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terça-feira, 18 de setembro de 2018

Por que Voto em HADDAD . Captura do face







Luiz Eduardo Soares por https://bit.ly/2xsma4Q


A matéria abaixo me chega via Caio Clímaco (Facebook), um jovem sério, pesquisador que produz um trabalho jornalístico de alta conta. Ele é bacharel em Ciências do Estado pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestrando em Ciências para o Desenvolvimento Estratégico pela Universidad Bolivariana da Venezuela. Tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em Classes Sociais e Grupos de Interesse. Sua atuação   nas mídias digitais conjuga um jornalismo sério e responsável.
Luiz Eduardo Soares , por sua vez, carioca, cientista político, antropólogo, professor universitário, pesquisador na área da violência , romancista, mostra no texto abaixo detalhes de uma geografia politica a que estamos submetidos. Sua narrativa é clara e toma focos importantes entre os candidatos ora postos para a presidência da república.Suas argumentações são densas em seus  argumentos seguros e, ainda mais, sustentados por sua experiência enquanto teórico e agente político em governos.


POR QUE VOTO EM HADDAD
Luiz Eduardo Soares*
As eleições de 2018 são dramaticamente decisivas para o país.
Ciro Gomes é um dos políticos mais inteligentes e preparados de nossa história republicana e propõe ao país uma transformação importante, dispondo-se a enfrentar os interesses do capital financeiro com o propósito de retomar o desenvolvimento e reduzir as desigualdades, tendo em vista sempre a defesa da soberania nacional, profundamente ameaçada pelo atual governo ilegítimo. Considero sua aliança com Katia Abreu -candidata a vice- compreensível, no esforço de evitar o isolamento, mas não subestimo os riscos aí envolvidos, uma vez que, mesmo tendo sido contrária à farsa do impeachment, ela tem um histórico extremamente negativo, no que diz respeito ao meio ambiente, à preservação das terras indígenas e à luta contra o trabalho escravo.
Todavia, há uma dificuldade mais relevante: Ciro é um homem na ventania. Quero dizer o seguinte: o candidato atua e se situa no mapa político como indivíduo, isto é, como um agente desprovido de vínculos orgânicos com organizações democráticas da sociedade civil e movimentos sociais. Seu partido, embora proveniente de uma origem respeitável, há muito tempo afastou-se da identidade que Brizola tentou construir. Por isso, Ciro transita entre zonas distintas do espectro político conforme cálculos táticos, apoiados em seu projeto pessoal, que por mais generoso que seja é, antes de tudo, seu próprio projeto. E, como sabemos, as conjunturas, sobretudo nesse período de constante instabilidade, são centrípetas e agonísticas. A taxa de imprevisibilidade da candidatura do PDT é elevada. Quando os críticos lhe cobram pelo temperamento explosivo erram o alvo. O que é explosivo, incerto e errático é seu destino político, porque condenado a ser moldado por decisões individuais, sob os constrangimentos das diferentes conjunturas. Sim, trata-se de um grande homem, mas é um indivíduo. E o que há lá fora é ventania.
Por fim, Haddad. Vamos lá.
O PT vinha perdendo seus laços com os movimentos sociais porque, a despeito das enormes conquistas dos governos Lula, os melhores de nossa história, não estava sendo capaz de realizar sua autocrítica, publicamente, extraindo daí todas as consequências. Entretanto, o Partido dos Trabalhadores e os movimentos sociais se reencontraram. Velhos militantes decepcionados, como eu mesmo, voltaram à trincheira comum. A aprovação do partido, que caíra vertiginosamente, retornou à marca de 24%. Críticos contumazes, como eu mesmo, cerraram fileiras com os antigos companheiros. Desafetos resolveram colocar a gravidade da situação política acima de desentendimentos, por mais significativos que fossem. Por que? Eis a resposta -há aqui muito de testemunho pessoal. Creio que o processo de afastamento foi revertido pela brutalidade com que as elites passaram a agredir o partido, chegando ao ponto de negar as conquistas alcançadas, tentando apagar da memória coletiva o fato de que Lula concluiu o segundo mandato com 85% de aprovação popular e se recusou a sequer considerar a hipótese de aceitar a mudança das leis para buscar um terceiro mandato, que lhe cairia nas mãos por gravidade, mesmo sem campanha. Apesar da grande mídia insinuar que o presidente terminaria por copiar os passos de Chaves, ele fez o contrário, dando a maior demonstração possível -não consigo imaginar outra que fosse comparável- de que, acima de tudo, respeita o Estado democrático de direito, o qual, paradoxalmente, não o respeitou, desrespeitando-se a si mesmo, negando sua própria natureza, mergulhando o país no arbítrio de violações sucessivas.
Por uma questão de honestidade intelectual, importa assinalar que o presidente FHC não resistiu ao canto da sereia, ele que, com seu partido, condena o “bolivarianismo”. Mas é claro que a compra de votos para que se viabilizasse a reeleição e a mudança das regras de jogo, enquanto o jogo era jogado, não feriram a sensibilidade moral da mídia conservadora, a qual não apenas calou-se, cúmplice, como apoiou a candidatura do PSDB à reeleição, cancelando, com o despudor que lhe é próprio, os debates entre os candidatos, nos quais FHC teria de responder por seus malfeitos na economia, na política, na ética.
A campanha pelo impeachment foi tão cínica, venal e repulsiva, que infiltrou e disseminou na opinião pública o veneno do antipetismo, o grande mal que nos assola e divide. Desde aquele momento, impunha-se, para qualquer democrata, resistir com o antídoto: o anti-antipetismo. Era preciso e urgente denunciar o perigo escandaloso das generalizações, não apenas aquelas que estendiam para o conjunto dos membros do partido qualquer acusação que atingisse algum de seus membros, como aquelas que comprometiam todas as conquistas históricas do partido e de seus governos ao conectá-las a erros econômicos específicos e recentes. E ainda aquelas generalizações que conectavam crise econômica a corrupção. O antipetismo escapou ao controle dos comunicadores que o gestaram, vestiu o uniforme do fascismo e retirou dos armários em que se escondiam, envergonhados, o racismo, a sede de vingança, os cavaleiros da barbárie.
O processo grotesco foi sendo conduzido por vazamentos seletivos, estrategicamente distribuídos. E por decisões evidentemente artificiais. Direitos foram violados sob o silêncio de uns e os aplausos da mídia conservadora. O que era importante e necessário combate à corrupção, converteu-se em método de desconstituição política, ideologicamente orientado. A Justiça degradou o direito e a 

