A canção como vibração de um fruto maduro: Fruta
Gogoia,
Cantar é saber dizer linguagens, é legitimar a
música, a letra, é aumentar o ganho sonoro com a interpretação que se faz. Isso
ocorreu com o CD (com 18 faixas) e show “Fruta Gogoia”, com Jussara Silveira e
Renato Braz.
Para aumentar a dimensão do fato, o show no Sesc
Vila Mariana, na última sexta feira 08.07, estrondou a cena e o público
aplaudiu de pé inúmeras vezes.
O álibi foi a homenagem a Gal Costa, 50 anos de carreira, em
seu repertório ao longo de décadas. Mas a escolha é que foi esculpir em ferro:
difícil, mas acertadíssima. Fizeram parte assim compositores que vão de Tom
Jobim a Caetano Veloso, passando por Dorival Caymmi, Jards Macalé, Chico
Buarque, Luiz Melodia.
O SESC teve a honra de agasalhar este
projeto que marcará sua carreira, já longa de grandes produtos culturais.
Danilo Miranda estava presente na estreia, no auditório, e não media fogo
nos aplausos, junto com outros convidados.
Luiz
Nogueira, produtor cultural e musical, teve a audácia de qualidade de se
inspirar com perfume da flor de Gal Costa e cometeu seguidas audácias: ao
juntar Renato Braz , Jussara Silveira e músicos estonteantes, afora o
inesquecível arranjo de Dori Caymmi.
Apresentam-se entre
outras músicas “Estrada do Sol”, de Tom Jobim e Dolores Duran; “Vapor Barato”,
de Jards Macalé e Waly Salomão; “Folhetim”, de Chico Buarque; “Volta”, de
Lupicínio Rodrigues; “Pérola Negra”, de Luiz Melodia; “Sorte”, de Celso Fonseca
e Ronaldo Bastos; “Só Louco”, de Dorival Caymmi. Também não ficaram de fora da
homenagem “Modinha para Gabriela” e, claro, “Fruta gogoia”.
Renato faz um dupla perfeita incorrigível com
Jussara, que, por sua vez, canta com o corpo todo e rearranja o corpo e o
vestido com suas mãos que regem por inteiro as canções de modo a dar um outro
tom à música. Ela rege muito bem com seus dedos como se violasse a melodia com
e no corpo, que também vibra.
Ela é uma cantora de extremo bom gosto e sem
audácia de querer ser insuperável e, assim, torna-se. E, mais, faz
brilhar estalos da sua loucura de intérprete. Sua simplicidade é o segredo de
seu tônus, que ultrapassa ditames do é que ser uma a cantora: ela é a própria
fruta gogoia, é uma moça, é uma joia!
Ele, Renato, na sua forma de estar em cena, passa a
tranquilidade dos que tem sede de cantar se encontrado consigo ao vozeirar as
canções qual uma viola do mato afinada junto às frutas, as canções. Assim seu
violão e sua voz assaltam-nos de emoção e poesia soberba.
O repertório não tem falha, é um repaginação da
música brasileira, feito com um cuidado de quem sabe ouvir e redizer.
Os arranjos
tiveram a batuta doce e clássica de Dori Caymmi que tanto já
arranjou para Gal Costa, mas todos os arranjos pensados para as
canções do disco traduzem a elegância das composições, chamando um time de
músicos conceituados para executar suas faixas. Além de Dori, que
toca violão – no disco – em algumas das faixas; Itamar Assiere, no piano; Celso
de Almeida, na bateria; Teco Cardoso, nos sopros; Swami Júnior, no violão 7
cordas; Sizão Machado, no baixo; Bré Rosário, na percussão; e Toninho
Ferragutti irrepreensível e deslumbrante no acordeom. Toninho é responsável
também pelo arranjo da canção que dá título ao disco. Além disso, Mário Gil faz
a produção musical e o violão na faixa “Meu bem, meu mal”.
Algumas
canções são acompanhadas por um octeto de sopros, com a nata dos músicos de sua
vertente. Outras por um quarteto de cellos ou um conjuntos de cordas. Neste
caso, a arregimentação ficou nas mãos do maestro Claudio Cruz, fantástico.
Na estrutura visual, caso do show, disco e no
design de imagens de Regina Silveira, que veio de modo mais público mostrar sua
raça, seu verniz de extrema beleza estética e que canta com o som. (Cenário:
E programação visual do Cd(Fauna Brasiliensis, 2017. Regina Silveira.Criação:
Estúdio Regina SilveiraAnimação: StudioIntro. )
"Eu vi o tempo brincando ao redor da voz
latejando música. Por isso essa força estranha..."
Isso é que resumiria o disco e o show.
* Disponível Lojas SESC e breve Livraria Cultura