REDES

domingo, 17 de junho de 2018

HILDEGARD ANGEL VAI NO PONTO: JOÃO MOREIRA SALLES PODE DEFINIR QUEM FAZ JORNALISMO NO BRASIL?


Muita coisa se esconde entre o céu e a  terra dos poderosos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!









foto por: https://bit.ly/2yd5v8L

Uma das jornalistas mais respeitadas e admiradas do Brasil, Hildegard Angel condenou duramente a nova modalidade de censura, que vem sendo comandada por João Moreira Salles, herdeiro do Itaú Unibanco, que financia a Agência Lupa, contratada pelo Facebook para fiscalizar "fake news", mas que, como se viu no episódio Juan Grabois, publicou uma informação falsa e tentou perseguir sites progressistas; "João Moreira Salles está qualificado para determinar quem pode exercer o jornalismo no Brasil?", questiona




Por Hildegard Angel, no Jornal do Brasil – SÃO TÃO edificantes os comentários dos âncoras dos telejornais, quando repercutem as falas de ministros do Supremo por uma imprensa livre, ou dos editorialistas importantes, quando condenam qualquer tipo de censura à imprensa... 
NO ENTANTO, a verdade que reside por trás do “affair terço do Papa” é justamente a prática da Censura à imprensa, rotulando-se como falsa uma notícia, tendo como referência uma fonte única, o site Vatican News... 
ISSO LEVOU o Facebook a punir e a ameaçar de eliminação três dos sites jornalísticos mais acessados da blogosfera: Diário do Centro do Mundo - DCM, Brasil 24/7 e a revista Forum, do jornalista Renato Rovai, que pergunta: “isso não é algo muito acima do papel que deveria ter uma empresa de checagem?”...
E QUAL seria o papel de uma empresa de checagem? Policiar as redes sociais, justamente aquela zona da mídia onde é mais baixa a contaminação dos compromissos espúrios com o mercado?... 
PERSEGUIR A imprensa virtual, aquela em que ainda bate a saudável brisa da independência do pensar? A imprensa mais avessa às pressões da mídia hegemônica?... 
CRIMINALIZAR E banir os progressistas, que, quixotescamente, têm obtido sucesso, praticando um jornalismo sério, cuidadoso, liberto, sem os vínculos, que, sabemos, comprometem a atuação da grande mídia brasileira?... 
QUEM PROPÕE a questão é Rovai, para quem “o episódio do terço entregue a Lula na prisão de Curitiba pelo advogado Juan Grabois, um dos assessores do Papa Francisco, atesta a nossa tragédia como país, do ponto de vista do respeito aos princípios básicos que norteiam uma sociedade democrática”... 
SE FORMOS colocar uma lupa na atuação da Agência Lupa - “a primeira de fact-checking”, neste caso, teremos a sensação de um jogo de cartas marcadas... 
É DE SE estranhar que apenas esses três sites, talvez os mais vistos e prestigiosos dos blogs progressistas, tenham sido punidos, quando dezenas de outros postaram a mesma notícia, alguns até com mais ênfase, bem como sites ligados à grande mídia, como IG e UOL, e para eles não houve retaliação do Facebook... 
E  POR QUE rigor tamanho para checagem tão sem importância? Tipo: o assessor do Papa é assessor ou não é mais? O terço foi enviado pelo Papa ou não foi?... 
QUANDO A questão da Censura se impõe, o perfil ideológico dos veículos deve ser deixado de lado e o debate principal posto na mesa. Seja o veículo virtual ou impresso, de pequeno, médio ou imenso alcance, será que ele apoia esse tipo de Censura?... 
TEM LEGITIMIDADE a Agência Lupa, financiada pela Editora Alvinegra, que publica a revista Piauí, de propriedade de João Moreira Salles, para definir/decidir quem pode fazer imprensa neste país?... 
EM SUMA, e claramente, João Moreira Salles está qualificado para determinar quem pode exercer o jornalismo no Brasil?... 
POR FIM: é pertinente um órgão de imprensa concorrente dos demais autoproclamar-se arauto da ética e da isenção, podendo decidir quem deve e quem não deve exercer a profi ssão? Sendo, dessa forma, superior à academia, às entidades de classe e órgãos governamentais, que ratifi cam diplomas e expedem registros para o exercício profi ssional?... 
VOLTANDO À história do Rosário, a Lupa poderia responder a essas perguntas da revista Forum:
1 – É RAZOÁVEL atribuir o possível erro na apuração de qualquer veículo à produção de fake news, se haviam indícios fortes de que isso poderia ser verdade?... 
2. CLASSIFICADA ESTA informação como falsa, com base numa única fonte (site Vatican News), indicar que o Facebook puna e ameace de eliminação três sites jornalísticos não é algo muito acima do papel que deveria ter uma empresa de checagem?...
3. QUANDO QUASE uma centena de veículos usaram a mesma fonte Lula. com para produzir a notícia (‘o Papa enviou o terço a Lula’) por que só três foram indicados para serem censurados pelo Facebook e ameaçados por ele?... 
4. É RAZOÁVEL que empresas de checagem que constituem parceria com o Facebook mantenham também parceria com veículos que disputam o mercado de notícias, como no caso da Lupa, que é da Revista Piauí?...
5. QUAIS SÃO OS poderes que essas empresas têm na classificação de sites jornalísticos no Facebook? Se elas têm o poder de censurar conteúdos e ameaçar com a eliminação de páginas têm também o de classificar o alcance dessas páginas?”... 
BEM, ESTA coluna confere todos os aplausos às empresas de fact-checking, que combatam e consigam coibir as verdadeiras fake news, não só na mídia virtual, como também na impressa, na TV, no rádio etc... (exemplo: as mentiras sobre a “Petrobrás quebrada”)... 
APLAUSOS AO combate às calúnias e manifestações indignas, que contribuem para a deterioração de nossa sociedade, da soberania do país, que atentem contra os direitos do homem... 
MAS USAR do pretexto de fake news para reprimir a liberdade da imprensa no Brasil ou para eliminar concorrentes, que, mesmo supondo-se não ter sido essa a intenção - supondo-se -, precisamos estar alertas e ativos para impedir mais esse retrocesso, entre tantos, a que nos últimos dois anos, o povo brasileiro tem assistido pasmo, incrédulo, entorpecido e sem reação.

