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segunda-feira, 11 de maio de 2015

UM POETA NACIONAL -AINDA NÃO ADMIRADO COM FORÇA PELOS BRASILEIROS, DEMÉTRIOS GALVÃO





Demetrios Galvão Teresina (PI) é historiador e poeta. Publicou os livros Cavalo de Tróia (2001), Fractais Semióticos (2005), Insólito (2011), Bifurcações (2014) e o cd Um Pandemônio Léxico no Arquipélago Parabólico (2005). Participou do coletivo poético Academia Onírica e foi um dos editores do blog Poesia Tarja Preta (2010-2012) e da AO-Revista (2011-2012), além de ter participado da produção do cd Veículo q.s.p – Quantidade Suficiente Para (2010). Tem poemas publicados em diversos portais e revistas. Atualmente é um dos editores da revista Acrobata.   e-mail: demetrios.galvao@yahoo.com.br
Demetrios é um daqueles  intelectuais brasileiros pulsantes neste país ,com fibra de sujeito obstinado,firme e de um verso certeiro de lírica densa

1) Como é sua formação e quando começa tua produção poética? Teus poetas eleitos nacionais e internacionais?

Minha formação acadêmica/profissional é em história, sou professor universitário.

Minha produção poética, minhas primeiras experiências com a escrita se dá ainda antes da universidade no final da década de 1990.  Tudo inicia com minhas caminhadas pela cidade e com as descobertas que fiz nas bibliotecas públicas. Escrevo há uns 15 anos e tenho 4 livros publicados. No inicio produzi um fanzine de poesia chamado Sintezine e fiz diversos livretos. Sempre tive no meu horizonte a perspectiva do faça você mesmo.

O meu primeiro livro, Cavalo de Tróia (2001), é um trabalho em que a mensagem é mais forte que a linguagem em si, no caso, a poesia era só o meio. A escrita na época, estava engajada com questões sociais, protestos, movimento Anarco-punk e poesia marginal. Esse foi um livro completamente artesanal, que eu fiz em casa, com a ajuda do meu irmão, e vendia em shows de rock, na universidade e em encontros de estudantes.

Já no segundo, Fractais Semióticos (2005), estabeleço um diálogo muito direto com os escritos beats do Allen Ginsberg, do Ferlinghetti, do Carl Solomon, do Jonh Fante, bem como do Roberto Piva e Torquato Neto.  Aquelas coisas de viajar e escrever sobre a estrada, a liberdade da experimentação, a descoberta do mundo e etc. Nesse livro, começo a ter uma maior preocupação com a linguagem e com os processos de escrita. No período em que escrevi os poemas do Fractais Semióticos (2001 – 2002), conheci alguns poetas de Fortaleza (CE) e consolidei para mim, a ideia de ser poeta. Esse é um livro que tem poemas que vou levar para o resto da vida, pois há uma relação forte de poesia e experiência – experimentação.

O Insólito (2011) é um livro que consigo apurar um trabalho de deslocamentos, produzindo situações não habituais. Busco provocar no leitor a sensação de estranhamento, mexendo com as coisas que estão assentadas em lugares definidos. Nesse momento, me preocupo bem mais com a possibilidade de criar imagens a partir da linguagem poética, o que vai consolidar e marcar a minha poesia. Daqui em diante as imagens ganham o centro da minha escrita e o meu desejo se lança na tormenta do surrealismo, principalmente com as leituras que fiz do Murilo Mendes, Jorge de Lima, Claudio Willer, Floriano Martins, Afonso Henriques Neto, Breton e Vicente Huidobro. Insólito é um investimento poético-estético no onírico, penso o livro como um álbum de fotografias não convencionais, como uma série de pinturas que explodem.

O Bifurcações (2014) reafirma em mim e na minha poesia a força das imagens e a convicção no diálogo com o onírico e a imersão no surrealismo, a fuga da realidade óbvia e das situações dadas. Nesse livro, tive um violento encontro com Bylan Thomas e uma aproximação com alguns poetas da minha cidade, Rubervan Du Nascimento e Adriano Lobão. No percurso de criação me bifurquei diversas vezes e trouxe para a superfície dos textos um pouco do meu labirinto doméstico, do meu processo de se tornar pai e da relação que tenho com minhas criaturas encantadas. Nesse livro alterno momentos suaves com regiões mais tensas, formando uma geografia com acidentes planejados, mas que exige uma caminhada sem mapas. Não entrego nada de graça para o leitor. Nas andanças por minhas bifurcações aparecem os mestres Vicente Huidobro e António Ramos Rosa, que estão ali para dão algumas senhas para o leitor. No Bifurcações faço uso da poesia para esticar o mundo e criar possibilidades que a história não consegue alcançar. Possibilidades afetivas irmanadas no calor das palavras.

