou que o mundo continua a girar com ou sem a nossa presença, é uma tarefa humana extremamente dolorosa. Não somos o centro do universo, não somos os maiorais na terra, nem tão poucos donos na nossa própria casa. Somos seres racionais, mas com desejos que não controlamos e que deveremos abrir mão ou até encontrar caminhos para eles que causem menos danos para nós e para os outros.
Questionar ou priorizar ter filho adotivo ou biológico é apenas uma massa cinzenta ou uma cortina de fumaça para o que está por trás: Queremos ter filhos? Suportaremos não ser mais o centro? Como eles lidarão com a questão dos limites da lei, da interdição. Qual a relação disto com o modo que lidamos com as interdições? Poderemos encontrar no amor dedicado a eles uma forma de nos reerguer? Eis a questão!
Millor
http://blogdetec.blogfolha.uol.com.br/2012/03/28/millor-e-a-tecnologia/
É necessário esquecer MILLÔR para que não sintamos TANTO sua falta (dos velhos anos 80 e 90) obretudo.
PIF PAF ,O CRUZEIRO,O PASQUIN E OS BONS TEMPOS DA VEJA.s
Tomemos Janio de Freitas:
Millôr, além de tudo o que criou, e criou de tudo, criou também um engano involuntário. A propósito dele mesmo, mas não o engano do nome. Milton de verdade, na certidão e por desejo paternal, Millôr por sargentada de um militar que cismou ser o t um segundo l e o traço do t um circunflexo no o: "É Millôr!". Miltinho até os 17 ou 18, Millôr para sempre.
O outro engano recaiu sobre nós. Acompanhou Millôr desde a primeira página do "Pif-Paf" no longínquo "O Cruzeiro" e agora se mostra com toda intensidade, nos jornais, nas TVs, nas conversas sobre "o humorista Millôr". Mas desengane-se: Millôr não era humorista.
Millôr foi um pensador. Brilhante e fertilíssimo pensador. Ilimitado nos temas e incessante no seu exercício de pensador.
O humor foi uma linguagem para o pensador. Uma das linguagens. Como a palavra, escrita ou vocalizada. Como o traço e as cores no desenho e na pintura, de uma riqueza de sentidos só comparável à preciosidade da criação estética. Como a elaboração cênica e verbal do autor de teatro. O humor foi a mais presente e perceptível linguagem de Millôr, mas linguagem do pensador.
Cada sentença e cada texto, cada pintura e cada peça, cada conversa de Millôr conteve, sempre, um significado ético, ou humanístico, ou crítico, e mais, mais -sempre o significado adicional, além do visível e do audível. E, no final, ali estava a razão de ser do escrito, do desenhado, do dito. E nada construído: nascido, simplesmente.
Pensador de hábitos inesperados. Quando Paulo Mendes Campos, Marco Aurélio Mattos e eu, o caçula aceito, chegávamos de manhã à praia, já Millôr havia feito ginástica em uma academia precursora e repetido corridas na areia. Encontros por anos e anos, cujas conversas não terminaram ainda: percorrem com frequência minha cabeça, em pedaços que esperavam continuação ou que são inesquecíveis. Eram três intelectuais gigantescos, a me injetar, sem querer, perplexidades e curiosidades, um dia porque alguém decidira ler Humboldt, no outro porque alguém descobrira uma sutileza ainda impercebida em certa passagem de Shakespeare, ou um pintor, um livro, muitos livros -tudo terminava em livros.
O último de nossos almoços regulares, que desde as dificuldades físicas de Millôr estavam transferidos para o seu estúdio, foi também o último seu com amigos. Naquele dia, ainda Luis Gravatá e Cora Rónai. Foi suave, mais longo do que o habitual por insistência do Millôr. No dia seguinte, de repente, Millôr iniciou longo período de vida quase toda em ausências.
Quando dirigiu a Casa Laura Alvim, Eliana Caruso fez uma edição fac similar da revista "Pif-Paf", que Millôr lançou depois de deixar "O Cruzeiro". Tiveram comigo a gentileza de me entregar o texto de apresentação. Terminei-o com uma frase mais ou menos assim: "Tive a sorte de conhecer um gênio".
Mais do que conhecer, a sorte me permitiu o convívio. Foi uma amizade de quase 60 anos, sem baixios, com intimidade bastante para as confidências nas aflições e em coisas pessoais, para solidariedade e confiança.
Minha gratidão, meu amigo Millôr.
Janio de Freitas (Folha de S. Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2012)
É necessário esquecer MILLÔR para que não sintamos TANTO sua falta (dos velhos anos 80 e 90) obretudo.
PIF PAF ,O CRUZEIRO,O PASQUIN E OS BONS TEMPOS DA VEJA.s
Tomemos Janio de Freitas:
Millôr, além de tudo o que criou, e criou de tudo, criou também um engano involuntário. A propósito dele mesmo, mas não o engano do nome. Milton de verdade, na certidão e por desejo paternal, Millôr por sargentada de um militar que cismou ser o t um segundo l e o traço do t um circunflexo no o: "É Millôr!". Miltinho até os 17 ou 18, Millôr para sempre.
O outro engano recaiu sobre nós. Acompanhou Millôr desde a primeira página do "Pif-Paf" no longínquo "O Cruzeiro" e agora se mostra com toda intensidade, nos jornais, nas TVs, nas conversas sobre "o humorista Millôr". Mas desengane-se: Millôr não era humorista.
Millôr foi um pensador. Brilhante e fertilíssimo pensador. Ilimitado nos temas e incessante no seu exercício de pensador.
O humor foi uma linguagem para o pensador. Uma das linguagens. Como a palavra, escrita ou vocalizada. Como o traço e as cores no desenho e na pintura, de uma riqueza de sentidos só comparável à preciosidade da criação estética. Como a elaboração cênica e verbal do autor de teatro. O humor foi a mais presente e perceptível linguagem de Millôr, mas linguagem do pensador.
Cada sentença e cada texto, cada pintura e cada peça, cada conversa de Millôr conteve, sempre, um significado ético, ou humanístico, ou crítico, e mais, mais -sempre o significado adicional, além do visível e do audível. E, no final, ali estava a razão de ser do escrito, do desenhado, do dito. E nada construído: nascido, simplesmente.
Pensador de hábitos inesperados. Quando Paulo Mendes Campos, Marco Aurélio Mattos e eu, o caçula aceito, chegávamos de manhã à praia, já Millôr havia feito ginástica em uma academia precursora e repetido corridas na areia. Encontros por anos e anos, cujas conversas não terminaram ainda: percorrem com frequência minha cabeça, em pedaços que esperavam continuação ou que são inesquecíveis. Eram três intelectuais gigantescos, a me injetar, sem querer, perplexidades e curiosidades, um dia porque alguém decidira ler Humboldt, no outro porque alguém descobrira uma sutileza ainda impercebida em certa passagem de Shakespeare, ou um pintor, um livro, muitos livros -tudo terminava em livros.
O último de nossos almoços regulares, que desde as dificuldades físicas de Millôr estavam transferidos para o seu estúdio, foi também o último seu com amigos. Naquele dia, ainda Luis Gravatá e Cora Rónai. Foi suave, mais longo do que o habitual por insistência do Millôr. No dia seguinte, de repente, Millôr iniciou longo período de vida quase toda em ausências.
Quando dirigiu a Casa Laura Alvim, Eliana Caruso fez uma edição fac similar da revista "Pif-Paf", que Millôr lançou depois de deixar "O Cruzeiro". Tiveram comigo a gentileza de me entregar o texto de apresentação. Terminei-o com uma frase mais ou menos assim: "Tive a sorte de conhecer um gênio".
Mais do que conhecer, a sorte me permitiu o convívio. Foi uma amizade de quase 60 anos, sem baixios, com intimidade bastante para as confidências nas aflições e em coisas pessoais, para solidariedade e confiança.
Minha gratidão, meu amigo Millôr.
Janio de Freitas (Folha de S. Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2012)
A Noiva da Paulista
Lembro-me da Casa Madame Rosita, no fim da Av. Paulista, quase na esquina com a Haddock Lobo, anos 70. Era um casarão, de certa forma imponente, onde se trabalhava com moda feminina, num tempo em que a alta costura ainda estava chegando por aqui. Seu nome, de fato, era Rosa de Libman, uruguaia que aportou no Brasil em 1935. Naquele mesmo ano, inauguraria sua Maison, denominada Peleteria Americana, na Rua Barão de Itapetininga, em São Paulo. Seu foco eram artigos de pele, visons, mantas, raposas e zibelinas. Mme. Rosita trazia para cá as mais famosas peles do mundo, sendo responsável pela primeira griffe brasileira, podemos assim afirmar. Seu primeiro desfile profissional no país foi em 1944, uma verdadeira vanguardista da Alta Costura no Brasil!
Primeiro, sua loja foi no centro da cidade, quando a Barão de Itapetininga estava no auge. Após a decadência, ela instala-se no Conjunto Nacional da Av. Paulista, agora com o nome de Madame Rosita, num momento em que aquele projeto arquitetônico inflamava a cidade. Depois ela criaria a sua própria casa, no casarão da Paulista com a Haddock Lobo a que me refiro.
Do outro lado da avenida, havia a Sloper, casa que eu já conhecia no Recife, terceira maior cidade do país àquela época, após São Paulo e Rio. A Sloper foi uma espécie de Magazine Chic, frequentado pelas dondocas, onde encontravam-se luvas, lenços, echarpes finíssimas e bijuteria sofisticada, além de grandes marcas de cosméticos, entre as quais Helena Rubenstein, patrocinadora oficial do Miss Brasil, concurso de sucesso no fim dos anos 70 (mas havia, ainda, outra dezena de marcas!).
Bem, mas eu disse tudo isso para tentar descrever parte do cenário no qual se insere o tema deste texto: a noiva da Paulista! Vamos a ela.
Recordo-me, nos anos 70 para 80, da aparição, costumeira, às tardes, de uma mulher de seus sessenta e tantos anos, senão mais, que desfilava em frente à loja da Madame Rosita, trajando um vestido de noiva com uma grande cauda, um buquê de flores e, claro, um solidéu. Compenetrada, passeava, desfilava pela calçada como uma personagem de Godard: para mim, aquilo era cinema ao ar livre! Admirava-me a coragem e a forma compenetrada da tal mulher, louca, não sei; sei que, de coragem e poder de criação, sim! Era o tempo em que performance era loucura; hoje ganha-se dinheiro com as estátuas vivas, ou esculturas humanas... Bom!
Mas o que se passaria na cabeça da tal mulher? O que a levaria àquela atitude? A mim, trazia todo um imaginário cinematográfico, a imagem que nos alucina, só que estava bem ali, ao vivo e em cores e cheiro!
Certa vez, cheguei mais perto da tal figura e senti seu perfume, seu rosto de inteira fidelização ao personagem empunhado. Dava-me uma vontade de acompanhá-la com um traje equivalente, mas eu pensava que lhe roubaria a cena... Mas vontade eu tinha... Tinha sim: era a erupção, a exuberância, o crer no desejo e realizá-lo, postando, assim, parte de suas dobras de subjetividade, e, ao mesmo tempo, adornando a cidade. Talvez o fluxo das pessoas daquela avenida não a compreendesse, não a sentisse, mas que ela tinha público, tinha!
Essa mulher foi para mim, por incrível que pareça, a minha visão da Madame Rosita, já que nunca conheci a sua loja, tampouco ela, em pessoa.
A noiva era símbolo da decadência da pauliceia rica, enlouquecida, que não perdia a pose, que mantinha o charme e a sedução. Ela era o desencontro de tantos da cidade e, ao mesmo tempo, o encontro da fascinação em tempos de alta moda, para poucos. Ela zombava, era uma noiva solitária, silenciosa, sem seu par, mostrando que, mesmo assim (e apesar disso!), vivia como “noiva do além”.
A noiva da Paulista é a noiva sem casamento, como a avenida, que não casou, pela sua imponência, ficou só mais pomposa, deturpada, com a sua cauda já ultrapassada por outras caudas de outras noivas solas, das avenidas da cidade.
Hoje eu penso: mudou? Será que não existem noivas, noivos punks, agora com outra performance, mais brutal, com seus cenários de clubes da luta? Continua, agora, não mais Godard - Une femme est une femme (J. L. Godard, 1961) -, mas sim clubes das lutas de skinheads e punks... outros noivos...
E termino com Eduardo Gudin:
… Se a avenida / Exilou seus casarões / Quem reconstruiria / Nossas ilusões?/ Me lembrei / De contar pra você / Nessa canção / Que o amor conseguiu […] / Se os seus sonhos / Emigraram sem deixar / Nem pedra sobre pedra / Pra poder lembrar / Dou razão / É difícil hospedar / No coração / Sentimentos assim
Primeiro, sua loja foi no centro da cidade, quando a Barão de Itapetininga estava no auge. Após a decadência, ela instala-se no Conjunto Nacional da Av. Paulista, agora com o nome de Madame Rosita, num momento em que aquele projeto arquitetônico inflamava a cidade. Depois ela criaria a sua própria casa, no casarão da Paulista com a Haddock Lobo a que me refiro.
Do outro lado da avenida, havia a Sloper, casa que eu já conhecia no Recife, terceira maior cidade do país àquela época, após São Paulo e Rio. A Sloper foi uma espécie de Magazine Chic, frequentado pelas dondocas, onde encontravam-se luvas, lenços, echarpes finíssimas e bijuteria sofisticada, além de grandes marcas de cosméticos, entre as quais Helena Rubenstein, patrocinadora oficial do Miss Brasil, concurso de sucesso no fim dos anos 70 (mas havia, ainda, outra dezena de marcas!).
Bem, mas eu disse tudo isso para tentar descrever parte do cenário no qual se insere o tema deste texto: a noiva da Paulista! Vamos a ela.
Recordo-me, nos anos 70 para 80, da aparição, costumeira, às tardes, de uma mulher de seus sessenta e tantos anos, senão mais, que desfilava em frente à loja da Madame Rosita, trajando um vestido de noiva com uma grande cauda, um buquê de flores e, claro, um solidéu. Compenetrada, passeava, desfilava pela calçada como uma personagem de Godard: para mim, aquilo era cinema ao ar livre! Admirava-me a coragem e a forma compenetrada da tal mulher, louca, não sei; sei que, de coragem e poder de criação, sim! Era o tempo em que performance era loucura; hoje ganha-se dinheiro com as estátuas vivas, ou esculturas humanas... Bom!
Mas o que se passaria na cabeça da tal mulher? O que a levaria àquela atitude? A mim, trazia todo um imaginário cinematográfico, a imagem que nos alucina, só que estava bem ali, ao vivo e em cores e cheiro!
Certa vez, cheguei mais perto da tal figura e senti seu perfume, seu rosto de inteira fidelização ao personagem empunhado. Dava-me uma vontade de acompanhá-la com um traje equivalente, mas eu pensava que lhe roubaria a cena... Mas vontade eu tinha... Tinha sim: era a erupção, a exuberância, o crer no desejo e realizá-lo, postando, assim, parte de suas dobras de subjetividade, e, ao mesmo tempo, adornando a cidade. Talvez o fluxo das pessoas daquela avenida não a compreendesse, não a sentisse, mas que ela tinha público, tinha!
Essa mulher foi para mim, por incrível que pareça, a minha visão da Madame Rosita, já que nunca conheci a sua loja, tampouco ela, em pessoa.
A noiva era símbolo da decadência da pauliceia rica, enlouquecida, que não perdia a pose, que mantinha o charme e a sedução. Ela era o desencontro de tantos da cidade e, ao mesmo tempo, o encontro da fascinação em tempos de alta moda, para poucos. Ela zombava, era uma noiva solitária, silenciosa, sem seu par, mostrando que, mesmo assim (e apesar disso!), vivia como “noiva do além”.
A noiva da Paulista é a noiva sem casamento, como a avenida, que não casou, pela sua imponência, ficou só mais pomposa, deturpada, com a sua cauda já ultrapassada por outras caudas de outras noivas solas, das avenidas da cidade.
Hoje eu penso: mudou? Será que não existem noivas, noivos punks, agora com outra performance, mais brutal, com seus cenários de clubes da luta? Continua, agora, não mais Godard - Une femme est une femme (J. L. Godard, 1961) -, mas sim clubes das lutas de skinheads e punks... outros noivos...