A ditadura, o golpe da propaganda




* Foto por https://bit.ly/2LEaWj5

Nada como ouvir, escutar Bobbio nas palavras  de Hector Tajanar, via revista Proceso, México.Sua lucidez -Bobbio, era tamanha, frente a tempos que nao mais viu, face sua morte, mas suas palavras ainda estão e estarão firmes enquanto dissolvermos o caldo intenso da palavra especialmente nas bocas dos falantes  do capital e da política.A propaganda é um bicho trágico que nos devora e está nas esquinas a raptar-nos das verdades.É dever ficarmos atentos e ai o Hector nos chama atenção no final da sua matéria: "El mejor antídoto contra la dictadura de la propaganda es el análisis razonado y crítico de las diversas opciones en contienda antes de emitir nuestro voto libre, secreto e intransferible para elegir al próximo presidente de la República", isto no caso do México , mas também muito bem encaixado na hora e vez nossa aqui no Brasil.Ainda aqui, emendo, numa salada que julgo conveniente na poesia de Natalia Correia que muito diz da mesma matéria - a palavra como vendida.
A defesa do Poeta

Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto

Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim

Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes

Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei

Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em criança que salvo
do incêndio da vossa lição

Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis

Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além

Senhores três quatro cinco e Sete
que medo vos pôs por ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?

Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa

Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.





Antologia da Poesia Portuguesa Contemporânea, Editora Nova Aguilar, 1999 - RJ, Brasil

En la democracia moderna el soberano no es el pueblo, sino todos los ciudadanos. El pueblo es una abstracción, cómoda pero falaz.-  
Norberto Bobbio
CIUDAD DE MÉXICO (Proceso).- Al final de su vida, Norberto Bobbio se lamentaba de que la racionalidad del elector fuera una de las aspiraciones no cumplidas de la democracia, incluso en países desarrollados. Joseph Schumpeter –otro de los grandes teóricos de la democracia de la primera mitad del siglo XX, Bobbio lo fue de la segunda– pensaba que el ciudadano común descendía a un nivel inferior de desempeño mental al momento de acceder al ámbito político, convirtiéndose en un ser infantil y primitivo. Churchill lo decía con gracia y sin ambages: “El mejor argumento contra la democracia es tener una conversación de cinco minutos con un elector promedio”. Hoy basta ver los spots de las campañas o leer las redes sociales.
La inesperada victoria de Donald Trump confirmó la ignorancia de la mayoría de los electores que votaron por él, así como la eficacia de su propaganda populista, racista y misógina. En el libro Contra la democracia (2016), el politólogo Jason Brennan, de la Universidad de Georgetown, califica a ese tipo de electores como hooligans (vándalos) porque se comportan igual que esos rabiosos aficionados deportivos. 
Los hooligans políticos son consumidores de información política, pero lo hacen de manera sesgada. Suelen buscar la información que confirma sus opiniones y prejuicios políticos, la que no se ajusta a ellos la ignoran o la rechazan. Dichas opiniones políticas llegan a formar parte de su identidad y constituyen una idiosincrasia inamovible, reacia a la crítica e impedida para la autocrítica. Tienden a despreciar e insultar a quienes piensan distinto a ellos. Tal conducta electoral es frecuente en muchas partes del mundo, sobre todo cuando existe un ambiente de polarización “ideológica”, como ahora en México. No sé qué sea peor: la histeria antiobradorista o la devoción a San Andrés infalible y todopoderoso. Ambos extremos exudan desmesura, además de ser falsos. Igual que la propaganda.
Nuevo opio del pueblo, la dictadura de la propaganda ha surgido ante la agonía de las ideologías y conserva el ingrediente seductor del pensamiento mágico-religioso para ganar adeptos que busquen identidad, pertenecer a un grupo social y una cierta tranquilidad interior. Como la publicidad comercial, la propaganda política exagera las bondades de un producto –individuo o partido– a fin de crear en el receptor el deseo de adquirirlo o de apoyarlo. Al propagandista, como al publicista, no les interesa la veracidad de su información sino exclusivamente ganar consumidores o simpatizantes. 
La propaganda está ligada a la manipulación y el engaño. Está diseñada para influir en las creencias, actitudes y acciones de individuos, grupos o masas a través de la comunicación, con el propósito de limitar o suprimir el juicio informado, racional y reflexivo de grandes audiencias en beneficio de la marca o personaje anunciados. Por eso se dirige a las emociones, no a la inteligencia. Su única meta es ser eficaz.
La propaganda política es un instrumento de persuasión para ganar el poder mediante la manipulación de las masas y, una vez instalado en él, controlarlas para retenerlo; manejar a esas mismas masas para usar o abusar de dicho poder. Así lo han hecho los grandes autócratas de la historia –Hitler, Lenin, Musso­lini, Mao– y sus epígonos Castro, Chávez o Trump, entre tantos otros. Las técnicas manipuladoras de la política de masas son la principal herramienta de los demagogos de ayer y hoy, sin distinción de ideologías. Por eso, como señala el filósofo francés Jacques­ Ellul, la propaganda no sólo puede destruir la democracia, sino que representa una de las amenazas más serias de la humanidad en el mundo actual (Propaganda: La formación de las actitudes humanas).
Como lo indica su nombre, la masa es maleable. En Masa y poder, Elías Canneti utiliza una bella y elocuente metáfora, comparando a las masas con el fuego: “Es igual a sí mismo en todas partes; se propaga con celeridad; es contagioso e insaciable; puede originarse en todas partes y rápidamente; es múltiple; es destructivo; tiene un enemigo. Todas estas propiedades son las de la masa; difícilmente podría darse un resumen más preciso de sus atributos”. 
La personalidad del conductor de masas es compleja y perniciosa. En su clásico estudio, Psicología de masas, Gustave Le Bon la ha definido con precisión: “El líder de masas es un sujeto hipnotizado por la idea de que se ha convertido en apóstol. Generalmente los conductores de masas no son hombres de pensamiento, sino de acción. Por absurda que sea la idea que defienden o la finalidad que persiguen, todo razonamiento se estrella contra su convicción. La confrontación y la crítica no hacen sino excitarlos más”.
México sigue siendo un país con niveles de pobreza y desigualdad lacerantes. Hay más de 53 millones de pobres, que equivalen a 43% de la población (Coneval 2016). Las 10 personas más ricas del país acumulan una riqueza igual a la suma del patrimonio del 50% menos favorecido. Un 1% concentró 82% de todo el producto generado en el país en 2017 (Oxfam 2018). Son cifras sobrecogedoras e insostenibles que inciden en el dramático rezago educativo del país. De los 86.69 millones de mexicanos mayores de 15 años, 5.5% es analfabeto, 10.9% no ha terminado la primaria y 18.6% no concluyó la secundaria. Ello da un total de 30.33 millones de personas mayores de 15 años sin educación escolar, lo cual equivale a 35% de ese sector de la población (INEA, 2015). Todos ellos son electores potenciales.
El orden político de la nación es parte del sistema social en su conjunto y está condicionado por él, así como por la historia reciente. El bajo nivel de la democracia mexicana refleja esa adversa situación social y educativa del país: es frágil y manipulable. El mejor antídoto contra la dictadura de la propaganda es el análisis razonado y crítico de las diversas opciones en contienda antes de emitir nuestro voto libre, secreto e intransferible para elegir al próximo presidente de la República. Construyamos ciudadanía para fortalecer la institucionalidad democrática de México.
https://bit.ly/2sQ67fx apud