Constituição corrompeu-se na exceção.
Para quê incendiaram o país e o contaminaram com esse ingrediente patológico, o ódio feroz ao PT, transfigurado em signo do mal? Para levar ao poder, em nome da luta contra a corrupção, os que mais fundo enterraram seus pés no pântano. Mas é claro que havia uma razão superior para que se perpetrasse tamanha traição ao que um dia chamaram pátria. Era preciso aproveitar a oportunidade para impor guela abaixo do povo brasileiro, que jamais o aceitaria pelo voto, uma agenda neoliberal extremada, liquidando direitos sociais e o patrimônio nacional, inclusive ambiental. Eis, enfim, o propósito do golpe. Havia duas metas a cumprir para garantir a continuação da política ruinosa em curso: (1) excluir Lula das eleições, a qualquer preço; (2) difundir a versão mais primária da ideologia liberal nas camadas médias. Segundo essa concepção tosca haveria uma oposição entre Estado e Sociedade. No âmbito dessa visão de mundo primitiva, o Estado atuaria como predador, a serviço dos interesses de seus operadores (governantes, legisladores e funcionários): os sangue-sugas sorveriam a energia e os frutos do trabalho da sociedade, a qual seria um saco de batatas, um aglomerado de indivíduos -como gostava de dizer Margareth Tatcher. 

Conclusão: para salvar o Brasil, seria necessário reduzir o Estado ao mínimo e liberar o mercado, porque a sociedade entregue a si mesmo, livre das garras do Estado e de seus impostos escorchantes (que só serviriam para alimentar políticos e funcionários), se desenvolveria a pleno vapor, harmoniosa e feliz. Como vêem, não há mitologia mais adequada para justificar o darwinismo social. A pobreza e as desigualdades seriam expressões da distribuição desigual do mérito. É nesse ponto que a corrupção torna-se central: o sangue drenado do corpo social alimenta o vampiro imoral, o mal supremo, a mãe de todos os males: a corrupção. Desse modo, uma ideologia política, travestida de descrição objetiva e neutra da “realidade”, ganha a alma que falta ao discurso economicista e suscita o ódio que a radica nas redes intersubjetivas que formam opiniões coletivas.
Nesse sentido, a corrupção é a linguagem que engata percepções, valores e afetos, no âmbito da ideologia neoliberal. Corrupção, enquanto tema midiaticamente associado ao impeachment de natureza golpista, é antes de tudo o veículo da ideologia anti-Estado, anti-Política, é a dramaturgia do ódio, a conclamação ao linchamento, a exaltação da vingança, o combustível do punitivismo e a dupla negação: por um lado, da sociedade como conjunto de contradições, constelação de classes sociais em conflito; por outro lado, do Estado, como espaço de luta por hegemonia.
Em síntese, eis aí o resultado: Lula preso e excluído da disputa eleitoral, que ele venceria no primeiro turno; o neoliberalismo disseminando-se como o outro lado da moeda da corrupção; a recusa à Política como apanágio da moralidade popular. Enquanto isso, o país segue sendo entregue aos interesses internacionais e a grande massa da população volta a mergulhar na miséria, ouvindo dia e noite a cantilena anti-Política. Para varrer o PT do mapa, para vetar Lula, foi preciso tentar ferir de morte a política, como atividade humana imprescindível na democracia, e a própria República. O lugar do público foi tragado pelo vórtice do mercado. O coletivo reduzido ao ajuntamento de indivíduos. As desigualdades acabaram justificadas pelo mérito.
Sabem qual é o nome disso, desse fenômeno monstruoso? Bolsonaro.
Nesse contexto, se vejo assim o país, como eu poderia não apoiar Haddad? Claro que, além disso, além do que julgo ser meu dever --confrontar sem medo o anti-petismo, resistir à tentação de capitular (por exemplo, aceitando que uma vitória do PT produziria muito desgosto nas hostes opostas e geraria uma atmosfera excessivamente tensa no país)--, além de tudo isso, há o candidato, Fernando Haddad, um dos políticos jovens mais talentosos, preparados e inteligentes de sua geração. Estão mais do que claros seus compromissos com a democracia (e a urgentíssima democratização da mídia), a soberania nacional e os direitos humanos, com a luta contra o racismo, as desigualdades, e com a defesa do meio ambiente, das sociedades indígenas e das minorias. Chega de violações aos direitos e de manipulação. Está em jogo o futuro do país.