E termino com Eduardo Gudin:
… Se a avenida / Exilou seus casarões / Quem reconstruiria / Nossas ilusões?/ Me lembrei / De contar pra você / Nessa canção / Que o amor conseguiu […] / Se os seus sonhos / Emigraram sem deixar / Nem pedra sobre pedra / Pra poder lembrar / Dou razão / É difícil hospedar / No coração / Sentimentos assim
terça-feira, 20 de março de 2012
REVISTA BRASILEIROS nº 56 Drummond
Para Maria da Graça - Paulo M. Campos
Paulo Mendes Campos -by Continente Multicultural...http://bit.ly/GE78sK |
Paulo Mendes Campos é inesquecível.Esta crônica me foi lida como receituário médico por um amigo- Orlei Mesquita-, Recife, Pe,quando eu numa mesa de bar reclamava de minha dor de amor, leiam:
PARA MARIA DA GRAÇA
por PAULO MENDES CAMPOS DO LIVRO O AMOR ACABA
Quando ela chegou à idade avançada de 15 anos eu lhe dei de presente o livro Alice no País das Maravilhas.
Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti. Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucuras. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade. A realidade, Maria, é louca.
Nem o papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade, Dinah, já comeste um morcego"?
Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é o lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.
A sozinhez (esquece esta palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. "A porta do poço!". Só as criaturas humanas, nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados, conseguem abrir uma porta bem fechada e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e tens a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências.
Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece geralmente às pessoas que comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolos; nem toda sabedoria tem de ser séria ou profunda.
A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon!" Pois viver é falar de acordo em casa de enforcado. Por isso te digo para a tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostaria de gatos se fosse eu?"
Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados, todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os corredores chegam exausto a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! Mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não conseguirá saber quem venceu. Para o bolso: se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupes com a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre onde quiseres, ganhaste.
Disse o ratinho: "Minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance." Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois um romance é só o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energicamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo". Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crecer novamente.
E escuta está parábola perfeita: Alice tinha diminuíndo tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida toda uma quantidade imensa de camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem-disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nosso domínio disfarçado de camundongo. Mas como tomar o pequeno por grande e o grande por queno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom humor. Toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa médica para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixa preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de sofrimento ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".
Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.
terça-feira, 13 de março de 2012
Vem aí o Estatuto da Palavra
FAÇO AS PALAVRAS DE JOÃO UBALDO AS MINHAS.
paulo vasconcelos
APUD JORNAL O GLOBO RIO 11.03
JOÃO UBALDO RIBEIRO
Para mim, é sinal de atraso, mas acho que sou minoria. Estamos atravessando um interessante processo sociopolítico, em que o comportamento pessoal e particular é cada vez mais controlado, com a nobre finalidade de nos proteger, geralmente de nós mesmos. Já imaginei várias possíveis consequências disso, inclusive a criação das figuras da ortocópula e da cacocópula. Não, o Estado não instalará câmeras de tevê nas alcovas, para monitorar a intimidade dos casais. Só creio que isso pudesse acontecer, ainda que muito remotamente, em São Paulo, onde hoje é bem mais fácil ser assaltante do que fumante. Se o assaltante estiver fumando, duvido que assalte qualquer coisa em Congonhas, por exemplo, porque, assim que passar por baixo da marquise, um ou dois policiais o pegarão. Já assalto simples, sem cigarro, é outra coisa. Não haverá necessidade da monitoração, a não ser por ordem judicial. O Estado definiria uma cópula otimizada, numa escala, vamos dizer, de um a cinco. Nessa faixa, teríamos a ortocópula. Passando de cinco, já se começaria a pisar o arriscado terreno da cacocópula. A iniciativa da ação estatal seria nos mesmos moldes da lei da palmada. O cônjuge atingido poderia denunciar o autor da cacocópula, ou isso poderia caber a quem quer que tivesse condição de levantar suspeitas, tais como vizinhos e parentes. Se o casal vizinho tem uma trilha sonora exuberante durante suas conjunções carnais, aludindo, em voz audível através de um copo na parede, a práticas consideradas inaceitáveis pelos padrões oficiais, o longo braço da lei pode alcançá-lo. Mesmo que tanto ela quanto ele garantam que fazem aquilo somente entre os dois e gostam desse jeito, serão classificados como anormais e levados a tratamento psiquiátrico. Não se obtendo êxito, paciência. Compete ao Estado zelar pelo bem deles e, portanto, o divórcio será obrigatório, podendo ambos inscrever-se no programa governamental "Refaça Sua Vida", que permitirá novo casamento aos que comprovarem ter abandonado atos sexuais ilícitos. Os filhos estarão bem entregues a parentes e, na falta destes, a alguma das exemplares instituições que o Estado mantém para a guarda e educação de menores desamparados. Agora há novamente paladinos da sociedade perfeita, o que lá seja isso, que querem censurar dicionários. De vez em quando, aparece um desses. Censurar a lexicografia é uma curiosa inovação. Dicionário é um trabalho lexicográfico, não uma peça normativa. O lexicógrafo não concorda ou discorda do uso de uma palavra ou expressão qualquer. Obedecendo a critérios tão objetivos e neutros quanto possível, constata o uso dessa palavra ou expressão e tem a obrigação de registrá-la. Eliminar do dicionário uma palavra lexicograficamente legítima não só é uma violência despótica, como uma inutilidade, pois a palavra sobreviverá, se tiver funcionalidade na língua, para que segmento seja. Não se pode legislar o funcionamento da língua. O que se pode, no máximo, é regular a chamada norma culta, que poderia ter qualquer outro nome, porque é destinada apenas a manter um pouco da estabilidade da comunicação necessária à sociedade, desde o convívio interpessoal aos documentos de uso comum, da propaganda às leis. Se não fosse assim, dentro de pouco tempo a comunicação verbal seria quase impossível. De resto, a língua é viva e livre e ninguém manda nela, nem mesmo as ditaduras. E não insulta ninguém, depende para isso de seus usuários, que criam o que é considerado ofensa. Mas os usuários são renitentes, de forma que, como no caso da cópula, isso tem que ser regulado, não é possível permitir que o dicionário registre termos que poderiam ofender algum indivíduo ou categoria. Acho que tem muita limpeza a ser feita e agora mesmo me ocorrem cretino, imbecil, idiota, boçal e outras palavras muito usadas para insultos, que, ainda por cima, são empregadas erroneamente, pois sabe-se atualmente que o boçal não tem culpa de sua boçalidade. Há muita gente que acha que se trata de um triste problema genético e todo boçal é uma vítima que, assim como o bandido, foi marginalizada (ou excluída, que está mais na moda) e sofreu bullying na infância. Urge também o banimento de palavras que agravem povos irmãos, mesmo que hoje seus países não existam mais politicamente, como beócios e capadócios. Os já citados cretinos são outro caso deplorável, pois, para grande vergonha nossa, a palavra vem do francês crétin, a qual, por sua vez, vejam como o mundo dá voltas - se originou de chrétien, ou seja, cristão. Patenteia-se aí um claro insulto a toda a Cristandade e cretino merece dupla proibição. Baiano burro (aliás, mentalmente prejudicado, para não ofender o burro e incutir nas crianças desprezo por um animal tão útil à humanidade) nasce morto, bem sei, mas não se fazem mais baianos como antigamente e não duvido que surja um grupo na Bahia, empenhado em abolir termos e expressões como "baianada" e "gelo de baiano". E certamente apoiarão seus irmãos paulistas na justa revolta destes, ao serem informados de que lombo de carne de boi é chamado na Bahia de "paulista" e que muitos baianos, a cada dia, dizem casualmente "hoje eu vou comer um paulista lá em casa". Com os dicionários expurgados, não mais compreenderemos livros escritos antes desta era. É um preço pequeno a pagar, para nos livrarmos de uma herança maldita e tornar nossa língua própria para os anjos que em breve seremos. Aguardo agora normas sobre as artes. As artes deverão ser obrigadas à imparcialidade e a conceder espaço igual a todos. Assim, se o vilão de um romance for católico e o mocinho evangélico, será exigida, concomitantemente, uma versão com os papéis invertidos. Se um samba falar que "minha nega me traiu", vai ter que haver outra versão, com a mesma melodia, cantando "minha loura me chifrou". E por aí vamos, ainda chegamos ao primeiro mundo. A língua é viva e livre e ninguém manda nela JOÃO UBALDO RIBEIRO é escritor.
paulo vasconcelos
APUD JORNAL O GLOBO RIO 11.03
JOÃO UBALDO RIBEIRO
Para mim, é sinal de atraso, mas acho que sou minoria. Estamos atravessando um interessante processo sociopolítico, em que o comportamento pessoal e particular é cada vez mais controlado, com a nobre finalidade de nos proteger, geralmente de nós mesmos. Já imaginei várias possíveis consequências disso, inclusive a criação das figuras da ortocópula e da cacocópula. Não, o Estado não instalará câmeras de tevê nas alcovas, para monitorar a intimidade dos casais. Só creio que isso pudesse acontecer, ainda que muito remotamente, em São Paulo, onde hoje é bem mais fácil ser assaltante do que fumante. Se o assaltante estiver fumando, duvido que assalte qualquer coisa em Congonhas, por exemplo, porque, assim que passar por baixo da marquise, um ou dois policiais o pegarão. Já assalto simples, sem cigarro, é outra coisa. Não haverá necessidade da monitoração, a não ser por ordem judicial. O Estado definiria uma cópula otimizada, numa escala, vamos dizer, de um a cinco. Nessa faixa, teríamos a ortocópula. Passando de cinco, já se começaria a pisar o arriscado terreno da cacocópula. A iniciativa da ação estatal seria nos mesmos moldes da lei da palmada. O cônjuge atingido poderia denunciar o autor da cacocópula, ou isso poderia caber a quem quer que tivesse condição de levantar suspeitas, tais como vizinhos e parentes. Se o casal vizinho tem uma trilha sonora exuberante durante suas conjunções carnais, aludindo, em voz audível através de um copo na parede, a práticas consideradas inaceitáveis pelos padrões oficiais, o longo braço da lei pode alcançá-lo. Mesmo que tanto ela quanto ele garantam que fazem aquilo somente entre os dois e gostam desse jeito, serão classificados como anormais e levados a tratamento psiquiátrico. Não se obtendo êxito, paciência. Compete ao Estado zelar pelo bem deles e, portanto, o divórcio será obrigatório, podendo ambos inscrever-se no programa governamental "Refaça Sua Vida", que permitirá novo casamento aos que comprovarem ter abandonado atos sexuais ilícitos. Os filhos estarão bem entregues a parentes e, na falta destes, a alguma das exemplares instituições que o Estado mantém para a guarda e educação de menores desamparados. Agora há novamente paladinos da sociedade perfeita, o que lá seja isso, que querem censurar dicionários. De vez em quando, aparece um desses. Censurar a lexicografia é uma curiosa inovação. Dicionário é um trabalho lexicográfico, não uma peça normativa. O lexicógrafo não concorda ou discorda do uso de uma palavra ou expressão qualquer. Obedecendo a critérios tão objetivos e neutros quanto possível, constata o uso dessa palavra ou expressão e tem a obrigação de registrá-la. Eliminar do dicionário uma palavra lexicograficamente legítima não só é uma violência despótica, como uma inutilidade, pois a palavra sobreviverá, se tiver funcionalidade na língua, para que segmento seja. Não se pode legislar o funcionamento da língua. O que se pode, no máximo, é regular a chamada norma culta, que poderia ter qualquer outro nome, porque é destinada apenas a manter um pouco da estabilidade da comunicação necessária à sociedade, desde o convívio interpessoal aos documentos de uso comum, da propaganda às leis. Se não fosse assim, dentro de pouco tempo a comunicação verbal seria quase impossível. De resto, a língua é viva e livre e ninguém manda nela, nem mesmo as ditaduras. E não insulta ninguém, depende para isso de seus usuários, que criam o que é considerado ofensa. Mas os usuários são renitentes, de forma que, como no caso da cópula, isso tem que ser regulado, não é possível permitir que o dicionário registre termos que poderiam ofender algum indivíduo ou categoria. Acho que tem muita limpeza a ser feita e agora mesmo me ocorrem cretino, imbecil, idiota, boçal e outras palavras muito usadas para insultos, que, ainda por cima, são empregadas erroneamente, pois sabe-se atualmente que o boçal não tem culpa de sua boçalidade. Há muita gente que acha que se trata de um triste problema genético e todo boçal é uma vítima que, assim como o bandido, foi marginalizada (ou excluída, que está mais na moda) e sofreu bullying na infância. Urge também o banimento de palavras que agravem povos irmãos, mesmo que hoje seus países não existam mais politicamente, como beócios e capadócios. Os já citados cretinos são outro caso deplorável, pois, para grande vergonha nossa, a palavra vem do francês crétin, a qual, por sua vez, vejam como o mundo dá voltas - se originou de chrétien, ou seja, cristão. Patenteia-se aí um claro insulto a toda a Cristandade e cretino merece dupla proibição. Baiano burro (aliás, mentalmente prejudicado, para não ofender o burro e incutir nas crianças desprezo por um animal tão útil à humanidade) nasce morto, bem sei, mas não se fazem mais baianos como antigamente e não duvido que surja um grupo na Bahia, empenhado em abolir termos e expressões como "baianada" e "gelo de baiano". E certamente apoiarão seus irmãos paulistas na justa revolta destes, ao serem informados de que lombo de carne de boi é chamado na Bahia de "paulista" e que muitos baianos, a cada dia, dizem casualmente "hoje eu vou comer um paulista lá em casa". Com os dicionários expurgados, não mais compreenderemos livros escritos antes desta era. É um preço pequeno a pagar, para nos livrarmos de uma herança maldita e tornar nossa língua própria para os anjos que em breve seremos. Aguardo agora normas sobre as artes. As artes deverão ser obrigadas à imparcialidade e a conceder espaço igual a todos. Assim, se o vilão de um romance for católico e o mocinho evangélico, será exigida, concomitantemente, uma versão com os papéis invertidos. Se um samba falar que "minha nega me traiu", vai ter que haver outra versão, com a mesma melodia, cantando "minha loura me chifrou". E por aí vamos, ainda chegamos ao primeiro mundo. A língua é viva e livre e ninguém manda nela JOÃO UBALDO RIBEIRO é escritor.
domingo, 11 de março de 2012
PAUL AUSTER
A Revista Ñ nos agracia com uma entrevistas com um dos mais renomados escritores dos EUA.
Homem sério,literata de competência de posição política firmada com homens como Obama.
Sua escritura é invejável!!!
Denso,forte e de uma face humanista que denota seu fulgor de um ser forte e humano raro.
Paulo Vasconcelos
El cuerpo en el que habito
Dos seres componen al celebrado escritor estadounidense: uno de carne y hueso, histórico, “que lava los platos”; otro interior, que está solo en lo que escribe, y no entiende. Ahora, publica la historia de aquel “cuerpo”: heridas, barrios, cuartos, intemperie. Y con dos periodistas de Ñ habla de eso. Y de política y amor.
Por: Patricia Kolesnicov y Andrés Hax
¿Ya se arregló el problemita con la licencia de alcohol?
El hombre que pide –se arregló– una copa de vino blanco antes de sentarse a ser interrogado por dos desconocidos, mañana (el mañana de la entrevista, 3 de febrero) cumple 65 años. Y como el hombre se llama Paul Auster, recibe los 65 con un libro autobiográfico, Diario de invierno. Un libro que –como si el que cumpliera fuera el cuerpo, no el hombre y menos el autor–, indaga “lo que ha sido vivir en el interior de este cuerpo”. “Un catálogo de datos sensoriales” económico en pudores, que no evitará ni el pobre debut sexual en un prostíbulo ni –página 9– “el enorme forúnculo que una vez me brotó en el carrillo izquierdo del culo.”
El hombre que pide el vino va a cumplir 65 años y se nota. Habla con la voz baja de siempre, mira con esos ojos hermosos de siempre, pero algo en la manera de ponerle el cuerpo al aire ha cambiado. Ahora no va cortando el aire con el pecho, ahora lo sostiene con los hombros.
“Piensas que nunca te va a pasar, imposible que te suceda a ti, que eres la única persona del mundo a quien jamás ocurrirán esas cosas y entonces, una por una, empiezan a pasarte todas, igual que le suceden a cualquier otro”.
(Diario de invierno, página 7)
-¿Le resulta extraño este cuerpo de 65 años?
-A veces ni me miro. Bueno, me miro al espejo cuando me afeito y me peino. A veces sorprende ver una foto sacada hace tiempo y notar cómo cambiaste; tu pelo, tu cara no son como hace 30 años, es como una broma. Pero tampoco me deprime.
-¿Pero se siente usted mismo?