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*Norberto Bobbio - 1909-2004, foi um filósofo político, historiador do pensamento político, escritor e senador vitalício italiano. Conhecido por sua ampla capacidade de produzir escritos concisos, lógicos e, ainda assim, densos.Este análisis se publicó el 3 de junio de 2018 en la edición 2170 de la revista Proceso.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Em pouco tempo, esquerdas voltarão ao poder na América Latina, diz cientista política

MATÉRIA INTERESSANTÍSSIMA





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O desempenho da China e da Índia na economia faz com que a atenção se volte para a Ásia quando se tratam de análises geopolíticas e de estratégias futuras. É lá que está o maior investimento em tecnologia da atualidade e é onde se definirão as novas correlações de forças.
Em entrevista à revista La Migraña, realizada pela vice-presidência da Bolívia, a professora de sociologia e ciência política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mônica Bruckmann comenta as relações entre a América Latina e os países asiáticos, a importância do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e a correlação de forças na América Latina, onde avalia que haverá, em breve, uma nova reconfiguração regional com a volta da esquerda ao poder. Confira a entrevista:
Sergio Callisaya: O que o ressurgimento da Ásia na economia mundial significa para a América Latina?
Monica Bruckmann: É importante para retomar a discussão sobre a reemergência da Ásia na economia mundial e a importância do Brics [grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] nas políticas econômicas, incluindo reconfigurações globais e culturais. Porque a verdade é que, historicamente, a Ásia, e particularmente a China, já eram o centro dinâmico da economia mundial, pelo menos dos séculos 5 e 11 até o final do século 17. A China era onde a manufatura mais elaborada era produzida e exportada para a Europa, e era para a China onde todo o ouro e prata do sistema mundial daquela época iria parar, durante 8 séculos a China ocupou esse papel de centralidade; Isso explica por que em pouco mais de 30 anos deixa de ser uma economia camponesa para ser a primeira economia mundial, se medirmos seu PIB por dólar de acordo com seu poder de compra, a China desde 2014 é a maior economia do mundo, o segundo lugar, os Estados Unidos e, em terceiro lugar, a Índia, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). E as projeções para 2050 dizem que a China permanecerá em primeiro lugar, a Índia em segundo lugar e os EUA em terceiro, estima-se que das dez maiores economias do mundo, sete serão economias do Sul, incluindo uma economia africana.
Estas são mudanças muito profundas e a tendência é que todo o dinamismo econômico se desloque da Europa e dos EUA para a Ásia, particularmente China e Índia. Este é um fenômeno que deve ser visto a partir dessa acumulação civilizacional que a China e a Índia tiveram como centros dinâmicos da economia mundial por oito séculos e que agora ressurgem tão rapidamente.
Esse é um grande desafio na América Latina, porque você deve primeiro entender a dinâmica desse processo e especialmente as projeções da economia mundial e, em segundo lugar, como isso afeta a América Latina. Por outro lado, há a necessidade de reposicionar a região neste contexto, pois possui reservas muito importantes de recursos naturais estratégicos que esses projetos econômicos vão demandar, por exemplo, a nova rota da seda da China que foi proposta em 2013 e que já hoje em dia é uma realidade em plena construção.
Certamente em pouco tempo estaremos, desde o início da nova Rota da Seda, enfrentando um novo ciclo de boom no preço internacional das chamadas commodities e a pergunta é: O que a América Latina vai fazer? Continuará reproduzindo sua inserção dependente e subordinada no sistema mundial como exportador de matéria-prima sem valor agregado? Ou, ao contrário, aproveitará essa oportunidade histórica de agregar valor à exportação desses recursos naturais para fazer cadeias de valor regionais, industrializar, subordinar essa comercialização de recursos naturais à transferência de tecnologia, à colaboração científica, industrial. É o desafio.
Neste momento, a região passa por tensões profundas, a visão hegemônica integracionista que tinha dois ou três anos atrás, desde o início do século, está enfraquecida, eu acho que em um curto período de tempo, certamente a correlação de forças políticas na região vai mudar novamente, no sentido de fortalecer os governos de esquerda, porque esses governos de direita que surgiram, por exemplo, na Argentina e no Brasil, que são países tão importantes para definir este processo, se desgastam muito rapidamente; O Presidente Temer está governando um país como o Brasil com 1% de aprovação, gostaria de saber em que outro país poderia um presidente governar com a aprovação de 1%? Há uma deslegitimação muito rápida, em menos de um ano, Temer se desgastou terrivelmente, o mesmo acontece com Macri, na Argentina. Em um curto espaço de tempo, certamente teremos uma nova correlação de forças, onde a esquerda estará de volta no poder em uma maioria na região.
Essas questões precisam ser reposicionadas no debate, especialmente a necessidade de construir uma visão estratégica comum para posicionar a América Latina diante dessas profundas mudanças que estão ocorrendo, que ocorrerão com ou sem a participação da América Latina, logicamente que seria melhor com sua participação e também com capacidade de influência regional na definição dos rumos que este processo irá tomar.
Em quais nações as forças de esquerda retomariam o controle?
A Argentina está vivendo um ano eleitoral, já teve suas eleições primárias para o Congresso, até o final do ano terão as eleições que definirão o novo Congresso argentino. O peronismo e o kirchnerismo estão trabalhando duro para voltar ao poder e acho que há amplas condições para que regressem ao poder na Argentina, sob a liderança de Cristina Kirchner; no caso do Brasil, ainda temos um processo de disputa, mas é claro que a direita está muito deslegitimada, envolvida com questões de corrupção, 80% do Congresso brasileiro tanto na Câmara dos Deputados como o Senado têm não só evidências, mas provas de corrupção, muitos deles estão sendo processados.
