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*Walfredo Luz -Foto arquivo do autor |
"Senhores, peço
licença
para agora recordar
um poeta e sua vida
e seu modo de lutar..."
Jorge de Lima - Senhores, Peço Licença
Quem escreve o faz por uma espécie de delírio,
inicialmente mudo, mas alguns montam no outro delírio que é a palavra e suas conjuminações.
O que fala, faz o mesmo. Por vezes, tanto um quanto o outro envergam
estereótipos.
O poeta tenta salvar-se dos estereótipos.
Muitas vezes não sabe que é poeta, mas ocupa
este espaço que é o delírio da mente e ajuda/bengala da palavra. A alucinação
do poeta em suas variadas linguagens é a busca de salvar-se, salvar-se em
querer dizer de um abismo o que é viver, estar e ser.
O poeta nem por isto é um trágico no sentido
comum, ele pode ser um brincante e comediar seu discurso.
Ao entrar em contato com o poeta pelo Facebook,
chama-me atenção seu grito de humanidade e protesto. Vou além e entro em
contato com sua poesia.
Walfredo Luz é um poeta, dramaturgo, ator, mas
sobretudo um caminhante da palavra.
Vou me ater a sua obra poética por ser meu roçado
mais conhecido.
Das Alagoas, terra de grandes poetas e
escritores, ele destampa-se para o mundo, não cedo, mas também não tarde, aos
48 anos. Daí o teatro e a poesia são seus escudos que lhe permitem desfocar e
cenarizar o mundo, sua aldeia, enfim catar os sentidos de ser.
Sua obra tem cheiros da terra dos sargaços secos
de Jorge de Lima, ou quiçá dos alambrados do cordel. Ergue-se um poeta e seu
trombone.
Serpente comendo
serpente
Homem sugando gente
Mesmo com dor de dente
Ninguém é alforriado
e vai..
Para gente acomodada
Palavrão é reclamar
Situação tão agourada
Silêncio é o termo fatal.
Aqui tenho algumas palavras trocadas com o autor
que talvez amplie nosso encontro e seu perfil:
1 – Por que a poesia calha na sua vida de intelectual, como ela
surge?
Geralmente,
todos os meus escritos nascem da observação do mundo. Sempre escrevo sobre tudo
que incomoda e fere o ser humano de morte. O caos interno/externo e a ebulição
da mente e alma me fazem refletir e escrever sobre a vida, procurando incitar a
reflexão para que possamos pensar e agir diante das adversidades, e a Arte tem
esse poder.
2 – Por que a forma SONETO se repete em toda sua obra?
Comecei
escrevendo livremente, não me preocupando em estruturar fisicamente os
escritos. Por natureza, eu era muito prolixo, e escrever textos teatrais e
poéticos me fez abrir a mente para a concisão diante da velocidade absurda com
a qual as informações têm fluído no mundo real e virtual. Então, resolvi
escrever meus poemas em soneto, mas sem a preocupação com a metrificação. É
isso.
3 - O quê de brasil e nordeste aporta em sua obra?
Principalmente
o preconceito generalizado, o descaso com a natureza e com a Arte em geral.
Apesar de viver em Alagoas (Nordeste do Brasil), minhas obras são universais,
pois os temas abordados em minhas obras referem-se ao ser humano e sua relação
com o mundo, ou seja, são temas para reflexão em qualquer parte do planeta.
4 - Escrever é um ato solitário e perceptivo, quase
alucinatório, acho, em que ocasiões emerge o poema?
Diante do
caos generalizado. Os conflitos internos e externos são o gatilho propulsor
para uma escrita reflexiva, para que pensemos em como ser e estar nas missões
necessárias para que possamos nos tornar melhores. A trilogia poética Sonetos
de Sururu (303 poemas) foi em escrita em, aproximadamente, 2 meses e meio.
Considero minha escrita quase alucinatória! (risos)
5 - O teatro e a poesia se dão as mãos. Como?
Totalmente,
pois quando escrevo sempre imagino cenas, cenários, diálogos. Costumo pensar o
texto teatral como pura poesia, assim como o poema como cenas teatrais, tanto é
que penso em escrever teatrais para cada volume da trilogia poética.
4-A leitura
de autores outros nos lambuza, dá-nos um campo de extensão de pensar poemando. Quais
autores se misturaram em tua trajetória e quais você destaca?
Brasileiros:
Graciliano Ramos, Gregório de Matos, Augusto dos Anjos, Aluisio de Azevedo,
Jorge Amado, Chico Buarque.
Estrangeiros:
Russos: Gogol, Dostoiévski, Tolstói, Tchekov, Allen Guinsberg, William Burroughs,
Jack Kerouac, Antonin Artaud, Bertolt Brecht, Ionesco, entre outros.
5- E a difusão pelas escolas e outros locais - como aparece essa
ideia e como foi recebida?
Nós sabemos
que o hábito de leitura é muito pouco em nosso país, imaginem então quando
falamos em leitura de textos teatrais e poéticos. Diante desse quadro, resolvi
encampar a missão de difundir textos (teatro e poesia) nas escolas públicas e a
receptividade tem sido boa. O maior presente que recebemos, enquanto autor
presente nas escolas, é o retorno por parte de crianças, jovens e adultos que
nos abordam para trocar ideias. Em muitos momentos, eles e elas falam que é
ótimo receber autores e autoras com quem eles e elas possam conhecer seus
escritos e trocar ideias sobre os mesmos.
Só resta comer
seus sonhos apalavrados em sua obra e enlamear-nos na sua lírica de cheiro de
terra, de sol e palavra solta.
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*BIOGRAFIA
Walfredo Luz nasceu em 1963, no bairro de Fernão Velho, Cidade de Maceió-Alagoas. Graduado em Letras, ator, escritor, judoca. Em 2011, aos 48 anos, Walfredo apaixona-se pelas artes, o teatro especificamente, e não parou mais. Em 2012, ele estreia nos palcos como ator. Em 2016, faz parte da equipe de produção do Festival de Teatro de Alagoas. Em 2017, estreia como ator no cinema com o curta-metragem “Os Desejos de Miriam”. Em maio de 2017, Walfredo viaja pela dramaturgia com a publicação da obra “Teatro de Walfredo Luz – Fulniô e De cachimbo Caído”. Em 2018, estreia na poesia com a publicação da trilogia poética Sonetos de Sururu composta pelas obras Holocausto Mundaú, Queixume e Sóis de Brancas Trevas. Em 2018, Walfredo Luz também conclui o texto teatral Fuzis de Flores (não publicado). Em 2019, o autor conclui a obra poética Massunim Psicodélico (não publicado). Em 2017, 2018 e 2019, o autor participou de vários eventos literários em escolas estaduais em Alagoas, saraus poéticos, mesa redonda “Onde Mais Houver Poesia” promovida pela Estante Virtual/RevistaPhilos/Editora Kazuá durante a FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty. Em 2017, participou também de eventos literários durante Bienal Internacional do Livro em Maceió. Walfredo Luz leva sua arte às escolas para difundir e incentivar a leitura e a escrita de obras literárias.