-Me siento diferente y me siento igual al mismo tiempo.
Son las dos de la tarde, el frío aprieta pero no ahorca en Brooklyn y en el café donde sabe parar Auster bajan para que los grabadores hagan su trabajo.
El hombre se mudó al barrio hace algo más de 30 años, antes de que ese suburbio de Nueva York se pusiera de moda y se llenara de restaurantitos y le crecieran escritores entre las baldosas. Cerca, a una cuadra, hay una librería con piano al fondo y clásicos estadounidenses en la vidriera y, entre ellos, no falta un Paul Auster, claro. Pero Brooklyn sigue siendo Brooklyn: te perdés cuatro o cinco cuadras y quedás entre galpones enormes, das la vuelta y frente a una especie de maxikiosco donde se recargan celulares deambula una embarazada sin dientes; te alejás a pie del café y la librería y entrás en una peluquería antigua, donde de los dos lados del sillón hay negros locales y latinoamericanos, el corte cuesta 12 dólares –pero sube si el cliente se porta mal–, el estilista tiene serpientes tatuadas en el brazo y el gordo con gorrita de lana no cuelga el celular –tijera en la derecha, teléfono en la izquierda– para dar forma a la cresta de la víctima. En la peluquería hay pósteres de Will Smith, de beisbolistas, de celebridades negras de todos los tiempos. No han oído nombrar al vecino escritor.
Paul Auster hizo un oficio de eso de mezclar vida y obra, de poner un escritor a trabajar como detective (en La trilogía de Nueva York) tras haber sido confundido con el detective Paul Auster y cuando el autor se ha acostumbrado a su nueva personalidad –“Había empezado a notar que el efecto de ser Paul Auster no era del todo desagradable”– hacerlo encontrar con un “verdadero” Paul Auster, que no es detective sino escritor y que tiene una mujer “alta, delgada, rubia” y un hijo que se llama Daniel, como el Auster de forúnculo y hueso. En Leviatán, el protagonista es, otra vez, un escritor, su mujer se llama Iris (la de Auster es Siri Hustvedt, escritora) y Auster le presta a otro personaje una anécdota que ahora, en Diario de invierno, aparece como propia: la madre sube con el chico a la Estatua de la Libertad y ahí en la cumbre del ser nacional le viene el vértigo; para no matar al chico de un susto inventa un juego: bajar de cola, peldaño por peldaño. En la película La vida interior de Martin Frost (Auster también dirige), un escritor va a pasar una temporada a la casa de una pareja amiga, que está de viaje: en un portarretratos se ve que son Paul y Siri. En Sunset Park, la madre de uno de los personajes hace chistes con él un fin de semana y la mujer que limpia su casa la encuentra muerta en la cama días después, con el New York Times todavía abierto junto a ella: Auster contará en el nuevo libro que así fue la muerte de su mamá. El padre de ese personaje también muere como el de Auster: a punto de tener orgasmo.
“Murió en la cama haciendo el amor con su novia, un hombre sano a quien inexplicablemente le falló el corazón. En los años transcurridos desde aquel día de enero de 1979, numerosos hombres te han dicho que es la mejor forma de morir (la pequeña muerte convertida en verdadera muerte), pero ninguna mujer te lo ha dicho, y a ti personalmente te parece una horrible forma de morir, y cuando piensas en la novia de tu padre en el funeral y en la traumatizada expresión de sus ojos (sí, te confirmó, fue realmente horroroso, lo más terrible que le había pasado en la vida), ruegas para que eso no le ocurra a tu mujer.”
Para los fans, los que recuerdan los detalles de la obra, Diario de invierno funcionará como un detector de las piezas autobiográficas incrustadas en la ficción austeriana. Pero –este es Auster, que pliega ficción y realidad como un origami– este libro que aparece como autobiográfico está contado en segunda persona: es a otro, escribió Borges, al que le ocurren las cosas.
Dos y diez en Brooklyn. Llegó el vino.
-“Diario de invierno” rompe una regla de la autobiografía: está escrita en segunda persona. ¿Hay un Auster que vive y otro que escribe?
-Creo que es así, siempre hice la distinción entre el yo que escribe y el biográfico, el hombre que paga sus impuestos, que saca la basura y lava los platos. Ese no es el mismo tipo que escribe mis libros.
-¿Cuál es la diferencia entre ellos?
-No sé, el que escribe es el ser invisible que me habita, pero no soy exactamente yo, no es mi yo físico o biográfico.
-¿Con cuál estamos hablando ahora?
-Con el ser biográfico, el que lava los platos.
-¿El otro es mejor?
No compiten, son simplemente diferentes.
-¿Te trata bien o te hace sufrir?
-Ambas cosas. Lo mejor y lo peor, está todo ahí. Sólo que no es accesible para nadie más, la única forma que tiene de presentarse es en los libros que escribe, no podés conocerlo hablando conmigo. Por eso no puedo discutir sobre mi trabajo, porque no lo entiendo muy bien. Cuando la gente pregunta por qué esto, por qué aquello, no puedo responder. Puedo decir cómo, o cuándo, pero nunca por qué. Que es lo que los demás quieren saber.
-Este es un libro expresamente autobiográfico y aparecen muchas anécdotas que leímos en sus novelas. ¿Qué pasa cuando usa su vida como materia prima para la ficción?
-Escribir no ficción da el mismo trabajo que escribir ficción. La diferencia es esta: con la no ficción, particularmente con el trabajo autobiográfico, ya conocés los hechos, algo que no pasa cuando escribís una novela. Todo lo demás es igual. Tenés que hacer el mismo esfuerzo por escribir buenas frases, para hablar de la manera más real que puedas. Así que sí, mis novelas a veces toman cosas prestadas de mi vida, pero el hecho de poner ese material en una novela lo cambia, lo ficcionaliza, lo convierte en otra cosa.
-Como si tomara un trozo de vida y lo pusiera en un museo... Una operación literaria a la manera de Duchamp.
-La mayoría de los novelistas lo hace. Puede ser un detalle, como el tipo de anteojos que usás, o algo más importante, una experiencia.
-Pero “Diario...” puede leerse como una clave del resto de su narrativa: la verdad de su vida.
Sí. Pero es un libro que habla básicamente de mi yo físico.
Efectivamente. Diario de invierno habla del cuerpo de Auster. “Placeres físicos y dolores físicos”, avisa que contará. Los dolores, con detalles: la pelota de béisbol que le partió la frente; el clavo que le atravesó la mejilla cuando resbalaba por el suelo a los tres años, cuya cicatriz (“acá, ya está muy suave”, dice ahora en el café) todavía se ve; una herida sobre la ceja jugando a la pelota en la primaria, otra –la otra ceja– en una cancha de básquet a los veintipico; rotura de córnea izquierda, rotura de córnea derecha, ataques de pánico (cuerpo y alma), trombo en la pierna izquierda, falso infarto a punto de cumplir los 50 –era una inflamación de esófago–, mononucleosis, gastritis. Pero no tiene grandes problemas físicos, dice, a los 65. “No tengo ninguna enfermedad, los anteojos no me molestan, supongo que lo que me preocuparía es mi pasión por los cigarrillos, tengo más tos que la que tendría que tener y sé que eso me va a hacer mucho daño al final. Pero no puedo parar y parte de mí no quiere parar. Yo sé que (Samuel) Beckett, que me gusta mucho, murió a los 83 y era un gran fumador, tenía un enfisema, bebía, y eso probablemente lo mató. Pero él decía que no se arrepentía de haber fumado porque había demasiado placer en eso. Hay un librito sobre Beckett, se llama Cómo fue, lo escribió Anne Atik, una joven poeta norteamericana. Ella cuenta que cuando le dijo que iba a dejar de fumar, él respondió: “¿Y qué haremos? ¿Cómo vamos a vivir? ¿Cómo pasaremos la noche?” No es que sea un buen ejemplo...
“Toses, ni que decir, sobre todo por la noche, cuando tu cuerpo se encuentra en posición horizontal, y en esas madrugadas en que los bronquios están obstruidos más de la cuenta, te levantas de la cama, vas a otra habitación y toses como loco hasta expectorar toda la porquería”
Diario..., dice entonces, es el libro del cuerpo. Pero ahora, cuenta Auster, viene el otro, el de las ideas. “Después de meses de pensar qué hacer empecé algo nuevo: estoy tratando de escribir una historia de mi mente, del desarrollo de mis pensamientos, así que voy muy para atrás, hasta cuando era chico, y trato de recordar qué pensaba sobre las cosas.
-¿Trata de forzar excursiones por la memoria?
-No, no. Simplemente me siento ahí y las cosas vuelven. El animismo de la infancia, por ejemplo. Recuerdo un bol con arvejas, yo pensaba que cada arveja tenía una personalidad distinta. O una cosa sobrecogedora que me pasó cuando tenía seis años, la primera vez que fui al cine de noche. Había visto dos o tres películas antes, películas de Disney, y de pronto, en 1953, fui a ver La guerra de los mundos. Ahí estaba yo, un niñito estúpido que creía en Dios y en su poder bondadoso y entonces vienen los marcianos y comienzan a exterminar a los seres humanos.
-¿Iba con sus padres?
-No recuerdo, ese es el punto, sólo recuerdo que estaba allí. Debió de haber sido con mis padres. Y claro, los terrícolas están muy asustados y se defienden y atacan a los marcianos, pero las armas no sirven para nada. Uno de los protagonistas es un ministro, un hombre de Dios, que les dice que se equivocan, que no luchen, que sólo son criaturas como nosotros y va hacia una de las naves espaciales diciendo que no se enojen, que Dios los ama. Y los marcianos salen y lo eliminan. O sea que Dios no tiene efecto sobre el demonio.
-Eso fue una crisis de fe...
-No sé si alguna vez me recuperé.
-¿Y quién le habló de Dios?
-No recuerdo, mi madre debió de haberme dicho que había un Dios, y que estaba en todas partes. En fin, ahora estoy escribiendo esto, veamos si lo puedo sostener, puede que no termine nunca, no lo sé, pero lo voy a intentar.
-Algo llamativo en el libro es que no habla sobre su escritura, ni cuándo empezó.
-En este libro que estoy escribiendo ahora voy a hablar sobre la decisión de convertirme en escritor. Tampoco hay mucho en realidad, apenas la determinación de hacerlo, cuando era joven.
-Lo que aparece aquí es el relato de un “epifánico momento de claridad”, cuando usted vuelve a escribir y empieza a ser quien es hoy. ¿Cada libro tiene su momento epifánico? ¿Usted puede convocarlo?
-No, no puedo convocarlo. Finalmente aprendí, y ya tenía 31 años y había estado escribiendo mucho tiempo, que tenía que cambiar mi acercamiento a la escritura. Aprendí a dejar las cosas ir. Antes de eso, me imponía mucha presión, todo tenía que tener doble, triple, cuádruple significado. Estaba trabajando demasiado duro, creo, y esta experiencia, esta epifanía, como la quieras llamar, me permitió relajarme y confiar en mi instinto. Antes era demasiado consciente. Construía cosas por adelantado, en vez de ir descubriéndolas. Aún estoy en eso.
Pasa el rato, baja la copa, el café de Brooklyn se va llenando y acá ya se olvidaron de que hay un escritor famoso haciendo una entrevista, así que la música sube de nuevo y por la puerta que da al fondo, junto a la que ocurre esta charla, dos muchachos entran y salen, mueven cosas pesadas, inyectan aire frío en el salón. El cuerpo, escribió este señor, es donde todo empieza y donde todo termina.
“Sin duda eres una persona precaria y dolida, un hombre que lleva una herida en su interior desde el principio mismo (¿por qué, si no, te has pasado toda tu vida adulta vertiendo palabras como sangre en una hoja de papel?).”
-¿Cuál es esa herida original?
-Creo que alguien se convierte en artista, particularmente en escritor, porque no está del todo integrado. Algo está mal en nosotros, sufrimos por algo, es como si el mundo no fuera suficiente, entonces sentís que tenés que crear cosas e incorporarlas al mundo. Una persona saludable estaría contenta con tomar la vida como viene y disfrutar la belleza de estar vivo... no se tiene que preocupar por crear nada. Alcanza con hacer un trabajo interesante, amar a alguien, comer buena comida, vivir todo lo que se pueda, morir. Esa parece una linda forma de vivir. Otros, como yo, estamos atormentados, tenemos una enfermedad, y la única manera de soportarla es haciendo arte. Es decir, si estoy haciendo esto, es porque algo está mal. ¿Qué es lo que está mal? Difícil decirlo porque estas heridas se producen cuando sos muy joven.
-¿Existe la posibilidad de despertarse y pensar que ya no tiene que escribir más?
-Me encantaría, ya escribí un montón de libros, así que todo lo que haga ahora va a ser muy importante para mí. Si muero hoy, ya he dejado muchas cosas.
-Aquí usted dice que estuvo casi siempre enamorado. ¿Cómo sabe cuándo está enamorado?
-Lo sentís, es una emoción, no lo decidís.
-¿Cómo se expresa?
-¿Cómo se expresa el amor? Es un deseo, deseo de estar con esa persona, es una especie de encantamiento con esa persona. Y también un deseo físico tremendo.
-¿Y cómo cambia eso según pasa el tiempo?
-He pasado la mitad de mi vida con Siri, 31 años juntos. Y cuando miro hacia atrás, veo que seguimos evolucionando, que las cosas siguen cambiando. Lo más gracioso después de haber estado con alguien durante tanto tiempo es que terminás tan ligado emocionalmente, mentalmente, que muchas veces sabés exactamente lo que el otro va a decir. Por ejemplo, el año pasado, volvimos a tener la misma respuesta ante algo. Sacamos a colación la misma historia para describir algo. Y me di vuelta y dije: “Si viviéramos juntos durante cien años, seríamos la misma persona”.
-¿Todavía siente ese enorme deseo?
-Sí, lo confieso.
(Tus manos) “han recorrido toda la piel desnuda de tu mujer y encontrado el camino hacia cada parte de su ser. Ahí es donde son más felices, crees tú, desde el día en que la conociste ahí es donde han sido más felices porque, parafraseando un verso del poema de George Oppen, algunos de los sitios más hermosos del mundo están en el cuerpo de tu mujer.”
-Eso es una bendición.
-Sí, soy un hombre con suerte, pero ella es una mujer extraordinaria. Nunca deja de sorprenderme. Es la persona más inteligente que he conocido y es una gran escritora y una gran pensadora. Es una aventura, siempre hay algo nuevo de qué hablar.
-¿Eso es más importante que la parte erótica de la relación?
-La parte erótica es muy importante, pero no es... ya no es como cuando nos conocimos, nos hacemos mayores al fin y al cabo... no podés hacer las cosas que hacías antes, todavía podés hacerlo pero... no diré más sobre el tema.
-Esto de reencontrar las mismas anécdotas nos hizo pensar en su obra. ¿La piensa como un todo, un gran texto?
-Creo que todo está conectado, aunque cada vez trato de escribir un libro nuevo, hacer un nuevo acercamiento. Repienso todo. Pero después seguís descubriéndote a vos mismo. No podés escapar. Así que sí, creo que todo es parte del mismo proyecto incompleto. Sea cual sea ese proyecto.
-¿Intenta un nuevo acercamiento a qué?
-Supongo que a mis sentimientos sobre el mundo.
En Diario... Paul Auster se instala en la vida a través de sus casas. Como cuenta la historia de sus heridas, cuenta la de sus casas. Empezando por “1. Calle South Harrison, 75; East Orange, Nueva Jersey. Un apartamento en un edificio alto de ladrillo. Edad, de 0 a 1 y 1/2 ”. Contando qué pasó en cada casa, se despliega la biografía.
-¿La lista sirvió para recordar?
-No había olvidado nada. Podría haber agregado más lugares, pero incluí aquellos donde pasé un año por lo menos. No podía recordar las direcciones de las casas donde vivíamos cuando era un bebé, nunca supe las dos primeras direcciones, pero entonces no sé, buscando algo, encontré mi libro de bebé, que mi madre había escrito, y ahí estaba todo. Esto tiene que ver con la manera en que encaré este trabajo: mi cuerpo a la intemperie, mi cuerpo adentro, protegido. ¿Dónde me guarecí? Haciendo la lista de mis casas puedo contar detalles de lo que pasé.
-Usted no tiene nada que ver con las computadoras, usa una máquina de escribir, pero sabrá que hoy se puede entrar en Internet, poner una dirección...
-¿Y ver la casa?
-Nosotros lo hicimos. Vimos la casa en Nueva Jersey…
-Oh, oh.