Eles estão tentando impedir a candidatura do ex-presidente Lula, como ele foi condenado em primeira instância, sem qualquer prova, com evidências, mas não provas, mostrando o Poder Judiciário no Brasil, que foi capaz de produzir um golpe institucional e depor uma presidenta sem nenhum crime comprovado. Isso levou a um crescente processo de mobilização popular no Brasil e a pressão daqueles que eram favorecidos pela política social do governo do PT, como os estudantes que podiam acessar gratuitamente uma universidade pública e que agora estão sendo profundamente ameaçados, tudo isso levará a uma nova correlação de forças políticas e populares, que certamente mudarão a cor do governo no Brasil.
Estamos em um momento de definições, de grandes tensões, mas a tendência, no médio prazo, é que essa direita, que visa colocar na agenda novamente um projeto neoliberal ortodoxo, a rendição da soberania, a militarização dos territórios, entrem em aliança com um poder em declínio como os Estados Unidos, ignorando o papel da Ásia na economia mundial neste momento.
É um erro histórico e de falta de visão o que essas direitas estão cometendo, aliando-se aos Estados Unidos, que todos sabemos já perderam a supremacia econômica. A única supremacia que mantêm é a militar, mas na medida em que não podem financiar mais esta supremacia militar, a tendência é que isso mude também.
Então, vivemos momentos de grandes desafios, um deles é fazer uma avaliação crítica e honesta do que foi feito nesses 15 anos de governos esquerdistas da região, do que não foi feito, do que foi feito de errado e tudo o que devemos rever, corrigir, para um novo período de ascensão da esquerda no nível regional.
É conveniente ou não para a América Latina que a China esteja em primeiro lugar na economia mundial?
Isso depende da posição que a América Latina assume. Obviamente, a China não está interessada em uma guerra sobre os recursos naturais no nível planetário, que é exatamente o que os EUA fizeram, especialmente desde 2001, quando abre esta campanha de luta contra o terrorismo, cujo objetivo principal era a apropriação dos recursos naturais do petróleo do Oriente Médio e não as armas nucleares do Iraque.
A China representa neste momento a possibilidade de entrar em um processo de negociação de benefícios compartilhados com a América Latina. Eles desenvolveram uma política para a América Latina em 2008, que diz em sua introdução “China a maior economia em desenvolvimento do mundo está disposta a negociar em condições de paz e benefício mútuo com os países da América Latina com as sub-regiões ou com a região como um todo”, e me pergunto por que a China quer negociar com a região como um todo, se sabe que perde sua posição e força na negociação, e a resposta é relativamente simples: a China está interessada em resolver seus problemas de soberania alimentar, de acesso a recursos estratégicos a longo prazo, não em 5 anos, mas em 20, 30, 50 anos e é por isso que uma negociação regional garante certa estabilidade nesse tipo de negociação.
O problema é que o que a América Latina fez, por falta de visão estratégica, ausência de projetos nacionais e muito menos regional, foi reproduzir a condição de exportador de matérias-primas sem valor agregado, condição que tivemos por mais de 500 anos; Assim, por exemplo, em 2004, 38% e 39% das exportações totais da América Latina para a China eram matérias-primas sem valor agregado e em 2008 chegaram a 75% e 80%, ou seja, reprimimos nossa cesta de exportação da América Latina para a China. no momento em que poderíamos e deveríamos fazer exatamente o contrário, aproveitar os pontos fortes da região, aproveitar a dependência da China de recursos naturais estratégicos para negociar em outros termos, promover cadeias de valor regionais, agregar valor a esses recursos naturais, para deixar de ver os recursos naturais como mercadorias e começar a vê-los como a base para ciclos tecnológicos e ciclos industriais em desenvolvimento ou emergentes de uma economia global.
Isso significa recuperar uma visão de soberania científica e tecnológica para transformar esses recursos naturais em produtos e atender o mercado mundial, não como exportadores de matérias-primas, mas como produtores em áreas estratégicas que a região deve escolher e decidir de maneira soberana.
A posição política da região está voltada para essa visão estratégica?
Infelizmente não, houve momentos muito importantes de análise deste problema e tentativas de construir uma visão estratégica comum, por exemplo, em 2012, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) colocou um elemento central no debate, a necessidade de construir uma estratégia de utilização dos recursos naturais para o desenvolvimento integrado dos países da Unasul e dos povos, cuja preocupação era como aproveitar esses recursos naturais, mas não para reproduzir a matriz primária exportadora da região no sistema mundial, mas para produzir processos de aprofundamento da integração regional a partir de cadeias de valor regionais.
Uma infraestrutura ligada aos centros de produção, transformação e consumo de produtos da região que tinham instrumentos financeiros significativos para o desenvolvimento, daí surge o papel do Banco do Sul, tão importante porque se destina a financiar o que as empresas não estão interessadas em financiar porque não representa para eles um lucro imediato, mas que para o Estado interessa financiar para produzir um desenvolvimento de médio a longo prazo.
Durante dois ou três anos, houve intensa discussão a nível de governos, acadêmicos e movimentos sociais sobre essas possibilidades, infelizmente, com a mudança na correlação de forças políticas na região, a chegada de Macri no Governo da Argentina, o golpe de Estado no Brasil, dois países que são importantes para impulsionar a integração regional, caiu nas mãos de pessoas que não estão interessadas na integração regional; ao ponto de declarar que não estavam interessados na submissão à Unasul e Celac, como fez o ex-chanceler José Serra no Brasil, mas era importante para recuperar a sua relação histórica e estratégica com os Estados Unidos. Então, essas pessoas não estão interessadas em uma visão soberana de projeto nacional, infelizmente estão ligadas exclusivamente a interesses econômicos pessoais que passam em grande parte por estruturas de corrupção e máfias locais.
Que país da América Latina estará mais bem preparado para dar um passo à frente do seu status de simples produtor de matérias-primas?