Atravessando a produção do livros, tem também as atividades que desenvolvi no coletivo Academia Onírica juntamente com alguns poetas e artistas de Teresina. Nesse grupo realizamos diversos encontros poéticos (saraus) e editamos um blog – poesia tarja preta, a AO-Revista (com duas edições) e um cd de poesia e música chamado veículo q.s.p – quantidade suficiente para. As atividades do coletivo duraram entre janeiro de 2010 e janeiro de 2012.

Hoje, edito uma revista chamada Acrobata que trata de literatura e audiovisual, juntamente com o poeta Thiago E e o pesquisador de cinema Aristides Oliveira. A revista se encontra na terceira edição e articula em suas páginas poesias, contos, ensaios, entrevista, tradução. A Acrobata é uma revista editada em Teresina, mas que tem colaboradores de diversas partes do Brasil e do mundo. Por ela já passaram: Augusto de Campos, Sérgio Cohn, Afonso Henriques neto, Ademir Assunção, Luís Serguilha, Marcelino Freire, Bruno Azevedo, Micheliny Verunschk, dentre outros.

2) Há alguma crítica á tua obra--quem......quantos livros?

Existe pouca coisa escrita sobre minha poesia. Penso que os 2 textos que tratam da minha poesia de uma forma bacana são as apresentações dos meus livros. A do Insólito, feita pelo poeta Rubervan Du Nascimento, e a do Bifurcações, feita pelo poeta Afonso Henriques Neto. Ainda não vi ninguém se interessando por escrever sobre meu trabalho.

3) Há alguma poesia inédita?-claro após este último-

Já tenho um conjunto de textos que começam a dar forma a um novo livro, que acredito não tradará a aparecer. No último ano a minha produção poética ficou bastante intensa e tem muita coisa que não entrou no Bifurcações.

4) Quem são teus poetas daí ?

Torquato Neto e Mário Faustino são os dois principais. Mas tenho uma relação muito próxima com a poesia do Rubervam Du Nascimento e também com os meus contemporâneos como o Thiago E, o Kilito Trindade e o Adriano Lobão. Também gosto muito de acompanhar os poetas mais novos e de saber o que estão escrevendo. Cito o Rodrigo M Leite e a Renata Flávia.




O Artista que teceu seu desenho e cor na contemplação do erudito e Popular.

GILVAN SAMICO 1928-2013








  


Gilvan Samico, pernambucano de Recife,  falecido em 2013.

O Artista que teceu seu desenho e cor  na contemplação do erudito e Popular.
A gravura do Cordel deu-lhe inspiração mas sua obra não fica por ai, vai além muito além.
Disse ele:
O cordel e a gravura popular foram apenas um caminho, um mote, sugerido por Ariano Suassuna há mais de 40 anos. Eu já contei isso várias vezes. Eu vinha fazendo uma gravura muito carregada de preto, muito noturna, e ele me disse que o Nordeste era cheio de gravadores populares que valorizavam a luz, enquanto eu não parecia satisfeito com o caminho que eu estava tomando. Certos elementos que estão presentes na minha obra fazem parte do imaginário nordestino, mas estão em outras culturas também, em cada uma com um significado, como as criaturas bestiais e as próprias estrelas.”
http://bit.ly/1gbQr8b

De início, Samico participa Sociedade de Arte Moderna do Recife e Atelier Criativo. A principio,  produz gravuras em placas de gesso e, mas ao ser tomado pela xilo passou a  reproduzir em madeira, apaixona-se  pela xilogravura

Nos anos 1957, 1958 e 1960 foi premiado no XVI Salão de Pintura do Museu do Estado de Pernambuco. Em seguida, sai  para sentir o tônus da gravura com Lívio Abramo, na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo, e com Oswaldo Goeldi, na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.
Integrou o Movimento Armorial comandado por Ariano Suassuna
Város museus contemplaram sua obra em retrospectivas pelo Brasil, entretanto O Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, no Recife, é a a casa de maior acervo de sus obras.
Samico é um dos maiores gravuristas Nacionais e com devida penetração Internacional, com premiações  várias.
Samico- nome da obra impressa- livro que contempla sua a extensão de produção,  em momentos importantes,  foi lançada o ano pasado(2012) no Rio de Janeiro .O livro, tem um prefácio de Ariano Suassuna e texto Weydson Barros Leal.