*Luiz Eduardo Soares é antropólogo, cientista político, pós-doutor em filosofia política e uma das maiores autoridades do Brasil em segurança. Ocupou os cargos de secretário nacional de Segurança Pública e o de coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania do Estado do Rio de Janeiro, entre outros. Luiz Eduardo é professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Tem vários livros publicados, entre eles os best-sellers Cabeça de Porco, com MV Bill e Celso Athayde; e Elite da Tropa que tem como co-autores dois ex-membros do BOPE, André Batista e Rodrigo Pimentel. O filme Tropa de Elite (de José Padilha) e o livro Elite da Tropa nascem da mesma matéria prima, e dialogam entre si.
Na década de noventa, Luiz Eduardo publicou principalmente livros de ensaios e de interesse acadêmico; além do romance O experimento de Avelar, em que narra o encontro entre um professor, angustiado com o deserto de utopias, e um ex-membro da policia da ditadura militar, acusado de ter participado do assassinato de um renomado intelectual. Em 2000, lançou Meu Casaco de General, em que revela sua experiência como coordenador de Segurança Pública do Rio. Corajoso, ele denunciou a chamada “banda podre” da polícia, fez propostas para moralizá-la e acabou demitido do cargo. Sofreu ameaças e buscou exílio nos Estados Unidos, onde escreveu o livro, trabalhou como pesquisador do Vera Institute of Justice (NY) e foi professor visitante de três universidades – Columbia, Pittsburgh e Virginia. 
Em seguida, Luiz Eduardo escreveu livros importantes sobre questões relacionadas com a violência, voltados para o público em geral. Entre esses, Cabeça de porco, resultado de uma pesquisa com jovens envolvidos no tráfico de drogas, e Elite da Tropa, em que aponta para a realidade através da ficção e mostra a violência do ponto de vista do policial. Um trecho do prefácio que assina diz: “Sonhamos com o dia em que poderemos celebrar a reconciliação entre a sociedade e as instituições policiais, entre os membros de cada comunidade e os policiais. (...) é preciso, no entanto, como ensinou Nelson Mandela, olhar nos olhos a verdade e reconhece-la, sem meias palavras e subterfúgios, sem hipocrisia e retórica política”. Veja abaixo a lista completa de livros de Luiz Eduardo Soares

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Conter fardados e togados - Tereza Cruvinel JB Rio

É preciso  falar  de Política  e escrever com ética.
Tereza Cruvinel é uma das Jornalistas de peso do Brasil. Mineira, militante da esquerda desde cedo integrando-se  a política do seu país. Lúcida, clara e tem língua afiada para escrever o que pensa. Na presidência da EBC Cruvinel implantou a TV Brasil, formando a Rede Publica de Televisão com outras emissoras educativas e culturais estaduais e implantou a Tv Brasil Internacional em 68 países. A EBC, que incorporou a antiga Radiobrás, no mandato de Cruvinel tornou-se uma empresa moderna e dotada de parque de produção e transmissão. Além da TV Brasil e de seu canal internacional, administra oito rádios publicas, sendo cinco da matriz Radio Nacional e três da família Radio Mec. Através da EBC serviços, atende o Governo Federal cobrindo as atividades da Presidência da Republica e produzindo programas como Café com a Presidente, Voz do Brasil e Bom dia, ministro. (-por wikipedia -).Ela sempre colaborou com a grande boa imprensa. Na volta do Jornal do Brasil, ela veio e integrou seus cast.Ela é um exemplo do jornalismo sério, leiam abaixo publicado pelo Jornal do Brasil:




Tereza Cruvnel por Twitter seu






Tereza Cruvinel


 

Conter fardados e togados

https://bit.ly/2x9HmgB

  
“Em meu governo, militar não fala em política”, disse ontem o candidato do PT, Ciro Gomes, em sabatina aos jornais O Globo/Valor. Se fosse presidente, acrescentou, demitiria e prenderia o comandante do Exército, general Villas Bôas. Finalmente, um representante do poder civil enfrenta o assanhamento dos militares, em alta desde que o presidente Temer, para compensar sua debilidade e ilegitimidade, resolveu lhes dar corda e protagonismo.
O general permitiu-se dizer que uma candidatura sub judice (a de Lula) não seria admitida e que a facada em Bolsonaro poderia até colocar em dúvida a legitimidade do pleito. Já o vice de Bolsonaro, general da reserva Mourão, além de cultuar o torturador Ulstra, elucubrou sobre a possibilidade de o futuro presidente aplicar-se um auto-golpe para fazer reformas. Seja quem for o presidente eleito, terá que fortalecer as Forças Armadas, parar com a mania de Temer de acioná-las em qualquer aperto, e de mantê-las no cercado da missão constitucional.
As razões da crise que levou o Brasil à degradação que espanta o mundo dão um rosário mas certamente incluem a bagunça institucional gerada pela hipertrofia do poder do Judiciário e de forças auxiliares, como Ministério Público e Polícia Federal. O mesmo Ciro, há alguns dias, causou celeuma ao dizer que, para a normalização da vida nacional, terão todos que “voltar para dentro de suas caixinhas”. Quem quis entendeu: para o círculo das previsões constitucionais, rompidas pelo abuso de poder, mas falou-se logo em ameaça à independência destas instituições.
Saudável movimento rumo às caixinhas fez ontem o Conselho Nacional do Ministério Público, ao decidir pelo exame das motivações de procuradores que apresentaram denúncias, no calor da campanha, contra Alckmin e Haddad. A prisão do ex-governador tucano do Paraná, Beto Richa, pode ser incluída no rol suspeito, pois sendo a investigação de 2011, só agora gera uma prisão preventiva.
O ministro do STF Gilmar Mendes endossou, apontando “notório abuso do poder de litigar” nestas iniciativas coincidentes com a fase crucial da campanha. “É preciso colocar freios”. Mas, como no passado o abuso correu frouxo, os procuradores da Lava Jato estrilaram ontem.
Em 2012, o STF marcou o julgamento da ação penal 470, a do mensalão, para período coincidente com o da campanha. Em 2014, o PT sofreu os efeitos do vazamento cronometrado de delações da Lava Jato sobre a corrupção na Petrobras. Mas é bom sinal que os militares voltem a ser lembrados de que estão sob o poder civil e que haja no Judiciário disposição para “colocar freios”.
Motivos para votar
Na terça-feira, 11, o Instituto Paraná Pesquisas também foi a campo, contratado pela Empiricus, e obteve resultados não muito diferente do Datafolha e do IBOPE: Bolsonaro liderando com 26,6%, seguido de Ciro (11,9%), Marina (10,6), Alckmin (8,7%) e Haddad (8,3%). Diz o PT que seus levantamentos indicam aumento na transferência de votos a partir da indicação oficial de Haddad na terça. As próximas pesquisas dirão.
Diferencial da pesquisa Paraná foi a busca das razões do eleitor para votar num candidato. A maioria dos que votam em Bolsonaro (23,6%) apontou seus projetos contra a criminalidade. Entre eleitores de Ciro, 14,2% disseram que se identificam com o discurso dele, 9,2% apontaram seus projetos na área econômica e 8,8% destacaram o fato de ele ter experiência política. Entre eleitores de Haddad, 38% apontaram o fato de ser apoiado por Lula. Agora, ele precisa se distinguir também pelas propostas. Já 25% dos eleitores de Alckmin destacaram sua experiência administrativa e política.
Toffoli
Depois de empossado hoje na presidência do STF, o ministro Dias Toffoli dará início a um programa de distensão na conturbada relação entre os ministros. Ele pretende ainda melhorar a relação com os outros dois Poderes e fortalecer o CNJ como órgão de controle, numa fase em que o Judiciário acumulou desgaste e desconfiança.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