-La casa, el barrio, se puede dar una vuelta...
-Bueno, qué interesante, yo no hago esas cosas, ni tengo computadora, pero en fin, yo di las direcciones, quien quiera puede ir y ver las casas. De última, qué importan, hay que vivir en alguna parte. Ahora tengo ganas de ir a ver la casa donde viví la mayoría de la infancia, entre los 5 los 12. Supongo que lo haré en marzo, con un amigo. Pero sólo voy a pasar, no voy a llamar a la puerta, no quiero entrar.
“Irving Avenue, 253; South Orange, Nueva Jersey. Una casa de madera de dos plantas construida en el decenio de 1920, con la puerta principal amarilla, camino de entrada de grava y gran jardín. (...) Empezaste a vivir allí hace tanto tiempo que durante los primeros dos años repartían leche en un carro tirado por un caballo.”
Los de esa casa son los días anteriores a “los tormentos de la adolescencia”, que vendrán en la próxima, y a la separación de los padres. La última casa en la que entraron los cuatro juntos (Auster tiene una hermana) y salieron juntos.
-Es amarga la mirada sobre su padre en “La invención de la soledad”. Y acá no lo es tanto. ¿Cambió su forma de verlo?
-No mucho, pero siento mucha compasión por él, entendí sus problemas, las tragedias de la vida que lo hicieron quien era, simplemente no lo culpo. Una de las entradas del nuevo libro serán todos los sueños que tuve con él. Hablo con él muchas noches, nos sentamos en la habitación a charlar.
-¿De qué?
-Nunca, nunca puedo recordar de qué hablamos.
-¿Ahora que tiene dos hijos, cambió su idea de qué es un padre?
-Nunca he tenido una idea de qué es un padre, sos lo que sos y lo hacés lo mejor que podés. Además, cada chico es diferente, unos son sensibles, otros son tan duros que aunque los golpees no te van a hacer caso, no sé cuál es la regla, es un trabajo duro.
-¿Qué le dieron sus padres?
-Como trato de expresar en el libro, mi madre me dio un amor muy intenso. Quizás todo lo bueno que hay en mí vino de ella.
-¿Qué hay de bueno en usted?
-Soy amable, no busco peleas, trato de ser un buen amigo, un buen marido, trato de pensar en los demás antes que en mí, soy perseverante, hago bien mi trabajo y trato de tener una postura ética en la vida y de mantenerla. Claro que me equivoco todo el tiempo, pero hago lo mejor que puedo; eso viene de mi madre.
“Era quien te acostaba, quien te enseñó a montar en bicicleta, la que te ayudaba con tus lecciones de piano, con quien te desahogabas, la roca a la que te aferrabas cuando los mares se encrespaban.”
-De mi padre no sé, creo que la perseverancia también porque a él realmente no le importaba lo que pensara la gente, podía comportarse muy mal algunas veces y le daba lo mismo cómo reaccionaban los demás. Hay algo admirable en eso.
Auster llegó a esta charla hablando de política. Antes de sentarse casi, antes de pedir el primer vino, habló de Turquía. Un par de días antes había dicho que no iría a Turquía a presentar Diario... porque allí había escritores y periodistas presos. Que no es, dijo, un país democrático. El primer ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, le contestó criticando que hubiera ido a Israel sin ver “la represión y las violaciones a los derechos” en ese país. Cuenta el incidente, dice que ya ha dicho todo lo que tenía para decir.
Auster estuvo siempre atento a la política. Desde que a los dieciséis años se fue a Washington para el funeral de Kennedy: “(...) pero lo que te encontraste aquella tarde fue una turba de curiosos y mirones bulliciosos, gente subida a los árboles con cámaras, empujando unos a otros para quitarles sitio y ver mejor.”
O cuando participó de sentadas en la universidad y la policía lo sacó a patadas y de los pelos.
Aquí, en Diario de invierno, encuentra libros nazis en una de las casas a las que se muda. Y los tira a la basura.
-¿Cuándo empezó a tener conciencia política? ¿Ser judío tuvo algo que ver con eso?
-Nací justo después de la Segunda Guerra, crecí a su sombra, el nazismo estuvo presente en mi infancia, en mi imaginación de chico diría, así que no sé cuándo supe que era judío, cuándo entendí lo que era ser judío, pero probablemente muy temprano, a los 5 o 6 años. Sabía que había una diferencia entre “ellos” y “nosotros”, ¿no? La conciencia política llegó pronto. A los 10, 11 años estaba atento a las injusticias de la sociedad americana, seguía de cerca los temas de Derechos Humanos, estaba muy interesado en las cuestiones de la esclavitud. Me acuerdo a los 13, cuando Kennedy peleaba por la presidencia. Estaba muy entusiasmado con Kennedy, había pasado toda mi vida bajo Eisenhower. Kennedy era tan joven, fresco, tan emocionante, yo solía ir a las oficinas de la campaña y agarraba todos los carteles y los ponía en mi habitación: estaba cubierta con pósteres de Kennedy.
-¿Cómo vivió con Bush?
-Muy mal... y el país no se ha recuperado, va a llevar 20 años deshacer lo que él hizo, y sólo han pasado tres. Y los republicanos no quieren hacer nada, su única misión es destruir a Obama. Bush fue una pesadilla. Creo que debería estar preso, porque es un criminal, y también Cheney: deberían estar presos toda la vida.
-¿Pensó en irse del país?
-No, sólo pensé que vivir iba a ser peor. Trato de luchar desde aquí, soy muy activo en el Pen Club y estoy muy involucrado en el tema de la libertad de expresión, que es de lo que se trata este tema con Turquía. Ahora, espero que pierdan los republicanos en noviembre, porque si alguno de esos ignorantes llega a tener poder, vamos a retroceder 40 años.
-¿Dónde hay que mejorar?
-En infraestructura: el país está al borde del colapso. Tienen que subir los impuestos para los ricos, hace falta un nuevo plan de salud. Confío en que Obama va a ganar, porque los otros son idiotas hasta un grado que es difícil de expresar, si tienen que ir a la campaña nacional se van a exponer y se va a ver lo idiotas que son.
No para: Auster tiene mucho que decir: que el racismo existe pero un poco menos, que cuando era chico no había ley a favor del aborto ni plan de salud y eso ahora está, en fin. El grabador se apaga, Auster pide una botella de vino blanco para los cuatro –también está la fotógrafa– y luego otra. Volvemos a Turquía y así corre la tarde: siguiendo la tradición que los tiene unidos desde hace siglos, tres judíos –el que no lo es guarda prudente silencio– discuten sobre Israel y Palestina en un café que podría estar en Bolonia, en Buenos Aires, en Alejandría, en Praga, pero esta vez está en Brooklyn. “En Israel no hay periodistas presos”, argumenta Auster.
Es él, por supuesto, el que marca el final, cuando mira el reloj y saluda y sale. Dentro de siete horas tendrá 65 años.
“Se ha cerrado una puerta. Otra se ha abierto.
Has entrado en el invierno de tu vida.”
Homem sério,literata de competência de posição política firmada com homens como Obama.
Sua escritura é invejável!!!
Denso,forte e de uma face humanista que denota seu fulgor de um ser forte e humano raro.
Paulo Vasconcelos
El cuerpo en el que habito
Dos seres componen al celebrado escritor estadounidense: uno de carne y hueso, histórico, “que lava los platos”; otro interior, que está solo en lo que escribe, y no entiende. Ahora, publica la historia de aquel “cuerpo”: heridas, barrios, cuartos, intemperie. Y con dos periodistas de Ñ habla de eso. Y de política y amor.
Por: Patricia Kolesnicov y Andrés Hax
¿Ya se arregló el problemita con la licencia de alcohol?
El hombre que pide –se arregló– una copa de vino blanco antes de sentarse a ser interrogado por dos desconocidos, mañana (el mañana de la entrevista, 3 de febrero) cumple 65 años. Y como el hombre se llama Paul Auster, recibe los 65 con un libro autobiográfico, Diario de invierno. Un libro que –como si el que cumpliera fuera el cuerpo, no el hombre y menos el autor–, indaga “lo que ha sido vivir en el interior de este cuerpo”. “Un catálogo de datos sensoriales” económico en pudores, que no evitará ni el pobre debut sexual en un prostíbulo ni –página 9– “el enorme forúnculo que una vez me brotó en el carrillo izquierdo del culo.”
El hombre que pide el vino va a cumplir 65 años y se nota. Habla con la voz baja de siempre, mira con esos ojos hermosos de siempre, pero algo en la manera de ponerle el cuerpo al aire ha cambiado. Ahora no va cortando el aire con el pecho, ahora lo sostiene con los hombros.
“Piensas que nunca te va a pasar, imposible que te suceda a ti, que eres la única persona del mundo a quien jamás ocurrirán esas cosas y entonces, una por una, empiezan a pasarte todas, igual que le suceden a cualquier otro”.
(Diario de invierno, página 7)
-¿Le resulta extraño este cuerpo de 65 años?
-A veces ni me miro. Bueno, me miro al espejo cuando me afeito y me peino. A veces sorprende ver una foto sacada hace tiempo y notar cómo cambiaste; tu pelo, tu cara no son como hace 30 años, es como una broma. Pero tampoco me deprime.
-¿Pero se siente usted mismo?
-Me siento diferente y me siento igual al mismo tiempo.
Son las dos de la tarde, el frío aprieta pero no ahorca en Brooklyn y en el café donde sabe parar Auster bajan para que los grabadores hagan su trabajo.
El hombre se mudó al barrio hace algo más de 30 años, antes de que ese suburbio de Nueva York se pusiera de moda y se llenara de restaurantitos y le crecieran escritores entre las baldosas. Cerca, a una cuadra, hay una librería con piano al fondo y clásicos estadounidenses en la vidriera y, entre ellos, no falta un Paul Auster, claro. Pero Brooklyn sigue siendo Brooklyn: te perdés cuatro o cinco cuadras y quedás entre galpones enormes, das la vuelta y frente a una especie de maxikiosco donde se recargan celulares deambula una embarazada sin dientes; te alejás a pie del café y la librería y entrás en una peluquería antigua, donde de los dos lados del sillón hay negros locales y latinoamericanos, el corte cuesta 12 dólares –pero sube si el cliente se porta mal–, el estilista tiene serpientes tatuadas en el brazo y el gordo con gorrita de lana no cuelga el celular –tijera en la derecha, teléfono en la izquierda– para dar forma a la cresta de la víctima. En la peluquería hay pósteres de Will Smith, de beisbolistas, de celebridades negras de todos los tiempos. No han oído nombrar al vecino escritor.
Paul Auster hizo un oficio de eso de mezclar vida y obra, de poner un escritor a trabajar como detective (en La trilogía de Nueva York) tras haber sido confundido con el detective Paul Auster y cuando el autor se ha acostumbrado a su nueva personalidad –“Había empezado a notar que el efecto de ser Paul Auster no era del todo desagradable”– hacerlo encontrar con un “verdadero” Paul Auster, que no es detective sino escritor y que tiene una mujer “alta, delgada, rubia” y un hijo que se llama Daniel, como el Auster de forúnculo y hueso. En Leviatán, el protagonista es, otra vez, un escritor, su mujer se llama Iris (la de Auster es Siri Hustvedt, escritora) y Auster le presta a otro personaje una anécdota que ahora, en Diario de invierno, aparece como propia: la madre sube con el chico a la Estatua de la Libertad y ahí en la cumbre del ser nacional le viene el vértigo; para no matar al chico de un susto inventa un juego: bajar de cola, peldaño por peldaño. En la película La vida interior de Martin Frost (Auster también dirige), un escritor va a pasar una temporada a la casa de una pareja amiga, que está de viaje: en un portarretratos se ve que son Paul y Siri. En Sunset Park, la madre de uno de los personajes hace chistes con él un fin de semana y la mujer que limpia su casa la encuentra muerta en la cama días después, con el New York Times todavía abierto junto a ella: Auster contará en el nuevo libro que así fue la muerte de su mamá. El padre de ese personaje también muere como el de Auster: a punto de tener orgasmo.
“Murió en la cama haciendo el amor con su novia, un hombre sano a quien inexplicablemente le falló el corazón. En los años transcurridos desde aquel día de enero de 1979, numerosos hombres te han dicho que es la mejor forma de morir (la pequeña muerte convertida en verdadera muerte), pero ninguna mujer te lo ha dicho, y a ti personalmente te parece una horrible forma de morir, y cuando piensas en la novia de tu padre en el funeral y en la traumatizada expresión de sus ojos (sí, te confirmó, fue realmente horroroso, lo más terrible que le había pasado en la vida), ruegas para que eso no le ocurra a tu mujer.”
Para los fans, los que recuerdan los detalles de la obra, Diario de invierno funcionará como un detector de las piezas autobiográficas incrustadas en la ficción austeriana. Pero –este es Auster, que pliega ficción y realidad como un origami– este libro que aparece como autobiográfico está contado en segunda persona: es a otro, escribió Borges, al que le ocurren las cosas.
Dos y diez en Brooklyn. Llegó el vino.
-“Diario de invierno” rompe una regla de la autobiografía: está escrita en segunda persona. ¿Hay un Auster que vive y otro que escribe?
-Creo que es así, siempre hice la distinción entre el yo que escribe y el biográfico, el hombre que paga sus impuestos, que saca la basura y lava los platos. Ese no es el mismo tipo que escribe mis libros.
-¿Cuál es la diferencia entre ellos?
-No sé, el que escribe es el ser invisible que me habita, pero no soy exactamente yo, no es mi yo físico o biográfico.
-¿Con cuál estamos hablando ahora?
-Con el ser biográfico, el que lava los platos.
-¿El otro es mejor?
No compiten, son simplemente diferentes.
-¿Te trata bien o te hace sufrir?
-Ambas cosas. Lo mejor y lo peor, está todo ahí. Sólo que no es accesible para nadie más, la única forma que tiene de presentarse es en los libros que escribe, no podés conocerlo hablando conmigo. Por eso no puedo discutir sobre mi trabajo, porque no lo entiendo muy bien. Cuando la gente pregunta por qué esto, por qué aquello, no puedo responder. Puedo decir cómo, o cuándo, pero nunca por qué. Que es lo que los demás quieren saber.
-Este es un libro expresamente autobiográfico y aparecen muchas anécdotas que leímos en sus novelas. ¿Qué pasa cuando usa su vida como materia prima para la ficción?
-Escribir no ficción da el mismo trabajo que escribir ficción. La diferencia es esta: con la no ficción, particularmente con el trabajo autobiográfico, ya conocés los hechos, algo que no pasa cuando escribís una novela. Todo lo demás es igual. Tenés que hacer el mismo esfuerzo por escribir buenas frases, para hablar de la manera más real que puedas. Así que sí, mis novelas a veces toman cosas prestadas de mi vida, pero el hecho de poner ese material en una novela lo cambia, lo ficcionaliza, lo convierte en otra cosa.
-Como si tomara un trozo de vida y lo pusiera en un museo... Una operación literaria a la manera de Duchamp.
-La mayoría de los novelistas lo hace. Puede ser un detalle, como el tipo de anteojos que usás, o algo más importante, una experiencia.
-Pero “Diario...” puede leerse como una clave del resto de su narrativa: la verdad de su vida.
Sí. Pero es un libro que habla básicamente de mi yo físico.
Efectivamente. Diario de invierno habla del cuerpo de Auster. “Placeres físicos y dolores físicos”, avisa que contará. Los dolores, con detalles: la pelota de béisbol que le partió la frente; el clavo que le atravesó la mejilla cuando resbalaba por el suelo a los tres años, cuya cicatriz (“acá, ya está muy suave”, dice ahora en el café) todavía se ve; una herida sobre la ceja jugando a la pelota en la primaria, otra –la otra ceja– en una cancha de básquet a los veintipico; rotura de córnea izquierda, rotura de córnea derecha, ataques de pánico (cuerpo y alma), trombo en la pierna izquierda, falso infarto a punto de cumplir los 50 –era una inflamación de esófago–, mononucleosis, gastritis. Pero no tiene grandes problemas físicos, dice, a los 65. “No tengo ninguna enfermedad, los anteojos no me molestan, supongo que lo que me preocuparía es mi pasión por los cigarrillos, tengo más tos que la que tendría que tener y sé que eso me va a hacer mucho daño al final. Pero no puedo parar y parte de mí no quiere parar. Yo sé que (Samuel) Beckett, que me gusta mucho, murió a los 83 y era un gran fumador, tenía un enfisema, bebía, y eso probablemente lo mató. Pero él decía que no se arrepentía de haber fumado porque había demasiado placer en eso. Hay un librito sobre Beckett, se llama Cómo fue, lo escribió Anne Atik, una joven poeta norteamericana. Ella cuenta que cuando le dijo que iba a dejar de fumar, él respondió: “¿Y qué haremos? ¿Cómo vamos a vivir? ¿Cómo pasaremos la noche?” No es que sea un buen ejemplo...