Eu acho que países como Venezuela e Equador, este avançou muito nessa questão, embora seja desconhecido o que acontecerá naquele país; mas o Equador foi um dos países que viu com muita clareza a necessidade do que chamaram de mudança de matriz produtiva, fizeram seu Plano Nacional de Bem Viver no primeiro governo, depois no segundo governo de Rafael Correa, onde entre seus objetivos estratégicos estava o uso soberano de recursos naturais para processos de produção, soberania científica e tecnológica e formação de talentos humanos, por isso o Equador foi em todos esses anos o país que mais investiu proporcionalmente em relação ao produto interno bruto, em ciência, tecnologia, inovação e treinamento de seus cidadãos em nível de pós-graduação dentro e fora do Equador.
O Equador tinha um Plano Nacional de Bolsas sem teto orçamentário — que eu saiba, o único país do mundo a ter algo assim —, no qual qualquer equatoriano aceito em uma das 100 melhores universidades do mundo, automaticamente tem as bolsas de mestrado e doutorado aprovadas, portanto, o Equador tinha uma consciência clara da importância da soberania científica e tecnológica para promover uma mudança de modelo de produção que levará o país a deixar de ser um exportador de matérias-primas para se tornar um país que exporta ciência, tecnologia, conhecimento e produtos industrializados.
Outros exemplos são a Argentina, que possui uma acumulação significativa de tecnologia, o Brasil, que tem um parque industrial que é o maior da América do Sul e um dos maiores na América Latina junto com o do México, por isso temos capacidades significativas, temos estruturas científicas, engenheiros, uma academia que cresceu, mas tudo isso está sendo ameaçado por esta visão neoliberal, como no Brasil que retirou pressupostos fundamentais para o desenvolvimento científico e tecnológico, que aprovou uma medida provisória chamada PEC 55 através do qual os gastos com saúde e educação estão congelados por 20 anos, com isso estão destruindo a universidade pública e gratuita, que foi uma grande conquista do povo brasileiro, que foi o resultado de muitas lutas e muito acúmulo de participação popular, neste momento a universidade pública e livre no Brasil está profundamente ameaçada, bem como a instalações de produção científica e tecnológica.
E como você acha que a Bolívia está nesse contexto?
Na região, a Bolívia ainda representa um dos bastiões, é possível desenvolver um projeto de transformação, mas que é como qualquer outro, tenso, que tem contradições, que tem avanços, retrocessos, mas que, em geral, conseguiu uma situação econômica, que está bem acima do que a região alcançou, por exemplo, o crescimento econômico da Bolívia é de 4,5%, 4,6% ao ano, enquanto a região está praticamente estagnada economicamente com um crescimento abaixo de 1%.
A Bolívia representa para nós a possibilidade de desenvolver importantes processos de transformação político-econômica, que serão acumulados para novas e mais profundas transformações. A Bolívia conseguiu inventar um novo modelo de Estado que não existia na região, construímos nossos Estados nacionais à imagem e semelhança dos Estados europeus, das lutas pela independência do século 19.
A Bolívia e o Equador, quando propõem e estabelecem um Estado Plurinacional, não significa apenas o reconhecimento da existência de uma multiplicidade de nações como conformação demográfica, cultural e civilizacional, mas também as estruturas de poder de cada uma dessas nações são incorporadas a uma estrutura maior do Estado boliviano.
É um desafio teórico tremendo pensar em um modelo político diferente e ser capaz de construir uma institucionalidade radicalmente diferente da anterior, mas profundamente democratizante, e não dizendo que é perfeito, tem muito a percorrer ainda, é um projeto em construção, mas é profundamente democratizante, porque inclui uma enorme variedade de nações indígenas a uma construção cidadã maior; o fato de que a Bolívia tem 36 línguas oficiais não é uma coisa menor, isso significa que essas pessoas podem manifestar-se em todos os órgãos do Estado em sua língua materna e isso não é apenas questão demográfica e política, é uma questão muito profunda que tem a ver com identidades, com valorização da própria identidade.
Os processos de colonização em nossa região foram profundamente violentos no sentido de negar identidades, negar a possibilidade de que as pessoas se expressem em suas línguas nativas e quando isso se recupera, também se recupera um estado de espírito e uma capacidade de empoderamento desses povos para tomar as rédeas do seu próprio destino. Eu acho que a Bolívia representa para nós essa construção política inovadora, mas também a construção simbólica de afirmação identitária que é fundamental.
O que deve ser melhorado para enfrentar essas novas relações comerciais?
A Bolívia possui reservas muito importantes de minerais, muito estratégicas para a economia mundial, por exemplo possui cerca de 70 a 74% das reservas mundiais de Lítio, que é importante para a produção de baterias recarregáveis para dispositivos eletrônicos portáteis, para a produção de veículos híbridos e elétricos, para a possibilidade de mudar a matriz energética de energia fóssil, petróleo, gás, carvão, para energia renovável e limpa, energia eólica, fotovoltaica, energia geotérmica.
Essas energias renováveis e limpas dependem muito do clima, no dia em que não há sol, nenhuma energia fotovoltaica é captada, pois, implica, para a mudança de matriz energética para este tipo de energia, grandes reservatórios de energia; os europeus estão atualmente estudando o uso do lítio para fazer esses grandes reservatórios de energia e a Bolívia tem um mineral extremamente estratégico, nestes três ciclos tecnológicos, acho que o grande desafio é pensar que isso não é matéria-prima mas sim base para esses ciclos tecnológicos, e isso significa uma mudança radical de visão, já que o lítio não é mais uma commoditie.
A Bolívia não deveria se contentar em exportar carbonato de lítio ou exportar lítio bruto, por exemplo, exportar baterias de lítio, já que a Bolívia atualmente tem uma fábrica de baterias de lítio ainda em estado de teste, de protótipos, mas acho que já está ocorrendo essa mudança de visão, o que é fundamental, não apenas em relação ao lítio, mas também a qualquer recurso natural.