7 de Setembro ...Não por acaso, excluíram 5 estrelas, todas de estados pobres.. capturas do Facebook

Leiam o que nos diz Elton:

Elton L.L.Souza
Facebook




O discurso não verbal das imagens e cores às vezes revela o que o discurso verbal tenta escamotear, como exemplifica esta logomarca : o “Brasil” está escrito todo em branco , sem o colorido multicultural e étnico de nosso povo , revelando a visão elitista dessa mentalidade “Casagrande”, a mesma de certos candidatos à presidência. Tiraram a abóbada azul celeste do céu que nos cobre e horizonta , no lugar colocaram uma esfera de pesado azul metálico a representar uma Ordem e Progresso passando por cima como um rolo compressor autoritário . 

Além de projetar uma sinistra sombra, tal esfera tem um lado que não se mostra ,uma face oculta: “Ordem e Progresso” parece ser só uma fachada para esconder o que está atrás e se dissimula. 
O corpo esférico azul-masculino, a serviço também do machismo, coloca-se acima da vogal que tem o som mais aberto e colorido que existe no alfabeto, a vogal “a”, a mais feminina das letras, pois indica o feminino na terminação das palavras. 

O Brasil não está de pé, ele está meio derrubado, parecendo a esfera sinistra uma bola de ferro que o mantém aprisionado. Excluíram o verde de tal logomarca , fato que revela o que essa mentalidade genocida pensa acerca da floresta onde vivem os índios. Surrupiaram ainda o amarelo, a cor do ouro, símbolo da riqueza comum de todos.

Outro fato revela o discurso antipovo desta logomarca: a bandeira brasileira tem 27 estrelas, cada uma simbolizando um estado e o Distrito Federal. Mas nesta logomarca há apenas 22 estrelas! Não por acaso, excluíram 5 estrelas, todas de estados pobres...

Neste 7 de setembro lembrei de Manoel de Barros e Espinosa quando o poeta e o filósofo dizem quase a mesma coisa: não é livre uma independência que tem algemas. Algemas não são feitas apenas de ferro, algumas são feitas de ódio.

O Brasil que eu não quero Hildegard Angel por Forum


Hildegarde Angel é uma dessas jornalistas de safra rara. Carioca, filha da famosa  Zuzu Angel vítima da ditadura dos anos 60. Perdeu irmão - Stuart Angel,  face ao carniçamento dos militares e depois sua mãe - assassinada , que denunciou ao mundo via seu trabalho como estilista (moda).
Zuzu foi filiada ao MR8-RJ. Incansável na denúncia das atrocidades que naquela época esfolou o Brasil .Usou para isto sua fama internacional e bradou, cuspiu aos 1000 cantos do mundo, sem temor.
Jornalista inquieta, Hildegard é clara na sua narrativa, trabalhou para a grande imprensa brasileira e hoje em algumas poucas, face ao emporcalhamento das mesmas, sem cansar de pronunciar a crítica, a denúncia do que ora vivemos. Neste artigo, colhido via Forum ( https://bit.ly/2wDst5f) ela nos relembra a nossa história,  o terror vivido e  que hoje voltamos a passar apenas repaginado pela perversão de um golpe que tem o judiciário como Farol, guia sangrento da ditadura de hoje .
Ela nos pergunta, face aos históricos argumentos que país e este que queremos tendo em vista as eleições e atrocidades de cinismo que presenciamos





Hildegard Angel: O Brasil que eu não quero
https://bit.ly/2wDst5f

No início dos anos 60, a campanha urdida pelos udenistas, liderados por Carlos Lacerda, assombrava o país com o medo do “comunismo” e denúncias de desvios e corrupção. João Goulart seria um corrupto insaciável e Juscelino Kubitschek, que morreu pobre, teria ficado milionário com a construção de Brasília, beneficiando seus amigos. Com ressonância na mídia, essa campanha martelava ininterruptamente na cabeça dos brasileiros. Eu, menina, com 11, 12 anos, lembro-me do medo que se tinha do tal “comunismo”. Os comunistas viriam para interromper nossos sonhos individuais de prosperidade e casa própria. Eles entrariam em nossas casas, nos destituiriam de nossos bens, e os pobres “ficariam com tudo nosso”. Era assim que os golpistas de então botavam terror no povo brasileiro. Eleito, o udenista Jânio Quadros – um descompensado que deu provas disso desde o período eleitoral – quis dar o golpe, não conseguiu, renunciou, jogando o Brasil em 20 anos de ditadura militar. E a UDN? E Lacerda? Foram jogados pra escanteio, tiveram que se comportar como sabujos lambe-botas para sobreviver.