“Toses, ni que decir, sobre todo por la noche, cuando tu cuerpo se encuentra en posición horizontal, y en esas madrugadas en que los bronquios están obstruidos más de la cuenta, te levantas de la cama, vas a otra habitación y toses como loco hasta expectorar toda la porquería”
Diario..., dice entonces, es el libro del cuerpo. Pero ahora, cuenta Auster, viene el otro, el de las ideas. “Después de meses de pensar qué hacer empecé algo nuevo: estoy tratando de escribir una historia de mi mente, del desarrollo de mis pensamientos, así que voy muy para atrás, hasta cuando era chico, y trato de recordar qué pensaba sobre las cosas.
-¿Trata de forzar excursiones por la memoria?
-No, no. Simplemente me siento ahí y las cosas vuelven. El animismo de la infancia, por ejemplo. Recuerdo un bol con arvejas, yo pensaba que cada arveja tenía una personalidad distinta. O una cosa sobrecogedora que me pasó cuando tenía seis años, la primera vez que fui al cine de noche. Había visto dos o tres películas antes, películas de Disney, y de pronto, en 1953, fui a ver La guerra de los mundos. Ahí estaba yo, un niñito estúpido que creía en Dios y en su poder bondadoso y entonces vienen los marcianos y comienzan a exterminar a los seres humanos.
-¿Iba con sus padres?
-No recuerdo, ese es el punto, sólo recuerdo que estaba allí. Debió de haber sido con mis padres. Y claro, los terrícolas están muy asustados y se defienden y atacan a los marcianos, pero las armas no sirven para nada. Uno de los protagonistas es un ministro, un hombre de Dios, que les dice que se equivocan, que no luchen, que sólo son criaturas como nosotros y va hacia una de las naves espaciales diciendo que no se enojen, que Dios los ama. Y los marcianos salen y lo eliminan. O sea que Dios no tiene efecto sobre el demonio.
-Eso fue una crisis de fe...
-No sé si alguna vez me recuperé.
-¿Y quién le habló de Dios?
-No recuerdo, mi madre debió de haberme dicho que había un Dios, y que estaba en todas partes. En fin, ahora estoy escribiendo esto, veamos si lo puedo sostener, puede que no termine nunca, no lo sé, pero lo voy a intentar.
-Algo llamativo en el libro es que no habla sobre su escritura, ni cuándo empezó.
-En este libro que estoy escribiendo ahora voy a hablar sobre la decisión de convertirme en escritor. Tampoco hay mucho en realidad, apenas la determinación de hacerlo, cuando era joven.
-Lo que aparece aquí es el relato de un “epifánico momento de claridad”, cuando usted vuelve a escribir y empieza a ser quien es hoy. ¿Cada libro tiene su momento epifánico? ¿Usted puede convocarlo?
-No, no puedo convocarlo. Finalmente aprendí, y ya tenía 31 años y había estado escribiendo mucho tiempo, que tenía que cambiar mi acercamiento a la escritura. Aprendí a dejar las cosas ir. Antes de eso, me imponía mucha presión, todo tenía que tener doble, triple, cuádruple significado. Estaba trabajando demasiado duro, creo, y esta experiencia, esta epifanía, como la quieras llamar, me permitió relajarme y confiar en mi instinto. Antes era demasiado consciente. Construía cosas por adelantado, en vez de ir descubriéndolas. Aún estoy en eso.
Pasa el rato, baja la copa, el café de Brooklyn se va llenando y acá ya se olvidaron de que hay un escritor famoso haciendo una entrevista, así que la música sube de nuevo y por la puerta que da al fondo, junto a la que ocurre esta charla, dos muchachos entran y salen, mueven cosas pesadas, inyectan aire frío en el salón. El cuerpo, escribió este señor, es donde todo empieza y donde todo termina.
“Sin duda eres una persona precaria y dolida, un hombre que lleva una herida en su interior desde el principio mismo (¿por qué, si no, te has pasado toda tu vida adulta vertiendo palabras como sangre en una hoja de papel?).”
-¿Cuál es esa herida original?
-Creo que alguien se convierte en artista, particularmente en escritor, porque no está del todo integrado. Algo está mal en nosotros, sufrimos por algo, es como si el mundo no fuera suficiente, entonces sentís que tenés que crear cosas e incorporarlas al mundo. Una persona saludable estaría contenta con tomar la vida como viene y disfrutar la belleza de estar vivo... no se tiene que preocupar por crear nada. Alcanza con hacer un trabajo interesante, amar a alguien, comer buena comida, vivir todo lo que se pueda, morir. Esa parece una linda forma de vivir. Otros, como yo, estamos atormentados, tenemos una enfermedad, y la única manera de soportarla es haciendo arte. Es decir, si estoy haciendo esto, es porque algo está mal. ¿Qué es lo que está mal? Difícil decirlo porque estas heridas se producen cuando sos muy joven.
-¿Existe la posibilidad de despertarse y pensar que ya no tiene que escribir más?
-Me encantaría, ya escribí un montón de libros, así que todo lo que haga ahora va a ser muy importante para mí. Si muero hoy, ya he dejado muchas cosas.
-Aquí usted dice que estuvo casi siempre enamorado. ¿Cómo sabe cuándo está enamorado?
-Lo sentís, es una emoción, no lo decidís.
-¿Cómo se expresa?
-¿Cómo se expresa el amor? Es un deseo, deseo de estar con esa persona, es una especie de encantamiento con esa persona. Y también un deseo físico tremendo.
-¿Y cómo cambia eso según pasa el tiempo?
-He pasado la mitad de mi vida con Siri, 31 años juntos. Y cuando miro hacia atrás, veo que seguimos evolucionando, que las cosas siguen cambiando. Lo más gracioso después de haber estado con alguien durante tanto tiempo es que terminás tan ligado emocionalmente, mentalmente, que muchas veces sabés exactamente lo que el otro va a decir. Por ejemplo, el año pasado, volvimos a tener la misma respuesta ante algo. Sacamos a colación la misma historia para describir algo. Y me di vuelta y dije: “Si viviéramos juntos durante cien años, seríamos la misma persona”.
-¿Todavía siente ese enorme deseo?
-Sí, lo confieso.
(Tus manos) “han recorrido toda la piel desnuda de tu mujer y encontrado el camino hacia cada parte de su ser. Ahí es donde son más felices, crees tú, desde el día en que la conociste ahí es donde han sido más felices porque, parafraseando un verso del poema de George Oppen, algunos de los sitios más hermosos del mundo están en el cuerpo de tu mujer.”
-Eso es una bendición.
-Sí, soy un hombre con suerte, pero ella es una mujer extraordinaria. Nunca deja de sorprenderme. Es la persona más inteligente que he conocido y es una gran escritora y una gran pensadora. Es una aventura, siempre hay algo nuevo de qué hablar.
-¿Eso es más importante que la parte erótica de la relación?
-La parte erótica es muy importante, pero no es... ya no es como cuando nos conocimos, nos hacemos mayores al fin y al cabo... no podés hacer las cosas que hacías antes, todavía podés hacerlo pero... no diré más sobre el tema.
-Esto de reencontrar las mismas anécdotas nos hizo pensar en su obra. ¿La piensa como un todo, un gran texto?
-Creo que todo está conectado, aunque cada vez trato de escribir un libro nuevo, hacer un nuevo acercamiento. Repienso todo. Pero después seguís descubriéndote a vos mismo. No podés escapar. Así que sí, creo que todo es parte del mismo proyecto incompleto. Sea cual sea ese proyecto.
-¿Intenta un nuevo acercamiento a qué?
-Supongo que a mis sentimientos sobre el mundo.
En Diario... Paul Auster se instala en la vida a través de sus casas. Como cuenta la historia de sus heridas, cuenta la de sus casas. Empezando por “1. Calle South Harrison, 75; East Orange, Nueva Jersey. Un apartamento en un edificio alto de ladrillo. Edad, de 0 a 1 y 1/2 ”. Contando qué pasó en cada casa, se despliega la biografía.
-¿La lista sirvió para recordar?
-No había olvidado nada. Podría haber agregado más lugares, pero incluí aquellos donde pasé un año por lo menos. No podía recordar las direcciones de las casas donde vivíamos cuando era un bebé, nunca supe las dos primeras direcciones, pero entonces no sé, buscando algo, encontré mi libro de bebé, que mi madre había escrito, y ahí estaba todo. Esto tiene que ver con la manera en que encaré este trabajo: mi cuerpo a la intemperie, mi cuerpo adentro, protegido. ¿Dónde me guarecí? Haciendo la lista de mis casas puedo contar detalles de lo que pasé.
-Usted no tiene nada que ver con las computadoras, usa una máquina de escribir, pero sabrá que hoy se puede entrar en Internet, poner una dirección...
-¿Y ver la casa?
-Nosotros lo hicimos. Vimos la casa en Nueva Jersey…
-Oh, oh.
-La casa, el barrio, se puede dar una vuelta...
-Bueno, qué interesante, yo no hago esas cosas, ni tengo computadora, pero en fin, yo di las direcciones, quien quiera puede ir y ver las casas. De última, qué importan, hay que vivir en alguna parte. Ahora tengo ganas de ir a ver la casa donde viví la mayoría de la infancia, entre los 5 los 12. Supongo que lo haré en marzo, con un amigo. Pero sólo voy a pasar, no voy a llamar a la puerta, no quiero entrar.
“Irving Avenue, 253; South Orange, Nueva Jersey. Una casa de madera de dos plantas construida en el decenio de 1920, con la puerta principal amarilla, camino de entrada de grava y gran jardín. (...) Empezaste a vivir allí hace tanto tiempo que durante los primeros dos años repartían leche en un carro tirado por un caballo.”
Los de esa casa son los días anteriores a “los tormentos de la adolescencia”, que vendrán en la próxima, y a la separación de los padres. La última casa en la que entraron los cuatro juntos (Auster tiene una hermana) y salieron juntos.
-Es amarga la mirada sobre su padre en “La invención de la soledad”. Y acá no lo es tanto. ¿Cambió su forma de verlo?
-No mucho, pero siento mucha compasión por él, entendí sus problemas, las tragedias de la vida que lo hicieron quien era, simplemente no lo culpo. Una de las entradas del nuevo libro serán todos los sueños que tuve con él. Hablo con él muchas noches, nos sentamos en la habitación a charlar.
-¿De qué?
-Nunca, nunca puedo recordar de qué hablamos.
-¿Ahora que tiene dos hijos, cambió su idea de qué es un padre?
-Nunca he tenido una idea de qué es un padre, sos lo que sos y lo hacés lo mejor que podés. Además, cada chico es diferente, unos son sensibles, otros son tan duros que aunque los golpees no te van a hacer caso, no sé cuál es la regla, es un trabajo duro.
-¿Qué le dieron sus padres?
-Como trato de expresar en el libro, mi madre me dio un amor muy intenso. Quizás todo lo bueno que hay en mí vino de ella.
-¿Qué hay de bueno en usted?
-Soy amable, no busco peleas, trato de ser un buen amigo, un buen marido, trato de pensar en los demás antes que en mí, soy perseverante, hago bien mi trabajo y trato de tener una postura ética en la vida y de mantenerla. Claro que me equivoco todo el tiempo, pero hago lo mejor que puedo; eso viene de mi madre.
“Era quien te acostaba, quien te enseñó a montar en bicicleta, la que te ayudaba con tus lecciones de piano, con quien te desahogabas, la roca a la que te aferrabas cuando los mares se encrespaban.”
-De mi padre no sé, creo que la perseverancia también porque a él realmente no le importaba lo que pensara la gente, podía comportarse muy mal algunas veces y le daba lo mismo cómo reaccionaban los demás. Hay algo admirable en eso.
Auster llegó a esta charla hablando de política. Antes de sentarse casi, antes de pedir el primer vino, habló de Turquía. Un par de días antes había dicho que no iría a Turquía a presentar Diario... porque allí había escritores y periodistas presos. Que no es, dijo, un país democrático. El primer ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, le contestó criticando que hubiera ido a Israel sin ver “la represión y las violaciones a los derechos” en ese país. Cuenta el incidente, dice que ya ha dicho todo lo que tenía para decir.
Auster estuvo siempre atento a la política. Desde que a los dieciséis años se fue a Washington para el funeral de Kennedy: “(...) pero lo que te encontraste aquella tarde fue una turba de curiosos y mirones bulliciosos, gente subida a los árboles con cámaras, empujando unos a otros para quitarles sitio y ver mejor.”
O cuando participó de sentadas en la universidad y la policía lo sacó a patadas y de los pelos.
Aquí, en Diario de invierno, encuentra libros nazis en una de las casas a las que se muda. Y los tira a la basura.
-¿Cuándo empezó a tener conciencia política? ¿Ser judío tuvo algo que ver con eso?
-Nací justo después de la Segunda Guerra, crecí a su sombra, el nazismo estuvo presente en mi infancia, en mi imaginación de chico diría, así que no sé cuándo supe que era judío, cuándo entendí lo que era ser judío, pero probablemente muy temprano, a los 5 o 6 años. Sabía que había una diferencia entre “ellos” y “nosotros”, ¿no? La conciencia política llegó pronto. A los 10, 11 años estaba atento a las injusticias de la sociedad americana, seguía de cerca los temas de Derechos Humanos, estaba muy interesado en las cuestiones de la esclavitud. Me acuerdo a los 13, cuando Kennedy peleaba por la presidencia. Estaba muy entusiasmado con Kennedy, había pasado toda mi vida bajo Eisenhower. Kennedy era tan joven, fresco, tan emocionante, yo solía ir a las oficinas de la campaña y agarraba todos los carteles y los ponía en mi habitación: estaba cubierta con pósteres de Kennedy.
-¿Cómo vivió con Bush?
-Muy mal... y el país no se ha recuperado, va a llevar 20 años deshacer lo que él hizo, y sólo han pasado tres. Y los republicanos no quieren hacer nada, su única misión es destruir a Obama. Bush fue una pesadilla. Creo que debería estar preso, porque es un criminal, y también Cheney: deberían estar presos toda la vida.
-¿Pensó en irse del país?
-No, sólo pensé que vivir iba a ser peor. Trato de luchar desde aquí, soy muy activo en el Pen Club y estoy muy involucrado en el tema de la libertad de expresión, que es de lo que se trata este tema con Turquía. Ahora, espero que pierdan los republicanos en noviembre, porque si alguno de esos ignorantes llega a tener poder, vamos a retroceder 40 años.
-¿Dónde hay que mejorar?
-En infraestructura: el país está al borde del colapso. Tienen que subir los impuestos para los ricos, hace falta un nuevo plan de salud. Confío en que Obama va a ganar, porque los otros son idiotas hasta un grado que es difícil de expresar, si tienen que ir a la campaña nacional se van a exponer y se va a ver lo idiotas que son.
No para: Auster tiene mucho que decir: que el racismo existe pero un poco menos, que cuando era chico no había ley a favor del aborto ni plan de salud y eso ahora está, en fin. El grabador se apaga, Auster pide una botella de vino blanco para los cuatro –también está la fotógrafa– y luego otra. Volvemos a Turquía y así corre la tarde: siguiendo la tradición que los tiene unidos desde hace siglos, tres judíos –el que no lo es guarda prudente silencio– discuten sobre Israel y Palestina en un café que podría estar en Bolonia, en Buenos Aires, en Alejandría, en Praga, pero esta vez está en Brooklyn. “En Israel no hay periodistas presos”, argumenta Auster.
Es él, por supuesto, el que marca el final, cuando mira el reloj y saluda y sale. Dentro de siete horas tendrá 65 años.
“Se ha cerrado una puerta. Otra se ha abierto.
Has entrado en el invierno de tu vida.”
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Lei obriga Livrarias em Pernambuco a ter cota mínima de autores pernambucanos
Notícia reproduzida, aqui via café Colombo, valoriza autores pernambucanos, o que é de suma importância, face ao imperialismo dos grupos livreiros do país, caso da Siciliano que não segue tais regras.
É necessário democratizar o conhecimento, a literatura, sem privilégios de editoras e grupos de varejo livreiro.
Minha experiência ao visitar cidades, no Brasil, demonstra que há um preconceito pelo autor local, regional, o que determina um falso nacionalismo, e álibis de vender os melhores .
