REDES

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

UM POETA EM TECELAGEM POÉTICA NA CRÔNICA ,ALEXANDRE COUTINHO

Alexandre Coutinho p0r seu blog 

Publico hoje crônica do poeta ,não  mais entre nós:


TERÇA-FEIRA, 26 DE FEVEREIRO DE 2013

paparam meu sono


Seu blog   http://infinitascortinas.blogspot.com/
"e ainda que as janelas se fechem, meu pai, 
é certo que amanhece"
(Hilda Hilst)

Em meus dias de insônia, consigo ouvir o raspar das vassouras retirando o lixo das ruas. Isto acontece às três da manhã, hora em que muita dona de casa teria pavor de sair de seu aconchegante lar. Neste momento não sei muito bem, devido ao desejo urgente de dormir e à vigília involuntária, se é o diabo que está a dar um passeio ou se são mesmo vassouras raspando paralelepípedos. É a hora em que fecho as janelas definitivamente e aprendo a conviver com o calor constante de minha cidade natal e de meu quarto. É nesta hora indevida, porém, que a cabeça está processando uma série de informações adquiridas durante o dia e pernilongos insistem em arrodeá-la. Espalmo uns três já pesados de meu sangue, às três e trinta o galo encerra o canto. O ser insone passou a ser constante desde que preocupações mais abstratas começaram a ocupar o intelecto e a vida que, repetidamente, insiste em nos deixar ciosos do dia, ele pronto e singular, mas incapaz de transgredir a si mesmo. É o fardo das cidades pequenas, dos trabalhos carregados de função moral e da idade que não pode ser mais evitada. Dessa confusão momentânea, o estado da alma realiza solilóquios sobre a língua parada e há uma preguiça imensa sobre as coisas dos homens, sobre as minhas inclusive. Se rezo, penso no papa e se penso no papa, penso em carnaval. E neste momento mesmo sorrio por pensar o papado como um alegoria decadente, acho que pela ostentação contínua de poder e riqueza. Coisas que penso sem nenhum rigor, até porque não vou à igreja e pouco me interessa aquilo que o conclave dita para a juventude cristã que, inegavelmente, vai estar mais segura ao lado de ateus e agnósticos. O deus que não sou, pensa: a renúncia é uma denúncia. Entretanto, nunca fora novidade os causos de pedofilia, de corrupção e assassinatos na igreja. Jornais, revistas, todos ansiosos por mais uma declaração que lhes preencha pautas e laudas. Que assim seja, porque o mundo, em desagregação constante, mesmo que as mídias sociais e virtualizações da subjetividade indiquem o contrário, não precisa mais de instituições caducas. O que nada tem a ver com espiritualidade e poesia, certo é que o mundo e o homem sem espiritualidade são mais pobres, mas uma coisa é clara: da tríade só nos resta o espírito santo, porque o filho nós matamos, o pai sempre foi ausente e o espírito santo tenta capengamente se esquivar de tentativas constantes de corrompê-lo. Agora o sono é chegado e devemos aproveitá-lo, já que o melhor da vida ainda está adormecido. 

Em 20.04.2017 publiquei a matéria abaixo.

UM POETA AINDA VIVO EM TESSITURA POÉTICA

 A poesia de Alexandre Coutinho


“Menino é raso / de meninura.” 

O poeta está mais vivo que a ponta da lança que o levou  ou ajudou a sair para outro canto ou desencantou-se ou reencantou-se. Seu corpo, âncora de vida, foi de difícil apelo, como todos os outros são ,mas no corpo da letra “ele tentou domar o corpo textual, gulosamente e em velocidade, como sua música “, afirma Lorena Grisi, parceira e amiga.

A poesia de Alexandre Coutinho (Iraquara, Bahia, 1982-2013) tem a estirpe de suas cordas, música, como ator, de seu visgo com a vida, como sobrancelha sem uso sobre nenhum olho, mas vital no absurdo que vaga a vida, na inconciliação  com o real duro .
Seu livro Estudos do Corpo (2012, Editora 7 Letras  ) traz dourações de apalavramento da loucura do lúcido de si, desse si com a vida .

E enxergo gota/Palavra de mim
Que é água que brota/Para tudo além da sede...
Palavra  de mim/O canto do ocaso
A alma narcótica/Palavra de mim
Cede à doença/Me entendo/Ao passo do fim
Nos olhos do outro/A palavra de mim.