Abre-se uma lacuna entre os gravuristas que  bebiam  entre o erudito e popular no Brasil.. com a qualidade e diversidade do mesmo.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

O poema não é cego

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soucatequista.com


“Num me venha com cunversa mole nao; eu num presto,sou deus, sou o diabo,  sou Tiresi,deixo Omero no xinelo; sou rin, rin mermo, sou nego ,cego,bofoti,tenho os oi aboticado,mai os juízo dos oio foro pra imaginação ,mermo cum os dente distraído taivez pruisso canto veusso e vosmece com seus oi fai veusso de segunda, inda diz que é  literato, num venha não...” Delzo Silva-poeta de Queimadas-PB-já falecido- em pendenga --1977

Vivi, na minha infância, as cantorias dos meus cegos do Nordeste-nas feiras-especialmente ,praças, mercados  e ruas e ,aqui mesmo, em S.Paulo,R.de Janeiro,  E. Santo e S. Catarina migrando ou não – eles estão entre outros estados  que visitei e conversei , anotei, gravei, escutando seus poemas, suas loas,desafios ,causos e frases.

Apreciei seu processo criador ,sua poética e crítica social. Divisei assim com uma língua rica.Não é literatura fantástica,é a literatura do povo e seu verso afiado que o diga M.Bandeira e João G. Rosa..

Na literatura -de Cordel -a presença dos cegos- numa tradição mouro/ibérica -é intensa, talvez tenha sido maior , mas estão pelo Brasil afora.Existem os famosos: Aderaldo e Oliveira mas não se resumem a estes .Cineasta, entre outros, W. Carvalho,R. Cariry e L Meirelles documentaram  a arte destes .

Mas vejamos: Cego –Aderaldo F. de Araujo- um dos mais famosos do Ceará –Crato- 1878/1967.

Canto para distrair

“Este meu curto poema:
Vou fugindo da miséria
Que é este o penoso tema,
Desta terra de Alencar,
Deste berço de Iracema.
...
Fugi com medo da seca,
Do pesadelo voraz
Que alarmou todo o sertão
Da cidade aos arraiais.”( http://bit.ly/LvjAvY)

Já o Cego Oliveira-José Oliveira 1883/1977

Estava cantando em Guiana
Na casa de um amigo
Quando uma mulher mundana
Chegou pra falar comigo
Toda cheia de desgosto
A lágrima banhando o rosto
E sei que poeta tu és
Por Deus escreva um poema
Relativo ao meu dilema
Na Porta dos Cabarés
Deixei a casa paterna
Com 15 anos de idade
...
Numa vida de prazer
Nunca pensei deu sofrer
Nas Porta dos Cabarés
Eu só andava no trato
...
A cadeia é o meu prédio
Aguardente é meu remédio
E eu sou mulher de mais de dez
Portanto minha insistência
Vou sofrer com paciência
Nas Porta dos Cabarés (http://bit.ly/IPAM1e)

Há aqueles que nao pelejam,nem versejam, e até o fazem no formato de frases soltas:

“ Os cego inauguraram o mundo
na escuridão ,só despolis vei a lui e aí a ilusão “Zé do Bigu CG.PB-1979

“Os cego nao vê espei,mas vê o espei da lingua
na carteira da solidão “Terto da Silva- Mercado S.José-Recife-PE-1982

“Na cegueira fui nascido,no veusso afabetizado,na cantoria fui entronizado”-Amaro da Silva-J.Pessoa-1987

“Minha mãe deu me os peito,mas num deume a visao,mai como tudo e inlusão deu me a visao de poetar “ - Deodato de Maria –Forataleza-1988