O mundo editorial ditam os melhores peo marketing cultural em demanda em mídias impressas, caso da Veja, da última semana que divulga em capa a bra do adre Marcelo Rossi.
Afora isto,as próprias livrarias recusam nomes regionais em gêneros diversificados como prosa, poesia conto etc...
Paulo Vasconcelos
Cota para livro local?
Pois é amigos. É cota disso e daquilo. Pois agora, o Recife, por iniciativa dos vereadores (que, pelo que eu fiz de coberturas lá, não são de muitas leituras. Embora há excessões, incluindo o próprio autor da lei e a vereadora Priscila Krause) possui uma lei que obriga as livrarias a possuírem uma cota de autores pernambucanos e nordestinos!
Como diz o texto de divulgação da assessoria de Daniel Coelho (PV):
A Lei nasceu de uma parceria entre o Movimento em Defesa do Livro Pernambucanos, liderado pelo escritor e professor Jacques Rimbeboim; a Academia Pernambucana de Letras, através do presidente Valdênio Porto; o Presidente da União Brasileira dos Escritores – Seccional Pernambuco, Vital Correia; e o Vereador Daniel Coelho (PV).
O Projeto de Lei, elaborado por Daniel Coelho, levou dois anos para ser definitivamente transformado em Lei. No início, a proposta foi aprovada por unanimidade na esfera legislativa. Ao chegar nas mãos do prefeito, no entanto, a matéria foi vetada. Mesmo assim, a Câmara manteve seu posicionamento inicial e derrubou o veto enviado pelo prefeito, nesta terça-feira (28). Assim, a matéria foi transformada em Lei.
A Lei estabelece que as livrarias terão que destinar 5% da totalidade de seus títulos para autores pernambucanos (2,5%) e nordestinos (2,5%). Com isso, os escritores terão melhores condições para exibir seus trabalhos. Além disso, a população terá mais acesso a toda a riqueza de nossa cultura literária.
É necessário democratizar o conhecimento, a literatura, sem privilégios de editoras e grupos de varejo livreiro.
Minha experiência ao visitar cidades, no Brasil, demonstra que há um preconceito pelo autor local, regional, o que determina um falso nacionalismo, e álibis de vender os melhores .
O mundo editorial ditam os melhores peo marketing cultural em demanda em mídias impressas, caso da Veja, da última semana que divulga em capa a bra do adre Marcelo Rossi.
Afora isto,as próprias livrarias recusam nomes regionais em gêneros diversificados como prosa, poesia conto etc...
Paulo Vasconcelos
Cota para livro local?
Pois é amigos. É cota disso e daquilo. Pois agora, o Recife, por iniciativa dos vereadores (que, pelo que eu fiz de coberturas lá, não são de muitas leituras. Embora há excessões, incluindo o próprio autor da lei e a vereadora Priscila Krause) possui uma lei que obriga as livrarias a possuírem uma cota de autores pernambucanos e nordestinos!
Como diz o texto de divulgação da assessoria de Daniel Coelho (PV):
A Lei nasceu de uma parceria entre o Movimento em Defesa do Livro Pernambucanos, liderado pelo escritor e professor Jacques Rimbeboim; a Academia Pernambucana de Letras, através do presidente Valdênio Porto; o Presidente da União Brasileira dos Escritores – Seccional Pernambuco, Vital Correia; e o Vereador Daniel Coelho (PV).
O Projeto de Lei, elaborado por Daniel Coelho, levou dois anos para ser definitivamente transformado em Lei. No início, a proposta foi aprovada por unanimidade na esfera legislativa. Ao chegar nas mãos do prefeito, no entanto, a matéria foi vetada. Mesmo assim, a Câmara manteve seu posicionamento inicial e derrubou o veto enviado pelo prefeito, nesta terça-feira (28). Assim, a matéria foi transformada em Lei.
A Lei estabelece que as livrarias terão que destinar 5% da totalidade de seus títulos para autores pernambucanos (2,5%) e nordestinos (2,5%). Com isso, os escritores terão melhores condições para exibir seus trabalhos. Além disso, a população terá mais acesso a toda a riqueza de nossa cultura literária.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
O CASARÃO DAS ROSAS PERDE SUA VIZINHA
Na surdina dos feriados,o capital imobiliário paulista destruiu a história de São Paulo .
A casa entre a casa das Rosas e o Sesc foi abaixo,ninguém viu, ninguém percebeu,mas a avenida ficou mais nua.
A história foi faqueada e o poder do capital subirá em Torres .
Este é o destino de uma cidade que tem o prefeito omisso a história.
Cai por terra mais um pedaço da cidade, o capital ,como sempre,vence!
Caiu, ninguém viu ninguém chorou mas era carnaval!!!!!!!!!!
domingo, 19 de fevereiro de 2012
CARNAMÍDIA
Neste número recente da Revista Brasileiros tratei na coluna Palavra de Brasileiros da Mídia e o Carnaval.Um Carnaval espetáculo que tomou o lugar do carnaval popular participativo, como ainda ocorre em Olinda, Recife, Santa Catarina, dos centros maiores, entre outros, afora claro cidade como São Luis do Paraitinga-SP e o interior de Minas, por exemplo.
Mas o que a mídia Televisiva faz é discorrer sobre os carnavais espetacularizados tipo broduei em que é algo fechado, pago, e puro espetáculo para as redes venderem mundo afora.
Neste Carnaval , do Rio, destacadamente, o tema primordial foram estados do Nordeste e figuras da Cultura popular de lá, mas isto é desculpa para mostrar um lado popular,enquanto tema, mas que não resgata a participação popular, ou seja, o povo não entra em passarela, é negócio .
De modo diferente, temos O Galo da Madrugada(REC PE) e O Cordão do Bola Preta,(RJ) aonde o povo esta nas ruas e não se paga, onde o espetáculo é a massa .
A mídia tenta nos enganar com esta espetacularização.
Por outro lado há os que não curtem o Carnaval e descem para o litoral, ou interior como dizemos paulistas; e os que aqui ficam não tem opção de ter eventos.
O estado do Ceará, e Pernambuco preparou eventos paralelos em música nas regiões serranas do estado para atrair um público que não quer o carnaval estereotipado.
No Ceará, no carnaval, o jazz e o blues vão compor a trilha sonora de milhares de pessoas em Guaramiranga, no Ceará. Distante cerca de 123 km de Fortaleza, a cidade serrana está localizada sobre o maciço de Baturité, a 865 metros de altitude.
Ravi Coltrane (EUA) se apresentará com Gadi Lehavi (Israel) | foto: John Rogers
Em sua 13ª edição, o Festival Jazz & Blues de Guaramiranga, no Ceará, divulgou as atrações de 2012. Durante quatro dias (de 18 a 21/02), Guaramiranga vai receber músicos de Cuba, Israel, Estados Unidos, Bélgica, Argentina e Brasil, que se apresentarão nos palcos e praças da pequena cidade cearense. A organização do evento prevê um público de 12 mil pessoas durante o período momino.(http://bit.ly/bUHtqH)
Em Pernambuco, Garanhuns faz Jazz Festival com figuras tais como: Stéban Sumar (Chile), Tico Santa Cruz (RJ) e Andreas Kisser (SP), com Uptown Band (PE), Magic Slim (EUA), com Blues Special Band (Argentina) e Big Time Orchestra (PR).
Temos ai uma cultura mesclada, que atende a população, será que São Paulo, não desce do seu altar mor e copia as coisas boas do Nordeste , afinal tudo é Brasil.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
M E L.. D A .. P A L A V R A: Cato vento
M E L.. D A .. P A L A V R A: Cato vento: Outro dia encontrei um poeta,famoso,dizem, Perguntei:o o que é ser poeta? Disse-me ele:nada! Sou,sou um homem que cata ventos,no tempo, quan...
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
BRANQUIAMENTO -Sua rodinha,seus brancos, também é de cor!!!! Sabia?
Nega e nego do cabelo duro,espichado,colorido o pente que te penteia é o pente do calor,das sombras das árvores,brasileiras que restam.
É o pente de ouro que tu ajudaste a cavar o ouro para o país e sobretudo para Europa.
É o pente que arruma o cabelo desarrumado pelo canavial,espetado por pelos da CANA DE AÇÚCAR, que os senhores de engenho de Sampa e Pernambuco plantaram e roubaram o lucro de nós e boicota o etanol.
O teu pente fica junto com o espelhinho de bolso dos times brasileiros e que nós colocávamos e colocamos no bolso traseiro,assentando nossa bunda grande de nego e nega brasileira sinsinhô, sobre ele e na cadeira.
E que conversa é essa de BRANQUIAMENTO,desde a transamazônica ao desemprego agora de uma Europa falida que comeu nosso bagulho de preço e agora quer mandar branco para estar empregado na PETROBRÁS,enquanto se dá as costas aos nossos negros haitianos, que conversa do além é esta?
Branco europeu que pegar em maquina digital, servir a foxcom, mas não carrega o lixo dela,nem o esgoto de Sampa,coisa feita na maioria por nós negros ,mulatos, morenos,do pauzão,pauzinho ou grossinho -ficamos noites a fio ganhando ninharia e doença e que madama do morumbi, ipanema, alphavile e higienópolis e, e digo mais os donos de Hyundai não respeita o carro do lixo , onde estamos colhendo a merda, a camisinha e obs das filhas periguetes, pois estamos a empatar o trânsito.
Sua rodinha,seus brancos, também é de cor!!!! Sabia?
Para de branquear pois tua roda não é branca nem nos EUA,NEM PARIS,NEM NA TERRA DA MERKEL E DO DECADENTE JUAN CARLOS DE SPAIN FALIDA,FECHA-TE e calate teus cus.
É o pente de ouro que tu ajudaste a cavar o ouro para o país e sobretudo para Europa.
É o pente que arruma o cabelo desarrumado pelo canavial,espetado por pelos da CANA DE AÇÚCAR, que os senhores de engenho de Sampa e Pernambuco plantaram e roubaram o lucro de nós e boicota o etanol.
O teu pente fica junto com o espelhinho de bolso dos times brasileiros e que nós colocávamos e colocamos no bolso traseiro,assentando nossa bunda grande de nego e nega brasileira sinsinhô, sobre ele e na cadeira.
E que conversa é essa de BRANQUIAMENTO,desde a transamazônica ao desemprego agora de uma Europa falida que comeu nosso bagulho de preço e agora quer mandar branco para estar empregado na PETROBRÁS,enquanto se dá as costas aos nossos negros haitianos, que conversa do além é esta?
Branco europeu que pegar em maquina digital, servir a foxcom, mas não carrega o lixo dela,nem o esgoto de Sampa,coisa feita na maioria por nós negros ,mulatos, morenos,do pauzão,pauzinho ou grossinho -ficamos noites a fio ganhando ninharia e doença e que madama do morumbi, ipanema, alphavile e higienópolis e, e digo mais os donos de Hyundai não respeita o carro do lixo , onde estamos colhendo a merda, a camisinha e obs das filhas periguetes, pois estamos a empatar o trânsito.
Sua rodinha,seus brancos, também é de cor!!!! Sabia?
Para de branquear pois tua roda não é branca nem nos EUA,NEM PARIS,NEM NA TERRA DA MERKEL E DO DECADENTE JUAN CARLOS DE SPAIN FALIDA,FECHA-TE e calate teus cus.
sábado, 21 de janeiro de 2012
Recife x Bahia e Carnaval
O carnaval baiano já foi um grande carnaval,culturalmente falando,engajado com suas raízes e com seu povo, como foi o do Rio.Hoje degringolou e o capitalismo midiático,claro,apoiado pela indústria-anunciante,comeu suas raízes e o povo,que apenas olha, e não ultrapassa os cordões dos ABADAS,e faz broduei,como a coca fez o suco de caju cair do pé e deixou enganar as novas gerações.
Em Recife,o grande baiano Antonio Risério,grande crítico da mutação carnavalesca baiana foi convidado para opinar sobre a cidade e seu Carnaval,defendo seus frevos e maracatus.
Beth Carvalho,convidada este ano por Recife será que vai puxar o maracatus de dona Santa ou o samba de Cartola?
O que será,que será,que o João do PT e o governador de PE tramam?
Estão com medo do cordão do Bola Preta do Rio?
Sabe-se das disputa entre o GALO DA MADRUGADA E O CORDÃO DO BOLA PRETA.
Em Recife,o grande baiano Antonio Risério,grande crítico da mutação carnavalesca baiana foi convidado para opinar sobre a cidade e seu Carnaval,defendo seus frevos e maracatus.
Beth Carvalho,convidada este ano por Recife será que vai puxar o maracatus de dona Santa ou o samba de Cartola?
O que será,que será,que o João do PT e o governador de PE tramam?
Estão com medo do cordão do Bola Preta do Rio?
Sabe-se das disputa entre o GALO DA MADRUGADA E O CORDÃO DO BOLA PRETA.
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
ORLANDO TEJO
Hoje, visitando o Recife, e revendo o Clube Náutico, no Café Delta, e estando com o genro-(Jornalista Antonio Martins) do grande paraibano, ORLANDO TEJO,lembrei-me da minha adolescência, e da valorização da palavra brasileira no pensamento de Tejo, um homem a frente de seu tempo, e da validação das nossas diferenças, o que nos faz mais ricos.
Um poeta que nos trouxe um outro grande poeta, ZË LIMERIA-vide livro-O poeta do Absurdo-.
Saudades deste homem de fibra que enfrentou o preconceito e desvelou os recônditos da palavra dos poetas, tidos como marginais, e que no entanto, são o sangue de uma nova língua.
Aproprio-me aqui de Ricardo Meira que já o lembrou.
COLADO DE RICARDO MEIRA
No ramo da propaganda e em outras áreas profissionais como: informática e administração, o exagero no uso de estrangeirismos é uma pratica recorrente, principalmente, por aqueles consultores empolados que sempre usam o mesmo tipo de paletó, corte de cabelo e vocabulários repletos de termos em inglês, desnecessários, diga-se de passagem.
Esta prática não é recente, o poeta campinense, Orlando Tejo, autor do famoso livro “Zé Limeira: o poeta do Absurdo”, trabalhou um tempo como redator da Fregapane & Associados, uma agência de publicidade do Recife. Aborrecido e indignado com aqueles que insistem em vilipendiar a língua portuguesa, escreveu, de improviso, um bem humorado poema, que, embora tenha sido escrito em 1979, ainda está bastante atual.
NÃO AGUENTO MAIS.
Eu saí da Paraíba,
Minha terra tão brejeira,
Pra fazer publicidade
Na Veneza Brasileira
Onde a comunicação
É toda em língua estrangeira.
É uma ingrizia só
O jeito de se falar,
O que a gente não compreende,
Passa o tempo a perguntar
E assim como é que eu vou
Poder me comunicar?
É bastante abrir-se a boca
O “inglês” fala no centro,
Nessa Torre de Babel
Eu morro e não me concentro…
Até parece que estamos
De Nova Iorque pra dentro!
Lá naquele fim de mundo
Esse negócio tem vez
Porque quem vive por lá
O jeito é falar inglês,
Mas, se estamos no Brasil
O jeito é falar Português!
Por que complicar a guerra
Em vez de se esclarecer?
E se “folder” é um folheto
Por que assim não dizer?…
Pois quem me pedir um “folder”
Eu vou mandar se folder.
Roteiro é “story board”
Nesse vai e vem estrangeiro,
Parece até palavrão
Que se evita o tempo inteiro...
Porque seus filhos das putas,
A gente não diz roteiro?
Estão todos precisando
Dos cuidados do Pinel
Será feia a nossa língua?
É chato nosso papel?
Por que esse tal de “out door”
Substituir painel?
É desrespeito à memória
De Camões que foi purista
E esse massacre ao vernáculo
Não aguenta o repentista
Pois chamam “lay out-man”
O homem que é desenhista!
Matuto da Paraíba,
Aqui juro que não fico,
Onde até se tem vergonha
De um idioma tão rico...
Por que se chamar de “free-lancer”
Um sujeito que faz bico?
Publicidade de rádio
Apelidaram de “spot”
E tem outras besteiradas
Que não cabem num pacote.
Acho que acabou o tempo
De acabar esse fricote!
Por exemplo: “body type”
“Midia”, ”top”, “merchandising”,
“Checking list”, “past up”
(Que se diga de passagem)
“Briffing”, “Top de Marketing”,
Tudo isso é viadagem!
Já é hora de parar
com esse festival grosso
Para que o nosso idioma
Saia do fundo do poço.