Também é importante a questão indígena e as tensões que existem, isso tem que ter algum tipo de distinção, a situação boliviana é muito marcada por uma certa visão de comportamento antiextrativista, que não vê que a extração de recursos naturais por si só leva a diferentes projetos, isto é, qualquer tipo de extração da natureza é o extrativismo? É preciso responder à questão do que é extraído, para os interesses de quem e quem extrai? e evidentemente como é extraído.
É falso dizer que os povos originais não usaram a natureza, esta é uma posição totalmente anti-histórica. Os povos originais usaram a natureza para sobreviver, para desenvolver suas próprias decisões de vida coletiva, etc. O problema é que temos que caminhar para uma discussão sobre o que é o comportamento extrativista, o que significa extrair recursos naturais para atender a interesses estrangeiros que geram e expandem a miséria, a pobreza e o que é extrair e sob que condições para projetos nacionais a serviço do povo. Então, aqui está um debate importante que tem que ser feito não apenas na Bolívia, mas em toda a América Latina, porque toda esta região depende, em maior ou menor grau, da exportação e produção de recursos naturais estratégicos, uma mudança de visão é fundamental.
Finalmente, é mais saudável a relação comercial entre Ásia – América Latina em comparação com os Estados Unidos – América Latina?
Será saudável na medida em que a região vai aproveitar esta nova oportunidade histórica, no entanto, não o será se a região se contentar em simplesmente jogar o seu papel como um exportador de matérias-primas sem valor agregado, se isso acontecer simplesmente estaremos frente a mudança de uma hegemonia por outra, com as mesmas consequências negativas para a região.
O desafio é como aproveitar essa oportunidade para o benefício da região e colocar em prática o que os próprios chineses dizem em uma relação ganha-ganha, onde ganham eles e nós; logicamente não é a China que vai nos dar estas possibilidades de negociação, é a América Latina que tem de reclamá-las e você que tem que colocá-los na mesa de negociação, aqui devemos saber que estamos negociando com um país que tem 3.900 anos de experiência comercial, mas também temos 5.000 anos de experiência comercial.
A civilização Caral, que surge há cerca de 5.000 anos na costa peruana, conseguiu, a partir de um importante desenvolvimento tecnológico, uma superprodução agrícola, especialmente na área de algodão e foi capaz de fornecer uma ampla rede de vendas desde a região da costa peruana para o Andes, a Amazônia, a região sul do continente, inclusive com uma projeção para a América Central.
Nós também temos uma experiência comercial importante, se os chineses tiveram sua rota da seda que surge 200 anos a.C., que tem seu pico no momento da era Genghis Khan, no século 13, e agora é tomado como inspiração para a nova Rota da Seda do século 21, nós, na América Latina, tivemos a rota do algodão, que tem de ser repensado como fato histórico, temos que reescrever e retrabalhar nossa história de ser uma das civilizações mais jovens do planeta, porque com a descoberta da civilização Caral, passamos a ser uma das civilizações mais antigas do planeta, a terceira mais antiga, e, também, uma civilização que produziu ciência e tecnologia que no momento, por exemplo, o povo japonês e a Nasa estão estudando.
Há três anos os japoneses vêm estudando a tecnologia de construção antissísmica que Caral utilizou para construir suas pirâmides — pirâmides que ainda estão de pé após 5.000 anos — para aplicar essa tecnologia nas regiões mais vulneráveis a terremotos no Japão atual; Os pesquisadores da Nasa estão estudando o uso da tecnologia de vasos comunicantes que Caral aplicou na irrigação e que eles entenderam que havia surgido apenas na Europa no século 16 e ficaram perplexos ao ver que Caral já conhecia essa tecnologia há 5.000 anos.
Então nossos povos indígenas que duvidavam de sua condição humana, porque todo o debate do século 16, quando os espanhóis chegaram a este continente, era se os índios eram seres humanos ou não, se tinham ou não uma alma, isto é, todo um debate teológico para discutir se temos ou não a condição de seres humanos; finalmente, decide-se que sim, os nativos tinham alma, portanto eram seres humanos e, portanto, deviam contribuir com pagamento de impostos à coroa espanhola.
Temos que reelaborar essa visão, dos indígenas, analfabetos, daqueles que duvidavam de sua condição de seres humanos, aos indígenas que por 5.000 anos foram produtores de ciência, tecnologia e que contribuíram enormemente para a civilização do continente americano; Então, isso é uma inspiração para repensar o que pode ser a rota do algodão na América Latina que, do meu ponto de vista, foi o primeiro momento de intensa integração regional e não apenas comercial, mas também um dinamismo de intercâmbio linguístico e cultural — e é neste momento que se formam as raízes linguísticas dos povos originários — que é uma inspiração para pensarmos em uma nova utopia mobilizadora, uma nova ilusão mobilizadora regional que nos ajudará a reapropriar-nos de nosso futuro.
Então, o que significaria se a China deslocasse os Estados Unidos da economia?
Isso significará uma mudança radical, porque não apenas a China deslocou os Estados Unidos em termos econômicos, mas também em termos científicos e tecnológicos. Embora os Estados Unidos ainda sejam um grande produtor de marcas e patentes, que é um indicador normalmente usado para medir a produção científica e tecnológica entre países e compará-los, a China, por exemplo, está formando atualmente 26% dos cientistas e engenheiros do mundo, a Índia 23%, ou seja, 50% dos cientistas e engenheiros do mundo estão sendo formados por China e Índia, isso significa que a construção de capacidades locais para a produção de ciência e tecnologia mudará o dinamismo da produção tecnológica em um curto espaço de tempo dos Estados Unidos e da Europa para a Ásia, particularmente a China.
O maior investimento em ciência, tecnologia e desenvolvimento em todo o mundo é feito nos países da Ásia e Sudeste da Ásia (36,8%), em segundo lugar na América do Norte (29%), então tudo isso vai mudar, incluindo a supremacia em termos de produção científica e tecnológica em todo o mundo, vemos também que a tendência é que tudo seja direcionado para a Ásia.
*Monica Bruckmann é Socióloga e Cientista Politica, Professora do Departamento de Ciência Politica e do Programa de Pós-graduação de História Comparada da UFRJ; Presidenta da Agência Latino-americana de Informação — Alainet