Em C.Grande PB,  temos  as atrizes/cantoras  no ganzá -
Maria, Regina e Conceição, mais conhecidas como Maroca, Poroca e Indaiá, conheci-as e disseram :A pessoa é para o que nasce- frase  que deu nome ao filme de R. Berliner 2003( http://bit.ly/hzAsDi)

 ***publicado já na Revista Brasileiros




domingo, 3 de maio de 2015

...Eu recuso a paciência, o boi morreu, eu recuso a esperança. Mário de Andrade 70 anos


Mario de Andrade(1893-1945)…70 anos


Eu recuso a paciência, o boi morreu, eu recuso a esperança.
Eu me acho tão cansado em meu furor.
As águas apenas murmuram hostis, água vil mas turrona paulista
….
A Meditação sobre o Tietê -1945-( parte final)

Depois das cinzas, das águas, do tempo estamos há setenta anos da morte de Mario de Andrade e o panorama não mudou na sua cidade Seu poema, vide trecho acima, foi escrito no ano de sua morte(1945) , talvez o último grande poema. Perfeitamente severo ao tempo ,como o de hoje.
Ele nos deixou um grande legado que até hoje há muito para se ver e entender. Sua obra é vasta e passa por mais diversos campos, da  literatura, a música, a dança, enfim da cultura popular. 
Trabalhei com seu material recolhido nas missões iconográficas da Sec.M. de Cultura de SP, tal acervo não foi trabalhado como deveria, face a nao formacão  de uma comissão múltipla – interdisciplinares de especialistas -de vários estados, como assim mereceria. O material passa pelas linguagens das artes e tem objetos raros que mesmo,  os estados –do nordeste e norte, nao os possui ,caso de Pernambuco, mas há outros mais.

Mas voltemos ao poeta, ele como um homem  solitario,  meditabundo encarou poetar a cidade em suas praças, ruas, avenidas, casas e seu maior rio. Com seus poemas iniciais, da Lira Paulistana, ele quebra a rima, fala de um Brasil, Brasil, brasileiro

Poeta do Modernismo ele foi fatal na poesía desde a Lira Paulistana, 1922. Obra magistral e antropológica como só ele sabia dar suas pitadas com seu português brasileiro. Vide -manuscrito A gramatiquinha da fala brasileira, obra inacabada, deixada pelo poeta: é a língua falada pelo povo. Fase caótica primitiva em que o Brasil é livre, [...] dá as tendências essenciais da futura fala brasileira(http://bit.ly/1CK2Rxm),mas finquemos o olhar sobre a Meditação do Rio Tietê:

Porque os homens não me escutam! Por que os governadores
Não me escutam? Por que não me escutam
Os plutocratas e todos os que são chefes e são fezes?
Todos os donos da vida?
Eu lhes daria o impossível e lhes daria o segredo,
Eu lhes dava tudo aquilo que fica pra cá do grito
Metálico dos números, e tudo
O que está além da insinuação cruenta da posse.
E si acaso eles protestassem, que não! que não desejam
A borboleta translúcida da humana vida, porque preferem
O retrato a ólio das inaugurações espontâneas,
Com béstias de operário e do oficial, imediatamente inferior.
E palminhas, e mais os sorrisos das máscaras e a profunda comoção,
Pois não! Melhor que isso eu lhes dava uma felicidade deslumbrante
De que eu consegui me despojar porque tudo sacrifiquei.
Sejamos generosíssimos. E enquanto os chefes e as fezes
De mamadeira ficassem na creche de laca e lacinhos,
Ingênuos brincando de felicidade deslumbrante:
Nós nos iríamos de camisa aberta ao peito,
Descendo verdadeiros ao léu da corrente do rio,
Entrando na terra dos homens ao coro das quatro estações.

PIERRE LEVY ,PARADOXOS NA COMUNICAÇÃO


PROF. DR. PAULO ALEXANDRE CORDEIRO DE VASCONCELOS

Palavras-chave - educação, comunicação , democracia , tecnologias

RESUMO Este pequeno artigo levanta pontos prós e contra sobre a
cibercomunicação na perspectiva de Pierre Lévy, e de autores que o influenciaram
ensejando uma nova comunicação e suas possibilidades junto à Educação.