Ligia Guimarães Telles, professora doutora e orientadora de Coutinho na dissertação de mestrado na UFBA (Letras, 2011) – O extremo do possível em rútilo nada: uma síntese concêntrica em  Hilda Hilst – se refere a sua poesia assim: “(...) Lírico e trágico se enlaçam, compondo em performance a cena da criação poética, seus gestos e acenos... como em Jazz nº 10”:

Aqui não há silêncio, onde me encontro tudo é ruído. Ossos rangendo na boca. Dentes batendo no peito. Estômago compondo toxinas...

Continua Ligia: “A qualidade musical assumida no título da segunda parte do livro - “JaZ.z” – e dos 20 poemas. Dessas imagens assoma o corpo masculino em nudez, permitindo ao leitor relacionar corpo humano/corpo do texto, da palavra, da escrita. As aliterações constantes aguçam a audição”:

Minha lascívia/de lodo e lama;
Torpor de um vício adunco/Vapor de vínculo e vinco;
Fruição frêmita de estrofes e tempos.

Mas este poeta, como todo ser homem, foi, na sua poesia um subtítulo escrito pela sua textualidade:

Entre miasmas, ruídos, máscaras, entre o parque central e o cemitério S. Pedro, onde havia uma cova com meu nome (...). Com tanto peso simbólico, foi impossível conter o vômito. Barcos, corações, crucifixos, mercedes, facas, tumblios dissimulados postos pra fora sob um grito mudo e uma intensidade fraterna. (http://bit.ly/ZKSCJB)

Por fim,ele diz de sua poesia:
A poesia não está irrita. Esconde-se naquilo de fosso/troço retalhado no corpo.Tecido anatômico/de pano:mamulengo/pro vário que sou/desvario que hei de ser devir…Continuo invento/da saliva apalabravada…

Ler Alexandre é ler sua costura de vida e de poetação da existência.


Tão desnecessária poesia/disrítmica e plantada nas palavras que não fui…


quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Palavra Muda - poesia -Paulo Vasconcelos


Avaliado no Brasil em 9 de janeiro de 2018
Compra verificada
O livro é maravilhoso. A poesia rica e sutil flui como fumaça atravessando todos os nossos sentidos. O autor 
do livro, Paulo Vasconcelos é um poeta vibrante e sensível, trazendo para nós seus leitores a delicadeza da 
sua obra e a beleza intrínseca do seu pensamento e inspiração.





A palavra fere, pois é muda e surda,ela gagueja o sentitr

e tenta...
...
Não me perguntes nada
Não sou escravo de palavras,
eu sim as escravizo e vivo.
...
Não fujas de mim
mesmo neste dia de chuvas.
...e eu a correr sem teus agasalhos,
e tu a correr com meus agasalhos.


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Palavra Muda

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“O que digo é um desdizer como cuspir para dentro, não reverbera”, “Tenho medo dos dicionários que dizem palavras presas”.





Um percurso pelo Avesso da Palavra
Palavra, tempo, memória: são as peças que escolho para seguir o fio que me conduz pelo Avesso da palavra.
É preciso de um fio condutor: existe um, dado pela sequência de poemas, e também vários, puxados por cada leitor, que se deixa perder na solidão da “cartografia vencida” do poeta, labiríntica como o ser.
Falo do poeta, mas falo de mim. Falo do poeta, mas do sujeito em devir. Permitem-me isso a ausência de títulos para os poemas, os movimentos que sugere cada parte do livro (uma ordem, entre outras possíveis), além do próprio jogo proposto pelo trabalho que é feito com a palavra.
Colocar a palavra pelo avesso, dobrá-la/desdobrá-la, é buscar pela “despalavra”, é “catar feijão”. É , como diria Roland Barthes, “trapacear” o tempo inteiro com a linguagem, como um jeito de não se aprisionar pelo seu “fascismo”: tentativa de dizer as coisas, o mundo, as coisas do mundo, por imagens, como no primeiro poema, em que tempo, morte e baía sem peixes e crustáceos são encadeados de forma a compor uma unidade que não se basta e é sempre movimento: “Os estômagos das palavras fazem cadeia [...] / Explosões destes estômagos e seus cais”.
O “homem palavra”, sujeito que se elabora nos poemas, reconhece que é feito de linguagem, mas anda “à procura de palavras para abafá-las”. E, embora as palavras sejam pouco para o mundo, contraditoriamente, é por meio delas que se pode “focinhar a vida e gritá-la como se assim ardesse menos”.
Assim é que Paulo Vasconcelos desnuda o teor do seu fazer poético, como é possível perceber em inúmeras passagens da travessia: “Eu lia com as mãos [...] / Eu aprendia com todo o corpo / Hoje fecharam as mãos para o mundo e se aprende só com as letras”, “O que digo é um desdizer como cuspir para dentro, não reverbera”, “Tenho medo dos dicionários que dizem palavras presas”.
Nesse jogo, entretanto, Vasconcelos faz reverberar, além da literatura oral, Manoel de Barros e João Cabral de Melo Neto, outras vozes, como a de Octavio Paz, para quem a imagem poética tem o objetivo de dizer o indizível. Escreve Vasconcelos: “Poemar é nada dizer dizendo o que é inacessível”.
É precisamente por conta dessa busca sem fim e pela impossibilidade de representar a realidade que, segundo o olhar de Barthes, existe a literatura. Dessa maneira, faz-se a poesia de Vasconcelos: “O real nos doerá para sempre” (Orides Fontela).
Por essa trilha, tempo e memória são tramados e destramados ao longo dos poemas, que, no desengasgar da palavra, expõem um sujeito que se reconhece incerto e se reelabora através da linguagem:
Meu coração não tem fibra
O poema dá-lhe franja
Mas não finjo nem digo
Apenas assoletro o que o juízo me dita
Junto com as minhas mentiras
Verdade escolhidas
No manto do homem palavra