"Em véspera de eleição, momento crucial em que a preocupação geral é a segurança, os telejornais a enfatizam, como agentes provocadores de intimidação dos brasileiros. Uma sociedade manipulada, não só pelos fatos, mas sobretudo pelo noticiário, que potencializa os temores de cada um. É esse o projeto político da grande mídia? Incendiar o país? Plantar a discórdia? A insegurança generalizada?", questiona Hildegard Angel





Hildegard Angel, no Jornal do Brasil



Lacerda foi cassado. Os políticos, alijados dos cargos e da vida pública. Assim acontece quando há uma ruptura constitucional, quando as leis passam a, em vez de serem cumpridas, obedecer a “interpretações” subjetivas, a serviço de conveniências outras. Perde-se o controle, e quem se impõe não são os agentes da desestabilização. Estes, golpeiam, mas não levam. No Brasil, prevaleceram os que melhor interpretaram o medo coletivo do “comunismo”, oferecendo como alternativa a repressão violenta. Os militares.

E não havia, naqueles anos, uma empresa no Brasil, um negócio, uma portinha, que não precisasse ter em seus quadros um militar para poder se manter aberta. Caso contrário, eram só dificuldades. Fiscais multavam indevidamente, burocratas emperrava os processos. E se o empresário em questão tivesse algum tipo de ligação com governos anteriores, de Getúlio, Goulart e JK, estava fadado à perseguição e à falência.

A comunidade rejeitava qualquer pessoa ligada, mesmo que remotamente, a partidos políticos demonizados, como o PTB e o PSD. Muitas delas foram presas e perseguidas. Os partidários do PCB – Partido Comunista Brasileiro – foram presos e eliminados. Como Alberto Aleixo, irmão de Pedro Aleixo, vice-presidente de Artur da Costa e Silva. Alberto era um idealista, editava o jornal de esquerda Voz Operária. Em 1975, foi preso e morreu em consequência das torturas. Pedro soube de sua prisão, mas, mesmo com tantas credenciais, nada pode fazer pelo irmão.


No país, estabeleceu-se o terror. Hoje, os revelados documentos de Estado norte-americanos da época acusam o Brasil de ter praticado o “terrorismo de Estado”. A contrapropaganda era usada à exaustão e com sucesso. Então, terroristas não eram os que sumiam com as pessoas, as encarceravam, torturavam e matavam. Eram os jovens idealistas, que, quando muito, se defendiam com “coquetéis molotov” – uma garrafa e um pavio. “Subversivo” era todo aquele que pensasse diferente do poder. A qualquer denúncia anônima, agentes do Dops invadiam residências, vasculhavam tudo, e bastava encontrarem um livro de economia de Celso Furtado para a família inteira ser presa como agitadora. E as consequências, imprevisíveis. Não se sabe se sairiam vivos. Quem duvidar que duvide, mas era assim.

O terror de Estado, as violências, torturas com crueldades inimagináveis, ensinadas por especialistas importados dos EUA e até da França – estes últimos financiados por empresários de extrema direita, dos quais alguns se compraziam em assistir às sessões de tortura. Uns doentes.


Todos tinham medo de todos. A filha de um síndico da Base Aérea do Galeão relata o medo que os próprios oficiais tinham do comandante, brigadeiro Bournier, considerado um descontrolado, com sangue nos olhos e o poder nas mãos. O brigadeiro dos “voos da morte”, em que pessoas eram jogadas ao mar, e com o requinte das pernas quebradas. Caso sobrevivessem, não poderiam nadar.

Este era o Brasil. Sobreviviam os que baixassem a cabeça, não vissem, não escutassem, não comentassem, num perpétuo “jogo do contente”, que durou duas décadas. Mesmo em casa, ninguém podia conversar com franqueza, com o risco de algum empregado ou visitante escutar e denunciar. “Dedurava-se”, delatava-se, caluniava-se a três por dois, qualquer desafeto que atravessasse o caminho. O marido ciumento entregava como “subversivo” o vizinho, de quem desconfiava estar cortejando sua mulher. Sei de um caso em que o vizinho foi levado para averiguação e nunca retornou. Este era o cotidiano brasileiro.


Eram as pessoas soturnas, com seus coturnos, que oprimiam a liberdade de todos. Quem as desagradasse era “excomungado”, tornava-se um “degradado social”, mesmo se não fosse preso. Ninguém queria lhe falar, atender seu telefonema. Atravessavam a calçada. Ser covarde era um mérito.

Estudantes foram impedidos de frequentar escolas e universidades. A censura veio rigorosa e extremamente ignorante. Hoje, fazem piada dos exageros dos censores. Peças de teatro tiradas de cartaz. Novelas da TV tinham vários capítulos inteiros reescritos. Livros, como “Capitães de areia”, de Jorge Amado, e “Tarzan”, de Edgard Burroughs – aquele mesmo, o Tarzan da Chita – eram proibidos com a pecha de “comunista”. Em sua sanha perseguidora, os censores viam cabelo em ovo. As canções falavam por metáforas, para refletir o sentimento do artista e as angústias do povo.

O lema “Ame-o ou deixe-o” estava em plásticos colado às janelas dos automóveis, como um salvo-conduto para os motoristas. E tantos “deixaram”, forçados ao exílio como mecanismo de sobrevivência. Essas memórias são feridas que nunca param de sangrar.

Hoje, em véspera de eleição, momento crucial em que a preocupação geral é a segurança, os telejornais a enfatizam, como agentes provocadores de intimidação dos brasileiros. Apavorados, os cidadãos só enxergam seu pânico, alheios a qualquer perspectiva positiva. E ações extremas passam a ser única opção. Uma sociedade manipulada, não só pelos fatos, mas sobretudo pelo noticiário, que potencializa os temores de cada um. Nenhuma brecha para fatos construtivos. É esse o projeto político da grande mídia? Incendiar o país? Plantar a discórdia? A insegurança generalizada?