ABRINDO
Os anos 90, no Brasil, presenciaram uma avalanche de propostas de educação
à distancia, mediadas pela rede mundial de computadores, em que pontuam os
recursos multimÍdia, as webcans, as tele-conferências; prometendo assim mudar o
ambiente da aprendizagem. Munidos de otimismo e marketing, os cursos
transversam desde propostas mais simples, indo até a cursos de extensão
universitária e mestrados.
A pedagogia, ai defendida, apoia-se numa ciberpedagogia, na trama do
hipertexto, e suas múltiplas linguagens; a avaliação do aprendizado apoia-se
muito mais na demanda em que o curso se coloca(economicamente),
fundamentando assim sua defesa, qual seja, em nível de marketing.
Inúmeros e novos profissionais adentram aos novos espaços da educação à
distância e ocupam lugares dos profissionais da pedagogia; são eles com
destaque web designer, instructional designer..
Grande parte destes projetos é defendida sob inspiração de Pierre Lévy, em
defesa do ciberespaço, potencializam terminologias como inteligência coletiva em
ambientes interativos, insinuando diversidade ecológica do conhecimento.
Livros brasileiros, que discutem a educação à distância, citam inexoravelmente a
obra de Pierre Lévy. A fim de construir argumentos, ou justificativas, que acoplem
o pedagógico ao ciberespaço, Lévy é, agora, um novo ciberpedagogo.
A tecnologia, tenta assumir nos seus procedimentos de arquitetura técnica e
performances da informação, baseada na cibernética, o lugar da didática, das
discussões filosóficas da aprendizagem.
A sala de aula, o espaço presencial , o espaço de trocas, em que se misturam
elementos simbólicos variados, desde linguagens verbais, imagéticas, sonoras e
cinestésicas são trocados pelo ambiente do ciberespaço, numa tentativa de fazer
valer este espaço desnudo, ainda , de compreensões didáticas.
LÉVY - UM PERCURSO
Pierre Lévy (1956- ) aparece no Brasil no início da década de 90 .Seu livro de
impacto é Tecnologias da Inteligência – Brasil,1993, com datação francesa de
edição de 1990.
Este autor é fruto de uma metamorfose franco-canadense. De formação em
História na França, parte para o Canadá onde desenvolve estudos ligados à
inteligência e cognição e lá investe no hipertexto, não mais retornando à sua
gênese acadêmica.
Visto como um filósofo da cultura virtual contemporânea, Lèvy é docente do
Departamento de Hipermídia, Universidade de Paris-VIII. Trabalha junto ao
Ministério de Educação da França, com seu ex-professor e companheiro
intelectual Michel Serres.
Seu trajeto inicial intelectual publicado é a Máquina Universo (Brasil,1998) - La
Machine Univers, edição francesa (1987), em que já trata da inteligência e das
tecnologias intelectuais, recortadas pelos paradigmas da informática.
Tecnologias da Inteligência é resultado de suas andanças e elucubrações em
terras americanas - Lês Techonologies de L’intelligence (1990).
Sua formação histórica lhe permite fazer algumas elucubrações esparsas em que
se sustenta parcamente para elucidar os fundamentos da escrita e seu poder
textual, mas parece não considerar substratos epistêmicos sociais como o caráter
genético da fala , da oralidade e suas implicações com a escrita.
A TÉCNICA/CIÊNCIA: FILOSOFIA
Tomando a técnica como o seu grande aliado, ele não a situa dentro do devir
histórico, senão num corte das técnicas operadoras do texto, caso da agricultura -
campo – pagus - a pagina da escrita, levantando que esta, ao estabelecer
parcerias interativas, participou do constructo epistêmico com a ciência .
Ao vincular-se à Filosofia, toma posição defensiva, ou seja, defende-se, acusando
Heidegger, Simondon, J. Ellul, entre outros, de desconhecerem a real eficácia da
técnica , invertendo assim o papel da mesma, diante da ciência.
“Que o filósofo ou o historiador devam adquirir conhecimentos técnicos antes de
falar sobre o assunto, é o mínimo. Mas é preciso ir mais longe, não ficar preso a
um ”ponto de vista sobre....” para abrir-se possíveis metamorfoses sob o efeito do