Uma escritora que sempre nos emociona -VILMA ARÊAS



Flip 2016 - “Luvas de pelica”, com Sérgio Alcides e Vilma Arêas

Vilma Arêas


Faço esta matéria por se tratar de uma escritora de alto naipe do Brasil e pouco divulgada.A literatura tem se proliferado com novos que pouco traz de novidades de conteúdo e  forma.Vilma é uma autora madura e confunde-se com a alta literatura deste país.


Fluminense, estreou na ficção com Partidas(contos, Francisco Alves, 1976). Aos trancos e relâmpagos (literatura infantil, Scipione, 1988) e A terceira perna (contos, Brasiliense, 1992) mereceram o prêmio Jabuti. Em 2002,Trouxa frouxa (contos) recebeu o prêmio Alejandro José Cabassa (44o. aniversário da União Brasileira de Escritores), e em 2005Clarice Lispector com a ponta dos dedos(ensaio) recebeu o prêmio APCA categoria literatura. Professora titular de literatura brasileira na Unicamp, Vilma Arêas vive há muitos anos em São Paulo.(Por Cia das Letras) .

Vamos lá:
Não sou crítico literário, ao pé da expressão,nem tenho intenções para tal, escrevo sobre o que gosto, crítico sou , de mim e do mundo que me rodeia, mas não da Literatura, que mesmo sendo vida, é um tricô mais complicado. Enfim vamos ao que nos interessa aqui, e é o caso de Vilma Arêas Pouco ainda conhecida pelo grande público, o que é uma pena; a professora Vilma Arêas, me impressionou com seu livro de Contos-Vento Sul.-Cia das Letras, 2011-como que me trazendo uma nova onda de boa literatura madura, firme e densa.



Este livro me chega as mãos poro Fábio S. Cardoso, o qual fez uma entrevista sobre a mesma, junto com o Rogerio Pereira na revista Rascunho-Curitiba-Pr. (http://bit.ly/zdvPAJ), por sinal excelente revista de Literatura, senão a melhor que temos. Antes de ler o autor indicado especulo, cavo ,mexo, remexo busco informações , vou ao- senhor é meu pastor nada me faltará -nome dado pelos alunos- ao Google, enfim cato e dai me chegam informações importantes. A autora organizou poemas de uma diva minha- Sophia de Mello B.Andresen ,escreveu sobre Clarice Lispector e gosta de Graciliano Ramos. Em seguida, flagro no Suplemento do Diário oficial de Pernambuco uma matéria sobre a mesma, por Ronaldo Bressane (http://bit.ly/KjE63j) na qual ela despeja o verbo sobre a literatura como todo e sobre si. Muito bem, leio o livro numa tacada só, num dia de semana a noite. Impressiona-me.



Chama-me atenção seu imaginário, sua poesia embutida em sua escrita e seu jeito urbano-rural, coisa aliás afastadas dos temas da prosa, refiro-me ao meio rural. Há um não sei quê ,que me faz juntar-me a ela, celebro com ela suas estórias, chego a sentir cheiros, texturas em sua escrita. As vezes penso que estou lendo uma nordestina, das boas, qual o quê, ela é Fluminense-Rio de Janeiro de Campos dos Goytacazes.- ha um cheiro de interior brasileiro. Ai sim, fica mais claro para mim esta mulher, mesmo assim quero ve-la, ouví-la , apelo para o You tube. Num pequeno trecho, da entrevista , com Cadão Volpato-Metrópolis-TV Cultura,onde o mesmo alarmantemente titubeia, ante o simples de Vilma, mas diante do que ouço e vejo apaixono-me pela mesma, sou assim, há que me passar fascínio , como assim foi Clarice, é Nelida Pinon, Maria do Carmo Barreto Campelo,Sergio Santana, Joao Gilberto Noll,,João Cabral, Gulhermo Arriaga, o saudoso ,Carlos Funtes e tantos outros. Parto para ler outras obras suas , contos como: A Trouxa-2005 e A terceira Perna 1998, em que encontro uma mesma tessitura textual, mas com maturidade diferente. Mas desliza em toda sua escritura a poesia que ela tece opacamente, mas que risca seu bordado de sua escrita de ponta a ponta. Na terceira perna seu olhar lispectoriano é comprovado nas citações iniciais...uma nova terceira perna que em mim renasce fácil como o capim..(C Lispector), mas Vilma vai além ela convulsiona em destreza nos contos –Dó de peito e Seda Pura. Mas, no todo dela admiro seu jeito de falar, suas opiniões face aos grandes da Literatura, ela os traça de modo inteligente direto e reta, mas denso, passando por Clarice Lispector , sobre a qual tem uma obra, e faz criticas pertinentes ao B. Moser , indo a P..Roth, Coetzee etc. Suas imagens esculpidas nas palavras, no meu imaginário, me passam uma serenidade de gente que tem bom faro, que esfrega-se ao solo para retirar fermento para sua escrita e existência.Ela confessa isto nas entrevistas, sua história , seu caminhar como pessoa de bom tato e olho fino. Seus contos tem um ar de terra, vindo destes ventos que se espalham em nossas vidas e não nos damos conta, o seu tal Vento Sul.



Vilma, corre manso e largo na sua escrita, sem rcocós maiores, mais com estupefaciente exatidão do léxico, do ambiente ao qual pinta e põe seus personagens e enredo. A estrutura do seu conto é breve, como gosto, e no entanto ao final pensamos que lemos um romance, ela dá látex para isto na sua textualidade avantajada. As vozes polifônicas perfilam -se em amontoados de um brilho memorável Seus contos tem um quê do conto tradicional, na estrutura temporal, mas sem grandes delongas, na verdade seu conto é uma pintura com bordas de arte abstrata,o que me lembra Sophia de M.Bryner Andressen, que ela tão bem conhece.



O livro –Vento Sul-encontra-se divido em 4 partes- que aliás não compreendo o porquê, mas enfim percebo que nele se misturam contos e quase ensaios, ou poemas como que tendo um ar lispectoriano, ja que a memória nossa é associativa, mas confesso que não gosto de tais comparativos, enfim saiu, ta aí. De cara deparo-me com dois contos seus-Thereza e República Velha, são contos que deixam-me embeiçado ,pelo estilo, propriedade léxicas e concisão. Há uma poética do rompante que me eletriza na descrição do feminino do lugar da mulher historicamente neste país, do ideal de amor e companheirismo, e mesmo em passagens alucinantes a autora tece filigranas poéticas com uma malha estética muito poderosa e de fauna inusitada, por sois, ventos, bichos, gritos. Se em Thereza tais fatos exalam as relações maritais , no segundo, República Velha, ela retorna para mais poetar, ela enverga o macho e torce-lhe pelo amor e companhia. A puta não é uma qualquer, é aquela mulher eleita, que tantos querem como a verdadeira puta da vivência, do chamego do objeto do desejo, da mulher, do homem puto que necessita de outro de sua laia, e que por vezes não enxergamos ou não queremos, ou não podemos. Sei, lá o quê?