Esse medo coletivo fortalece a posição de candidatos sem qualquer capacidade ou preparo para exercer as funções de Presidente da República Federativa do Brasil, em que a segurança é fator importante, mas não único. E a educação? E a habitação? E o saneamento básico? E a retomada do desenvolvimento estagnado da Nação brasileira? E a engenharia brasileira, fundamental para o desenvolvimento e a multiplicação de empregos, desde a mão de obra não especializada ao engenheiro? Onde se quer chegar? Entregar a Nação a um despreparado? Ou a outro que já tenha mostrado competência? Qual o Brasil que queremos

terça-feira, 4 de setembro de 2018

“Não ajoelho diante de quem é igual a mim”. Capturas do Facebook Elton Luiz de Souza






Elton e suas histórias diretas e retas, por demais bacanas. Essa mostra o poder de pensar quando estamos atentos a Filosofia e , portanto, como faz falta entre os jovens o ensino da mesma.
E ainda se diz que a Filosofia assim  como a arte são inúteis, bendita seja a desutilidade de algo abstrato que nos faz  ser e pensar .Paulo Vasconcelos

Elton Luiz Leite de Souza
"O homem seria metafisicamente grande
se a criança fosse seu mestre."(Kierkegaard )
"Quem anda no trilho é trem de ferro.
Sou água que corre entre pedras - liberdade caça jeito".(Manoel de Barros).




o pai pediu para o menino mais velho me narrar o que acontecera em Londres, mas o menino saiu correndo, como se tivesse feito uma arte, uma “peraltagem”, diria Manoel de Barros

Eles foram ver, entre outras coisas, a cerimônia na qual a Rainha da Inglaterra passa à frente do público, e todos se ajoelham em reverência, olhos no chão. Então , o pai mesmo me contou o que aconteceu: quando a Rainha , cheia de pompa e ouro, passou diante deles, todos se ajoelharam, exceto o menino de 10 anos. Ele ficou em pé, de braços cruzados, firme, olhando diretamente para a Rainha, que virou a cabeça para olhar , espantada, o pequeno insubmisso. Quando a mãe indagou ao menino porque ele não se ajoelhou como todo mundo, ele respondeu : “Não ajoelho diante de quem é igual a mim”. Ao ouvir isso, a mãe disse ao pai: “acho que já está na hora de nosso filho parar de ter aulas de filosofia com o Elton...”. Nesse mesmo dia em que ouvi o relato, dei minha última aula aos garotos. No fim, o menino da peraltagem me perguntou: “Vai ter prova?”. Respondi: “Não , você já está aprovado. Com dez.”

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

O Golpe: A Ópera do fim do mundo-Flávio Tavares

O Golpe: A Ópera do fim do mundo”, a pintura faz referências à Lula, Dilma e Marielle Franco e também ao judiciário, além de Temer e outros políticos.O painel foi exposto ao público na noite desta segunda-feira (27.08.18) no Sesc Cabo Branco, em João Pessoa (PB).(Por Forum)
Flávio Tavares por  https://bit.ly/2PdtyrM


Conheci Flavio Tavares nos anos 70, via Marcos Siqueira, dramaturgo ator. Flávio é um artista impar. Nascido em J.Pessoa, PB,1950, sua obra esparramou-se pelo Brasil e o  mundo ocidental, principalmente.

Sua origens de dedicação às artes visuais vem de seu avô- fotografo e pai- desenhista.
Flávio inicialmente conta  com  orientações do Pai, Dr.Arnaldo, médico; inicia-se na pintura e daí segue com uma formação com Raul Córdula, da UFPB e com as orientações do mestre Hermano José.

Iniciou o curso de Sociologia, UFPB o que talvez tenha contribuído para expansão de seu pensamento político, mas não chegou a concluir para dedicar-se   as artes plásticas.

Ziraldo foi um dos incentivadores de sua obra,  no eixo poderoso sudestino, quando da exposição -1976- O pavão sem mistério. Nos anos seguintes  viaja para Eua e Europa, com destaque na Alemanha , onde sua obra é bem recebida e elogiada.

Flávio é um artista antropólogo, sua obra tem um comprometimento com seu tempo, com a cultura do seu povo e me faz recordar João Câmara, PE, sem que com isto tenha grandes semelhanças estéticas e cromáticas, mas sim suas denúncias /relato do Brasil.

Sua sobreposição de planos , pessoas, do mítico são constantes em sua obra e com um cromatismo apurado como  espelho de sua terra ensolarada e das cores como uma flora que encaderna a vida e o homem.

Sua recente oba aqui apontada necessita ser microscopiada, face as interseções de personagens  do Golpe. Ele é minucioso.





Eudes Rocha que acompanha o trabalho do artista diz :

Artista sintonizado com seu tempo, Flávio Tavares iria produzir uma série de desenhos criticando a ditadura militar nos “anos de chumbo” no Brasil (1964-1984), e ainda hoje produz charges que aludem aos problemas políticos e sociais da Paraíba, do Brasil e do mundo, sem perder a verve e sempre com um traço irrepreensível. É bem verdade que nos desenhos preto no branco essas mensagens ficam mais evidentes, mas em suas pinturas, por vezes, detectamos numa mesma tela dois planos aparentemente dissociados e cuja simbiose resultará num discurso pictórico cheio de crítica social, política ou ainda de denúncias que o sistema muitas vezes se recusa a tomar conhecimento, por mera comodidade, de tal maneira é sofisticada e misteriosa a ilustração na arte de Flávio Tavares que, algumas vezes, ficamos a nos indagar se seriam mais eloquentes as mensagens em seus trabalhos com muitos personagens e elementos compositivos ou o “silêncio” das suas obras mais despojadas, com uma trajetória desse quilate, constatamos tratar-se, sem dúvida, de um artista ímpar que certamente ainda tem muito a nos mostrar, graças à sua criatividade e ao seu pródigo vocabulário imagético. Eudes da Rochav- https://bit.ly/2PdtyrM


sexta-feira, 31 de agosto de 2018

LANÇAMENTO AMANHÃ -SÁBADO 01.09.2018 17HS Livraria Tapera Taperá - Galeria Metrópole. AV SÃO LUIS 187 SÃO PAULO

Empresariamento da Vida:A Função do Discurso Gerencialista nos Processos de Subjetivação Inerentes à Governamentalidade Neoliberal

Datas de Lançamento: 
23/08/2018 - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/SP). Convidado para apresentação e discussão Dr. Tony Hara. Horário: das 16 hs às 19hs. Entrada franca.