objeto. A técnica e as tecnologias intelectuais em particular tem muitas coisas a
ensinar aos filósofos e ao historiadores sobre a história”(Lévy:199:11:1993)
Apesar de querer repropor uma história das técnicas, e apelar para ciências e
mesmo à Filosofia, perde-se num emaranhado de argumentações interpretativas
subjetivas e de defensiva racionalidade técnica e seu poder de antevisão do
futuro e do conhecimento.
Todavia, o que Lévy quer propor é a reconciliação absoluta entre ciência e técnica,
sem absolutamente reconhecer o devir histórico já percorrido e todo o discurso
filosófico que o reflexiona, em que se destacam os desmandos que historicamente
foram realizados sobretudo no âmbito dos dispositivos da era industrial, pósindustrial
e da explosão das tecnologias midiáticas.
O capitalismo, na era das mídias eletro- eletrônicas e digitais, firma seu apogeu,
unindo-se à Matemática, ao cálculo, às especulações do ser vivo, às
biotecnologias, buscando a construção de frankensteins, que busquem competir,
ou até mesmo, superar o humano. Contudo, para este autor não se trata de
superação do humano, mas sua reconstrução.
Ora, se é legítimo cogitar sobre a reconstrução do humano, porque não é dado o
direito à Filosofia em perguntar sobre esta desconstrução, em tempos em que a
técnica fragmenta, exclui ou propõe a ação desumanizadora?, ou com isto já
inauguramos a morte do sujeito corpóreo, do social e da política, como já
preconizava Baudrillard(1990)?
A desconstrução de Lévy, atacada pelos discursos de seus concidadãos franceses
Jean Baudrillard, Paul Virilio e Philippe Breton, se dá no âmbito da sedução das
engrenagens motrizes, num espaço reinventado de uma comunicação utópica e,
como tal, num investimento, em parte, alienada em face da condição do humano e
morte de uma Filosofia que plasmou o humano na busca de sua verdade.
Na França, proliferam-se posturas dissidentes ao pensar filosófico clássico, ou de
base humanista como as do grupo de Breton, em que se situa o próprio Lévy,
como também Michel Serres e Bruno Latour. Tais posturas, ao se centrarem no
âmbito da Filosofia da Matemática, reiteram críticas às perspectivas do
pensamento filosófico cujo enfoque é o homem, como a querer forjar uma nova
essência, a informacional.
Atestando esse pensamento, assim se coloca Serres:
  • “......já não há querelas entre antigos e modernos nos pontos em que a Filosofia
  • seria polêmica: há querelas entre antigos e novos matemáticos entre os
  • modernos e lógicos. A Epistemologia afastou-se do circuito. Enquanto conservar
  • sua intenção tradicional continua a estar.(...) Vemos aqui duas razões para que a
  • epistemologia clássica seja banida das matemáticas modernas e da lógica
  • matemática: a recusa duma situação de prioridades, no primeiro caso, a estreita
  • ligação com a análise reflexiva, no segundo o transporte efetivo dos problemas
  • da epistemologia para a técnica científica. Em cada um dos casos, apenas se trata
  • de origem e de fundamento: ficamos pela prioridade numeral par ao edifício e
  • pela prioridade do sujeito operante para a sua justificação.(Serres :47 ;s/d)
Lévy, indo na mesma mão que Serres, refuta as críticas da Filosofia à técnica,
pois é este o grande impasse para a sua apologia da tecnologia do ciberespaço
reinando como instrumento da razão, e da ideologia, que inclusive faz montar sua
Antropologia descentrada no homem, mas partilhada entre homem e seus objetos
com o poder de confundir esse sujeito com o objeto.
  • “.....no momento em que dezenas de trabalhos empíricos e teóricos renovam
  • completamente a reflexão sobre tecnociência não é mais possível repetir com ou
  • sem variantes Husserl , Heidegger ou Ellul . A ciência e a técnica representam
  • uma questão política e cultural excessivamente importante para serem deixados a
  • cargo dos irmãos inimigos cientistas ou críticos da ciência que concordam em ver
  • no objeto de seus louvores ou de suas censuras um fenômeno estranho ao
  • funcionamento social ordinário. “(Lévy :12:1993)