Para isso eu faço esse “raff”,
Isto é –perdão ! – esboço!
Nota: o texto acima foi baseado em informações obtidas do site http://www.luizberto.com, cujo autor é amigo de Orlando Tejo e costuma escrever causos do poeta de Campina Grande.
POSTADO POR RICARDO MEIRA ÀS 22:50
MARCADORES: NORDESTE, POESIA MATUTA
sábado, 7 de janeiro de 2012
Paraíba :patrimônio brasileiro com grande herança da Holanda
É preciso rever a política do Patrimônio histórico do Brasil e seus estados, João Pessoa, ou Felipéia, ou Frederica com marcas profundas da herança holandesa, desde o conjunto arquitetônico, pontes casarios, a gastronomia.Todavia falta preservação como em todo país,é urgente necessário gritarmos tomar atitudes,explicitar atitudes quanto a este patrimônio inavaliável.O governo federal precisa olhar mais para esta capital e dividir os olhares ,não só com PÉ ,mas com a PB!
O conjunto de praias da cidade é de uma verdadeira Polinésia. holandesa, linda.!!!!!!!!!!!!
O monumento em homenagem a a Ariano ,nem todos conhecem, é lindo,fica na Lagoa,centro da cidade de. JP.
A Holanda não está só no Recife, a capitania de Pernambuco avançava por terras além de pernambuco e portanto da vizinha Paraíba, lugar onde M. de Nassau esteve escondido, na cidade do Conde, e que as pessoas desconhecem que este conde é o próprio Mauriciu de Nassau.
O conjunto de praias da cidade é de uma verdadeira Polinésia. holandesa, linda.!!!!!!!!!!!!
O monumento em homenagem a a Ariano ,nem todos conhecem, é lindo,fica na Lagoa,centro da cidade de. JP.
A Holanda não está só no Recife, a capitania de Pernambuco avançava por terras além de pernambuco e portanto da vizinha Paraíba, lugar onde M. de Nassau esteve escondido, na cidade do Conde, e que as pessoas desconhecem que este conde é o próprio Mauriciu de Nassau.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
O tempo é um sujeito gago
É assim que falo com meu bicho-eu-e com meu bico mesmo, BOM DIA este novo tempo que se diz em gráfico numérico 2012.
Passando por estes dias em minha terra PB, não me conheço bem muito menos esta terra, dita a minha capital.Mas. como dizia um autor do meu tempo-V de Carvalho- O tempo é um sujeito gago, é preciso ter paciência para entender as verdades que ele diz-assim vou me engolindo para entender os goles do tempo.
O tempo, não é breve, breve somos nós que construímos a tudo dentro de uma brevidade inteiriça e assim nos deleitamos sem vigiar as porteiras que nem abrimos nem fechamos, criamos.Criamos a nós como gigantes, pobre gigantes,adormecidos,a foto nos mostra isso.Corroendo a tudo a física nos come, e assim dizemos ser o tempo, pobre de nós.
Não há partidas, nem chegadas, há criação desta loucura que somos.
Mas vejo a praia de Tambaú PB, e vejo que o tal do tempo físico é imperdoável, aliás se é que ele é isto ou seu contrário, mas é física e a isto não escapamos, e nascer ou morrer é físico, orgânico e não tem erro, somos terra.
Bem- Vindo física de um novo tempo que derrubastes minhas Gameleiras,mas deixastes na memória, por um tempo, so por um, mas por enquanto sim .
Bom dia FELIPËIA PARAHYBANA que além da física os homens, te delapidaram e te apelidaram de João Pessoa.
Passando por estes dias em minha terra PB, não me conheço bem muito menos esta terra, dita a minha capital.Mas. como dizia um autor do meu tempo-V de Carvalho- O tempo é um sujeito gago, é preciso ter paciência para entender as verdades que ele diz-assim vou me engolindo para entender os goles do tempo.
O tempo, não é breve, breve somos nós que construímos a tudo dentro de uma brevidade inteiriça e assim nos deleitamos sem vigiar as porteiras que nem abrimos nem fechamos, criamos.Criamos a nós como gigantes, pobre gigantes,adormecidos,a foto nos mostra isso.Corroendo a tudo a física nos come, e assim dizemos ser o tempo, pobre de nós.
Não há partidas, nem chegadas, há criação desta loucura que somos.
Mas vejo a praia de Tambaú PB, e vejo que o tal do tempo físico é imperdoável, aliás se é que ele é isto ou seu contrário, mas é física e a isto não escapamos, e nascer ou morrer é físico, orgânico e não tem erro, somos terra.
Bem- Vindo física de um novo tempo que derrubastes minhas Gameleiras,mas deixastes na memória, por um tempo, so por um, mas por enquanto sim .
Bom dia FELIPËIA PARAHYBANA que além da física os homens, te delapidaram e te apelidaram de João Pessoa.
domingo, 1 de janeiro de 2012
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Altamiro Borges: O chilique do historiador tucano
Altamiro Borges: O chilique do historiador tucano: Por Altamiro Borges O historiador Marco Antonio Villa, que goza de generosos espaços na mídia (Globo, Cultura, Estadão e outros), nunca es...
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
RECIFE MANTÉM -NO NATAL-A SALVO SUA CULTURA MESMO JUNTO COM TECNOLOGIA
Recife é exemplo de cidades que convivem com a manutenção de sua cultura popular juntando-se a alta tecnologia eltetrônica/digital,uma se aglutina a outra sem ofuscar-se, isto nos alegra, pois é prova que uma não se opõe a outra, que aprendam os grandes centros como São Paulo que copia os EUA, numa capangagem alienista dos poderes públicos e privados dos grandes bancos.
Aprendam"
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
O NATAL COMO UM DIA QUALQUER E ANO NOVO IDEM
Talvez a data nos sirva para pensarmos, meditarmos,como estamos o que somos e para onde estamos indo.
Pro princípio somos todos iguais, na humanidade, diferentes pela briga extenuante do capitalismo e o poder nele que cresce, como erva daninha, mas estamos sobre ela e ele claro..
Pensemos, como seres que tem vida curta, breve, e que precisamos de todos, que necessitamos de todos, sem que com isso não resguardemos nossos direitos, de pessoa.
De todo modo como dias novos desejo bons dias.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
HOMOFOBIA A INSTITUIÇÃO DE UM PERVERSO SOCIAL
Fico me perguntando do porquê de um síndrome das ações de HOMOFOBIA ,caso agora espalhando-se em Goiânia .
Será que o conluio das ditas Igrejas HOMOFÓBICAS dentro do seu cenário do PERVERSO não está por trás disto,desta proliferação de tais ações
As famílias caretas estimulam isto, por calar-se, as igrejas não se posicionam,sobretudo aquelas da porção HOMOFÓBICAS.
E agora?
Só nos resta denunciar pressionar o poder que baixou a cabeça diante da lei que puniria o preconceito; e mais ir as ruas e gritar,escandalizar,
pois maior escândalo é a sociedade viver no temor dos perversos engavetados,ou sofrer danos físicos, morais e não ter resposta da justiça com rapidez e a devida eficiência.
É conclamar escolas,universidades e o povo em geral para dar fim a esta escabrosa receita de preconceito que aflige uma sociedade que pasmou com revoluções sexuais, mas não desmoronou a panacéia moral dos falsos novos.
Tinha razão o saudoso Hitchens em falar o que falou da Igreja.
Que deus é esse estreito?
Onde está a Roma e seu palhaço, que não acorda para o sexo?
Que igreja é esta que promove genocídios de HIV por ser contra o preservativo e no entanto vários de seus componentes sucumbem e sucumbiram ao HIV.
Basta, de fazer sexo escondido, homo ou hetero.
E afinal se é como diz a louca afirmativa que o hetero e o homo são escolhas e gerados pela família,então é no botão da genitália hetero que cresce e se formata o homossexual?
Abaixo o falso moralismo, que admite sexo entre os iguais nas brincadeiras dos machos ,das mocinhas moçoilas e senhorase em finais de semana semana, no vestuário dos clubes,nas escolas, universidades, nos carros em locais ermos, ou nos motéis afastados e nas férias ditas a negócio, nos provadores de roupa lingerie, nos filmes heteros que acatam a homossexualidade feminina, nos treinos dos esportes, no roça roça debaixo da mesa, nos beijos nos sanitários
O pinto, peru,cu,ânus ,vagina pertencem a quem os tem e faz deles o que quer com gozo.
O gozo é direito natural de quem vive.
Será que o conluio das ditas Igrejas HOMOFÓBICAS dentro do seu cenário do PERVERSO não está por trás disto,desta proliferação de tais ações
As famílias caretas estimulam isto, por calar-se, as igrejas não se posicionam,sobretudo aquelas da porção HOMOFÓBICAS.
E agora?
Só nos resta denunciar pressionar o poder que baixou a cabeça diante da lei que puniria o preconceito; e mais ir as ruas e gritar,escandalizar,
pois maior escândalo é a sociedade viver no temor dos perversos engavetados,ou sofrer danos físicos, morais e não ter resposta da justiça com rapidez e a devida eficiência.
É conclamar escolas,universidades e o povo em geral para dar fim a esta escabrosa receita de preconceito que aflige uma sociedade que pasmou com revoluções sexuais, mas não desmoronou a panacéia moral dos falsos novos.
Tinha razão o saudoso Hitchens em falar o que falou da Igreja.
Que deus é esse estreito?
Onde está a Roma e seu palhaço, que não acorda para o sexo?
Que igreja é esta que promove genocídios de HIV por ser contra o preservativo e no entanto vários de seus componentes sucumbem e sucumbiram ao HIV.
Basta, de fazer sexo escondido, homo ou hetero.
E afinal se é como diz a louca afirmativa que o hetero e o homo são escolhas e gerados pela família,então é no botão da genitália hetero que cresce e se formata o homossexual?
Abaixo o falso moralismo, que admite sexo entre os iguais nas brincadeiras dos machos ,das mocinhas moçoilas e senhorase em finais de semana semana, no vestuário dos clubes,nas escolas, universidades, nos carros em locais ermos, ou nos motéis afastados e nas férias ditas a negócio, nos provadores de roupa lingerie, nos filmes heteros que acatam a homossexualidade feminina, nos treinos dos esportes, no roça roça debaixo da mesa, nos beijos nos sanitários
O pinto, peru,cu,ânus ,vagina pertencem a quem os tem e faz deles o que quer com gozo.
O gozo é direito natural de quem vive.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
A CESARIA ÉVORA
Sodade cantamos nós agora
Sodade e a falta de tua guela limpa
do teu riso moreno
das águas que pintaste
nas mornas que ficarão frias
do cabo que já não será mais tão verde.
Si bô 'screvê' me
'M ta 'screvê be
Si bô 'squecê me
'M ta 'squecê be
Até dia
Sodade sodade
Sodade
Dess nha terra Sao Nicolau
Nha sentimento
adeu Cesária
A SERGIO BRITO PARODIANDO DRUMMOND -RESÍDUO
De tudo ficou um pouco Sérgio
Do meu medo ao saber de ti.
Dos gritos gagos. Da rosa que tanto dissestes
ficou um pouco
Ficou um pouco de luz
captada no chapéu do teu palco
Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato cansado
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos papeis encolhidos dos textos
pouco, pouco, muito pouco.
Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte com teu público
de duas folhas de grama e gana
do maço
- vazio - de cigarros, ficou um pouco.em tua língua
Pois de tudo fica um pouco.
De teu áspero silêncio, nas coxias
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados
no tecido da ribalta, muda, que sobe.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana de tua bebida
dos teus vídeos
ficou um pouco
de ruga na vossa testa, pelo descaso que tivestes de muitos,
retrato.de um artista
Se de tudo fica um pouco Sergio
mas por que não ficaria
um pouco em Fernanda, no trem de tua esperança
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal declarando tua ausência, agora
De tudo fica um pouco, talvez muito.
Não muito: de uma torneira
pingara esta gota absurda,
meio sal e meio álcool, de teu afastamento de nós
salta esta perna da morte que te convidou
este vidro de relógio
partido em mil desavisos
este pescoço de cisne, que não mais dançará
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de de Natália
Cabelo na tua manga,
de tudo ficará um pouco;
vento nas orelhas minhas, me recordando
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,por tua partida
e minúsculos artefatos:
campânula, lápis, cápsula
de revólver... dos teus comprimidos
De tudo ficou um pouco.
E de tudo fica um pouco.
Oh!!! abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória, que nos atormentará por tua aesência
domingo, 18 de dezembro de 2011
A DIVA DE PÉS DESCALÇOS ENCANTOU-SE NA MORTE
A cantora cabo-verdiana Cesária Évora, de 70 anos, morreu esta manhã no hospital Baptista de Sousa, em São Vicente, Cabo Verde, onde se encontrava internada desde sexta-feira.
A notícia foi confirmada à Lusa pelo diretor clínico do hospital, que explicou que a morte ocorreu por volta das 11:20 de hoje por "insuficiência cardio-respiratória aguda e tensão cardíaca elevada".
Alcides Gonçalves disse ainda que desde que Cesária deu entrada no hospital esteve internada nos serviços de cuidados intensivos "com um quadro muito complexo".
"Diva dos pés descalços"
A "diva dos pés descalços", como a imprensa se referiu muitas fez a Cesária Évora, nasceu há 70 anos na cidade do Mindelo, na ilha cabo-verdiana de S. Vicente no seio de uma família de músicos.
Numa das muitas entrevistas que deu, certa vez, afirmou: "tudo à minha volta era música". O pai, Justiniano da Cruz, tocava cavaquinho, violão e violino, instrumentos que se tornaram característicos daquelas ilhas, o irmão, Lela, saxofone, e entre os amigos contava-se o mais emblemático compositor cabo-verdiano, B. Leza.
"Cise" como era carinhosamente tratada pelos amigos, tornou-se no nome mais internacional de Cabo Verde, país de onde o mundo conhecia já grandes músicos como Luís Moraes e Bana.
Desde cedo que Cesária Évora se lembrava de cantar, como referiu numa das muitas entrevistas que deu: "Cantava ao ar livre nas praças da cidade para afastar coisas tristes". Aos 16 anos canta nos bares das cidade e nos hotéis começando a ganhar uma legião de fãs que a aclamavam já como "rainha da morna".
A independência da nação africana, em 1975, coincide com o início de um "período negro" da cantora que deixa de cantar, tem problemas com o alcoolismo e trabalha noutra área.
Em 1985 a convite de Bana, proprietário de um restaurante e uma discoteca com música ao vivo em Lisboa, Cise vem a Lisboa e grava um disco que passou despercebido à crítica, seguindo para Paris onde é "descoberta" e daqui, como aconteceu com outros cantores, partiu para os palcos do mundo.
Em 1988 grava "La diva aux pied nus", álbum aclamado pela crítica. Nesta fase da sua carreira tem um papel fundamental, que se manteve até ao final, o empresário francês José da Silva.
Em 1992 Cesária Évora gravou "Miss Perfumado" e aos 47 anos torna-se uma "estrela" internacional no mundo da world music, fazendo parcerias com importantes músicos e pisando os mais prestigiados palcos.
Uma carreira internacional que passou várias vezes por palcos portugueses cujas salas esgotavam para ouvir, entre outros êxitos, "Sôdade".
Em 2004 recebeu um Grammy para o Melhor Álbum, de world music contemporânea pelo disco "Voz d'Amor". "Cise" não pára e continua em sucessivas digressões, regressando de quando em vez à sua terra natal.
"Eu preciso de quando vez da minha da terra, do povo que sou e desde marulhar das ondas", confidenciou certa vez à Lusa.
A cantora começa a enfrentar vários problemas de saúde e alguns "sustos" como afirmava, mas regressava sempre aos palcos e aos estúdios com alegria.
Em 2009 o Presidente francês Nicolas Sarkozy entrega-lhe a medalha da Legião de Honra, depois de uma intervenção cirúrgico que a levou a temer pela vida.
Cesária voltou aos estúdios e anunciou não só uam digressão como a gravação de um novo que deveria sair no próximo ano.
No dia 24 de setembro numa entrevista ao Le Monde a cantora afirma que tem de terminar a carreira por conselho médico. A sua promotora, Tumbao, emite um comunicado confirmando as declarações da "diva dos pés descalços", e dando conta da tristeza que sentia por ter de o fazer.
Nesse mesmo dia ao princípio da tarde a cantora é internada no hospital parisiense de Pitie-Salpetriere, por ter sofrido "mais um acidente vascular cerebral (AVC)". A Tumbao emitiu nesse mesmo dia um comunicado dando conta que o diagnóstico clínico da mais internacional artista cabo-verdiana era "reservado".