01/09/2018 - Livraria Tapera Taperá - Galeria Metrópole. Av São Luis 187, Praça da República, Centro. São Paulo – SP. Convidados para discussão: Profª Dra. Margareth Rago (IFCH/UNICAMP) e Prof. Dr. Edson Passetti (PUC/SP). Horário: das 17 hs às 20 hs. Entrada franca.

03/10/2018 - Auditório do Instituto Sedes Sapientiae - Rua Mistro Godoy, 1484, Perdizes. São Paulo-SP.
Breve novos locais de lançamento em São Paulo e em alguns estados do Brasil.



O livro Empresariamento da vida: a função do discurso gerencialista nos processos de subjetivação inerentes à governamentalidade neoliberal (Appris, 2018) busca realizar uma arqueologia do discurso gerencialista e uma cartografia dos dispositivos de poder que sustentaram sua implicação no campo social. O autor, já na epígrafe, deixa claro o que sente e compreende como sendo o processo da escritura movida no sentido de uma máquina de guerra, citando Deleuze e Guattarri no livro Kafka: por uma literatura menor, diz ele:
Escrever como um cão que faz um buraco, um rato que faz a toca. E, por isso, encontrar o seu próprio ponto de subdesenvolvimento, o seu patoá, o seu próprio terceiro mundo, o seu próprio deserto [...] e com isso (grifo nosso) agarrar o mundo para o fazer fugir, em vez de fugir dele, ou de o acarinhar.  


A busca, neste livro, do como é forjado o sujeito dentro do campo social, transversa vários campos, entre eles e, talvez, o mais apreciado neste livro, que Ambrózio nos entrega como refinamento de sua tese de doutoramento em Psicologia Clínica na PUC/SP sob orientação do Prof. Dr. Luiz Benedicto Lacerda Orlandi, trata-se dos restos que as inscrições das modalidades de governo, em uma certa época, deixam em cada um de nós como resquícios das modalidades de resistência no sentido da sobrevivência em um mundo cada vez mais engolfado nas tramas do funcionamento do Capital. Ambrózio é Psicanalista e com atuação no passado na área da Administração, com esta formação multidisciplinar, recolhe seu campo empírico transvasando-o, assim, no campo teórico, com isso, constroe uma obra de valor para um mundo acobertado pelo rentismo político do capital, na égide do Neoliberalismo dos últimos dois séculos e, em especial, na contemporaneidade deste nosso século XXI.
Para tanto, seus recursos são amplos, do ponto de vista teórico, se alicerça em Foucault, Deleuze, Hardt & Negri, Freud e, bem timidamente, Lacan. Deste modo, ele tece uma malha extensa de argumentações que nos dão pistas para compreender o processo de subjetivação no qual se encontra imerso o sujeito contemporâneo, preso a esta malha que por vezes o sufoca, desampara, ou o torna, como diria Peter Pál Pelbart, quanto às tentativas de construção da subjetividade: um equilibrista!
A professora e historiadora Margareth Rago, ao apresentar a obra, nos fala de modo certeiro um dos focos do livro de modo claro e contundente ao afirmar:
"A leitura deste livro nos informa, com muita acuidade, sobre os processos assujeitadores que vivemos a cada dia, muitas vezes, de maneira imperceptível ou até mesmo valorizada, já que somos bombardeados, de ponta a ponta, por uma gama de informações ambivalentes que, no entanto, afinam no mesmo diapasão da sujeição e da obediência, produzindo o que o autor denuncia como “jaula subjetiva”. Seremos capazes de resistir?"

Ambrózio, com uma tessitura lexical clara, nos alumia, no seu trajeto textual, que embora com as devidas amarras do campo teórico, vislumbra uma clareira quanto ao assujeitamento do homem. Dada a sua clareza, utiliza-se também da poética de um Manoel de Barros, (um filósofo poeta) redimensionando, ainda, um campo de possiblidades de luta a este homem preso, atado e enjaulado.

Em suas palavras finais nos diz:
"É importante, no entanto, destacar a aposta no posicionamento de pensar que foi no sentido de responder a uma dinâmica primeira de liberdade e luta destes fluxos que se ergueram tanto os Estados em suas intervenções neoliberais organizados por meio de uma arquitetura imperial quanto se diluiu no corpo social uma lógica de competição acirrada orquestrada pelo discurso gerencialista num processo de empresariamento da vida que captura os fluxos no sentido de enjaulá-los na forma de acumulação do capital humano"

Recomendo a obra aos leitores, já afiados ou não, dentro das diversidades dos campos epistêmicos pelos quais o autor transversa, com destaque para a Filosofia, a Psicanálise e, quem sabe, a Administração. Quem dera um sopro de ar fresco poderia adentrar este ambiente mofado que a competição acirrada, mote da governamentalidade neoliberal, deixa com ares de pulsão de morte. Parafraseando o Freud na introdução da Interpretação dos SonhosAcheronta Movebo!

Paulo Vasconcelos.