Segundo Lévy, parece-nos, só é possível de reinventarmos o homem na troca da
ciência pela técnica e desdizer Heidegger do ente como pano de fundo ontológico.
Mas o impasse maior é criado quando o mesmo afirma que o seu propósito não é
uma crítica filosófica da técnica, aliás não poderia ser na sua argumentatividade
frágil, mas logo a seguir diz que seu verdadeiro propósito é “antes de colocar em
dia a possibilidade prática de uma tecnodemocracia” (Idem:12).
Bom do impasse evidente, cresce sua incoerência epistêmica ao desejar justapor
dois conceitos vistos e revistos pela Filosofia em lugares tão antagônicos: a
democracia e o fulgor da técnica. Todavia, dando uma seqüência a seu plano
incoerente, ele propõe que a filosofia política “não pode mais ignorar a ciência e a
técnica.” (pág 9). Ele despeja sua argumentatividade para poder afirmar mais
adiante que, diante das críticas de Jacque Ellul, Gilbert Hottois e Michel Henry,
fica impossível reafirmar seu desenho da tecnodemocracia. Assim, pede uma
revisão da técnica historicamente, do ponto de vista das reflexões da filosofia
clássica.
Tal estratégia prende-se ao fato de a seguir pretender fazer a apologia da
modulação da rede como se fora uma verdadeira simulação da mente humana, e
assim buscar ser a rede um espelho cognitivo, quando na verdade nem 30 por
cento da população mundial se acha plugada na rede, quando ainda não
atingimos a democracia na escrita para uma educação coletiva.
Na verdade, o que Lévy quer encontrar similitude, na rede do hipertexto e sua
interfaces, é com uma organização cognitiva, em que ele luta para ali encontrar
espaço para a sua defesa da tecnodemocracia., em que reinaria a ecologia
cognitiva, dentro de um contexto da Cibercultura, portanto da Comunicação,
“através de mundos virtuais compartilhados”.
Lévy, neste sentido, é muito mais a utopia wieneriana do que um pedagogo pois o
que ele pretende é prospectar o homem pelo viés do comando orgânico de
informação, podendo ser conformado nos critérios da comunicação midiática, o
que reduz o ser a uma releitura do biológico através das interfaces de
informações, transmutadas da sintomatologia orgânica à codificação
cibernética/informacional.
Tal modulação da comunicação, segundo seu maior crítico P. Breton,
pesquisador da informática e teorias da argumentação, é resultado das pesquisas
nos anos quarenta - 42 a 47 - em que se uniam interdisciplinarmente a
cardiologia, a neurofisiologia, a telefonia, a eletrotécnica, as matemáticas
aplicadas, bem como a antropologia (Breton:15:94).
Tais pressupostos começam, segundo Breton, a se alinhar num segundo
momento – ano final dos anos quarenta - se caracterizar pelo domínio do social e
do político. Passa a vigir então um modo de ver a comunicação, gestada não entre
os medias, mas entre cibernéticos, cuja proposta era de que a
informação/comunicação era o todo, podendo o real ser visualizado por este par e,
indo mais além, ver o comportamento dos seres apenas como “permuta de
informação”.
Consignando desta feita o ser enquanto comportamento observável e podendo ser
decomposto, estão lançadas as bases da interatividade ou retroação da
comunicação. Tal pressuposto leva a contemplar a democratização do saber
humano pela interatividade e retroação interconectada pelas próteses
maquínicas.(idem)
Indo a busca de uma crítica a tais posturas, como essas em que se achega a
Pierre Lévy, em que se vê as tecnologias da comunicação como a salvação para
a democracia, Philippe Breton chamará isso de “Uma Utopia da Comunicação”.
Ele vai tomar o pensamento wieneriano, que permeia projectualmente o
pensamento de Lévy, para apontar as distorções do homem pela técnica no
ambiente das comunicações e no aparecimento de novas antropologias, como a
de Lévy, que busca justificar tecnodemocracia, no ciberespaço, erigindo a sua
utópica ágora, mantida pelo hipertexto.
.Breton assim se coloca:
  • “o projeto utópico que se desenvolve em redor da comunicação, é ambicioso e se
  • desenvolve em três níveis: uma sociedade ideal, uma outra definição
  • antropológica do homem e a promoção da comunicação como valor. Esses três
  • níveis concentram-se em torno do tema de um homem novo a que se chamará
  • aqui de homo communicans. Esse homem novo corresponde nada mais nada
  • menos, na perspectiva de Wiener , à tentativa de recolar, recorrendo aos materiais
  • disponíveis, os fragmentos que uma civilização derrotada tinha feito estalar num
  • grande turbilhão entrópico. O homo communicans é um ser sem interioridade e
  • sem corpo, que vive numa sociedade sem segredos, um ser por inteiro voltado
  • para o social, que não existe se não através da informação e da permuta, numa
  • sociedade tornada transparente graças às novas “ máquinas de comunicar”.