Se a percorro de posse de uma “cartografia vencida” e colho os signos pelo avesso, a memória, o passado, com que me deparo é refeito “por imagens, por eflúvios, por afeto”:

Não sei de onde venho,
Não sei de onde fui,
Sei que sou de nada
Sou estampa desbotada entre pedaços de linhas retrós
Botões em costureiro velho

Nesse sentido, vários elementos são combinados de forma a compor uma espécie de mitologia pessoal, atravessada, além de leituras – algumas já destacadas – por diversos símbolos.
Estes remontam a tempos e espaços singulares (a infância, o Nordeste, a cidade de São Paulo...), entretanto, simultaneamente, mitificados: “No pão doce do meu pai / as abelhas estancavam [...]/ Pintando aos abanos as tardes na padaria”, “Caranguejos [...] / que silenciosamente confabulam com nichos de águas e dejetos assoletrando / Capibaribe”, “[ ...] o sol batendo nas arueira do sertão”, “Um coração vazio e aliviado como cabaça na seca”, “flores de sabugueiros”, “cianinhas brancas”, “Minha vó ao centro da máquina pedia-me / A colher e punha se a mexer o açúcar / Que coloria a casa de sabores de notas violadas”, pés de castanheiras, “E me apaulistei pouco a pouco mas nunca esquecerei / Das vogais do meu coco catolé”, “Nas vielas da cidade adotada falta cheiro de cajueiro / Tem ausências de cantares de borboletas no cio”, “Vendia abacaxi no centro e dizia o mior abacaxi de Sampalo com cheiro de me de abelha” são algumas das imagens que constituem um sujeito em devir: palavra, bicho, árvore, cidade...
O passado recuperado pelas palavras não é o espelhamento de uma sequência de fatos vivenciados por um verdadeiro eu, mas resultado de um processo de leitura e reescrita de si levado a cabo pelo sujeito múltiplo que ganha corpo nos poemas.
Sem pretender esgotar os sentidos para a poesia de Paulo Vasconcelos, esta breve travessia é, portanto, um convite para que o leitor trace seu rumo por entre as brechas da linguagem, por suas dobras. Mediante esse traçado, é possível desfrutar do prazer do texto, ao percorrer o espaço de fruição que se cria entre escritor e leitor pela dialética do desejo que entre eles se estabelece.

Antonio Laranjeira
Doutor em Teoria da Literatura
Universidade Federal da Bahia (UFBA)

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sexta-feira, 31 de julho de 2020

Tereza Costa Rêgo: O Pulo sobre o fim ...28.04.1929- 26.07.2020


A mulher que poetou sobre o encarnado, pulou  para a nuvem,sempre ,sempre de Olinda -PE com seus encantos que os amigos bem sabem, vai Tereza mas morre um pouco a tua cidade na ausência do teu cromatismo existencial.