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terça-feira, 28 de agosto de 2018

Aos saudosistas da crítica nos jornais, aviso que ela acabou faz décadas ...Captura do Face -Regina Dalcastagnè


Regina Dalcastagnè (UnB) é uma jovem  acadêmica sem ranço das togas universitárias e com larga produção de 20 anos. Conheci-a, digo sua obra, via Antonio Eduardo Laranjeira e Lívia Natália (UFBA-Letras). Ambos são meus amigos e têm pela mesma profunda admiração e respeito  Dalcastagnè, como pesquisadora da Literatura Brasileira Contemporânea, mapeia a nossa produção de modo sistêmico. Há nela, além disso, algo que julgo importante: sua exposição nas redes  sem esconder seu posicionamento político. Isto a torna uma intelectual comprometida com o seu tempo, com o seu país. A literatura e seu corpus teórico não bastam para nos alimentar  nos nossos devires. Sua exposição nas rede sociais é uma aposta no todo da palavra, em suas diversas interfaces, formas e, portanto, na política, nas suas nervuras, atalhos, pregas e cantos de nossa existência. Ela não se distancia do cotidiano em suas diversidade e incongruências. Seu post - abaixo reproduzido - aponta para uma nova fase da Crítica Literária e declara a forma de condução do seu trabalho. Aproveitei para atá-lo a outro post, de Luciana Hidalgo - outra mulher lúcida e comprometida com o que faz, que respalda o trabalho de Dalcastagné, em comentários ao seu post do Facebook.
*Regina Dalcastagnè-https://bit.ly/2MIGfxw
Regina Dalcastagnè

Luciana Hidalgo É isso mesmo, Regina. Há um esforço constante de professores e teóricos na universidade, que eu acompanho de perto. E vou lembrar aqui algo muito importante: a sua pesquisa sobre literatura brasileira contemporânea mudou a forma como se via a literatura brasileira contemporânea. Apontou os vícios e abriu novos caminhos.



Após ser aventado que booktubers podem estar cobrando para elogiar livros sem que isso esteja muito claro para seus seguidores, diversas vozes se levantaram para defendê-los, dizendo, especialmente, que eles não se pretendem críticos, mas divulgadores. Até aí tudo bem. Mas agora começou um ataque à própria crítica literária: ela não existiria mais no Brasil, é só compadrio, é só elogio mútuo, aqueles que a praticam são todos uns esnobes etc. etc.
Aos saudosistas da crítica nos jornais, aviso que ela acabou faz décadas e, com exceção de raríssimos suplementos culturais que insistem em sobreviver e alguns espaços virtuais corajosos, hoje ela se abriga basicamente dentro do ambiente acadêmico.
Como editora de uma revista especializada na crítica da literatura brasileira contemporânea, que circula, sem atraso e sem interrupções, há quase 20 anos, acho esses comentários ofensivos. E, em respeito às autoras e autores que publicaram na revista, quero dizer que estamos, sim, lendo o que se produz hoje e pensando livre e criticamente sobre essas obras. Que escrevemos nossos textos e editamos nossas revistas e fazemos a divulgação desse trabalho nas madrugadas, finais de semana e feriados, não por “amor” à literatura, mas por entender que conhecimento precisa ser compartilhado.
https://bit.ly/2Mwnxde
https://bit.ly/2MIGfxw

Nessas duas décadas a revista Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea publicou 489 artigos, 86 resenhas e umas tantas entrevistas com escritoras/escritores. Mais algumas centenas de bons trabalhos foram recusados por falta de espaço e devem estar circulando agora em outras excelentes revistas – não são poucas.
Como somos docentes e pesquisadores, também damos aulas sobre a literatura brasileira recente, formamos professores preocupados com essa produção, orientamos jovens pesquisadores, organizamos eventos e tentamos intervir, na medida do possível, nos debates públicos sobre o tema.
Se vocês não têm interesse, tempo, vontade de acompanhar a nossa produção, podem ir ver o que os booktubers têm a dizer, mas não venham nos acusar de que não estamos fazendo o nosso trabalho, e muito menos de que não o estamos fazendo de forma honesta e ética.

* É professora titular livre de literatura brasileira da Universidade de Brasília e pesquisadora do CNPq. Coordena o Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea e edita as revistas Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea e Veredas, da Associação Internacional de Lusitanistas. Publicou os livros Literatura e exclusão (organização com Laeticia Jensen Eble; Zouk, 2017); Sérgio Sant’Anna: um autor em cena (organização com Ângela Maria Dias; Editora UFF, 2016); Representación y resistencia en la literatura brasileña contemporánea (tradução de Lucía Tennina e Adrián Dubinsky; Editorial Biblos, 2015); Espaços possíveis na literatura brasileira contemporânea (organização com Luciene Azevedo; Zouk, 2015); Espaço e gênero na literatura brasileira contemporânea (organização com Virgínia Maria Vasconcelos Leal; Zouk, 2015); Do trauma à trama: o espaço urbano na literatura brasileira contemporânea (organização com Ricardo Barberena; Luminara, 2015); Fora do retrato: estudos de literatura brasileira contemporânea (organização com Anderson Luís Nunes da Mata; Horizonte, 2012); Literatura brasileira contemporânea: um território contestado (Editora da UERJ/Horizonte, 2012); História em quadrinhos: diante da experiência dos outros (organização, Horizonte, 2012); Pelas margens: representação na narrativa brasileira contemporânea (organização com Paulo C. Thomaz; Horizonte, 2011); Deslocamentos de gênero na narrativa brasileira contemporânea (organização com Virgínia Maria Vasconcelos Leal; Vinhedo: Horizonte, 2010); Melhores contos: Salim Miguel (organização; Global, 2009); Ver e imaginar o outro: alteridade, desigualdade, violência na literatura brasileira contemporânea (organização; Horizonte, 2008); Entre fronteiras e cercado de armadilhas: problemas da representação na narrativa brasileira contemporânea (Editora Universidade de Brasília, 2005); A garganta das coisas: movimentos de Avalovara, de Osman Lins (Editora Universidade de Brasília/Imprensa Oficial, 2000); Tramóia: histórias de rendeiras (Insular, 1998); e O espaço da dor: o regime de 64 no romance brasileiro (Editora Universidade de Brasília, 1996). 


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