Essas qualidades do homem na comunicação, que contribui para alimentar o
ideal do homem moderno, parecem como uma das alternativas á degradação do
ser humano, resultante da tormenta do século XX”Breton:46:1992).
Breton chama-nos a atenção, no que compartilho, para os novos paradigmas
desta nova comunicação que se instaura, no sentido de sua utopia, ou nas
demasias forjadas pela comunicação que a tudo comunica e a nada comunica,
como que numa perspectiva bem próxima a de Jean Baudrillard. O primeiro ainda
coloca de modo contundente, em oposição a Lévy, que, na verdade, as
articulações da sociedade de consumo e sociedade no seu pensamento liberal
manipulam jogos de interesses econômicos e políticos mancomunados com os
trunfos da informática, no ideal utópico de plena comunicação, sem antever as
situações de exclusões sociais, e de bloqueios sociais. Isto, para o autor, pode
na verdade afetar os patamares possíveis da democracia, pelo excesso de
comunicação forjada nos domínios da banalização da retórica e de suas técnicas
que a viabilizam.
PARA CONCLUIR
Inegável que a rede é um espaço da comunicação em que se alocam as
perspectivas utópicas plurais como também se alojam fanatismos, é um espaço
em que transita o saber, mas neste também se constitui o espaço dos excessos,
das simulações, e sobretudo espaço do consumo. Não queremos aqui negar sua
condição de ferramenta da educação, todavia ainda estamos distantes de uma
pedagogia ágil para a rede, até mesmo face aos impasses econômicos, no que
de econômico implica o uso da mesma.
A Rede Mundial de Computadores_Internet- tem potência como ferramenta,
dentro do que se entende por tecnologia educacional, em agilizar o espaço do
saber, da educação, mas sem os exageros prescritos por Lévy quando trata a
inteligência nos meandros da rede midiática de inteligência coletiva, justapondo-a
num mesmo espaço de homens e máquinas, fazendo ,ainda assim, um recorte
antropológico.
Caminha ainda ele para uma deturpação, com relação à inteligência, pois ela
sempre foi exercida no domínio do coletivo, todavia ela é individuada, sendo copartícipe
do outro e no coletivo, aliás assunto já visto pelo construtivismo, nos
focos piagetianos e vygotskianos. A rede é facilitadora,da informação, enquanto
ferramenta e sistema.Mas. por outro lado, ela exige capacitação técnica de
ferramentas –pc, softwares, browser, para só assim constituir o sujeito-potência do
conhecimento. Há mediações técnicas e, portanto, de consumo, de dispêndio
econômico,assim como se necessita de agilidade de comportamento técnico, para
só assim estar constituído potencialmente o sujeito do saber.
Por outro lado os ambientes interativos são produção de contatos sociais, e de
simulações do espaço social, em que o volume se descredibiliza, como nos
aponta Virilio, e que tal variável definha a presença, por decorrência a
percepção e o aquecimento do vínculo social .(Virilio:1993)
Chama-nos atenção Breton em sua última obra – Lê culte de L’internet(2000) -
para a ameaça ao vínculo social que se depreende da forma política articulada
pelos grupos hegemônicos da rede, determinando uma nova forma de vida que
passaria por um verdadeiro fundamentalismo, pondo em jogo princípios da
democracia até então vividos, e cultivados.
A ágora leviana é utópica, fundada pois na ideologia do approche da tecnologia,
da cibernética, da informação matemática, ou das tecnobiologias. Ela se inscreve
no ideário utópico da perseguição à comunicação democrática. Ainda hoje as
tecnologias aplicadas pela educação, e como tantas outras formas da
tecnociência, que já tentaram a democratização do saber através da escrita, da
imprensa, do rádio e da TV, mas que na verdade se mostraram utópicas, até
porque as tecnologias são ideologias a serviço de um sistema econômico maior.
Lévy é utópico pois ainda estamos a esperar a mais perfeita forma de ágora.

BIBLIOGRAFIA

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