Vilma insinua-me estas questões para o convier entre companheiros é necessário nada e tudo. O macho atende a si e depois que desmascara a mulher com outro e passado algum tempo conclui: “...Dentro do silêncio que se fez, só quebrado por uns latidos de cachorro ao longe, completou já de pé: Puta por puta fico com ela que já estou acostumado. “ Não posso deixar de ler o silêncio cortado por latidos de cachorros, sim cachorros , que a autora nos oferece leiam como quiserem, e a decisão do outro. Em- Habitar – outro conto a autora é bachelardiana, lembrei-me da Poética do Espaço- de Gaston Bachelard -1977 ...”este é o ponto frágil da fantasia, que funda o absurdo, porque no íntimo ele sabe que a vida não vive. Negando a verdade cristalina, fingindo que não vê, parece que respira por um garagalo.. Mas não esta está só aqui, neste conto, se perfila em todos os contos da obra , como antes já anunciei. E isto faz uma trilha com-outros contos como: Encontro- Canto noturno de peixes, Zeca e Dedeco e por fim um grande conto poema –O vivo o morto: anotações de uma etnógrafa – “ .... A seta está cravada no vazio....neste ponto se esboça o gesto, abrindo espaço ä poesia... “ Vilma é uma poeta e tanto,e lembrando minha saudosa Sophia de M.B Adressen- “ Perfeito é não quebrar A imaginária linha Exacta é a recusa E puro é o nojo “-Mar Novo 1958.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Últimas palavras de Oswald de Andrade





*O ator Ayrton Salvanini interpreta em grande performance a última entrevista que Oswald de Andrade deu ao jornalista Frederico Branco. Nestes tempos de manifestações e reflexões sobre mudanças, estas palavras são muito bem vindas.

Um literato que fez e refez as palavras dos brasileiros. 

José Oswald de Sousa Andrade (SP, 1890-1954)


Patrícia de Freitas Camargo em A Ficção da Língua na Literatura Brasileira (http://bit.ly/oxUCIZ) fala de Oswald de Andrade em suas paródias e apropriações linguísticas para um projeto modernista nacional, ao mesmo tempo apontando sua ironia e preocupação em um pensar antropológico, dentro do quadro da nossa língua, com etnias variadas. Veja os poemas a seguir:



Brasil
O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
– Sois cristão?
– Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
– Sim, pela graça de Deus
– Canhém Babá Canhem Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval
O Gramático
Os negros discutiam
que o cavalo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantarrou
Azorrague
– Chega! Paredoa!
Amarrados na escada
A chibata preparava os cortes
Para a salmoura
(Poemas da Colonização. Andrade, O. 1972:31)
Do mesmo modo, Beth Brait em seu último livro Literatura e Outras Linguagens (São Paulo: Ed. Contexto, 2010), bem como no artigo Estudos linguísticos e estudos literários: fronteiras na teoria e na vida (http://bit.ly/onBgK9), aponta que coube ao poeta modernista tematizar poeticamente a rica variedade da língua portuguesa. Sendo possível citar o seguinte poema:
erro de português
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
(Poemas menores. Andrade, O. 1972:115)
“J.M.P.S.” (da cidade do porto)

*É paraibano, mestre e doutor pela ECA-USP. Professor de Teoria , além de contista e poeta com livros publicados .

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Audálio Dantas exemplo de jornalismo







Audálio Dantas,alagoano, há muito radicado em São Paulo. Este homem foi um guerreiro,sempre e sempre,ele além de Jornalista,escritor, poeta foi um  agitador cultural.Inesquecível na área jornalistica e sua conduta política,com destaque para o período da Ditadura militar.O poster abaixo-Facebook, via João Lopes/Ricardo Kotscho
Paulo Vasconcelos


João Lopes
1 h
MORREU O GRANDE JORNALISTA AUDÁLIO DANTAS, UM DIGNO CIDADÃO BRASILEIRO
30 De Maio De 2018 Ricardo Kotscho


Fiquei sabendo agora pela Thaís, neta dele, que trabalha com minha filha Mariana, uma notícia muito triste para todos os jornalistas e cidadãos brasileiros: morreu meu amigo Audálio Dantas, um cara que batalhou pela vida até o seu último suspiro.
Estive com ele poucos dias atrás num almoço com velhos amigos no Hospital Premier, onde ele viveu seus últimos dias, com a mesma dignidade de toda uma longa jornada de lutas, nem sei de quantos anos, porque até hoje há controvérsias, mas foram muitos, alguma coisa entre 80 e 90.
Trabalhou até onde deu, vivia com muito aperto apenas dos seus escritos, que lhe garantiam a sua sobrevivência e a da brava e unida família Dantas, comandada pela guerreira Vanira.
Audálio há tempos sofria de muitos achaques da saúde, um após outro, mas tenho certeza de que morreu foi mesmo de tristeza, ao ver o que fizeram do seu país, pelo qual sempre foi muito apaixonado.
Nas nossas últimas conversas, ele já estava desesperançado de que a nossa geração ainda conseguisse ver o Brasil com que sonhamos a vida toda, mais justo, mais humano, mais decente.
Sertanejo valente das Alagoas, este brasileiro de muito talento e firmeza foi um dos protagonistas da passagem da ditadura para a democracia, quando falar a verdade sobre o assassinato do jornalista Vlado Herzog nos porões da ditadura era correr risco de vida.
Para quem quiser saber mais sobre a sua história, é só entrar no Google, porque agora vou ao velório para ver se é verdade que ele morreu mesmo.
Homens como Audálio Dantas nunca deveriam morrer. Continuarão vivos na nossa lembrança como exemplo dos brasileiros que não se vergaram nunca.
Vida que segue para quem fica

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