Leiam mais sobre TEREZA COSTA REGO ...



http://especiais.jconline.ne10.uol.com.br/pernambuco-modernista/tereza.php




quarta-feira, 29 de julho de 2020

Porque o íntimo é sempre humano. (Eduardo Diógenes, poeta. *18/08/1954. +27/07/2020)


EDUARDO DIÓGENES por Moisés Neto -Facebook- recorte deste blogueiro



O homem vem e vai, o poeta vem e vai como a estrela cega,mas fica o rastro  para os que entendem -o que não se compreende-Paulo Vasconcelos


EDUARDO DIÓGENES
Por ANTONIO MIRANDA  https://bit.ly/2BCF4vN
Nascido no Recife, em 1954. Publicou Brincadeira no 27 (Uberaba, Editora Gráfica vitória, 1975), Malabarismo Crônico (Recife, Editora Pirata, 1980) e A barlavento (Rio de Janeiro, 7 Letras, 2000, reunindo trechos dos livros A barlavento e Arqueologia da dúvida). No ano de 1986 seu livro  Malabarismo crônico passou afazer parte do acervo de escritores brasileiros na Fundação Casa de Las Américas em Havana (Cuba). Em 1993,  foi incluído na Antologia da nova poesia brasileira, promovida pela Rio Arte/Funarte, organizada e selecionada pela escritora, tradutora e poeta Olga Savary. Incluído na revista Poesia Sempre (n° 12/ano 2000) da Biblioteca Nacional. Participou como narrador do filme Joaquim Nabuco: Um vencido da grande causa, de Taciana Portela (1° lugar no Margarida de Prata 2000, em Brasília). Mantém inéditos – aguardando editores – Os livros Ilha do Recife dos Navios (com apresentação de Jorge Wanderley e prefácio de Olga Savary) e Ficções.

Poemas extraídos da obra:

STEREO
INVENÇÃO RECIFE

coletânea poética 2

Delmo Montenegro / Pietro Wagner
(organizadores)
Recife: Prefeitura do Recife, Secretaria de Culura,
Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 2004.
 

VOGAL DA FOME
( OU NÃO SE FAÇA VERSO )

1.
nada cristalmente.
seca a garganta
calada
em seu repouso
de horas e agonias.
impedidamente boca não pronuncia.
plásticas de sílabas
e adjetivos
semi-erguidos
do non sense
cotidiário
de notícias graves
e coragens breves.
entre nomes ávidos
dos mercados éticos —
palavras mortas.

2.
nada essencialmente
vazio o cérebro
amontoado
de memórias —
prateleira desarrumada
selos da história
abundantemente outra
e pouca.
nada simplesmente exato
reta a entonação agrava —
ratos dos porões mais frios.
suja a vogal da fome
entala
e não se faz mais verso.

ALGUMA ESTAÇÃO

de que adianta insistir
verbos no infinitivo
sinopses de alma
a lua se acaso cheira
 não impede
o verso seja seco
pobre
e que algum olhar de lírio
seja nosso esquecimento
e não a utopia
  
Á MARGEM DO CANAL

à margem do canal
desfilam casas
enraizadas na lama
(se ao que se pode
chamar qualquer teto)

antes de qualquer vogal
ou geografia
entre macilenta e suja terra
nos caixotes
candidatos a banheiros
à margem do canal

                                      CONTEMPORÂNEA 
                                      horas contemporâneas
                                     não discursamos a fome
                                      úlcera universal
                                      supurada em nordestes 
                                      Outra forma de escrever
                                      úlcera nordestina
                                      a fome contemporânea
                                      não silencia as bocas

POESIA SEMPRE. Ano 8 – Número 12 – Maio 2000.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 2000.

        O barlavento
        Os pássaros também são feitos de tarde
         ou num poema
         podem voar
         como escolha seu pintor;
         do bicho à imagem
         utilizar a metáfora.
         mas
         se a nada servem
         ou ornamentam apenas
         o delírio da impossível liberdade,
         os pássaros voam na tarde
         e os avisto grafando esses versos.

         Depois do apito
        Operárias tomam o ônibus
         roupas iguais
         quase todas barrigudas
         saem da fábrica
         para o fogão e a mesa.
         depois na cama
         servem à sanha de seus homens.
         quando não
         levam uma surra.

         Arqueologia da dúvida
         Silêncio interior
         moscam pousam pelos braços
         um cachorro dorme
         embaixo do caminhão.
         o que é sentir
         o nada sentir?
         se ao mundo
         apenas se empresta
         o destino, a passagem, o delírio
         um boi manso na campina
         é mais bonito do que esse homem
         que habita em mim.

Página publicada em julho de 2010; página ampliada em maio de 2018