Hoje Cise, aos 70 anos, completados no passado 27 de agosto, e após uma curta visita a Lisboa onde pediu para passear a pé pelo bairro de São Bento, morreu em Paris.
Ao longo da carreira, além das inúmeras digressões e atuações em televisões, gravou 24 álbuns, um DVD, "Live in Paris", e registou dezenas de colaborações em discos.
Ler mais: http://aeiou.visao.pt/morreu-cesaria-evora-diva-dos-pes-descalcos=f639367#ixzz1grGGkao3
POR QUE TANTO SEXO NAS MÍDIAS E EM NÓS ?
JEAN BROC
Sabemos que somos bastante movidos a sexo, não mais como achávamos, mas somos.A mídia da imagem produziu uma enorme erotização,o meio impresso, a fotografia e o cinema fizeram o público, alimentar-se deste sexo midiático, tornando mais faminto o público e de uma sede quase que icontrolável.
A internet , no seu advento e caminhando para uma quase maturidade, ampliou o espectro do sexo, com a imagem em movimento, na interatividade e o corpo tornou-se identidade, como nunca e sexo é ritual sempre"ficado"senão ficante e sem maiores regulações.O sexo no ficar é roto, descartável e produto do ser, mesmo que envolva um segundo sujeito.E o que fica no sujeito ficante? Um poder estatístico de ter ficado, um marketing, uma conspiração a si próprio?
O ser agora é estar ou ter, e logo ficar é estar e ter concomitante.
Agora passa á existir uma idiosincrasia, se é que assim o é, que se resume no seguinte: o jovem, eboutros pegando carona, destacou amor e sexo, antes falavamos de amor como igual a sexo, hoje não mais, de um lado que bom de outro, me questiono sem aqui fazer crítica alguma,é dúvida minha mesmo.
As redes sociais são exemplo disto, deste canal de poder ficar, de congregar corpos, ciberborgs.As imagens de identidade do sujeito são corpo/sexo, um corpo erotizado faminto que busca uma satisfação em que não encontra a água mais pura para saciar a gula da imaginação do sexo.
Há uma hipocrisia nas redes , e na mídia como todo em negar este papel do sexo em seus conteúdos.A publicidade usa o corpo como papel de fundo de suas mensagens, as novelas, o grande irmão e sua derivações, fazem o mesmo.
Baudrillard trabalhou sobre esta questão em diversas obras, mostrando a relação corpo , como ordem de valor, consumo e hiperealidade(a mídia):
"A ética da beleza, que também é a da moda, pode definir-se
como a redução de todos os valores concretos e dos Valores de uso'
do corpo (energético, gestual e sexual), ao único 'valor de permuta'
funcional que, na sua abstração, resume por si só a idéia de corpo
glorioso e realizado" ....
"Da higiene à maquiagem, passando pelo bronzeamento, pelo
desporto e múltiplas 'libertações' da moda,a redescoberta do corpo
passa antes de mais nada pelos objetos. Parece que a única pulsão
verdadeiramente libertada é a 'pulsão de compra'
(BAUDRILLARD, 1985, p. 141 -143)(Sociedade Do Consumo)
O que se esconde atrás desta fome, desta avalanche de sede maior ainda , no dias atuais ?
Será o sexo na atualidade uma pseudo-droga que alimenta a todos e se esconde em nome da sedução que deve(?) estar em todos nós?
Porque a guerra dos sexos entre todos os gêneros e agora entre os ditos heteros- fomentando a homofobia, talvez a do próprio sujeito que a produz contra ele próprio, mas que faz vítimas, e ele se esconde disto como se fora possível.
Quem é homosexual, heterosexual?
Será que esta pergunta, estatísticas dão conta? Penso que não, o sexo é uma montanha enorme e bacana,para se assumir diante de estatísticas do além e por vezes de si próprio.
Quem curou-se(PERGUNTA IDIOTA) DE ALGUM DESEJO DE SEXO HETERO OU HOMO?
Há cura para o desejo?
O que humano é da ordem do desejo e portanto não há cura para nós em sermos humanos.
Sabemos que somos bastante movidos a sexo, não mais como achávamos, mas somos.A mídia da imagem produziu uma enorme erotização,o meio impresso, a fotografia e o cinema fizeram o público, alimentar-se deste sexo midiático, tornando mais faminto o público e de uma sede quase que icontrolável.
A internet , no seu advento e caminhando para uma quase maturidade, ampliou o espectro do sexo, com a imagem em movimento, na interatividade e o corpo tornou-se identidade, como nunca e sexo é ritual sempre"ficado"senão ficante e sem maiores regulações.O sexo no ficar é roto, descartável e produto do ser, mesmo que envolva um segundo sujeito.E o que fica no sujeito ficante? Um poder estatístico de ter ficado, um marketing, uma conspiração a si próprio?
O ser agora é estar ou ter, e logo ficar é estar e ter concomitante.
Agora passa á existir uma idiosincrasia, se é que assim o é, que se resume no seguinte: o jovem, eboutros pegando carona, destacou amor e sexo, antes falavamos de amor como igual a sexo, hoje não mais, de um lado que bom de outro, me questiono sem aqui fazer crítica alguma,é dúvida minha mesmo.
As redes sociais são exemplo disto, deste canal de poder ficar, de congregar corpos, ciberborgs.As imagens de identidade do sujeito são corpo/sexo, um corpo erotizado faminto que busca uma satisfação em que não encontra a água mais pura para saciar a gula da imaginação do sexo.
Há uma hipocrisia nas redes , e na mídia como todo em negar este papel do sexo em seus conteúdos.A publicidade usa o corpo como papel de fundo de suas mensagens, as novelas, o grande irmão e sua derivações, fazem o mesmo.
Baudrillard trabalhou sobre esta questão em diversas obras, mostrando a relação corpo , como ordem de valor, consumo e hiperealidade(a mídia):
"A ética da beleza, que também é a da moda, pode definir-se
como a redução de todos os valores concretos e dos Valores de uso'
do corpo (energético, gestual e sexual), ao único 'valor de permuta'
funcional que, na sua abstração, resume por si só a idéia de corpo
glorioso e realizado" ....
"Da higiene à maquiagem, passando pelo bronzeamento, pelo
desporto e múltiplas 'libertações' da moda,a redescoberta do corpo
passa antes de mais nada pelos objetos. Parece que a única pulsão
verdadeiramente libertada é a 'pulsão de compra'
(BAUDRILLARD, 1985, p. 141 -143)(Sociedade Do Consumo)
O que se esconde atrás desta fome, desta avalanche de sede maior ainda , no dias atuais ?
Será o sexo na atualidade uma pseudo-droga que alimenta a todos e se esconde em nome da sedução que deve(?) estar em todos nós?
Porque a guerra dos sexos entre todos os gêneros e agora entre os ditos heteros- fomentando a homofobia, talvez a do próprio sujeito que a produz contra ele próprio, mas que faz vítimas, e ele se esconde disto como se fora possível.
Quem é homosexual, heterosexual?
Será que esta pergunta, estatísticas dão conta? Penso que não, o sexo é uma montanha enorme e bacana,para se assumir diante de estatísticas do além e por vezes de si próprio.
Quem curou-se(PERGUNTA IDIOTA) DE ALGUM DESEJO DE SEXO HETERO OU HOMO?
Há cura para o desejo?
O que humano é da ordem do desejo e portanto não há cura para nós em sermos humanos.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
O vendedor de palavras ( Fábio Reynol )
RECEBI POR EMAIL
Fábio Reynol (1973), paulista da cidade de Campinas, é jornalista e escritor. Trabalha como assessor de imprensa, redator para Internet e ghostwriter. Tem vários trabalhos, nenhum publicado, entre eles o livro-reportagem "A verdadeira história de Pedrinho Matador" escrito em parceria com a jornalista Patrícia Capovilla.
O vendedor de palavras ( Fábio Reynol )
Ouviu dizer que o Brasil sofria de uma grave falta de palavras. Em um programa de TV, viu uma escritora lamentando que não se liam livros
nesta terra, por isso as palavras estavam em falta na praça. O mal tinha até nome de batismo, como qualquer doença grande, "indigência lexical".
Comerciante de tino que era, não perdeu tempo em ter uma idéia fantástica. Pegou dicionário, mesa e cartolina e saiu ao mercado cavar espaço entre os camelôs.
Entre uma banca de relógios e outra de lingerie instalou a sua: uma mesa, o dicionário e a cartolina na qual se lia: "Histriônico - apenas
R$ 0,50!".
Demorou quase quatro horas para que o primeiro de mais de cinqüenta curiosos parasse e perguntasse.
- O que o senhor está vendendo?
- Palavras, meu senhor. A promoção do dia é histriônico a cinqüenta centavos como diz a placa.
- O senhor não pode vender palavras. Elas não são suas. Palavras são de todos.
- O senhor sabe o significado de histriônico?
- Não.
- Então o senhor não a tem. Não vendo algo que as pessoas já têm ou coisas de que elas não precisem.
- Mas eu posso pegar essa palavra de graça no dicionário.
- O senhor tem dicionário em casa?
- Não. Mas eu poderia muito bem ir à biblioteca pública e consultar um.
- O senhor estava indo à biblioteca?
- Não. Na verdade, eu estou a caminho do supermercado.
- Então veio ao lugar certo. O senhor está para comprar o feijão e a alface, pode muito bem levar para casa uma palavra por apenas cinqüenta centavos de real!
- Eu não vou usar essa palavra. Vou pagar para depois esquecê-la?
- Se o senhor não comer a alface ela acaba apodrecendo na geladeira e terá de jogá-la fora e o feijão caruncha.
- O que pretende com isso? Vai ficar rico vendendo palavras?
- O senhor conhece Nélida Piñon?
- Não.
- É uma escritora. Esta manhã, ela disse na televisão que o País sofre com a falta de palavras, pois os livros são muito pouco lidos por aqui.
- E por que o senhor não vende livros?
- Justamente por isso. As pessoas não compram as palavras no atacado, portanto eu as vendo no varejo.
- E o que as pessoas vão fazer com as palavras? Palavras são palavras, não enchem barriga.
- A escritora também disse que cada palavra corresponde a um pensamento. Se temos poucas palavras, pensamos pouco. Se eu vender uma palavra por dia, trabalhando duzentos dias por ano, serão duzentos novos pensamentos cem por cento brasileiros. Isso sem contar os que furtam o meu produto. São como trombadinhas que saem correndo com os relógios do meu colega aqui do lado. Olhe aquela senhora com o carrinho de feira dobrando a esquina. Com aquela carinha de dona-de-casa ela nunca me enganou. Passou por aqui sorrateira. Olhou minha placa e deu um sorrisinho maroto se mordendo de curiosidade. Mas nem parou para perguntar. Eu tenho certeza de que ela tem um dicionário em casa. Assim que chegar lá, vai abri-lo e me roubar a carga. Suponho que para cada pessoa que se dispõe a comprar uma palavra, pelo menos cinco a roubarão. Então eu provocarei mil pensamentos novos em um ano de trabalho.
- O senhor não acha muita pretensão? Pegar um...
- Jactância.
- Pegar um livro velho...
- Alfarrábio.
- O senhor me interrompe!
- Profaço.
- Está me enrolando, não é?
- Tergiversando.
- Quanta lenga-lenga...
- Ambages.
- Ambages?
- Pode ser também evasivas.
- Eu sou mesmo um banana para dar trela para gente como você!
- Pusilânime.
- O senhor é engraçadinho, não?
- Finalmente chegamos: histriônico!
- Adeus.
- Ei! Vai embora sem pagar?
- Tome seus cinqüenta centavos.
- São três reais e cinqüenta.
- Como é?
- Pelas minhas contas, são oito palavras novas que eu acabei de entregar para o senhor. Só histriônico estava na promoção, mas como o senhor se mostrou interessado, faço todas pelo mesmo preço.
- Mas oito palavras seriam quatro reais, certo?
- É que quem leva ambages ganha uma evasiva, entende?
- Tem troco para cinco?
Fábio Reynol (1973), paulista da cidade de Campinas, é jornalista e escritor. Trabalha como assessor de imprensa, redator para Internet e ghostwriter. Tem vários trabalhos, nenhum publicado, entre eles o livro-reportagem "A verdadeira história de Pedrinho Matador" escrito em parceria com a jornalista Patrícia Capovilla.
O vendedor de palavras ( Fábio Reynol )
Ouviu dizer que o Brasil sofria de uma grave falta de palavras. Em um programa de TV, viu uma escritora lamentando que não se liam livros
nesta terra, por isso as palavras estavam em falta na praça. O mal tinha até nome de batismo, como qualquer doença grande, "indigência lexical".
Comerciante de tino que era, não perdeu tempo em ter uma idéia fantástica. Pegou dicionário, mesa e cartolina e saiu ao mercado cavar espaço entre os camelôs.
Entre uma banca de relógios e outra de lingerie instalou a sua: uma mesa, o dicionário e a cartolina na qual se lia: "Histriônico - apenas
R$ 0,50!".
Demorou quase quatro horas para que o primeiro de mais de cinqüenta curiosos parasse e perguntasse.
- O que o senhor está vendendo?
- Palavras, meu senhor. A promoção do dia é histriônico a cinqüenta centavos como diz a placa.
- O senhor não pode vender palavras. Elas não são suas. Palavras são de todos.
- O senhor sabe o significado de histriônico?
- Não.
- Então o senhor não a tem. Não vendo algo que as pessoas já têm ou coisas de que elas não precisem.
- Mas eu posso pegar essa palavra de graça no dicionário.
- O senhor tem dicionário em casa?
- Não. Mas eu poderia muito bem ir à biblioteca pública e consultar um.
- O senhor estava indo à biblioteca?
- Não. Na verdade, eu estou a caminho do supermercado.
- Então veio ao lugar certo. O senhor está para comprar o feijão e a alface, pode muito bem levar para casa uma palavra por apenas cinqüenta centavos de real!
- Eu não vou usar essa palavra. Vou pagar para depois esquecê-la?
- Se o senhor não comer a alface ela acaba apodrecendo na geladeira e terá de jogá-la fora e o feijão caruncha.
- O que pretende com isso? Vai ficar rico vendendo palavras?
- O senhor conhece Nélida Piñon?
- Não.
- É uma escritora. Esta manhã, ela disse na televisão que o País sofre com a falta de palavras, pois os livros são muito pouco lidos por aqui.
- E por que o senhor não vende livros?
- Justamente por isso. As pessoas não compram as palavras no atacado, portanto eu as vendo no varejo.
- E o que as pessoas vão fazer com as palavras? Palavras são palavras, não enchem barriga.
- A escritora também disse que cada palavra corresponde a um pensamento. Se temos poucas palavras, pensamos pouco. Se eu vender uma palavra por dia, trabalhando duzentos dias por ano, serão duzentos novos pensamentos cem por cento brasileiros. Isso sem contar os que furtam o meu produto. São como trombadinhas que saem correndo com os relógios do meu colega aqui do lado. Olhe aquela senhora com o carrinho de feira dobrando a esquina. Com aquela carinha de dona-de-casa ela nunca me enganou. Passou por aqui sorrateira. Olhou minha placa e deu um sorrisinho maroto se mordendo de curiosidade. Mas nem parou para perguntar. Eu tenho certeza de que ela tem um dicionário em casa. Assim que chegar lá, vai abri-lo e me roubar a carga. Suponho que para cada pessoa que se dispõe a comprar uma palavra, pelo menos cinco a roubarão. Então eu provocarei mil pensamentos novos em um ano de trabalho.
- O senhor não acha muita pretensão? Pegar um...
- Jactância.
- Pegar um livro velho...
- Alfarrábio.
- O senhor me interrompe!
- Profaço.
- Está me enrolando, não é?
- Tergiversando.
- Quanta lenga-lenga...
- Ambages.
- Ambages?
- Pode ser também evasivas.
- Eu sou mesmo um banana para dar trela para gente como você!
- Pusilânime.
- O senhor é engraçadinho, não?
- Finalmente chegamos: histriônico!
- Adeus.
- Ei! Vai embora sem pagar?
- Tome seus cinqüenta centavos.
- São três reais e cinqüenta.
- Como é?
- Pelas minhas contas, são oito palavras novas que eu acabei de entregar para o senhor. Só histriônico estava na promoção, mas como o senhor se mostrou interessado, faço todas pelo mesmo preço.
- Mas oito palavras seriam quatro reais, certo?
- É que quem leva ambages ganha uma evasiva, entende?
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